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ANUCIOS

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Comparação: Alimento Orgânico x Convencional

 

Os alimentos orgânicos têm mais qualidade e são melhores para a nossa saúde? Embora se saiba que o principal motivo dos consumidores na compra de alimentos orgânicos seja a questão da saúde pessoal e da família, ainda existem muitas dúvidas sobre o tema. Quando uma pessoa se motiva a adquirir um produto orgânico, ela espera intuitivamente estar comprando um produto de melhor qualidade, mais saudável e nutritivo. Em primeiro lugar, o consumidor espera que o produto orgânico seja livre de aditivos químicos, como resíduos de agrotóxicos, adubos químicos ou produtos transgênicos. Em segundo lugar, espera que o produto seja produzido de acordo com as normas de produção orgânica. O selo de qualidade orgânico é um bom indicativo de um produto de qualidade superior. Contudo, as respostas não são tão simples e lineares, pois a qualidade de um alimento precisa ser analisada sob diferentes dimensões que possam dar indicativos da melhor escolha para os consumidores. 


QUALIDADE: um conceito multidimensional

Numa escala de valores, a qualidade permite avaliar e, consequentemente, aprovar, aceitar ou recusar determinado tipo de produto. Neste sentido, o processo de analisar e comparar a qualidade permite uma maior probabilidade de acerto na escolha de um alimento adequado à saúde humana. Assim, vamos analisar a qualidade dos limentos sob diferentes dimensões considerando desde as percepções dos consumidores e aspectos referentes à saúde humana até questões referentes ao sistema de produção que podem interferir na qualidade nutricional, organoléptica, sanitária e ambiental. 


QUEM É O CONSUMIDOR que escolhe qualidade 

Inicialmente é interessante conhecer qual o perfil das pessoas que buscam um alimento de maior qualidade. Pesquisas realizadas no Brasil, por Darolt (2007a), Karan & Zoldan (2003) e Kirchner (2006), têm mostrado que o consumidor orgânico é predominantemente do sexo feminino, profissional liberal ou funcionário público, com idade variando entre 31 e 50 anos, formando famílias pequenas de 3 a 4 membros. Os dados mostram ainda que a maioria é usuário de internet com renda entre 9 e 12 salários mínimos, apresentando nível de instrução correspondente ao ensino superior completo. São pessoas que têm o hábito de praticar atividades físicas com freqüência e, mesmo morando nos centros urbanos, procuram um estilo de vida que privilegie o contato com a natureza, o que faz com que frequentem parques e bosques regularmente. Estes dados indicam que locais de comercialização direta como as feiras agroecológicas teriam maior possibilidade de êxito em áreas naturais (parques, bosques e praças). Além disso, são pessoas muito preocupadas com a saúde e a qualidade de vida, que privilegiam terapias e medicinas alternativas. Além do perfil socioeconômico observado, percebe-se que o consumidor orgânico é fiel e constante. A grande maioria se diz adepto da alimentação orgânica e frequenta semanalmente as feiras ou locais de venda de orgânicos. Esses resultados mostram que os espaços de feiras de produtos orgânicos tem tido êxito em cativar o público e, portanto, configura-se como um local privilegiado de educação e articulação dos consumidores. Tornar o consumidor protagonista e elemento articulador de mudanças é basicamente um desafio de conscientização. É preciso acreditar que a capacidade de o consumidor mudar hábitos de consumo tem reflexos em todos os outros segmentos da economia, construindo mercados locais mais fortes e com informação qualificada aos consumidores. 


A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR: valores associados à qualidade 

Fazer com que o consumidor perceba atributos como qualidade biológica, sabor, segurança alimentar, forma de produção, muitas vezes citados como diferencial em favor de produtos orgânicos é um desafio no processo de comunicação de massa. De acordo com Vilas Boas et al. (2005), estes aspectos são complexos para serem utilizados no desenvolvimento de processos de comunicação de marketing pelo fato de serem atributos de difícil “externalização”. Assim, o desenvolvimento de campanhas de comunicação relacionadas a produtos orgânicos, deve levar em consideração não só as características físicas do produto, de sua produção, mas também as características e fatores sociais, culturais e emocionais, relacionados a valores e crenças dos consumidores, que sejam capazes de motivá-los à determinação de atitudes positivas com relação à compra e ao consumo destes produtos. Já se sabe que a maioria das pessoas associam valores emocionais à qualidade dos produtos. Segundo Cramwinckel (2009) ao comer um produto com a crença de estar contribuindo para um mundo melhor, esses sentimentos positivos e valores são adicionados ao produto. Assim, o sabor pode ser visto como uma combinação de características do produto e de valores emocionais. Dessa forma, uma produção orgânica bem conduzida, incluindo um pouco de história, cultura e tradição associados à um sabor diferenciado pode ajudar a convencer os consumidores a mudar os seus hábitos de compra. 


FREIOS PARA O CONSUMO DE ORGÂNICOS: preço, oferta e origem x qualidade 

Estudando quatro países da Europa onde a produção orgânica está bem desenvolvida (Itália, Inglaterra, França e Alemanha), Sylvander et. al. (2005) mostraram que entre as principais razões para o baixo consumo de produtos orgânicos está em primeiro lugar os preços; em seguida, a oferta insuficiente e em terceiro a dúvida em relação à procedência do produto. A pesquisa indicou ainda a necessidade de maior sensibilização dos consumidores sobre os benefícios dos alimentos orgânicos, visto que na maioria dos casos, as informações sobre o processo de produção e comercialização eram insuficientes ou inadequadas. Pesquisa do IPARDES e IAPAR (2007), chegaram a conclusões semelhantes investigando o consumo no Estado do Paraná. Em estudo realizado em Curitiba-PR, Kirchner (2006) demonstrou que o paradigma de preços altos de produtos orgânicos é verdadeiro quando se comparam redes de supermercados e feiras orgânicas. Neste caso, para uma cesta de treze produtos, a diferença de preços chegou a apontar valores médios superiores de 118% nos supermercados. A média de preços por produto na feira orgânica foi de R$ 1,75, enquanto no supermercado este valor foi de R$ 3,82. Como a maioria das pessoas compra em supermercados a ideia de que o produto orgânico é caro fica ainda mais evidente. Nos supermercados, misturado com produtos hidropônicos, convencionais higienizados e minimamente processados, os orgânicos acabam por receber tratamento semelhante ao convencional, causando confusão e desconfiança por parte do consumidor, o que dificulta uma mudança de atitude. Apesar de receber o selo de certificação, que indica um produto de melhor qualidade, muitos consumidores ainda não o reconhecem e, muitas vezes, desconfiam da autenticidade do produto orgânico. 


ATITUDES E PREOCUPAÇÕES DOS CONSUMIDORES: segurança e qualidade alimentar

Nos últimos anos vêm crescendo o interesse nos estudos das atitudes e preocupações dos consumidores relacionados aos alimentos orgânicos. Naspetti & Zanoli (2005) mostraram que existem percepções diferenciadas para a compra, dependendo do país. De forma geral, as pesquisas realizadas em diferentes países apresentam tendências semelhantes, apontando em primeiro lugar preocupação com aspectos relacionados à saúde pessoal e da família e sua ligação com a segurança dos alimentos, destacadamente em relação à contaminação por agrotóxicos e outros agentes químicos. Em seguida aspectos como cuidados com o meio ambiente e qualidades organolépticas do alimento (sabor, cheiro, frescor) são citados como fatores que impulsionam as vendas. O estilo e filosofia de vida são fatores complementares que confirmam que “valores” são importantes e motivam a compra de orgânicos. Interessante destacar que as atitudes dos consumidores de produtos orgânicos, comparadas com as da população de modo geral, aproximam-se muito das de um consumidor consciente. Segundo pesquisa do Instituto Akatu (2007), um consumidor consciente apresenta diferença no ato de ir às compras em relação à maioria da população, mostrando disposição em transformar em prática os valores com os quais se identifica, tende a se preocupar com a comunidade em que vive e usa o seu poder de consumidor cidadão. No Brasil o principal motivo para compra de alimentos orgânicos também está ligado à preocupação com a saúde. A qualidade é percebida na segurança do alimento orgânico. Trabalhos realizados por Fonseca (2005) confirmam o interesse dos consumidores nas questões de saúde. Em pesquisa realizada com consumidores na região Sudeste, a autora mostra que entre as informações mais desejadas pelos consumidores incluem-se também as referentes à composição e ao valor nutricional dos alimentos orgânicos, bem como informações sobre o auxílio na prevenção de doenças. 


SAÚDE HUMANA, ALIMENTAÇÃO INDUSTRIAL E QUALIDADE

O advento da alimentação moderna tem conduzido não apenas a um desastre na saúde humana, mas também a uma série de problemas ambientais. Com o surgimento da agricultura industrial, vastas monoculturas de um número reduzido de plantas (basicamente cereais), substituíram propriedades familiares diversificadas que nos alimentavam, minando as culturas alimentares tradicionais em toda parte do mundo, com reflexos para a nossa saúde. A escolha por esse modelo de produção de alimentos vem modificando intensamente o ambiente em que vivemos. Os reflexos apontam para alteração de hábitos alimentares com uma dieta baseada na introdução de substâncias tóxicas, alimentos excessivamente processados, irradiados, geneticamente alterados, além de consumo exagerado de gorduras, açúcares e sódio Tudo com a finalidade de melhorar a aparência, o sabor e, sobretudo, a capacidade de conservação dos alimentos. Foram mudanças realizadas paulatinamente, porém sem a consciência de que tais atitudes poderiam ser nocivas à saúde. 

A padronização e a redução da diversidade alimentar – em termos de espécies vegetais - trouxe mais benefícios para a saúde da indústria do que para a saúde do consumidor. Entrando num supermercado a impressão é que a diversidade alimentar aumentou. Em verdade o que cresceu foi a indústria da transformação que, associado ao marketing, leva uma imagem de fartura alimentar ao consumidor. Entretanto, segundo Pollan (2008) 75% dos óleos vegetais na nossa dieta vêm da soja (representando 20% das calorias diárias) e mais da metade dos adoçantes que se consome vêm do milho (representando 10% das calorias diárias). Outra consequência do modelo industrial foi a queda no conteúdo de nutrientes da maioria dos produtos agrícolas nos últimos 50 anos. De acordo com Halweil (2007) houve diminuição de cerca de 10% ou mais em níveis de vitamina C, ferro, zinco, cálcio e selênio, em mais de 40 produtos agrícolas acompanhados desde a década de 1950 nos Estados Unidos e na Inglaterra. Em termos práticos, atualmente é preciso comer mais para se obter a mesma quantidade de nutrientes de antigamente. Assim, a maioria da população hoje come mais alimentos de baixa qualidade. O resultado é que quatro das dez principais causas de morte nos países industrializados são doenças crônicas ligadas à alimentação: distúrbios coronarianos, diabetes, AVC e câncer (POLLAN, 2008). O mesmo autor destaca que muitas doenças predominantes nos países industrializados são raras nas comunidades rurais do Terceiro Mundo, onde os alimentos foram pouco alterados antes do consumo. A realidade é que a comida simples, caseira, de lugares subdesenvolvidos é muito mais completa, nutritiva e sadia do que todos os alimentos processados produzidos pela indústria nos países do Primeiro Mundo. A ideia do resgate de uma alimentação a a base de produtos da agricultura familiar ecológica segue o mesmo raciocínio.


