google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: 2021

ANUCIOS

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

POLÍTICA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS


 

Nas últimas décadas, a Medicina Tradicional/Complementar e Alternativa (MT/MCA) e seus produtos, principalmente plantas medicinais, cada vez mais têm-se tornado objeto de políticas públicas nacionais e internacionais, especialmente na área da saúde, incentivadas pelas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, as plantas medicinais e seus derivados são amplamente utilizados pela população nos cuidados com a saúde, assim como existem programas de fitote­rapia inseridos no Sistema Único de Saúde (SUS). Os principais instrumentos nortea­dores, aprovados em 2006, são a Política Nacional de Práticas Integrativas e Comple­mentares no SUS, que contempla diretrizes, ações e responsabilidades institucionais, entre outras, para plantas medicinais e fitoterapia no SUS, e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que traz diretrizes para desenvolvimento da ca­deia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. As políticas nacionais trouxeram avanços para a saúde no País, pela normatização e institucionalização das experiên­cias com plantas medicinais e fitoterapia na rede pública e como indutor de políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo. 

Palavras-chave: Política pública. Planta medicinal. Fitoterápico. Fitoterapia. Saúde pública. Medicina tradicional. 

Políticas públicas contemplam di­retrizes e linhas estratégicas de atuação governamental, as quais orientam legis­lação, programas e projetos para o desen­volvimento econômico e social do país. A diversidade biológica ou biodiversidade, compreendida como o “conjunto de todos os seres vivos com toda sua variabilidade genética”, tem sido cada vez mais reconhe­cida como um dos elementos centrais para o desenvolvimento e bem-estar da humani­dade e a grande responsável pelo equilíbrio  ambiental global (WILSON, 1997). 

Nas últimas décadas, a Medicina Tradi­cional3/Complementar e Alternativa (MT/ MCA) e seus produtos, principalmente plantas medicinais, cada vez mais têm-se tornado objetos de políticas públicas na­cionais e internacionais, especialmente na área da saúde, incentivadas pelas recomen­dações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual reconhece a importante contribuição da MT na prestação de assis­tência social, especialmente às populações com pouco acesso aos sistemas de saúde  (BRASIL, 2008b). Estas práticas estão cada vez mais popularizadas e valoriza­das e são incentivadas não somente pelos profissionais que atuam na rede básica de saúde dos países em desenvolvimento, mas também por aqueles países onde a medicina convencional é predominante no sistema de saúde local (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2002). 

Os esforços da OMS em considerar o valor potencial da MT, como práticas segu­ras e eficazes, e incentivar sua integração aos sistemas oficiais de saúde orientados  pelas diretrizes de políticas nacionais de MT, iniciaram-se no final da década de 1970 com a criação do Programa de Medicina Tradicional. Um dos principais documentos, frutos desse Programa, foi “Estratégia da OMS para a Medicina Tra­dicional para 2002-2005”, que contempla diagnóstico, desafios e potencialidades da MT, assim como o papel e os objeti­vos da Organização nesse campo. Nesse documento, a OMS (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2002) propôs respaldar os países a: 

a) integrar as MT/MCA aos sistemas nacionais de saúde, desenvolvendo e implementando políticas e progra­mas nacionais; 

b) promover a segurança, eficácia e qualidade das MT/MCA; 

c) aumentar a disponibilidade e aces­sibilidade das MT/MCA; 

d) fomentar o uso racional das MT/ MCA, tanto pelos provedores quan­to pelos consumidores. 

Outro importante documento, publi­cado em 2005, foi o “National Policy on Traditional Medicine and Regulation of Herbal Medicines”, que discute a situação mundial das Políticas Nacionais de MT/ MCA e medicamentos oriundos de plantas medicinais (fitoterápicos, no Brasil). No diagnóstico, 45 países dos 141 que respon­deram ao questionário afirmaram possuir Política Nacional de MT/MCA e, quanto à situação regulatória para medicamentos oriundos de plantas medicinais, a maioria dos Estados-membros (65%), ou seja, 92 possuem leis ou regulamentos para esses medicamentos, onde se inclui o Brasil. Se­gundo a OMS, os medicamentos oriundos de plantas medicinais (herbal medicines4)  são os mais largamente utilizados nas medicinas tradicionais. Para esses medi­camentos, relata que os mais importantes desafios são critérios de segurança, eficácia e qualidade e que dependem de regulamen­tação adequada (WHO, 2005). 

