google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: setembro 2018

ANUCIOS

domingo, 23 de setembro de 2018

Agricultura Orgânica vs Agricultura Convencional parte 6 (controle natural)



A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas forma um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria. As sementes ditas melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem. A utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. E se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos,  inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção.
     A agricultura moderna está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para diminuir a utilização de agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois podem deixar resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos. Um exemplo das sérias consequências à saúde humana do uso crescente e abusivo de agrotóxicos na agricultura são os casos de intoxicação e mortes registrados no Centro de Informações Toxicológicas (CIT) situado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, SC. No período de 1986 até 2007, o CIT detectou 9.933 intoxicações de agricultores e 210 mortes em Santa Catarina (Fonte: Centro de Informações..., 2008). Segundo os técnicos, esses números representam apenas uma parte da realidade. Estima-se que para cada notificação oficial ocorram pelo menos 10 casos que não são registrados. Isso se deve, em parte, pela dificuldade de diagnosticar corretamente os casos de intoxicação.

Razões do ataque das pragas e doenças

     As hortaliças estão sujeitas a uma série de micróbios e insetos que causam danos às plantas. Os micróbios (bactérias, fungos, nematóides e vírus), quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças é importante ter em mente que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação, etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor). Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos micróbios e pragas, ocorre maior ataque das pestes. Por outro lado, se existirem  substâncias mais complexas (proteínas), as  pragas causarão menos danos. Vários são os fatores relacionados com o tipo de substância predominante: adubações com fertilizantes químicos altamente solúveis, clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento.
     O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza, ao mesmo tempo, várias formas de controle (ver matérias postadas neste blog  em 01, 16 e 27/09/2011; 21 e 26/10/2011, os principais métodos de manejo e o reconhecimento dos principais insetos-pragas das hortaliças).  O sistema não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e não colocando em risco a saúde, plantação e o lucro do agricultor. As pragas são consideradas como parte do sistema ecológico no qual a cultura se encaixa e, portanto, é combatida de modo a não alterar o balanço ecológico, o qual precisa ser mantido para que novas pragas não venham a ocorrer. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais, bem como as vistorias permanentes da lavoura, não podem ser dispensados no manejo ecológico de insetos-pragas. No novo conceito, pragas são considerados quaisquer animais (aves, doenças, ácaros e principalmente insetos), que competem com o homem pelo alimento por ele produzido. 
 Verdade: “não fazer nada” é, às vezes, a melhor solução para o manejo das pragas e doenças na agricultura orgânica
     O inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada.  Um exemplo prático, entre muitos outros,  da situação em que “não fazer nada”  é, às vezes, melhor,  quando ocorre o ataque de pulgões; as joaninhas, inimigos naturais destas pragas, se tiverem farto alimento e não utilizando-se inseticidas, reproduzem-se abundantemente e podem dominar os pulgões que atacam as plantas cultivadas e não serem mais problema na horta.

 Figura  1. Joaninha: a mais conhecida e eficiente inimiga natural dos pulgões
  
Preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras para servir como abrigo e alimento aos inimigos naturais dos insetos-pragas

     A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, também contribuem para favorecer os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas. Os inimigos naturais são insetos, fungos, bactérias, vírus, nematóides, répteis, aves e mamíferos pequenos. Todas as pragas das culturas  têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos através da rotação, sucessão e consorciação de culturas, bem
como preservar refúgios naturais para manter a diversidade natural da fauna.Todos fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do equilíbrio na natureza.
     Entre as espécies de plantas que servem de refúgio para os inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum conyzoides), a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor favorecem o abrigo e a reprodução de insetos como percevejo (Orius insidiosus), que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há, no entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos naturais das pragas, como mamona, capim, grama-seda, capim-amargoso, guanxuma, tiririca, picão-branco e carrapicho-carneiro.Entre os insetos, os inimigos naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura 1) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e lagartas.
Outros exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
• percevejos –  atacam lagartas e seus ovos; • moscas – lagartas, seus ovos e outras pragas; • coleópteros – lagartas e percevejos; • louva-a-deus, joaninha e vespinhas – pulgões; • peixes – larvas de pernilongos; • fungos – larvas e nematóides; • garças – moluscos e insetos; • pica-pau – insetos; • tamanduá – formigas e cupins; • outros animais que se alimentam de insetos – galinha d’angola,morcegos, lagartas, sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, anus, bem-te- vis, corruíras, beija-flores e tesouras).