DIETA ORGÂNICA E SAÚDE

Saber se uma dieta orgânica pode trazer mais benefícios à saúde humana do que uma dieta convencional é um dos desafios da pesquisa do novo milênio. Estudos bem controlados dessa natureza em humanos por um longo período de tempo ainda não foram realizados. Por outro lado, um número significativo de trabalhos realizados no mundo tem abordado essa questão a partir de dados quantitativos medindo o teor de minerais, vitaminas e outros compostos antioxidantes provenientes de plantas cultivadas em sistema orgânico e convencional (LAURIDSEN, 2009). No entanto, ainda não é possível extrapolar, por exemplo, que um maior teor de vitamina em alimentos orgânicos tenha possíveis efeitos sobre a saúde humana. A comparação é difícil de ser realizada quando pensamos no ser humano, pois os hábitos de consumo e estilos de vida de consumidores orgânicos e convencionais também são diferenciados. Segundo Darolt (2007a) consumidores orgânicos apresentam, normalmente, hábitos de vida mais saudáveis tendo maior probabilidade de uma saúde mais equilibrada. Numa visão sistêmica ou mais ampliada desta questão, poderíamos dizer que os benefícios dos alimentos orgânicos podem não estar diretamente associados à questão nutricional em si, mas a mudança de hábitos alimentares e estilo de vida desse tipo de consumidor, que é sabidamente mais informado. Algumas respostas associando dieta orgânica e saúde surgiram na primeira década desse milênio a partir de ensaios bem controlados realizados com ratos em laboratório (LAURIDSEN et. al.,2008). 

Pesquisadores dinamarqueses ofereceram dietas provenientes de três sistemas de cultivo (1.orgânico – sem agrotóxicos e sem adubos químicos; 2.integrado - uso controlado de agrotóxicos e adubos químicos; e, 3.convencional - alto uso de agrotóxicos e adubos químicos). As pesquisas foram conduzidas por duas gerações de ratos. Três diferentes experimentos foram realizados para verificar: a disponibilidade de nutrientes oferecida pelas dietas; a preferência dos ratos pela dieta alimentar e a análise de indicadores relacionados à saúde dos animais após consumo dessas dietas. O primeiro experimento referente à disponibilidade de nutrientes, mostrou que o sistema de cultivo influenciou pouco a qualidade proteica e o valor energético de legumes e frutas presentes na dieta (JØRGENSEN et al., 2008). Fato que indica uma resposta para além da questão nutricional. O segundo experimento sobre preferência alimentar mostrou que os ratos apresentam preferências individuais para as dietas, independente do sistema de cultivo. O que ocorreu foi uma correlação positiva entre a dieta escolhida pelas mães e a preferida pelos filhos (KRISTENSEN et. al., 2008). Com base no terceiro experimento que relacionou a dieta com aspectos da saúde, os pesquisadores concluíram que as diferenças entre os métodos de cultivo e os ingredientes produzidos por cada tipo de dieta causaram diferenças significativas em alguns aspectos relacionados com a saúde. Por exemplo, para os ratos alimentados com a dieta orgânica houve uma maior atividade diurna, menor volume de tecido adiposo e melhor função metabólica do fígado. Uma dieta orgânica pode ainda proporcionar uma melhoria nos indicadores hematológicos, refletindo-se num sistema imunológico mais eficaz, resultado que precisa ser confirmado por mais pesquisas de longo prazo de exposição (BARANKA et. al., 2007). Esses resultados foram obtidos também em laboratório alimentando duas gerações de ratos com dieta orgânica comparada à convencional. Em outro estudo com aves (galinhas), Huber (2009) confirmou que animais tratados com dietas provenientes de formas de cultivo diferenciadas (orgânico e convencional) apresentaram diferenças em aspectos fisiológicos. De acordo com a pesquisa as aves que receberam a dieta convencional tiveram um crescimento mais rápido e apresentaram maior peso final. Em síntese, a interpretação global é que animais (aves) tratadas com alimentos orgânicos tiveram um maior potencial para reatividade imunológica, apresentando paâmetros imunológicos mais eficazes, confirmando o que aconteceu com os ratos. 

Para animais de grande porte, basicamente bovinos de leite, já foram registrados muitos estudos comparativos entre o sistema orgânico e o convencional (REMBIALKOWSKA, 2009). Os resultados apontam que animais manejados organicamente apresentaram padrões desejados em relação à saúde, como: menor incidência de doenças metabólicas como cetose, lipidose, artrite, abcessos,mastite e febres. O nível de células somáticas, por exemplo, foi semelhante nas vacas de leite proveniente da pecuária orgânica e convencional, mas o nível de casos de mastite foi significativamente menor no sistema orgânico. Um provável motivo, segundo a autora, é que as vacas criadas organicamente teriam um sistema imunológico mais eficaz, sendo melhor preparadas para lutar contra as infecções. Em síntese, os resultados de pesquisas com animais apontam para padrões desejados de saúde, com o fortalecimento do sistema imunológico e maior resistência contra enfermidades, o que pode ser conseguido com uma dieta a base de alimentos produzidos em sistemas de produção orgânicos.


SISTEMAS DE PRODUÇÃO: da qualidade à quantidade

O modelo convencional de agricultura tem dedicado suas energias a aumentar a produtividade, diminuir a diversidade de culturas plantadas e a vender alimentos o mais barato possível. Segundo Pollan (2008) esses ganhos em quantidade foram obtidos à custa da qualidade. Era de se esperar que para alcançar objetivos quantitativos seria sacrificada pelo menos parte da qualidade dos alimentos. Realmente, o sistema convencional tem dado vários exemplos de insustentabilidade para o meio ambiente, para os agricultores e consumidores. Problemas de erosão e baixa produtividade das terras e culturas, doenças como vaca-louca, febre aftosa, contaminação por dioxina e, mais recentemente, a gripe suína batizada de H1N1, tem feito a opinião pública prestar mais atenção nos sistemas de produção alimentar. O foco obstinado em aumentar a produtividade criou uma diminuição da qualidade nutritiva de nossos alimentos. De acordo com Halweil (2007), o resultado é uma inflação nutricional, ou seja, mais quantidade e menos qualidade. Essa perda nutricional parece ter duas principais causas: o sistema de produção utilizado (agricultura intensiva) e o direcionamento do melhoramento genético. Algumas hipóteses são lançadas pelo autor para diminuição da qualidade das plantas. As lavouras cultivadas com adubos químicos crescem mais depressa, dando-lhes pouco tempo e oportunidade de acumular outros micronutrientes essenciais (fundamentais para a qualidade nutritiva da planta), além de macronutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio presentes na maioria dos fertilizantes. Altos níveis de nitrogênio prontamente disponível tendem a reduzir a intensidade do sabor e, por vezes, tornam as culturas mais vulneráveis a pragas. Além disso, com fartura de fertilizantes, as plantas desenvolvem sistemas radiculares menores e mais superficiais. É por esse motivo também que a genética selecionou plantas mais baixas, compensando com um maior número de plantas por área (menor espaçamento e maior adensamento), resultando em uma maior produtividade por área as custas da qualidade nutricional. A atividade biológica do solo, também é outro fator primordial para produzir plantas mais saudáveis. 

A respeito da qualidade de solo, um dos estudos mais completos e de longa duração (21 anos) comparando a biodiversidade e qualidade de solo entre sistemas não-convencionais (biodinâmico e orgânico) e convencional, foi realizado na Europa Central (MÄDER et. al., 2007). Os resultados apontaram para uma melhor estruturação de solo e infiltração de água nos sistemas orgânico e biodinâmico. Nestas parcelas houve 30 a 40% mais presença de micorrizas (fungos que se encontram em simbiose com as raízes das plantas) quando comparadas ao sistema convencional. Outra constatação foi a maior presença de biomassa microbiana e atividade enzimática entre 30 e 85% superior quando comparado às parcelas de cultivo convencional. No tocante à produtividade, durante os 21 anos de estudo as parcelas orgânicas e biodinâmicas apresentaram, em média, uma produtividade cerca de 20% menor quando comparadas aos padrões convencionais de produção. Entretanto, os gastos com fertilizante e energia foram reduzidos entre 34 e 53% e com agrotóxicos em cerca de 97% nos sistemas orgânico e biodinâmico. Os autores concluem que para aumentar a biodiversidade e a fertilidade de solo os sistemas orgânicos e biodinâmicos podem ser uma boa alternativa aos sistemas convencionais. 

Já se sabe que no sistema orgânico, há uma diminuição da produtividade total para a maioria das culturas, destacadamente no período de transição. Isso é esperado, pois o melhoramento genético seleciona plantas para o sistema convencional – destacadamente - pela produtividade e não pela qualidade nutricional. Outro aspecto é que há uma tendência de aumento da mão-de-obra ocupada no sistema orgânico, sobretudo em serviços de limpeza, tratos culturais e colheita o que é considerado inadequado e muitas vezes ultrapassado para um sistema industrial de alta tecnologia. Por outro lado, percebe-se uma melhoria na qualidade do produto final, diminuindo-se os custos com insumo e a energia que entra no sistema. O resultado econômico final, nesses termos, mostra-se competitivo entre o sistema orgânico e convencional. 

Vários estudos têm mostrado que os agricultores orgânicos que seguem um enfoque agroecológico conseguem resultados satisfatórios em diferentes dimensões ligados à sustentabilidade (DAROLT, 2002; HALWEIL, 2007; MÄDER et. al., 2007). O selo de qualidade orgânico é um indicativo de que os alimentos foram produzidos e processados de acordo com as normas orgânicas, o que significa um adicional em termos de qualidade agronômica quando comparado ao alimento convencional. 

Em síntese, na literatura há uma série de pesquisas e fatos que mostram que produzir dentro do sistema orgânico pode ser mais sustentável para o planeta no longo prazo. No entanto, numa visão de curto prazo ainda aparecem discordâncias quando se trata de avaliar a qualidade nutricional em termos de minerais (Ca, Fe, Zn, Mg, Se), aminoácidos, vitaminas e outros compostos como veremos a seguir.