No Brasil, as plantas medicinais e seus derivados vêm, há muito, sendo utilizados pela população nos seus cuidados com a saúde, seja pelo conhecimento tradicional na MT indígena, quilombola, entre outros povos e comunidades tradicionais, seja pelo uso na medicina popular, de transmis­são oral entre gerações, seja nos sistemas oficiais de saúde, como prática de cunho científico, orientada pelos princípios e di­retrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Além do conhecimento tradicional asso­ciado às plantas medicinais, da tradição de uso pela população, da rica diversidade de espécies vegetais, da grande sociodiversi­dade, o País possui infraestrutura tecno­lógica para desenvolvimento de produtos oriundos da biodiversidade brasileira com vistas à ampliação do acesso da população a serviços e produtos em atenção à saúde, assim como redução da dependência tec­nológica de insumos farmacêuticos. 

Todas as oportunidades e potencial do País para desenvolvimento das plantas medicinais e da fitoterapia para a popu­lação brasileira e de ações e programas implantados na rede pública de saúde, diversos documentos e recomendações foram elaborados, visando normatizar esse setor e ampliar o acesso a esses produtos e serviços com segurança e eficácia. Dentre estes são citados: 

a) o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos (Ceme), do Minis­tério da Saúde, vigente entre 1982 e 1997, que realizou pesquisas com  55 espécies de plantas medicinais com o objetivo, entre outros, de:  Desenvolver uma terapêutica al­ternativa e complementar, com embasamento científico, por meio do estabelecimento de medicamentos fitoterápicos originados a partir da determinação do real valor farmacoló­gico de preparações de uso popular, à base de plantas medicinais. (BRASIL, 2006d); 

b) a Resolução Ciplan no 8, de 8 de março de 1988, a qual regulamentou a prática de fitoterapia nos servi­ços de saúde, assim como criou procedimentos e rotinas relativas à prática da fitoterapia nas Unidades Assistenciais Médicas; 

c) as recomendações das Conferências Nacionais de Saúde, do Fórum para a Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, ocorrido em 2001, e do Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Far­macêutica, ocorrido em Brasília, em setembro de 2003 (BRASIL, 2006d). 

A primeira Política Nacional que contemplou diretrizes com interface com a MT, nesse caso a Medicina Tradicional Indígena, na qual as plantas medicinais destacam-se como importante recurso tera­pêutico, foi a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, aprovada por meio da Portaria GM no 254, de 31 de janeiro de 2002, do Ministério da Saúde. Nesta Política Nacional: 

O princípio que permeia todas as diretrizes é o respeito às concepções, valores e práticas relativos ao pro­ cesso saúde-doença próprios a cada sociedade indígena e a seus diversos especialistas. A articulação com esses saberes e práticas deve ser estimulada para a obtenção da melhoria do es­tado de saúde dos povos indígenas. (BRASIL, 2002). 

Entre as diretrizes cabe destacar: 

a) articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde; 

b) produção de ambientes saudáveis e proteção à saúde indígena; 

c) promoção ao uso adequado e ra­cional de medicamentos, a qual estabelece: 

Nas ações que envolvem direta ou indiretamente a assistência farma­cêutica no contexto da atenção à saúde indígena, devem também com­por as práticas de saúde tradicionais dos povos indígenas, que envolvem o conhecimento e o uso de plantas medicinais e demais produtos da far­macopeia tradicional no tratamento de doenças e outros agravos à saúde. (BRASIL, 2002). 

Outra política nacional que veio aten­der à demanda da OMS de formulação de Políticas Nacionais de MT/MCA, visando integrá-las aos sistemas oficiais de saúde, é a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, apro­vada em 2006, que contempla diretrizes para Medicina Tradicional Chinesa/Acu­puntura, Homeopatia e Plantas Medicinais e Fitoterapia, assim como para observató­rios de saúde do Termalismo Social e da Medicina Antroposófica. 