Princípios básicos para o manejo natural das pragas

     É preciso entender que o estado normal da natureza é a harmonia; numa floresta todos os seres vivos estão em equilíbrio. Nenhuma praga ou doença deveria ameaçar o equilíbrio do sistema em que vive. Foi o homem que ignorando as mais elementares das suas leis e mecanismos, terminou por criar as condições para o aparecimento de pragas e doenças. Foi muito bom para as indústrias, mas foi um péssimo negócio para o homem e demais seres vivos. Se pudéssemos contar com plantas desenvolvidas naturalmente, meio ambiente natural e equilibrado e solo fértil, não existiriam pragas e doenças.
     A observação de alguns princípios básicos poderá contribuir para o manejo natural das pragas em sua horta. Os principais são:
. Aumente a matéria orgânica e crie um microclima favorável à vida no solo;
. Cultive basicamente as espécies mais adaptadas para a sua região e para cada época de plantio;
. Dentro de cada espécie procure utilizar sempre as cultivares mais resistentes e recomendadas para cada época de plantio;
. Produza suas próprias sementes, se for possível, deixando frutificar as plantas mais vigorosas e produtivas;
. Procure diversificar, plantando o maior número de espécies possíveis na horta; o plantio de plantas repelentes e atraentes de pragas, muitas vezes, contribuem para o manejo natural; 
.Preserve alguns espaços sem cultivar e deixe a vegetação espontânea desenvolver-se, pois assim os inimigos naturais das pragas poderão se reproduzirem e se alimentarem;
. Evite, sempre que possível, o uso de inseticidas e fungicidas caseiros, pois embora não sejam tão agressivos ao meio ambiente, poderão afetar também os inimigos naturais. Recomenda-se, sempre que possível, que se aguarde o “surgimento” do controle natural.

 Pulverização com produtos alternativos

     O manejo eficiente das doenças e pragas é baseado em dois princípios fundamentais:

• É impossível controlar totalmente as  pragas; por isso, o que se recomenda é manejar a cultura de forma a reduzir ao mínimo os danos causados;

• O manejo é um conjunto de medidas que incluem determinadas práticas culturais e, em certos casos, o controle alternativo (somente aqueles produtos permitidos na agricultura orgânica). É suficiente para evitar danos econômicos às culturas.

     Plantas saudáveis produzidas em solos com vida e, em ambientes equilibrados, normalmente, não são atacadas por pragas. Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (cinzas de madeira, calda bordalesa, calda sulfocálcica,  biofertilizantes, extratos vegetais, agentes de controle biológicos e outros produtos (ver como prepará-los através de matérias postadas neste blog em 13 e 22/12/2010 e 06/01/2011),  devem ser utilizados somente, quando necessário e, de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel e outros, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças e brocas do tomateiro e, ainda as brocas das cucurbitáceas.  Os preparados de sálvia e  pimenta, plantas medicinais e condimentares (Figura 2), estão entre os produtos alternativos mais eficientes no manejo de pulgões, vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.