QUALIDADE NUTRICIONAL: divergências entre orgânico e convencional 

Os parâmetros para determinação da qualidade nutricional são multifatoriais, por isso uma combinação de fatores ambientais (condições de solo, água,temperatura, umidade, insolação, altitude, latitude) e variabilidade genética, podem mostrar diferenças significativas entre o modo de produção convencional e o orgânico. A maioria dos estudos sobre a qualidade nutricional de alimentos orgânicos e convencionais faz comparativos de teores de nutrientes e outros elementos entre os dois sistemas, entretanto conforme já comentamos, são praticamente inexistentes os estudos de cunho epidemiológico que fazem uma associação com a saúde humana. Assim, os benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde não podem ser diretamente associados apenas à questão nutricional em si, mas devem ser contextualizados. Pode-se notar que para a maioria dos nutrientes minerais existe similaridade entre produtos obtidos no sistema orgânico e convencional. Todavia, para alguns elementos é possível observar tendências. Podem-se notar tendências como um teor superior de matéria seca, um menor teor de nitratos e um maior teor de vitamina C para produtos orgânicos, notadamente em legumes e folhosas. É provável que isto esteja ligado à menor quantidade e fontes menos disponível de nitrogênio em sistemas orgânicos. Outra tendência, segundo Wisniewska et. al. (2008) é a de que plantas cultivadas organicamente contenham mais fitoquímicos – os vários compostos secundários (incluindo flavonóides, carotenóides e polifenóis) que os vegetais produzem para se defender de pragas e doenças, muitos dos quais têm importantes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, entre outros benefícios para os seres humanos. De acordo com Pollan (2008), por não serem pulverizadas por agrotóxicos, as plantas orgânicas tendem a produzir de 10 a 50% mais desses compostos comparadas ao modo convencional. 

Para diminuir as divergências de opiniões entre pesquisadores, Husted & Larsen (2009) sugerem o desenvolvimento e teste de novos métodos e teorias, que possam explicar as diferenças entre o sistema orgânico e o convencional no contexto científico, conhecendo melhor os mecanismos bioquímicos de nutrição da planta e o metabolismo vegetal. Além disso, os autores reforçam a necessidade de incluir pesquisas com humanos para comprovar que as diferenças encontradas entre os sistemas de cultivo orgânico e convencional são de relevância significativa para a saúde humana. 

Teor de Nitratos

Para os valores de nitratos e nitritos , estudos de Stertz (2004) no Paraná seguiram a mesma tendência da literatura internacional constatando menor concentração de nitratos para diversas culturas orgânicas, com destaque para alface, batata e espinafre, o que pode ser considerado satisfatório para a saúde humana. O aumento rápido do teor de nitrato nas plantas é a conseqüência mais conhecida do crescente aporte de adubos químicos nitrogenados, utilizados na agricultura convencional, para aumentar rapidamente a produtividade de hortaliças de folhas como a alface, couve, agrião, chicória etc. Porém, o uso excessivo deste fertilizante associado à irrigação freqüente, faz com que ocorra acúmulo de nitrato (NO3 -) e nitrito (NO2 - ) nos tecidos de plantas. Outros elementos que contribuem para o acúmulo de nitrato estão relacionados ao ambiente, fatores genéticos e ao manejo utilizado. Sabe-se, por exemplo, que o nitrato acumula mais em baixa luminosidade (dias nublados e curtos, no período de inverno, em locais de alta concentração de nitritos e nitratos em vegetais pode provocar riscos à saúde, como a metahemoglobinemia e a possibilidade de formação de N-nitrosaminas, substâncias consideradas carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas. Os nitratos ocorrem naturalmente nas plantas, acumulado-se pelo efeito de diversos fatores, como temperatura, pluviometria, irrigação, insolação e, principalmente regime de fertilização nitrogenada. sombreados e pela manhã). Os fatores genéticos são responsáveis pelas variações entre espécies e cultivares expostas à mesma condição de cultivo. Por último, o sistema de manejo (orgânico, convencional e hidropônico) pode causar alterações nos teores de nitrato na planta. O nitrato ingerido passa à corrente sanguínea podendo, então, reduzir-se a nitritos. Estes sim são venenosos, muito mais que os nitratos. Tornam-se mais perigosos quando combinados com aminas, formando as nitrosaminas, substâncias potencialmente carcinogênicas. Tal reação pode realizar-se especialmente em meio ácido do suco gástrico, ou seja, no estômago. Desta forma, o monitoramento destas substâncias é essencial para garantir a qualidade dos alimentos consumidos pela população. Apesar de alguns cientistas defenderem que os teores de nitrato em plantas cultivadas no sistema convencional e hidropônico, ainda permanecem dentro do limite permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é preciso orientação mais adequada aos produtores sobre o manejo do nitrogênio, sobretudo, em sistemas hidropônicos, além de informação aos consumidores de como os alimentos são produzidos em cada sistema, permitindo uma escolha de produtos mais saudáveis. 

Produtos orgânicos de origem animal 

Em relação à qualidade de produtos de origem animal, Rembialkowska (2007) e Wit (2009) revisaram vários estudos na Europa e verificaram que, o leite orgânico produzido com gado a pasto, por exemplo, tem melhor valor nutritivo do que o convencional nas mesmas condições, apresentando mais vitaminas, carotenóides, tocoferóis, vitamina E e Vitamina B. De qualquer forma, ainda não se pode afirmar que isso se reflita em melhores indicadores na saúde de quem consome. O leite produzido em sistemas orgânicos pode ter maiores concentrações de antioxidantes em comparação com o leite convencional (STEINSHAMN et. al. (2009). Os pesquisadores argumentam que a maior proporção de volumoso (capim fresco e trevo) em relação ao concentrado (ração) na dieta das vacas pode explicar os resultados positivos para o sistema orgânico. Sobre a produção de carne - avaliando aves, suínos e bovinos – Rembiałkowska (2009) destaca alguns atributos positivos da carne produzida de forma orgânica: baixo teor de gordura, maior teor de gordura intramuscular e melhor perfil de ácidos graxos. Existem também alguns atributos negativos da carne orgânica, como o menor peso total das carcaças (menor ganho de peso) e tempo inferior de armazenamento. De forma geral, a produtividade animal orgânica de leite e de carne é 20% inferior ao sistema convencional, seguindo a mesma tendência da produção vegetal. Outro aspecto é a possibilidade de enfermidades parasitárias ser maior em animais criados organicamente, devido ao sistema de criação ao ar livre e a proibição de profilaxia com medicamentos veterinários. Todavia, são aspectos que precisam ser melhor estudados e que dependem basicamente de boas práticas de manejo por parte dos criadores. 

Em relação ao desempenho reprodutivo de animais um estudo de 12 anos bem conduzido com vacas leiteiras, comparando manejo orgânico e convencional foi realizado na Suécia dentro de uma mesma fazenda (FALL et. al., 2008). Os dados para este estudo incluíram todos os partos de vacas entre 1990 e 2001, num total de 154 animais manejados organicamente e 156 manejados convencionalmente. Segundo os autores, os resultados indicaram poucas diferenças entre os rebanhos (orgânico e convencional) para o desempenho reprodutivo e longevidade. 

Por ser uma área nova e apesar de algumas divergências entre as pesquisas, não há dúvida que o conhecimento da composição nutricional dos alimentos associado à forma de produção (orgânico, convencional), podem ajudar no entendimento da complexidade da nutrição humana.


QUALIDADE ORGANOLÉPTICA: sabor como parâmetro de qualidade

Vários fatores podem influenciar no sabor e aroma de um produto agrícola como,por exemplo, a variedade utilizada, o tipo de solo e clima, o ano climático e o modo de produção (orgânico ou convencional). No tocante à qualidade alimentar vem aumentando o número de estudos com as variáveis supracitadas bem controladas. Os estudos da qualidade organoléptica que avaliam sabor, aroma, acidez e palatabilidade, mostram uma ligeira superioridade do produto orgânico quando comparado ao similar convencional. Em revisão internacional Bourn e Prescott (2002) mostraram que na maioria das pesquisas comparativas existiu uma pequena superioridade para o produto orgânico, entretanto os resultados são estatisticamente pouco significativos. Estudos realizados junto ao consumidor de feiras verdes no Brasil, citados por Darolt (2007a), mostram que existe uma percepção de que os orgânicos são mais saborosos e mais aromáticos, sobretudo quando são adquiridos na forma de alimentos frescos. Outro fator importante, que influencia na análise sensorial, é a forma de preparo do alimento. Em trabalho comparativo com cenouras orgânicas e convencionais na EMBRAPA em Brasília, Carvalho (2004) mostrou que quando o alimento foi preparado ao vapor o sabor, aroma e palatabilidade foram significativamente superiores nos orgânicos. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais os Chefs de cozinha optam por produtos orgânicos no preparo de pratos especiais. 

Em relação aos produtos vegetais, destacadamente hortaliças e frutas, pode-se perceber algumas tendências para os orgânicos, conforme descrito por Hospers-Brands & Burtgt (2009): produtos mais firmes (tempo de armazenamento superior); maior quantidade de fibra e matéria seca; maior quantidade decompostos fenólicos (maior proteção natural ao organismo) e su compostos fenólicos (maior proteção natural ao organismo) e superioridade em testes de análise sensorial que avaliam sabor e aroma. 

Em relação a produtos de origem animal, para a carne, Rembiałkowska (2009) revisou vários estudos comparativos e concluiu que uma melhor qualidade sensorial, com sabor mais marcante e acentuado foi observado para as carnes de aves, suínos e bovinos tratados à base de dieta orgânica. Para o leite estudos realizados na Holanda mostraram que o sistema de produção (orgânico ou convencional) não afetou o sabor do leite processado (WIT, 2009). 

De forma geral, os estudos comparativos que focam a qualidade organoléptica estão ainda em estágio inicial e mostram resultados parciais que tendem a qualificar o produto orgânico como mais saboroso.


QUALIDADE SANITÁRIA 

No que concerne a qualidade sanitária é importante destacar alguns pontos entre os dois sistemas: a contaminação microbiana e parasitária; as micotoxinas e os resíduos de agrotóxicos.


Contaminação Microbiana e Parasitária 

Talvez um dos pontos mais questionado pelos críticos da agricultura orgânica seja a possibilidade de contaminação causada pelo uso intensivo de dejetos de animais no sistema orgânico. Primeiramente, devemos lembrar que o uso de esterco também é comum em sistemas convencionais. É fato que os dejetos de animais mal tratados podem ser uma fonte de contaminação dos produtos e do solo, tanto no sistema orgânico como no convencional. Portanto, a utilização desses insumos naturais e as técnicas para reduzir o risco de contaminação devem ser efetivamente colocadas em prática nos dois sistemas. 

Na literatura internacional foram encontrados estudos em alimentos orgânicos avaliando contaminação microbiana por Salmonella, Yersinia, Campylobacter e Escherichia Coli. No caso da Escherichia Coli, bactéria causadora de doença entérica, genericamente conhecida como sendo causada por bactérias coliformes, a transmissão ocorre principalmente pela contaminação fecal de água e de alimentos. Por isso, o controle da qualidade da água e a compostagem do esterco animal são normas obrigatórias na produção orgânica. Os resultados apresentados por Leifert et. al. (2008) mostraram que não há evidências científicas que alimentos orgânicos possam ser mais suscetíveis a contaminação microbiológica que alimentos convencionais. 