O processo de elaboração e a aprovação da PNPIC proporcionaram o desenvolvi­mento de políticas, programas e ações em todas as instâncias do governo federal. Destaque é dado à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, elabo­rada  pelo Grupo de Trabalho Interminis­terial (GTI), a qual contempla diretrizes para toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. As diretrizes para plantas medicinais e fitoterapia no SUS, incluídas nesta Política Nacional, estão em consonância com as diretrizes da PNPIC (BRASIL, 2006e). 

A PNPIC no SUS e a Política Nacional Plantas Medicinais e Fitoterápicos trouxe­ram grandes avanços, entre outros, para a saúde no País, pela normatização e institu­cionalização das experiências com plantas medicinais e fitoterapia na rede pública e como indutoras de políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo, fato comprovado pelo aumento significa­tivo de ações, programas e políticas nos Estados e municípios brasileiros após as suas aprovações. 

POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES (PNPIC) NO SUS: PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA 

No Brasil, aproximadamente 350 mu­nicípios/Estados, distribuídos em todas as regiões, oferecem ações/serviços com plan­tas medicinais e fitoterapia no SUS, além de outras práticas integrativas e comple­mentares (Homeopatia, MTC/Acupuntura, Medicina Antroposófica, entre outras). As ações/serviços de fitoterapia ocorrem de maneira diferenciada, com relação aos pro­dutos e serviços oferecidos, principalmente relacionadas com as espécies de plantas medicinais disponibilizadas, em virtude dos diferentes biomas. No entanto, a maio­ria das ações é ofertada na atenção básica (BRASIL, 2008b), definida na Política Na­cional de Atenção Básica como o conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde à prevenção de agravos,  o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. 

Alguns Estados/municípios possuem políticas e legislação específicas para o serviço de fitoterapia no SUS e laborató­rios de produção, disponibilizando plantas medicinais e/ou seus derivados, além de publicações para profissionais de saúde e população sobre uso racional destes pro­dutos. Outros, no entanto, possuem com menor nível de complexidade, em virtude de implantação recente, da carência de recursos e de profissionais capacitados ou pela dificuldade em cumprir as exigências da legislação sanitária. 

A necessidade de normatização e insti­tucionalização dessas ações/serviços inse­ridos no SUS, as demandas da OMS e da população brasileira pela valorização das práticas tradicionais (populares) culmina­ram na formulação e aprovação da PNPIC no SUS, por meio da Portaria GM no 971, de 3 de maio de 2006, do Ministério da Saúde, após amplo processo de discussão e validação com representantes de gover­no e da sociedade civil, assim como pela submissão às instâncias de avaliação de po­líticas de saúde. Por meio dessa política, o Ministério da Saúde estabeleceu diretrizes para incorporação e implementação da Ho­meopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntu­ra, assim como para observatórios de saúde do Termalismo Social – Crenoterapia no SUS (BRASIL, 2006c). 

Esta Política Nacional visa, entre outros: 

Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Complementares no SUS, na perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, voltada para o cuidado con­tinuado, humanizado e integral em saúde e contribuir para o aumento da  resolubilidade do Sistema e amplia­ção do acesso às Práticas Integrativas e Complementares, garantindo quali­dade, eficácia, eficiência e segurança no uso. (BRASIL, 2006c). 

A PNPIC contempla diretrizes para Plantas Medicinais e Fitoterapia no SUS, cuja proposta foi construída seguindo o modelo da fitoterapia ocidental, entendida como: 

Terapêutica caracterizada pela utili­zação de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal. (BRASIL, 2006c). 

A abordagem dessa proposta incentiva o desenvolvimento comunitário, a solida­riedade e a participação social, em virtude de a quase totalidade dos programas no País basear-se neste modelo (BRASIL, 2006c). 

As diretrizes constantes nesta Política para Plantas Medicinais e Fitoterapia são (BRASIL, 2006c): 

- elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais e da Relação Nacional de Fitoterápicos; 

-provimento do acesso a plantas me­dicinais e fitoterápicos aos usuários do SUS. A Política preconiza que os serviços podem disponibilizar planta medicinal in natura, planta medicinal seca (droga vegetal), fitoterápico manipulado e/ou fitoterápico indus­trializado; 

-formação e educação permanente dos profissionais de saúde em plantas medicinais e fitoterapia; 

- fortalecimento e ampliação da parti­cipação popular e controle social; 

- incentivo à pesquisa e desenvolvi­mento  de plantas medicinais e fitote­rápicos, priorizando a biodiversidade do País; 

- promoção do uso racional de plantas medicinais e dos fitoterápicos no SUS; 

- acompanhamento e avaliação da in­serção e implementação das plantas medicinais e fitoterapia no SUS; 

- garantia do monitoramento da quali­dade dos fitoterápicos pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; 

- estabelecimento de política de finan­ciamento para o desenvolvimento de ações. 