Figura 2. Sálvia (planta medicinal) e pimenta (hortaliça-condimento), utilizadas em preparados que podem serem feitos na propriedade, são eficientes no manejo de lagartas e pulgões, respectivamente, que atacam a couve, repolho, couve-flor e brócolis. O preparado de pimenta também é eficiente no manejo de vaquinhas, grilos e paquinhas que atacam a horta.





sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Agricultura Orgânica vs Agricultura Convencional (Adubação Orgânica)



A adubação orgânica, ao contrário da adubação química, torna as plantas mais resistentes às pragas e doenças, protege e melhora a vida do solo, ajuda a restaurar a biodiversidade, mantém e melhora a fertilidade do solo ao longo do tempo e, ainda produz frutas e hortaliças mais saborosas e nutritivas.

    O que é adubação orgânica? a prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um "organismo vivo". A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e nutrientes. Os organismos vivos do solo fazem a transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo. A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus que é o resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais.

Vantagens da adubação orgânica comparada à adubação química
Além de reduzir o custo de produção dos alimentos, a adubação orgânica não coloca em risco o meio ambiente, a saúde das pessoas e, ainda melhora a vida no solo e aumenta a resistência das plantas às doenças, pragas e aos climas adversos (secas, chuvas intensas). Dentre as inúmeras vantagens da adubação orgânica, destacam-se:

Aumento da capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 grama de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo, contribuindo para diminuir as oscilações de temperatura do solo durante o dia;

aumento da população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo e associados às raízes das plantas, fixando nitrogênio e melhorando a capacidade das raízes absorverem nutrientes do solo;
possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel em água);

promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, aumentando a retenção de água, enquanto que nos solos argilosos torna-os mais soltos e arejados, melhorando a penetração das raízes e a oxigenação do solo. A adubação orgânica auxilia também no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e, ainda diminui a compactação do solo;

a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);

possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.

 Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita).


    As vantagens da adubação orgânica quando comparada à adubação química, não param por aí! A adubação orgânica ajuda a restaurar a biodiversidade. Essa diversidade é o princípio básico da agricultura orgânica, contribuindo para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e das plantas cultivadas. O uso crescente e exagerado dos adubos químicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado e, em conseqüência, este modelo favoreceu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras e uma série de outros problemas. No cultivo orgânico é muito importante a diversificação da paisagem geral da propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A adubação verde, seja o plantio isoladamente ou em consórcio e até o cultivo consorciado com as culturas econômicas, é muito importante para manter o equilíbrio biológico e ambiental da propriedade.
    A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita. Estudos sobre os efeitos do sistema de cultivo nos teores de matéria seca, vitaminas, sais minerais e outros elementos, mostraram a superioridade dos alimentos produzidos no sistema orgânico - sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos, utilizando-se práticas sem riscos ao meio ambiente (Tabela 1 e 2). 

      
              Tabela 1 - Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional.

Tabela 2. Conteúdo de sais minerais nos alimentos orgânicos (maçã, batata, pera, trigo e milho).

    Outras práticas tais como plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.

Principais fontes de matéria orgânica
    De maneira bem simples e direta, a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É constituída de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos, restos de cultivos que ficam no campo, palhadas, folhas, cascas e galhos de árvores, raízes das plantas e animais que vivem no solo; podem estar vivos, como os pequenos animais ou já em decomposição, como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura. As hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. As principais fontes são:
Composto orgânico : é o adubo ideal para ser utilizado na agricultura orgânica e, o que é melhor, não polui o meio ambiente e, ainda pode ser produzido na própria propriedade (Figura 2). Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas e, ainda reduz a acidez do solo, ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar e acidificar o solo e contaminar os rios. Mas as vantagens do composto não param por aí! devido a temperatura alta que alcança no processo da compostagem (até 65ºC), durante a fermentação, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas ("mato") não sobrevivem. Os passos e os cuidados para fazer o composto orgânico na propriedade, estão em matéria mais antiga postada neste blog em 29 de dezembro de 2010.

Figura 2. Compostagem feita na Estação Experimental de Urussanga, utilizando-se cama de aviário e capim elefante anão.