Estudos no Brasil, realizados pela Universidade Federal do Paraná encontraram algumas amostras com contaminação microbiológica e parasitária em alface e cenoura orgânicos na região metropolitana de Curitiba-PR (ARBOS et. al., 2008).No entanto, os autores verificaram que o modo de produção, convencional ou orgânico, não interfere preponderantemente na qualidade das hortaliças e sim as práticas inadequadas de produção é que aumentam significativamente o nível de contaminação. Mesmo com a possibilidade de aparecer um maior número de parasitas em condições de sistema orgânico pelo fato de animais ficarem boa parte do tempo ao ar livre, esses vermes não são transmitidos ao homem pela carne. Segundo Kouba (2002), a possibilidade de aparecimento da bactéria E. Coli, é mais baixa em sistemas orgânicos, pois os animais se alimentam basicamente de forragem. A explicação se dá pelo fato de que na alimentação a base de grãos, característico de sistemas convencionais intensivos, o risco de infecção dos animais seria maior. 

No caso do leite, Steinshamn et. al. (2009) constataram que também não há evidências científicas de diferenças para contaminação microbiana entre sistema orgânico e convencional. 

Como recomendação geral, tanto no sistema orgânico quanto no convencional, é sugerido que sejam seguidos um conjunto de medidas para redução dos riscos de patógenos entéricos em alimentos frescos, como: 1. compostagem dos estercos de animais por um período de seis meses, para redução dos níveis de inóculo; 2. controle da qualidade da água de irrigação, que deve ser de fonte livre de coliformes fecais; 3. aquisição de adubos orgânicos de fontes conhecidas; 4. manejo correto do solo e da água; 5. adequação do calendário de aplicação de chorume para redução de patógenos (evitar aplicações próximo da colheita, por exemplo). Além disso, o uso de boas práticas de higiene alimentar nos processos de produção, transformação, transporte, armazenamento, comercialização e consumo é fundamental para manter a qualidade do produto. 


Orientações básicas e informações sobre boas práticas na produção agrícola, como tipos de microrganismos, fonte de contaminação, formas corretas de conservação, armazenamento e transporte, são fundamentais para redução de patógenos.

Micotoxinas

Micotoxinas são metabólitos tóxicos específicos formados por fungos que crescem em plantas vivas e em condições favoráveis podem se desenvolver em alimentos e rações. A contaminação por micotoxinas é um problema grave na segurança alimentar. Segundo Köpke et. al. (2006) mais de 300 espécies de fungos com capacidade para formar micotoxinas têm sido identificadas. Felizmente, apenas cerca de 20 micotoxinas produzidas por cinco gêneros de fungos (Fusarium, Penicillium, Claviceps, Alternaria e Aspergillus) encontram-se regularmente ou periodicamente na alimentação humana e animal em níveis que possam ter um impacto sobre a saúde humana e animal. 

A primeira vista, pelo fato de ser interditado o uso de fungicidas sintéticos no sistema orgânico, poderia haver uma maior possibilidade de contaminação. No entanto, alguns pesquisadores alegam que omitindo fungicidas poderia haver uma maior diversificação das populações microbianas e, assim, limitaria o crescimento de determinadas micotoxinas produzidas. Os relatos são controversos, sobretudo sobre níveis de contaminação por micotoxinas em grãos produzidos organicamente. Todavia, Wyss (2004) e Köpke et. al. (2006) mostram que até o momento não se pode afirmar que em agricultura orgânica esta contaminação seja maior. O importante é descobrir os fatores que levam a contaminação por micotoxinas nos diferentes sistemas de produção e a partir daí implementar estratégias para reduzir essas micotoxinas. Por isso, nos dois sistemas (orgânico e convencional) o uso de boas práticas culturais e de estocagem dos alimentos é que permitirá reduzir o risco de contaminação com micotoxinas.

Resíduos de Agrotóxicos 

Atualmente, é praticamente inquestionável que o sistema de produção convencional de alimentos tem deixado resíduos de agrotóxicos em níveis preocupantes para a saúde pública. De cada dez pés de alface à venda em supermercados no Brasil, quatro estão contaminados por agrotóxicos. O tomate e o morango são outros vilões. Cerca de 40% das amostras coletas em diversos pontos de venda no Brasil apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados ou acima do limite máximo permitido. 

Os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos mostram que, além da utilização de agrotóxicos não autorizados e agrotóxicos com restrições quanto ao modo de aplicação, os mesmos continuam sendo utilizados no campo, pondo em risco a vida de trabalhadores e consumidores. Segundo a Anvisa (2009) a detecção de resíduos de metamidofós em culturas para as quais o seu uso não é autorizado (alface, arroz, cenoura, mamão, morango, pimentão, repolho e uva) ou está restringido (tomate de mesa) é um bom exemplo dessa situação. 

A Anvisa orienta que os consumidores devem optar por alimentos que tenham a origem identificada, o que aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos com a adoção das boas práticas agrícolas. Ressalta ainda, que os procedimentos de lavagem, retirada de cascas e folhas externas de verdura podem contribuir para a redução de resíduos de agrotóxicos na superfície dos alimentos, mas não eliminam os sistêmicos que circulam na planta. Os dados são do relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) que monitorou 17 culturas entre hortaliças e frutas em todo o Brasil, divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2009). Por isso, sugere-se o consumo de alimentos orgânicos para reduzir a exposição aos agroquímicos. Os dados descortinam um quadro preocupante para a saúde pública. As pesquisas são ainda incipientes mas, segundo a Anvisa (2009), a médio e longo prazo, quem consome alimentos com resíduos de agrotóxicos pode apresentar problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema nervoso central. O risco vai depender da quantidade de agrotóxico acumulada e das características do organismo de cada pessoa. Com o problema da contaminação ambiental generalizada que atinge solos, água e o ar, mesmo produtos orgânicos podem apresentar algum tipo de resíduo. No Brasil são raros os estudos que analisam resíduos de agrotóxicos em alimentos orgânicos. No Paraná, STERTZ (2008) analisou 141 amostras em 10 cultivos hortícolas da Região metropolitana de Curitiba e constatou contaminação com algum tipo de resíduo em 9,68% das amostras provenientes do sistema orgânico, 33,87% das amostras convencionais e 41,18% das amostras em sistema hidropônico. Quando presentes, os resíduos das amostras de alimentos orgânicos apresentaram níveis mais baixos que nos não-orgânicos. Além disso, os alimentos convencionais e hidropônicos apresentam maior número de amostras com resíduos múltiplos (13% e 35%, respectivamente). Para a autora, se por um lado, a maioria dos resíduos encontrados nos alimentos orgânicos reflete a capacidade do vento, chuva, neblina e da irrigação de transportarem pesticidas além dos campos nos quais foram aplicados; por outro lado, melhores procedimentos e políticas mais claras se fazem necessárias para ajudar a assegurar que as novas regulamentações sobre orgânicos possam alcançar seu propósito de tornar os alimentos organicamente cultivados essencialmente livres de resíduos.

Contato com agrotóxico e desintoxicação

Para pessoas que têm contato com agrotóxicos recomendada-se fazer exames de saúde de forma periódica, com ênfase na avaliação neurológica, a cada 6 meses. Testes de laboratórios para verificar o nível de colinesterase devem ser feitos no mínimo a cada mês para monitorar o estado de saúde e detectar a sobre exposição a agrotóxicos mais usados como os organofosforados, os organoclorados e os carbamatos. Casos de intoxicação aguda exigem cuidados imediatos hospitalares, pois se coloca em risco a vida. A intoxicação crônica (pela exposição periódica) pode se manifestar por quadros sutis como distúrbios do comportamento ou até quadros dramáticos de doença do sistema nervoso periférico. Os organofosforados e carbamatos são, normalmente, responsáveis por esses quadros, que podem aparecer semanas após uma intoxicação aguda ou em função de uma intoxicação crônica. 

De acordo com Higashi (2002) durante a existência de uma pessoa (com média de 70 anos) transitam cerca de 25 toneladas de alimento pelo sistema digestivo. Mesmo que contaminados com teores baixos de agentes químicos, pode ocorrer alguma intoxicação em determinado período do ciclo de vida de uma pessoa. Um dos problemas no diagnóstico, segundo o médico, é que não existem sintomas característicos da epidemia de intoxicação subclínica por agrotóxico. Cada pessoa responde de maneira diferente. Existe uma multiplicidade de sintomas e suas características são individuais, manifestando-se em alguns na forma de fadiga, em outros como dor de cabeça ou dores articulares, depressão, dores musculares, alergia, distúrbios digestivos etc. Neste estudo o autor afirma que nenhum medicamento pode agir adequadamente em pacientes com acúmulo de agrotóxicos em seu organismo. Por isso, existe a necessidade de desintoxicação, ativando o sistema de destoxificação hepática e intestinal. Segundo Higashi a medicina ortomolecular oferece algumas alternativas para desintoxicação, sendo algumas técnicas milenares como a Hidroterapia de Cólon e a Sauna Seca de Cedro. O uso de Argila Verde, Algas Vermelhas do Chile, Ozônio e Massoterapia Oriental também podem ser utilizadas. Os "Emissores de Freqüência" também são comprovados e aprovados para desintoxicação de resíduos de agrotóxicos, Metais Pesados e alguns tipos de Toxinas Endógenas. 

Já se sabe que é preciso mudar hábitos alimentares com o consumo de produtos com uma menor quantidade de resíduos, pois efetivamente parece não ser possível se livrar totalmente destes agentes tóxicos nos tempos modernos. Finalmente, os consumidores que desejam minimizar a exposição aos resíduos podem fazer com maior segurança adquirindo produtos orgânicos em mercados locais. Sempre que possível deve-se evitar produtos vindos de regiões distantes onde pode haver alta contaminação ambiental (produtos persistentes) e derivação de produtos químicos provenientes de propriedades convencionais. 


QUALIDADE AMBIENTAL: Biodiversidade, eficiência energética e mudanças climáticas

Biodiversidade

A importância da biodiversidade para a heterogeneidade da paisagem tem sido reconhecida em vários estudos (NORTON et. al., 2006). Sabe-se que a perda da biodiversidade nas terras agrícolas está associada à uma redução na diversidade e na complexidade de habitats em várias escalas. Segundo Norton et.al. (2006) o manejo indicado nas normas de produção orgânicas colabora com a biodiversidade numa tendência geral de aumento da riqueza e abundância de plantas, animais invertebrados e aves, o que pode variar de acordo com os grupos de organismos estudados ( http://www.ortomoleculardrhigashi.med.br ). 