Essa Política contempla, também, ações e responsabilidades de entidades federais, estaduais e municipais para a sua implantação e implementação, as quais orientarão os gestores na implantação ou adequação dos programas existentes, assim como na formulação de políticas estaduais e municipais. 

POLÍTICA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS 

O desenvolvimento de políticas, pro­gramas e projetos do governo na área de plantas medicinais e fitoterápicos e as discussões durante a formulação das dire­trizes para Plantas Medicinais e Fitoterapia da PNPIC apontaram a necessidade de uma Política Nacional que contemplasse diretrizes para o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, objetivando um projeto conjunto entre órgãos governamentais e não-governamentais.  Visando à elaboração da Política Na­cional de Plantas Medicinais e Fitoterápi­cos, foi constituído por Decreto Presiden­cial,  em 17 de fevereiro de 2005, o GTI, formado por representantes do Ministério da Saúde (coordenação); Casa Civil; Mi­nistério da Integração Nacional; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC); Ministério do Desenvol­vimento Agrário (MDA); Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA); Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e por representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Fundação Oswaldo Cruz. 

O GTI, após período de discussão, sub­sidiado por documentos de fóruns, seminá­rios e conferências, além de regulamenta­ções nacionais e internacionais, elaborou a Proposta de Política que foi submetida aos ministros das Pastas envolvidas, para avaliação e aprovação e, posteriormente, à Casa Civil da Presidência. Em 22 de junho de 2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi aprovada na forma do Decreto Presidencial no 5.813, que também instituiu o GTI para elaborar o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em conformidade com as diretrizes da Política Nacional (BRASIL, 2006ae). 

A Política Nacional traz como objetivo: 

Garantir à população brasileira do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional. (BRASIL, 2006e). 

Entre as 17 diretrizes contempladas no documento, podem ser citadas (BRASIL, 2006e): 

Regulamentar o cultivo; o manejo sustentável; a produção, a distribui­ção, e o uso de plantas medicinais e fitoterápicos, considerando as expe­riências da sociedade civil nas suas diferentes formas de organização; 

• Incentivar a formação e capacitação de recursos humanos para o desen­volvimento de pesquisas, tecnologias e inovação em plantas medicinais e fitoterápicos; 

• Fomentar pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação com base na biodiversidade brasileira, abran­gendo espécies vegetais nativas e exóticas adaptadas, priorizando as necessidades epidemiológicas da população; 

• Incentivar a incorporação racional de novas tecnologias no processo de produção de plantas medicinais e fitoterápicos; 

• Garantir e promover segurança, efi­cácia e qualidade no acesso a plantas medicinais e fitoterápicos; 

• Promover o uso sustentável da biodiversidade e a repartição dos benefícios derivados do uso dos co­nhecimentos tradicionais associados e do patrimônio genético; 

• Promover a inclusão da agricultura familiar nas cadeias e nos arranjos produtivos das plantas medicinais, insumos e fitoterápicos; 

• Incrementar as exportações de fito­terápicos e insumos relacionados, priorizando aqueles de maior valor agregado; 

• Estabelecer mecanismos de incentivo para a inserção da cadeia produtiva de fitoterápicos no processo de forta­lecimento da indústria farmacêutica nacional. 

Para monitoramento e avaliação da implantação das referidas diretrizes, a 

Política Nacional previu a criação de Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, GTI formado por represen­tantes do governo e dos diferentes setores da sociedade civil envolvidos com o tema, posteriormente à elaboração do Programa Nacional. 

Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos 

Posterior à aprovação da Política Nacional e com vistas à implementação de suas diretrizes foi instituído o GTI, formado por representantes do Minis­tério da Saúde (coordenação); da Casa Civil; Ministério da Integração Nacio­nal; MDIC; MDA; MCT; Ministério da Cultura; MMA; MAPA; MDS e por representantes da Anvisa e da Fundação Oswaldo Cruz, pela Portaria no 2.311 do Ministério da Saúde, de 29 de setembro de 2006 (BRASIL, 2006b), republicada em 22 de fevereiro de 2007, com o objetivo de elaborar o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 

Esse GTI, orientado pelas diretrizes e linhas de ação da Política Nacional, ela­borou a proposta de Programa Nacional, que foi submetida à consulta pública e, após consolidação das contribuições, às instâncias superiores para avaliação e aprovação. O Programa foi aprovado em 9 de dezembro de 2008, por meio da Portaria Interministerial no 2.960, que também criou o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com representantes de órgãos governamentais e não-governamen­tais, estes com representantes de todos os biomas brasileiros (BRASIL, 2008a). 

O Programa Nacional, em conformida­de com as diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e da PNPIC no SUS, traz ações, gestores, órgãos envolvidos, prazos e origem dos recursos para implementação destas ações com abrangência de toda a cadeia produtiva. 

É o principal instrumento para orientação dos gestores federais na implantação das diretrizes da Política Nacional, assim como subsidia o trabalho do Comitê Nacional no monitoramento e avaliação das ações. Cabe ressaltar que a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos é documento de Estado e, já o Programa, instrumento de governo para implantação das ações, com prazos e responsabilidades, necessita, portanto, de revisão e atualização a cada gestão do governo federal. 

POLÍTICAS E PROGRAMAS ESTADUAIS/MUNICIPAIS PARA PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA 

Alguns Estados e municípios elabora­ram suas políticas e regulamentações para o serviço de fitoterapia na rede pública de saúde anteriormente à iniciativa do governo federal, pela necessidade de nor­matização das práticas há muito existentes nos municípios. Entretanto, a demanda por normatização estadual/municipal incrementou-se com a formulação e apro­vação das Políticas Nacionais. Atualmente, o documento da PNPIC é o referencial para Estados e municípios formularem suas políticas, assim como as estratégias de formulação e aprovação adotadas pelo governo federal. 

Sobre as iniciativas estaduais/munici­pais, podem-se citar: 

a) Ceará: Decreto no 30.016, de 30 de dezembro de 2009, que regulamenta a Lei no 12.951, de 7 de outubro de 1999, dispõe sobre a Política de Im­plantação da Fitoterapia em Saúde Pública no estado do Ceará; 

b) Espírito Santo: Resolução no 543/ 2008 do Conselho Estadual de Saúde, que aprova a Proposta de Institucionalização da Política das 

Práticas Integrativas e Comple­mentares: homeopatia, acupuntura e fitoterapia, no estado do Espírito Santo; 

c) Minas Gerais: Resolução no 1885, de 27 de maio de 2009, da Secretaria Estadual de Saúde, que aprova a Política Estadual de Práticas Inte­grativas e Complementares; 

d) Rio Grande do Sul: Projeto de Lei no 108/2006, da Assembleia Legisla­tiva do Estado, que institui a Política Intersetorial de Plantas Medicinais e de Medicamentos Fitoterápicos no estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências; 

e) São Paulo: Decreto no 49.596, de 11 de junho de 2008, que regulamenta a Lei no 14.682, de 30 de janeiro de 2008, institui, no âmbito do mu­nicípio de São Paulo, o Programa Qualidade de Vida com Medicinas Tradicionais e Práticas Integrativas em Saúde e a Lei no 14.903, de 6 de fevereiro de 2009, que dispõe sobre a criação do Programa de Produção de Fitoterápicos e Plantas Medici­nais no município de São Paulo e dá outras providências.  de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, com abrangência da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos, foram formula­dos em consonância com as recomenda­ções da OMS e os princípios e diretrizes do SUS, levando-se em consideração, entre outros, o potencial e as oportunidades que o Brasil tem para desenvolvimento do setor, a demanda da população brasileira pela oferta dos produtos e serviços na rede pública e a necessidade de normatização das experiências existentes no SUS. 