Adubação verde: é uma das maneiras de cultivar e tratar bem o solo, princípio básico da agricultura orgânica. O que é? consiste no cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa vegetal, semeadas em rotação, sucessão e até em consórcio com culturas de interesse econômico (Figura 3, 4 e 5 ). 
Principais vantagens da adubação verde: produz alimento para os microorganismos úteis do solo, melhorando a vida e a estrutura do solo; protege o solo das adversidades climáticas e erosão; Fixa o nitrogênio do ar no solo (leguminosas –mucuna e outras); traz nutrientes do fundo do solo para a superfície (reciclagem); auxilia no manejo de plantas espontâneas (abafamento/alelopatia); manejo de pragas e doenças(rotação/quebra do ciclo/inimigos naturais); ajuda na descompactação do solo através das raízes; melhora a estrutura do solo tornando-o mais solto e arejado; melhoria da infiltração e retenção de água no solo; onde há pouco esterco é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica.
Estercos de animais: os estercos curtidos de aves e de gado são os mais utilizados na adubação orgânica, devido a disponibilidade. São importantes fontes de nutrientes, mas não melhoram as condições físicas do solo; especialmente o de aves, quando em excesso (mais de 2 kg/m2 por ano), pode salinizar e aumentar a acidez do solo. A aplicação de esterco, em fase de fermentação (frescos), por ocasião do plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das fontes de águas, contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas e ainda serem fontes de sementes de plantas espontâneas. A integração agricultura e pecuária é muito recomendado na agricultura orgânica, pois além de disponibilizar o esterco, possibilita o repouso de parte da área e, o mais importante, favorece a rotação de culturas com outras espécies (pastagens) mais resistentes às doenças e pragas. No entanto, recomenda-se cuidado, ao adquirir esterco de outras propriedades, especialmente, se houver o uso de herbicidas, pois poderá afetar a lavoura ou horta. Para melhor aproveitamento dos estercos de aves e de gado, recomenda-se: a) abrigá-lo da chuva; b) curtir por cerca de 90 dias; c) fazer compostagem, pois são juntados outros materiais tais como as palhadas, restos de culturas e etc. ao esterco.
Quando é preciso fazer adubação orgânica ? é mais fácil e rápido "perder" matéria orgânica do que "ganhar": o preparo intensivo do solo acelera a decomposição da matéria orgânica. Para manter o solo produtivo ao longo do tempo é necessário que se adicione matéria orgânica com freqüência, com base na análise do solo. Ideal: a cada cultivo, adicionar matéria orgânica ao solo.

Mito: a prática da adubação verde em propriedades pequenas é inviável porque diminui ainda mais a área disponível para o cultivo de espécies que trazem retorno econômico.
A prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga no mundo inteiro. Aqui no Brasil, foi muito utilizada até a década de 1970. Nesta época, com o aumento do uso da adubação química, houve uma redução no uso de adubação verde e, em pequenas propriedades, foi até esquecida, pois a área disponível para o plantio das espécies cultivadas tornava-se ainda menor. O conceito mais antigo de adubação verde era o cultivo de uma espécie (normalmente uma leguminosa) para ser incorporada ao solo na véspera do cultivo principal. Com o advento das práticas de plantio direto e cultivo mínimo, este conceito evoluiu, pois nestas práticas as plantas não são incorporadas ao solo, mas permanecem sobre o mesmo, protegendo-o no cultivo seguinte (Figura 3) ou até mesmo como cobertura viva, consorciado (Figuras 4 e 5) com os cultivos econômicos.

Figura 3. Milho-verde e mucuna (adubo verde verão) consorciados: ótima opção para adubação verde no verão, cobertura do solo para evitar erosão, rotação de culturas, manejo de plantas espontâneas e ainda possibilitar o cultivo mínimo de hortaliças, no final de inverno e início de primavera.

   Figura 4. Adubos verdes de inverno (aveia+ ervilhaca+ nabo forrageiro) consorciados com o tomateiro.