Embora se saiba que a exclusão dos agrotóxicos e fertilizantes químicos seja um aspecto fundamental para a biodiversidade, o estudo supracitado revelou que as propriedades orgânicas também diferem das convencionais em vários aspectos como na composição da fauna e flora e organização dos habitats. Os dados indicam que a agricultura orgânica tem potencial para restabelecer a heterogeneidade dos habitats agrícolas, reforçando assim a biodiversidade agrícola. No entanto, a área total de orgânicos em relação à convencional continua pequena (cerca de 1% no Brasil) e precisa aumentar para que se tenha um efeito positivo sobre a biodiversidade geral. 

Eficiência Energética: maior em sistemas orgânicos 

A agricultura orgânica é geralmente mais eficiente no aproveitamento da energia no sistema de produção de alimentos. De acordo com Azeez & Hewlett (2008) na produção orgânica se utiliza, em média, 26% a menos de energia por tonelada de alimento. O estudo foi realizado no Reino Unido, comparando quinze produtos vegetais e animais da agricultura orgânica com a convencional. O principal fator é a não-utilização de fertilizante a base de nitrogênio que consome muito combustível fóssil para ser produzido no processo industrial. A agricultura orgânica é energeticamente mais eficiente para o trigo e para a maioria das hortaliças, leite, carne vermelha (bovinos e ovinos) e suínos, mas é menos eficiente para a produção avícola. O estudo mostrou ainda que a mudança de curso para a agricultura orgânica poderia reduzir a utilização da energia fóssil em cerca de 20%. Em síntese, o aproveitamento dos recursos biológicos e ecológicos nos processos empregados pela agricultura orgânica é energeticamente mais eficiente quando comparados aos insumos agrícolas fabricados industrialmente. Do ponto de vista da eficiência energética, o consumidores podem contribuir com as suas escolhas, preferindo alimentos orgânicos, da estação, produtos locais e reduzindo o consumo de carne.

Emissões de Gases e Efeito Estufa: menor em sistemas orgânicos 

Uma pesquisa bem conduzida acompanhando 81 explorações agrícolas comerciais na Alemanha foi realizada para medir as emissões dos gases CO2, CH4 e N2O a partir de produção em sistema orgânico e convencional (KÜSTERMANN & HÜLSBERGEN, 2008). De acordo com os pesquisadores uma correlação linear foi encontrada entre os insumos utilizados (energia de entrada) e a produção de gases com efeito estufa potencial. Devido à menor entrada de nitrogênio e insumos sintéticos, e também níveis mais elevados de C sequestrado, as propriedades orgânicas apresentaram emissões que foram 2,75 vezes menor do que o emissões provenientes de explorações convencionais. Outros estudos citados por Halweil (2007) acrescentam ainda que o aumento dos níveis atmosféricos de dióxido de carbono associados com as alterações climáticas (níveis são cerca de 30 % mais elevados do que no início da revolução industrial) tendem a acelerar o crescimento das culturas, formando culturas menos saudáveis para os animais e seres humanos. Mais de uma centena de estudos têm mostrado que o aumento atmosférico de níveis de carbono tendem a reduzir o nitrogênio atmosférico, enquanto dezenas de experimentos em casa de vegetação mostram que o aumento de CO2 também provoca diminuição significativa do zinco, ferro, fósforo, potássio, magnésio e outros micronutrientes nas plantas.

Qualidade e Regulamentação 

Ditado pela escolha dos consumidores, uma das tendências claras para os próximos anos é a associação da qualidade com regras claras de conhecimento de produção, processamento e comercialização (rastreabilidade). A garantia de conhecer a origem do produto e de estar consumindo um alimento seguro para saúde tornou-se prioridade quando se pensa em qualidade. O respeito ao meio ambiente em termos de proteção dos recursos naturais, um mercado justo e solidário com exigências de ordem social e ética também começam a ser diferenciais na escolha do consumidor. Neste sentido, os alimentos provenientes de sistemas orgânicos ou agroecológicos, identificados com o selo de qualidade, apresentam um valor suplementar no plano socioeconômico porque são produzidos segundo um método que respeita o meio ambiente, o produtor e o consumidor. A implementação da regulamentação da atividade orgânica no Brasil em 2007, deve ajudar a desenvolver o mercado de forma organizada e competitiva uma vez que definiu regras claras quanto aos processos e produtos aprovados. Ademais, a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica propiciará aos consumidores mais garantias e facilidade na identificação dos produtos.


À GUIZA DE CONCLUSÃO

A qualidade dos alimentos dependerá, em última instância, de consumidores responsáveis. A escolha por uma alimentação consciente tem relação direta com a forma de produção orgânica. Fazer essa escolha é mais do que optar por uma alimentação isenta de agrotóxicos e aditivos químicos, é preocupar-se com técnicas de manejo sustentáveis e com as famílias que produzem esse alimento. É observar com atenção os rótulos de produtos industrializados, preocupar-se com a forma de conservação dos alimentos, enfatizar a importância da história, cultura e tradição associados ao sabor e frescor dos alimentos. Em suma, o consumidor consciente busca comer com conhecimento pleno do processo que envolve o alimento desde sua produção até o momento de ser consumido. As respostas sobre os benefícios da dieta orgânica para a saúde humana continuam em aberto e são desafios para as futuras pesquisas. Algumas tendências positivas foram observadas em pesquisas com animais de pequeno e grande porte, apontando para padrões desejados de saúde, como o fortalecimento do sistema imunológico e uma maior resistência contra enfermidades. A análise comparativa de sistemas de produção não deixa dúvida dos problemas causados pelo sistema convencional e tem mostrado que os agricultores orgânicos que seguem um enfoque ecológico tem conseguido resultados satisfatórios em vários aspectos ligados à sustentabilidade. Apesar de estudos mostrarem que, normalmente, a produtividade em sistemas orgânicos é menor, o balanço energético aponta para um custo de produção também menor, com resultado socieconômico final positivo. 

Em relação à qualidade nutricional, de forma geral, para a maioria dos nutrientes minerais ainda não existe um consenso sobre a superioridade dos orgânicos. Todavia, para alguns elementos é possível observar tendências ou padrões. Ficou evidente que a maior parte dos estudos comparativos apontam para um teor superior de matéria seca, um menor teor de nitratos e um maior teor de vitamina C para produtos orgânicos, notadamente em legumes e folhosas. A hipótese é que isso esteja ligado à menor quantidade e fontes menos disponíveis de nitrogênio em sistemas orgânicos. 

As pesquisas indicam ainda que plantas cultivadas organicamente podem conter mais fitoquímicos – os vários compostos secundários (incluindo carotenóides e polifenóis) que os vegetais produzem para se defender de pragas e doenças, muitos dos quais têm importantes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, entre outros benefícios para os seres humanos. 

Quanto á qualidade organoléptica do produto orgânico avaliando sabor, aroma, acidez, palatabilidade, os estudos mais recentes mostram ligeira superioridade para alimentos orgânicos. Todavia, na pesquisa comparativa há dificuldade de um controle de variáveis ambientais. Em pesquisas realizadas junto ao consumidor de feiras verdes, existe a percepção de que os orgânicos são mais saborosos, provavelmente por serem produtos mais frescos. 

No tocante a qualidade sanitária não há nenhuma evidência que alimentos orgânicos possam ser mais suscetíveis a contaminação microbiológica que alimentos convencionais. Entretanto, seria interessante desenvolver pesquisas para as nossas condições, sobretudo com Escherichia Coli que tem causado a maior parte da contaminação em alimentos, para saber se o uso de diferentes tipos de esterco animal – mesmo após um período de compostagem – poderia trazer algum risco à saúde dos consumidores. Como recomendação geral, tanto no sistema orgânico quanto no convencional, é sugerido que sejam seguidos um conjunto de medidas para redução dos riscos de patógenos entéricos em alimentos frescos. Além disso, o uso de boas práticas de higiene alimentar nos processos de produção, transformação, transporte, armazenamento, comercialização e consumo é fundamental para manter a qualidade do produto. Em relação a contaminação por resíduos de produtos químicos é inquestionável o fato de produtos da agricultura convencional apresentarem maior risco quando comparado aos orgânicos. De outro lado, uma lacuna na pesquisa é a falta de trabalhos que analisem resíduos de produtos químicos em produtos orgânicos ou agroecológicos. Além disso, são necessários mais estudos sobre a persistência de resíduos de produtos naturais como inseticidas e fungicidas ecológicos (rotenona, piretro, enxofre e cobre) permitidos em algumas situações no sistema orgânico. Sobre a qualidade ambiental os resultados apontam que os sistemas orgânicos têm potencial para restabelecer a heterogeneidade dos habitats agrícolas, reforçando a biodiversidade agrícola. Ademais, são mais eficiente em termos energéticos e produzem uma menor quantidade de gases de efeito estufa. 

Finalizando, o desafio na busca de uma alimentação de qualidade está no processo de tomada de consciência da sociedade, em particular dos consumidores, sobre como é produzida a nossa comida. Se o número de propriedades convencionais continuar sendo o padrão dominante, provavelmente continuaremos tratando a doença e não promovendo à saúde. 

Apesar de existirem discordâncias entre a comunidade científica de que plantas cultivadas organicamente são melhores para saúde da população, pela simples falta de dados epidemiológicos, não há dúvidas de que é preciso mais atenção da saúde pública para os problemas causados pelo sistema convencional. Por isso, informações qualificadas devem estar disponíveis ao consumidor na hora da escolha de um alimento de qualidade. 






segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Cultivo Orgânico do Inhame

 

 O inhame (Dioscorea cayenensis Lam) é uma importante hortaliça-rizoma, cultivado especialmente nas regiões Centro-Sul e Nordeste brasileiro. No Brasil, diferentes denominações vulgares para a cultura ocorrem por regionalização. Por exemplo, a palavra inhame, no Sul e Centro-Sul do Brasil, é aplicada à espécie comestível, de valor econômico apreciável, Colocasia esculenta (L.) Schott, pertencente à família Araceae, também referida por taro. Em São Paulo, particularmente, cultiva-se muito Dioscorea alata L, que é conhecida por cará, palavra de origem Tupi. No Nordeste, a palavra inhame também é muitas vezes substituída por cará, especialmente quando em referência às túberas de D. alata (cará São Tomé e cará Nambu). Para ser evitada duplicidade de termos, ficou estabelecido por ocasião do I Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Cará, realizado em 2001, em Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, que no meio técnico-científico nacional, a partir daquela data, o termo cará seria substituído definitivamente por inhame e o inhame (C. esculenta) denominado definitivamente de taro.