Essas Políticas têm convergência e sintonia com outras Políticas Nacionais, como a Política Nacional de Saúde, de Atenção Básica, de Educação Permanente, de Assistência Farmacêutica, de Atenção à Saúde de Povos Indígenas, de Povos e Comunidades Tradicionais, de Biodiver­sidade, a Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior, entre outras, e as ações decorrentes dessas políticas são imprescindíveis para melhoria da atenção à saúde da população, ampliação das op­ções terapêuticas aos usuários do SUS, uso sustentável da biodiversidade brasileira, fortalecimento da agricultura familiar, geração de emprego e renda, desenvolvi­mento industrial e tecnológico, inclusão social e regional. 



quinta-feira, 29 de julho de 2021

Manejo da tiririca no sistema orgânico

 

Dentre as plantas daninhas que invadem culturas em todo o mundo, a tiririca é a mais famosa. Composta por folhas, raízes e tubérculos, essa invasora se desenvolve com rapidez e compete com outras plantas ao retirar água e nutrientes do solo. Quando os tubérculos brotam, surgem novas plantas com mais tubérculos, o que faz com que a disseminação da tiririca ocorra em curto intervalo de tempo.

Em geral, os tubérculos se localizam nos primeiros 20 centímetros de profundidade, onde permanecem por muito tempo se não forem arrancados. E quanto mais fundo no solo, maior será o seu tempo de sobrevivência. Por isso, nas capinas manuais, é primordial retirar toda a tiririca (folhas, raízes e tubérculos).

O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).

Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.

Fig. 2  As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.

Disseminação da tiririca

A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:

• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);

• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;

• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;

• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;

• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.

Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.

Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.

Manejo da tiririca

Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.

Controle mecânico da tiririca

O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).

Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.

Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.


Controle biológico da tiririca

Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação insetotiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente  incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.



Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.


domingo, 18 de julho de 2021

PLANTAS CURAM: SAIÃO

 

SAIÃO 

Nome Científico: Kalanchoe pinnata 

Família: Crassulaceae 

Outros Nomes Populares: folha-da-fortuna, courama, coirama, folha-da-costa, folha-de-pirarucu, pirarucu, roda-da-fortuna, folha-grossa. 

Usos: feridas tópicas e dores no estômago. Possui ação antifúngica e anti-inflamatória. Pesquisas com o uso desta planta para o tratamento da Leishmaniose tem sido desenvolvidas. 

Parte utilizada: folhas. 

Plantio: pode brotar a partir da própria folha sobre a terra. 

Princípios Ativos: flavonoides e mucilagens. 

Observações: 

•Possui flavonoides incomuns, entre eles a quercitrina, que em estudos tem mostrado importantes e efetivas ações no tratamento de leishmaniose. 

•Esta planta não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela Anvisa. Por este motivo, algumas informações sobre o seu uso medicinal não foram encontrados. 



sábado, 10 de julho de 2021

PLANTAS CURAM: PASSIFLORA

 

PASSIFLORA 

Nome Científico: Passiflora incarnata L. 

Família: Passifloraceae 

Outros Nomes Populares: flor-da-paixão, maracujá, maracujá-guaçu, maracujá-silvestre. 

Usos: Possui ação ansiolítica e sedativa leve sob o sistema nervoso central. 

Parte Utilizada: partes aéreas. 

Plantio: Cresce bem em regiões de clima quente e úmido, com solos profundos, bem drenados, férteis e com baixa acidez. 

Coleta e Conservação: As folhas só devem ser colhidas quando seus frutos estiverem totalmente maduras. Devem então ser secas ao sol, em local ventilado e sem umidade. Guardar em sacos de papel ou pano. 

Princípios Ativos: Glicosídeo cianógeno (cianocarcina), alcaloides e flavonoides (responsáveis pelo efeito sedativo), ácidos hidrociânico, cítrico, málico, pantotênico e tânico, aminoácidos, aminas, açúcares e oligossacarídeos. 

Modo de Preparo: Chá por infusão. Utilizar 3g ou uma colher de sopa da planta picada em 150mL (1 xícara de chá) de água. Tomar 1 xícara de chá de 3 a 4 vezes ao dia. Uso somente em adultos. 