Figura 5. Adubos verdes de inverno (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro) consorciados com brássicas.









quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Agricultura Orgânica x Agricultura Convencional parte 4 (Solos)



A agricultura convencional ou "moderna", onde predomina a utilização intensiva e exagerada da mecanização, dos agrotóxicos e adubos químicos solúveis, associados ao monocultivo e à erosão do solo, tem conduzido a maioria dos solos a um processo de degradação, aumentando a compactação e reduzindo a vida do solo, e o que é pior, contaminando o meio ambiente e, colocando em risco a saúde do homem e das futuras gerações. Por outro lado, na agricultura orgânica o solo deve ser tratado como um "organismo vivo", pois na natureza tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes (água, plantas, animais e o homem). Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual faz parte. Em apenas uma grama de solo vivem, pelo menos, alguns milhões de seres vivos que dependem de como é tratado o solo e, que sofrem com as agressões do homem.
   O revolvimento do solo não combina com agricultura orgânica: em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa, contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo, causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em conseqüência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e freqüentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes (Figura 1).

Figura 1. A erosão e a compactação do solo é uma das principais causas da degradação do solo devido ao revolvimento exagerado do solo associado às chuvas cada vez mais freqüentes e intensas, especialmente em terrenos inclinados.

   O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano.
  O que é manejo agroecológico do solo? é a forma de cultivar e tratar corretamente o solo como um "organismo vivo", ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas. O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de animais e agricultores.
   Como é feito o plantio das hortaliças sem revolver o solo? recomenda-se o plantio direto ou cultivo mínimo, utilizando cobertura vegetal no solo tais como adubos verdes, palhadas e, até as plantas espontâneas ("mato"); a principal vantagem é o fato do solo estar sempre pronto para o plantio, mesmo em períodos chuvosos. Neste sistema, basta fazer uma roçada com foice ou roçadeira manual (áreas menores) ou trator com roçadeira (áreas maiores); após deve-se abrir as covas ou sulcos, mantendo a linha de plantio no limpo e roçando, sempre que necessário, nas entrelinhas. Muitos acreditam que o plantio direto está vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Recomenda-se o cultivo mínimo das hortaliças no final do inverno e primavera sobre coberturas de adubos verdes de inverno (ex.: aveia, ervilhaca,nabo forrageiro), semeados isoladamente ou em consórcio ou ainda sobre adubos verdes de verão (ex.: mucuna) e até sobre plantas espontâneas. O plantio direto sobre áreas com cobertura morta (palhada de milho, arroz, aveia, feijão ou capins), disponível na propriedade, é outra opção.
   Que hortaliças podem ser cultivadas sem revolver o solo? as hortaliças que utilizam espaçamentos maiores, o suficiente para permitir capinas nas linhas de plantio, bem como roçadas nas entrelinhas. Resultados de pesquisa comprovam que o tomate, milho-verde, aipim, batata-doce, cebola, alho, repolho, couve, couve-flor, brócolis, feijão-vagem, abóbora, abobrinha, moranga, melancia e pepino, podem serem cultivados, sem revolvimento do solo (Figuras 2,3,4,5,6,7, 8 e 9).

 Figura 2. Fase inicial de desenvolvimento do tomate e milho-verde em cultivo mínimo sobre cobertura ( consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 3. Fase intermediária de desenvolvimento do tomate e milho-verde em cultivo mínimo sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

Figura 4. Cultivo mínimo de brássicas sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 5. Fase inicial de desenvolvimento do aipim em cultivo mínimo sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 6. Fase inicial de desenvolvimento da batata-doce em cultivo mínimo sobre cobertura de aveia

 Figura 7. Fase inicial do desenvolvimento de brássicas (repolho, couve-flor e brócolis) em cultivo mínimo sobre cobertura de plantas espontâneas ("mato")

 Figura 8. Plantio direto de repolho sobre cobertura morta de palha de milho

 Figura 9. Plantio direto de couve-flor sobre cobertura morta de palha de arroz