     O inhame também conhecido como cará-da-costa, é uma planta de origem africana, sendo cultivado no mundo inteiro por se tratar de um alimento energético e de alto valor nutritivo. O inhame é uma planta herbácea, com caules volúveis que produz rizomas isolados ou em feixes, com coloração escura na casca e polpa de cor branca, amarelada ou avermelhada (Figuras 1 e 2). Pertence à mesma família do mangarito e da taioba. No Brasil existem cinco gêneros e 625 espécies. A maioria das espécies não serve para alimentação. O ciclo do inhame é anual, mas uma planta pode produzir dois tipos de túberas: as comerciais, colhidas entre sete a nove meses, ou precocemente, cinco a sete meses após o plantio, o que proporciona, neste caso, a produção de túberas-sementes, três meses após às túberas comerciais. As túberas comerciais, também denominadas de rizóforos, constituem-se em produto agrícola de apreciável valor comercial no mercado interno e externo.

      Figura 1. Hortaliça-rizoma: Inhame

Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: O inhame pode substituir a batata em qualquer receita: purê, salada, fritura, para engrossar sopas e pastas de legumes. Pode-se fazer massas com inhame ralado e, assim, dispensar a utilização de farinha. O ideal é cozinhar o rizoma com a casca para preservar os nutrientes. Além disso, é mais fácil descascar depois de cozido. O inhame descascado é branco e tem uma consistência muito firme, mas após ser cozido fica com um tom levemente azulado e torna-se macio. Para quem tem intolerância ao glúten, o inhame é ótima opção. A folha da trepadeira também pode ser aproveitada. Cozida ou refogada, pode ser consumida em diferentes pratos.    No nordeste brasileiro, costuma-se comer o inhame cozido  com um pouco de mel ou melado no café da manhã. Forma de preparar: cozinhe com ou sem casca; mantendo a casca na cocção, nutrientes como vitaminas e minerais hidrossolúveis não se perdem. Após descascar, deixe-o imerso em água com vinagre para não escurecer. Ao cozinhar, apenas cubra com água fervente salgada. Cortado em cubos de 2 por 2cm, cozinha em 6 minutos; portanto, em sopas não misture com cenoura, por exemplo, que demora mais para cozinhar. Ao cozinhar inteiro, verifique com o garfo se já está macio. Após esfriar, puxe a casca com  a faca. Cozido, pode ser fritado, refogado ou passado em manteiga ou azeite e servido polvilhado com ervas. São recomendados para pessoas com alto gasto energético, porque é um alimento calórico, com a vantagem de ser de digestão fácil e rápida. O inhame é rico em amido e em beta caroteno (vitamina A), boas fontes de vitaminas C e do complexo B, além de conterem cálcio, fósforo e ferro. No entanto, deve-se ter atenção especial com as espécies de inhame de procedência duvidosa, pois algumas delas são venenosas, podendo causar graves danos à saúde e até a morte. O inhame é fonte de carboidratos complexos, proteínas, minerais e vitaminas. Estimula a depuração do sangue, facilitando a saída das impurezas através da pele, rins e intestinos. Além disso, reduz o colesterol ruim e ajuda a controlar os níveis de ácido úrico no organismo. No começo do século passado já se usava elixir de inhame para tratar sífilis. Fortalece o sistema imunológico. Os médicos orientais recomendam comer inhame para fortificar os gânglios linfáticos, que são os postos avançados de defesa do sistema imunológico. A medicina oriental utiliza o rizoma também como anti-inflamatório, em tratamentos contra reumatismo, artrite e outras inflamações. Para as mulheres, o inhame é um aliado: aumenta a fertilidade, alivia sintomas da tensão pré-menstrual e da menopausa por conter fitoestrógenos, que ajudam a regular os níveis hormonais.

Figura 2. Inhame: Fase vegetativa


Inhame combate a dengue: Mito ou verdade? 

A ciência não descarta supostos benefícios para amenizar os sintomas da doença

     A dengue é uma infecção virótica que faz doer o corpo inteiro, especialmente as juntas, e provoca muita febre; deixa a pessoa fora de combate por algum tempo e pode matar. Comer inhame, alho ou ingerir complexo B previnem a dengue. O que atrai a fêmea do mosquito para o corpo humano é o cheiro. Por isso, qualquer produto que ingerimos, quando eliminado do organismo, confunde a fêmea, já que modifica nosso cheiro. Mas cuidado! Essas substâncias precisam ser consumidas em grandes quantidades para que a eliminação chegue a confundir o mosquito. Inhame em grande quantidade não faz tão bem ao organismo, complexo B em excesso causa toxidez e o alho, traz aquele mau hálito. O Inhame é muito usado na fitoterapia. No caso da dengue, o doente tem que tomar cuidado com a forma desta ingestão. Como as pessoas afetadas pela doença, geralmente, ficam sem apetite, muitas se esforçam e comem somente o tubérculo achando que serão curadas, o que pode gerar outros problemas. A chave para se recuperar está na hidratação, seja em forma de água, suco ou o soro que pode ser retirado gratuitamente nos postos de saúde. A suposta cura da dengue está relacionada às propriedades depurativas e a presença de vitamina B que compõem o tubérculo. A crença popular julga que estas propriedades são capazes de expulsar o vírus do organismo e a vitamina B, afastaria o mosquito através de substancias exaladas pelo suor. Hoje em dia sabe-se que, uma alimentação rica em potássio, sais minerais e carboidratos que são encontrados na banana, melão, beterraba, batata e o famoso inhame, agiliza a cura. Vale destacar que quem estiver bem debilitado o melhor remédio é a hidratação venosa. Mas, o melhor tratamento é acabar com as larva e os focos dos mosquitos e para aqueles que estão doentes a indicação é repouso, nutrição e hidratação. Mas isso não significa que se você ficar quietinho, comendo sopa com suco de inhame, irá se recuperar mais rápido.

Cultivo: O inhame é uma planta tipicamente tropical, de clima quente e úmido. Para um bom desenvolvimento da cultura, a temperatura média deve ser de 23 a 25ºC; não tolera frio e, especialmente geadas. 

Cultivares: Existe uma grande variedade de inhames, entre as quais o inhame-branco, o inhame-bravo, o inhame-cigarra, o inhame-da-china (também chamado de inhame-cará) e o inhame-taioba. Há diversas cultivares de inhame que são comestíveis: São Tomé e o Sorocaba, além do Cará-da-Costa e do Cará-Mandioca, que, apesar dos nomes, referem-se mesmo ao inhame. Dentro de cada espécie, existe ainda uma variação entre os clones, principalmente no aspecto dos tubérculos, na cor da polpa e na adaptação. Entre os principais podem ser citados a variedade São Tomé, bastante difundida na região Centro-Sul e no Nordeste, o Cará-da-Costa, é o mais cultivado. 

Propagação: propaga-se exclusivamente através de material vegetativo. Podem ser usados rizomas pequenos, inteiros, que não atingem o padrão comercial, mas com peso mínimo de 100g; os rizomas maiores podem ser cortados em pedaços, contendo de duas a três gemas cada um, com peso na faixa de 250 a 350g. Todas as partes podem ser usadas no plantio, embora a parte de cima apresenta melhor pegamento que as partes do meio e da ponta, pois tem maior quantidade de gemas. É preciso deixar os rizomas em repouso, após cortados, em local ventilado para que cicatrize a parte cortada, impedindo a entrada de patógenos. As túberas-sementes, conhecidas pelos agricultores nordestinos por mamas, são produzidas por meio de técnica denominada capação, que consiste na retirada da túbera comercial, deixando-se suficiente quantidade de tecidos no local da extirpação, para possibilitar a formação de um aglomerado de pequenas túberas, que são colhidas três meses após. Tais túberas são produzidas por um número limitado de agricultores que comandam esse tipo de mercado, com apreciáveis lucros econômicos. 

Solo e adubação: O inhame prefere solos areno-argilosos ou mesmo arenosos, leves e bem profundos, com pH na faixa de 5,5 a 6,0. A planta responde bem ao fósforo; por isso, se o teor no solo for baixo, conforme a análise do solo, feita com antecedência, recomenda-se adicionar fosfato natural ao adubo orgânico ou aplicá-lo diretamente no solo, antes do plantio. 

Preparo do solo, plantio e espaçamento: O inhame pode ser plantado em sulcos abertos no solo, ou em leiras. Os sulcos só serão indicados para solos bem soltos e, devem ser abertos numa profundidade de 15 a 20cm. Em terrenos mais pesados, recomenda-se utilizar leiras para o plantio. A altura das leiras deve ser de, pelo menos, 30 cm. Deve ser feito um sulco no topo das leiras, com cerca de 15 cm de profundidade. Neste sulco é distribuído o adubo orgânico, de acordo com a análise do solo e do adubo. No Nordeste, o plantio irrigado é feito de setembro a outubro e, sem irrigação, de janeiro a março. No Centro-Sul, o plantio é feito de setembro a dezembro, quando começa o período das chuvas. Em regiões de baixa altitude, com temperaturas médias anuais mais elevadas, planta-se de junho a setembro. No plantio, as mudas devem ser distribuídas ao longo da leira ou do sulco, colocando a parte cortada virada para baixo. Após a distribuição, as mudas devem ser cobertas com uma camada de 5cm de terra. Para a cultura conduzida no sistema rasteiro, o espaçamento pode ser de 80 a 90 cm entre linhas por 20 a 30 cm entre plantas. No caso do tutoramento, recomenda-se o espaçamento de 1,20m entre linhas e 40 a 60cm entre plantas. Se o solo for fértil e a umidade alta, recomenda-se utilizar espaçamentos mais apertados, para evitar que os rizomas cresçam muito, o que dificulta sua aceitação em mercados mais exigentes. 

Capinas: até os 100 primeiros dias após o plantio, a linha de plantio deve estar livre de plantas espontâneas. As capinas, na fase inicial devem ser feitas em faixas, limpando-se junto às plantas e mantendo uma faixa de plantas espontâneas ou de adubos verdes, de cerca de 20 cm entre as linhas de cultivo. 

Consorciação de culturas: O plantio consorciado de espécies vegetais traz benefícios para as culturas de interesse econômico, segundo pesquisadores da Embrapa Agrobiologia. O cultivo orgânico de inhame entre faixas de guandu confere sombreamento e protege as folhas dessa hortaliça contra queimaduras do sol, durante o seu crescimento, além de promover controle do crescimento de ervas espontâneas. O guandu participa do consórcio como adubo verde e fornece quantidades significativas de nitrogênio para o inhame. É plantado em faixas distanciadas de 4 a 6m, sendo as mesmas formadas por fileiras duplas espaçadas de 0,50m. É podado cerca de 100 dias após o plantio do inhame e sua palhada é mantida sobre o solo, disponibilizando, assim, ao se decompor, nitrogênio oriundo da fixação biológica do ar. O cultivo consorciado com a leguminosa Crotalária juncea promoveu maior altura nas plantas do inhame, assim como reduziu a queima de folhas pelos raios solares. A população infestante de ervas espontâneas foi mais efetivamente controlada com a combinação entre consórcio e plantio direto em cobertura morta de aveia preta.