Observações: 

•P. incarnata exerce ação sob os mesmos receptores que medicamentos benzodiazepínicos, como o Diazepam. 


terça-feira, 29 de junho de 2021

Plantas Curam: PARIPAROBA

 

PARIPAROBA 

Nome Científico: Pothomorphe umbellata 

Família: Piperaceae 

Outros Nomes Populares: aguaxima, caapeba, caapeba-do-norte, caapeba-verdadeira, caena, capeba, capeua, capeva, catajé, malvaísco, malvarisco, lençol-de-santa-bárbara. 

Usos: anti-úlcera, colagoga e anti-hepatotóxica. Sua raiz também é antioxidante e fotoprotetora. 

Parte Utilizada: Raiz e folhas. 

Plantio: cresce em regiões ricas em húmus, umidade e sob a sombra de árvores. 

Princípios Ativos: Suas folhas possuem óleo essencial (trans-nerolidol, D-germacreno, trans-cariofileno, β-elemeno, óxido de cariofileno, α-selineno e espatunelol), N-benzoilmescalina. O principal princípio ativo da raiz é 4-nerolidilcatecol. 

Modo de Preparo: no tratamento de distúrbios hepáticos é usada popularmente macerando as folhas em água, e ingerindo-a em seguida. 

Observações: 

•Produz maior ou menor concentração de óleo essencial em suas folhas dependendo da sombra a que é submetida em seu desenvolvimento, sendo o melhor nível o sombreamento bem fraco. 

•A pariparoba compôs a 1ᵃ edição da Farmacopeia Brasileira em 1926, porém, foi retirada em sua 2ᵃ edição, em 1959. Atualmente, não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela Anvisa. Sua pesquisa foi feita com base apenas em artigos científicos. 

•Foi descoberto que N-benzoilmescalina possui atividade bactericida contra Helicobacter pylori. 





segunda-feira, 21 de junho de 2021

Plantas Curam: MIL-FOLHAS

 

MIL-FOLHAS 

Nome Científico: Achillea millefolium L. 

Família: Compositae (Asteraceae) 

Outros Nomes Populares: novalgina, aquileia, atroveran, erva-de-carpinteiro, erva-de-cortaduras, erva-dos-carreteiros, macelão, milefólio-em-ramas, mil-em-rama, mil-folhada, nariz-sangrento, pronto-alívio, sanguinária. 

Usos: para falta de apetite, dificuldade de digestão, febre, inflamação e cólicas. 

Parte Utilizada: partes aéreas. 

Plantio: cresce em solos bem drenados, sem muita umidade. É uma planta de clima subtropical e desenvolve bem no calor e resiste bem à seca. Quando muito grande e vigorosa, pode sufocar outras plantas à sua volta. 

Princípios Ativos: óleo essencial (composto de terpenos como o cineol, borneol, pinenos, cânfora e azuleno; derivados terpênicos e sesquiterpênicos, taninos, mucilagens, cumarinas, resinas, saponinas, esteroides, ácidos graxos, alcaloides e princípio amargo); lactonas e flavonoides. 

Modo de Preparo: chá por infusão de 1 a 2g das partes aéreas secas em 150mL (uma xícara de chá) de água. Tomar 150mL do infuso, 10 minutos após o preparo, três a quatro vezes ao dia, entre as refeições. 

Observações: 

•Deve ser administrado apenas em maiores de 12 anos3. 

•Não deve ser administrado em paciente portadores de úlceras gastroduodenais ou oclusão das vias biliares; o uso acima das doses recomendadas pode causar cefaleia e inflamação, e quando prolongado pode provocar reações alérgicas. Caso ocorra um desses sintomas, suspender o uso e consultar um especialista2,3. 

•O princípio amargo contido nesta planta faz o efeito necessário no tratamento de falta de apetite (anorexia) e dificuldade de digestão (dispepsia). Este componente se liga aos receptores amargos das papilas gustativas, presentes no fundo da língua, resultando em maior salivação e secreção de HCl no estômago, que fará a digestão. O HCl liberado fará parte do processo de liberação do hormônio gastrina, que irá fazer com que maior quantidade do ácido seja excretado e que, quando entra na circulação sanguínea e se liga a certo neurônio, é capaz de abrir o apetite. 



sexta-feira, 11 de junho de 2021

PLANTAS CURAM: MELISSA (Melissa officinalis L.)

 

MELISSA 

Nome Científico: Melissa officinalis L. 