 Irrigação: Durante o período chuvoso, a cultura não precisa de irrigação, pois é bastante resistente à seca. Na falta de chuvas, o uso de irrigação após o plantio apressa a brotação e favorece o desenvolvimento inicial das plantas, obtendo-se colheitas precoces e melhores preços na comercialização. Quando atinge o ponto de colheita, o excesso de umidade no solo pode provocar apodrecimento e brotação dos rizomas. Em média, as chuvas por ano devem superar os 1.500mm, devendo ter disponíveis 400 mm entre os 3,5 e 5 meses de vegetação. Tutoramento: É feito com varas com 2m de comprimento. Pode-se utilizar uma vara por planta ou uma para cada duas plantas. Também pode-se fazer o tutoramento na forma de cerca cruzada, semelhante ao utilizado na cultura do tomate. O tutor é fincado na leira, bem firme. A planta se desenvolve sobre este apoio, enroscando-se sozinha. Doenças e pragas: Apesar de existir referência de ataque de doenças e pragas, o inhame é uma planta bastante rústica, principalmente se o sistema estiver equilibrado através do uso de prática adequadas, tais como adubação equilibrada, uso de sementes não contaminadas, rotação de culturas e adubação verde.

Colheita: O ciclo do inhame, do plantio à colheita, dura de 8 a 10 meses. O ponto de colheita é quando as folhas ficam amarelas e os ramos secam. A colheita manual é feita com auxílio de enxada ou enxadão, tomando-se cuidado para não ferir os rizomas. Depois, eles são recolhidos e colocados em caixas. Para comercializá-los é preciso limpar e retirar as raízes. Pode-se lavar os rizomas, deixando secar, em seguida, para uma adequada embalagem. Para estocar, o inhame deve ser colocado em galpão arejado e fresco, sendo os rizomas espalhados em uma camada fina. É possível estocá-los por até dois meses.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Cultivo Orgânico da Berinjela


Berinjela

     A berinjela (Solanum melongena L.) é uma planta perene, porém cultivada como cultura anual;  apresenta alto vigor, podendo atingir 150-180 cm de altura (Figura 4). O sistema radicular é vigoroso e profundo atingindo profundidades superiores a 100 cm, embora a maioria das raízes se concentre mais superficialmente. É uma planta originária de regiões de clima tropical e subtropical, sendo uma das hortaliças mais exigentes em calor, como também em luminosidade. A berinjela (Solanum melogena), assim como o pimentão, o tomate, a batata e o jiló, pertence à família das solanáceas. Possui caule semilenhoso, folhas grandes, flores roxas, frutos ovais, alongados (Figura 4 e 5) e de toque macio - 50% do volume da berinjela é ar.  Sua origem é das zonas tropicais da China e da Índia. Até o continente europeu, a trajetória da berinjela foi conduzida pelos árabes. Em terras brasileiras, chegou no século 16, trazida pelos colonizadores portugueses. O seu cultivo predomina no Sul e Sudeste do Brasil.

Figura 4. Plantas e frutos de berinjela

Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: a berinjela pode ser recheada e cozida, grelhada, assada, ensopada e ainda frita à milanesa. No entanto, devido à textura esponjosa, a berinjela quando frita,  absorve muita gordura, cerca de 4 vezes mais do que a de uma batata frita. Embora seja pouco nutritiva, é uma hortaliça muito versátil, compondo muitos pratos de diferentes etnias. Apreciada em receitas de diferentes culturas, a berinjela é o principal ingrediente de comidas típicas da cozinha mediterrânea, indiana, francesa e de países do Oriente Médio. Finas fatias sobrepostas de berinjela e de batata recheadas com carne moída dão forma ao moussaka, tradicional prato da culinária grega parecido com lasanha, mas sem o uso de massa de farinha de trigo. Apesar de proporcionar uma sensação de saciedade, a berinjela é pobre em calorias, mas possui boa fonte de sais minerais e vitaminas, além de proteína, cálcio, ferro e fósforo. O suco da berinjela combate o colesterol ruim. A berinjela auxilia no emagrecimento, é diurética e reduz a gordura no fígado. As folhas ajudam a aliviar a dor de queimaduras.

Figura 5. Arte culinária: com um pouco de criatividade, as berinjelas podem se transformarem em pinguins

Cultivo: A berinjela se desenvolve bem em regiões de clima tropical e subtropical, mas sem excesso de chuva. Em épocas de floração, não suporta frio intenso e geadas. Para o cultivo, prefere as temperaturas entre 18 e 25 graus, principalmente na primavera, verão e outono. 

Plantio: nos meses da primavera, verão e outono, mas pode ser plantada o ano todo em locais de clima quente. A semeadura pode ser feita em copinhos plásticos ou de papel (200 a 300 ml). 

Cultivares: As variedades de berinjela mais comercializadas apresentam formato alongado, de 13 a 17 cm de comprimento, cor roxo-escura, quase preta. Mas há também frutos com características diversas, como os finos e alongados de cultivares do tipo japonês plantas em São Paulo. São encontrados nas cores roxa e verde. As arredondadas do tipo italiano têm casca de púrpura ou rosa rajada, polpa adoçicada e poucas sementes. 

Espaçamento: Para cultivares de com plantas pequenas, o espaçamento deve ser feito de 1,2 entre fileiras por 0,8  m entre plantas. Se forem mais vigorosas, deve ser de 1,5 x 1m. As mudas devem ser enterradas na mesma profundidade que se encontrava antes, com seis a sete folhas definitivas. 

Irrigação: Na obtenção das mudas e nos primeiros dias após o transplante, as regas devem ser diária. Posteriormente, devem ser feitas a cada 2 ou 4 dias, de acordo com o clima e tipo de solo. 

Outros tratos culturais :  Manter a cultura no limpo na linha de plantio. Resultados de pesquisa comprovaram que o plantio direto na palhada de adubos verdes como crotalária é eficiente no manejo de plantas espontâneas. O cultivo consorciado de berinjela com crotalária, caupi e feijão-vagem rasteiro (Figura 6)  não diminuem a produtividade, quando comparados ao monocultivo da berinjela.  Estaquear  as  plantas  bem  desenvolvidas  com bambu de 1,5 m de altura. Promover a  desbrota do terço basal das plantas.

Principais pragas: Ácaro vermelho, vaquinha, pulgão, tripes, lagarta-rosca e broca pequena.

Principais doenças: Causadas por fungos: Murcha de Verticillium, seca dos ramos, antracnose, podridão de Esclerotínia, tombamento e podridão do colo e raiz, podridão de Esclerócio, podridão do algodão, murcha de Ascochyta, mancha de Stemphylium, podridão de Fomopsis, mancha de Alternaria e podridão de Botritis

Figura 6. Berinjela consorciada com feijão-vagem arbustivo

Colheita: dependendo da variedade, dura três meses ou mais, a partir dos 90 a 110 dias de semeadura. Recomenda-se cuidado ao manipular os frutos durante a colheita, pois são bastante sensíveis ao amassamento e aos danos provocado por ferramentas e outros objetos. Recomenda-se o uso de uma tesoura de poda ou uma faca com corte afiado para retirar as berinjelas das plantas, pois o pedúnculo é lenhoso e resistente.






segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Plantas Medicinais: CIPÓ CRUZ


CIPÓ CRUZ 

Nome Científico: Calea pinnatifida 

Família: Asteraceae (Compositae) 

Outros Nomes Populares: erva-de-lagarto, aruca, cipó-cruz-do-norte. 

Usos: antitumoral. 

Parte Utilizada: folhas. 

Plantio: tem origem no cerrado, crescendo portanto em solos arenosos, ácidos e com pouca matéria orgânica. 

Princípios Ativos: poliacetileno, ácido anísico, glicosídeo do ácido p-hidroxibenzóico, sitosterol e germacranolídeos (como arucanolídeo). 

Observações:
 •O Arucanolídeo é um tipo de germacranolídeo, e é a substância principal do cipó cruz com ação antitumoral, fazendo com que as células tumorais sejam induzidas à apoptose. 
•Esta planta não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela Anvisa. Por este motivo, algumas informações sobre o seu uso medicinal não foram encontrados. 

Arbusto de cipó-cruz e detalhe de suas folhas 



sábado, 22 de agosto de 2020

Plantas Medicinais: CAVALINHA (Equisetum sp.)



CAVALINHA 

Nome Científico: Equisetum sp. 

Família: Equisetaceae 

Outros Nomes Populares: cavalinha-gigante, cola-de-cavalo, erva-canudo, milho-de-cobra, rabo-de-cavalo, rabo-de-raposa, cauda-de-raposa, rabo-de-cobra, lixa-vegetal, rabo-de-rato, erva-carnuda, cana-de-jacaré, cauda-equina. 

Usos: diurético; trata edemas causados por retenção de líquido. 

Parte utilizada: caules estéreis* 

Plantio: não possuem sementes, se multiplicam por rizomas e esporos. É nativa de áreas pantanosas de quase todo o Brasil, e por ser agressiva e persistente, deve ser contida para 
evitar que se transforme numa planta daninha. 

Coleta e Conservação: A melhor época para o corte é no verão, onde se tira apenas a parte aérea (caules estéreis). Após o corte, deve-se secá-la ao sol e em local seco. Armazenar em sacos de papel ou de pano. 

Princípios Ativos: ácido silícico, sílica, saponinas, flavonoides, ácidos orgânicos, substâncias amargas e sais minerais. 

Modo de preparo: Chá por infusão: 1 colher de sopa da planta picada em 150mL (1 xícara de chá) de água, e tomar 1 xícara de chá de duas a quatro vezes por dia. Uso somente em adultos.

Observações: 
•Segundo a literatura popular, Equisetum spp. também pode ser usado no tratamento de próstata, resfriados, gripes, herpes, baço, tísica, bronquite, hidropisia, esclerose, hemorróidas, aftas, feridas, contusões, câncer, osteoporose, coração, espinhas, nervos, gota, leucorréia, tumores cancerosos, problemas menstruais, fraturas, problemas nos dentes, inflamação no fígado, intestino, olhos, ouvidos, garganta, falta de memória e visão, amidalite, gengivite, chulé, caspas, sudorese excessiva, problemas de pele e hipertensão. Porém, estes usos ainda não foram comprovados cientificamente. 
•É considerada tóxica ao gado bovino e equino. Devido à presença de sílica, ao ser ingerida, este vegetal causa diarreias sanguinolentas, aborto e fraqueza1. Já para o gado equino, a cavalinha é tóxica por conter substâncias com efeito antitiamínico, causando deficiência de tiamina (vitamina B1) no organismo dos cavalos. Os sintomas causados são de perda de peso e do controle muscular, podendo levar o equino à morte por consequência do emagrecimento. 


* A cavalinha é uma planta pteridófita e possui dois tipos de caule: fértil e estéril. O caule fértil é avermelhado, curto, não possui clorofila, apresenta em sua extremidade uma espiga produtora de esporos. Ele surge na primavera, e não é utilizado para fins medicinais. Depois que os caules férteis murcham, nasce o estéril. O caule estéril é verde, longo, canelado, cheio de nós e possui muita ramificação, como na imagem ao lado. 



sábado, 1 de agosto de 2020

Cultivo do Pimentão Orgânico


Pimentão

     O pimentão (Capsicum annuum), espécie semiperene, pertence à família das solanáceas, a mesma da batata, tomate, jiló, berinjela e das pimentas em geral. Oriundo do continente latino-americano, sobretudo do México e da América Central, o fruto tropical se espalhou pelo mundo após a chegada do colonizador europeu. Daqui, foi levado para África, Europa e Ásia por embarcações portuguesas. Após vários anos de cruzamento, hoje o pimentão híbrido encontrado no mercado nacional tem formato quadrado alongado e casca espessa. O pimentão é uma das hortaliças que colaboram para dar ao prato um visual vibrante, sem deixar de lado seu papel como fonte de vitaminas e nutrientes ao consumidor. Em receitas para o Natal, a hortaliça também cai muito bem por contar com as cores verde e vermelho, tons que simbolizam a celebração do fim de ano (Figura 1).

Figura 1. Hortaliça-fruto: pimentões

Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: a hortaliça pode ser consumida tanto verde quanto madura; o pimentão pode ser servido cru, fatiado como aperitivo, na salada ou em pastas, cozidos no vapor, tostados, recheados ou cozidos. O pimentão é uma excelente fonte de vitamina A e C, além de pequenas quantidade de vitamina B6 e folato e, ainda pobre em calorias; comparando pesos iguais, o pimentão fornece mais vitamina C que as frutas cítricas. Os pimentões de cores fortes possuem alto teor de bioflavonóides, pigmentos vegetais que ajudam a prevenir contra o câncer, de ácidos fenólicos que inibem a formação de nitrosaminas cancerígenas e de esterol vegetal, precursor da vitamina D que parece proteger contra o câncer. Os pimentões, na arte culinária, ainda podem se transformar-se em sapos (Figura 2).

Figura 2. Arte culinária: com criatividade o pimentão pode transformar-se em sapos 

Cultivo: O pimentão é uma hortaliça-fruto típica de clima tropical, exigindo temperaturas noturnas e diurnas mais elevadas que o tomate. O pimentão é uma espécie sensível ao frio durante a germinação e produção de mudas, produzindo melhor sob condições amenas. A temperatura ideal para a germinação se situa em volta de 25°C. A planta tem um desenvolvimento adequado com temperaturas entre 20 e25°C; o desenvolvimento é deficiente quando a temperatura baixa de 15°C e nulo com as temperaturas inferiores a 10°C. A temperatura ideal para floração e frutificação situa-se entre 20 e 25°C, temperaturas superiores a 35°C comprometem a floração e a frutificação provocando o aborto e a queda das flores, sobretudo se o ambiente é seco e pouco luminoso. Temperaturas inferiores a 8-10°C reduzem a qualidade dos frutos, dado que estas favorecem a formação de frutos partenocárpicos, que com poucas ou nenhuma semente, ficam deformados e sem valor comercial. A umidade relativa adequada se situa entre 50 e 70%. A umidade baixa combinada com altas temperaturas pode provocar a queda das flores. A época de plantio depende do clima da região. Em regiões baixas, com altitude menor que 400m e, de inverno ameno, pode ser semeado o ano todo; no entanto, a semeadura de março a maio propicia melhores condições para a cultura e a colheita se dá na época de melhores preços. Nas regiões muito quentes recomenda-se cultivar o pimentão no outono-inverno. Em regiões altas e mais frias, acima de 800 m de altitude, a melhor época de plantio vai de agosto a fevereiro. O cultivo do pimentão em abrigos é uma boa alternativa para obter-se o produto na entressafra. 

Cultivares: as mais cultivadas pertencem a dois grupos: o grupo Cascadura, com formato semicônico, ligeiramente alongado e coloração verde-escura e, o grupo Quadrado, com frutos cilíndricos, com comprimento quase igual ao diâmetro. No cultivo orgânico, os híbridos Magali e Magali R, são os que mais tem se destacado. Produção de mudas: a semeadura deve ser realizada, preferencialmente em copinhos de jornal; Também pode ser reutilizado copinhos plásticos usados para refrigerantes e bandejas de isopor com 72 células (ver matéria “Cultivo orgânico de hortaliças-frutos Parte I” postada em 31/10/2012). É muito importante que as mudas sejam feitas dentro de um abrigo, utilizando-se recipientes com substrato de boa qualidade. As mudas estão prontas para o transplante quando estiverem com 10 a 15 cm de altura e seis a oito folhas definitivas (30 a 45 dias após a semeadura). 

Preparo do solo e adubação: O pimentão prefere solos bem arejados, profundos, com boa drenagem, pois é uma planta sensível à asfixia radicular. Recomenda-se o plantio direto das mudas em sulcos ou covas após limpeza da linha de plantio, preferencialmente sobre adubos verdes semeados no outono ou no verão ou sobre as plantas espontâneas (“mato”), após a roçada. A adubação e correção do solo deve ser feita, com antecedência, com base na análise do solo e do adubo orgânico. 

Espaçamento e plantio: o espaçamento para o plantio é de 1m entre linhas por 40 a 50 cm entre plantas. A muda deve ficar na mesma profundidade que estava no recipiente, pois o plantio profundo favorece a podridão do colo, motivo pelo qual não se recomenda a amontoa para esta cultura. 

Irrigação: Após o transplante, o pimentão deve ser irrigado, preferencialmente no sistema de gotejamento. Caso seja utilizado a irrigação por aspersão, deve-se evitar fazer no final da tarde, pois as folhas poderão passar a noite molhadas, o que favorece a entrada de doenças foliares. Deve-se evitar o excesso de água, especialmente, durante o aparecimento das primeiras folhas, pois provoca a queda das mesmas. O excesso de umidade deixa as folhas com coloração verde clara e algumas plantas morrem pela falta de oxigenação nas raízes. Pode-se identificar a falta de água, quando as folhas do pimentão ficam esbranquiçadas e as folhas das novas brotações ficam menores. 

Cobertura morta ou viva: O pimentão é beneficiado com as coberturas de solo, morta (capim) ou viva. Na cobertura viva (adubos verdes, capins e outros) deve-se tomar cuidado para manter sempre no limpo a linha de plantio (em torno de 20 cm), com roçadas frequentes, para evitar o sombreamento das plantas e, principalmente dificultar a aeração, além de favorecer à umidade excessiva no cultivo. 

Capinas: são feitas manualmente, em faixas, mantendo-se uma faixa de vegetação nativa ou de adubos verdes de cerca de 40 cm nas entrelinhas. Não deve-se fazer amontoa em pimentão pois favorece a doença do colo da planta. 

Tutoramento e amarrio: o tutoramento deve-se fazer quando as plantas atingem cerca de 30 cm de altura. O tutoramento mais utilizado é com estacas de bambu ou taquara, com 1,0 m de comprimento, fincadas lateralmente em cada planta, procedendo-se posteriormente o amarrio da planta. Outro sistema é o uso de cordões de nylon (fetilhos) fixados num fio de arame esticado sobre a linha de plantio à 1,5 m de altura; neste caso não há necessidade de amarrar as plantas, bastando enroscá-las periodicamente no fetilho, à medida que vão crescendo. 

Desbrota: a emissão de brotações secundárias, além das hastes principais da planta (duas a quatro), devem ser eliminadas periodicamente, para evitar esgotamento da planta, em detrimento da frutificação. 

Manejo de doenças e pragas: no cultivo orgânico, normalmente as doenças e pragas não são problemas. No entanto, o manejo incorreto da cultura, nutrição inadequada das plantas e os desequilíbrio ecológico podem favorecer as doenças e pragas. As viroses, a murcha bacteriana, a murcha de fitóftora, o oídio, a antracnose, os ácaros e tripes podem, associados às condições desfavoráveis de clima (quente e úmido), limitar a produtividade e causar prejuízos aos produtores. Dentre as recomendações para minimizar as doenças e pragas, destacam-se:

a) Escolha correta da área, evitando-se terrenos úmidos e onde já foi plantado espécies da mesma família botânica do pimentão (tomate, batata, pimenta, berinjela, jiló e outras plantas hospedeiras), especialmente se ocorreu murchadeira (bacteriose); 
b) Eliminar restos culturais, especialmente se for de espécies da mesma família botânica; 
c) Uso de sementes sadias de origem conhecida de variedades resistentes, especialmente à viroses; 
d) Adubação orgânica equilibrada, conforme análise do solo; 
e) Fazer plantios menos adensados, com o objetivo de facilitar a circulação de ar entre as plantas e evitar o acúmulo de umidade; 
f) Utilizar, preferencialmente a irrigação por gotejamento; 
g) Ocorrendo a antracnose, uma das doenças mais comum, recomenda-se a utilização de calda bordalesa; 
h) Para o manejo de ácaros, recomenda-se a calda sulfocálcica; 
i) Para o manejo de tripes, transmissor de viroses, recomenda-se o extrato de primavera (buganville); 
j) Rotação de culturas, evitando-se as espécies da mesma família botânica. 

Rotação e consorciação de culturas: A rotação de culturas é uma prática altamente recomendável para todas as hortaliças, especialmente para as espécies mais susceptíveis às pragas e doenças (famílias botânica das solanáceas, cucurbitáceas e brássicas). As doenças e pragas, em grande número, são comuns nas espécies pertencentes à mesma família botânica. Outra prática recomendável é a consorciação de culturas, pois possibilita que o agricultor aumente sua renda e que varie a oferta de produtos de qualidade, alcançando maior lucro do que teria em cultivos do tipo “solteiro”. Resultados de pesquisa mostraram que a produtividade do pimentão consorciado com feijão-vagem arbustivo (Figura 3) não difere da obtida em monocultivo e, além disso, não há aumento nos custos de produção. Devido ao ciclo curto do feijão-vagem (em torno de 60 a 70 dias), é possível que sejam feitos dois plantios seguidos dessa leguminosa em uma mesma lavoura de pimentão, pois este é colhido de quatro a cinco meses após seu plantio, o que pode resultar em renda extra e maior eficiência no uso da terra. Arranjos em que o feijão-vagem é semeado nas entrelinhas do pimentão, de forma alternada, são os mais indicados. O feijão-vagem é favorecido pela adubação orgânica do pimentão e contribui para o processo de fixação biológica de nitrogênio, aumentando a disponibilidade desse nutriente, em benefício de todas as plantas da lavoura.

Figura 3. Pimentão consorciado com feijão-vagem arbustivo 

Colheita: O início da colheita se dá em torno de 70 dias após o transplante, podendo se estender por mais dois a três meses, dependendo do estado nutricional das plantas.