Família: Lamiaceae 

Outros Nomes Populares: erva-cidreira, cidrilha e melitéia. 

Usos: Antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve. 

Parte Utilizada: sumidades floridas. 

Plantio: tem bom desenvolvimento em locais com clima temperado; não tolera temperaturas muito elevadas nem muito frias. O excesso de sol forte e a falta de água provocam uma aparência de queimado nas bordas das folhas. Embora sem registros concretos, o florescimento da Melissa ocorre no fim do verão, com o aparecimento de flores pequenas nas colorações brancas, rosa e amarela. 

Coleta: as folhas devem ser cortadas, sem o caule, na primavera, e as sumidades floridas no início do verão. 

Princípios Ativos: óleo essencial composto dos terpenos citral, citronelal, citronelol, limoneno, linalol e geraniol; taninos (derivado dos ácidos rosmarínico e cafeica), ácidos tritepernóides, flavonoides, mucilagens, resinas e substâncias amargas . 

Modo de Preparo: chá por infusão de 2 a 4g (1 a 2 colheres de sobremesa) das sumidades floridas em 150mL (1 xícara de chá) de água. Ingerir 1 xícara de chá de 2 a 3 vezes ao dia, 10 a 15 minutos após o preparo. 

Observações: 

•Deve ser administrado apenas em maiores de 12 anos. 

•Não deve ser utilizado nos casos de hipotireoidismo e utilizar cuidadosamente em pessoas com hipotensão arterial. 





domingo, 6 de junho de 2021

Plantas Curam: MELHORAL e ANADOR (Justicia pectoralis )

Melhoral - J. pectoralis var. stenophylla Leon

Detalhe da folha do Melhoral

Anador - J. pectoralis Jacq
 

MELHORAL e ANADOR 

Nome Científico: Justicia pectoralis 

Família: Acanthaceae 

Outros Nomes Populares: chambá, chachambá, trevo-do-pará, trevo-cumaru. 

Usos: contra tosse, como expectorante e broncodilatador. 

Parte Utilizada: partes aéreas. 

Princípios Ativos: cumarinas, flavonoides, saponinas e taninos. 

Modo de Preparo: chá por infusão de 5g (5 colheres de chá) das partes aéreas em 150mL (1 xícara de chá) de água. 

Administração: 

3 a 7 anos: tomar 35 mL do infuso, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia. 

7 a 12 anos: tomar 75 mL do infuso, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia. 

Acima de 12 anos: tomar 150 mL do infuso, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia. 

Maiores de 70 anos: tomar 75 mL do infuso, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia. 

Observações: 

•Não deve ser administrado em pacientes com problemas de coagulação e em uso de anticoagulantes e analgésicos. 

•A planta denominada “Melhoral” é uma variante de Justicia pectoralis (J. pectoralis var. stenophylla Leon). Ela é chamada popularmente de chambá. 

•O vegetal denominado “Anador” na Farmácia Verde é também conhecido como chambá-falso. É uma outra variante da Justicia pectoralis (J. pectoralis Jacq.) e é utilizada para os mesmos fins do chambá. 

•Anador e Melhoral são medicamentos analgésicos e antitérmicos, e estes nomes foram associados à essas plantas por elas possuírem certa atividade anti-inflamatória, e que ao diminuir a inflamação, faz passar a dor, confundindo o usuário. 





sexta-feira, 28 de maio de 2021

Plantas Curam: LAVANDA

 

LAVANDA 

Nome Científico: Lavandula sp. 

Família: Lamiaceae 

Outros Nomes Populares: Alfazema, lavanda-inglesa. 

Usos: antiespasmódica, antifúngica, bactericida e calmante. Porém a sua maior utilização é como aromatizador de ambientes. 

Parte Utilizada: folhas e flores. 

Plantio: Se desenvolve bem em terra úmida e aerada, com bastante luz solar e em clima temperado. O ideal é colocar a sua volta argila ou casca de pino, para manter a umidade. Pedras, com o calor, podem acabar queimando a planta. 

Princípios Ativos: óleo essencial (cariofileno, taninos, saponina ácida, princípio amargo e os álcoois geraniol, furfurol, linalol e seus ésteres). 

Observações: 

Esta planta não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela Anvisa. Também não foi reconhecida sua espécie, tornando mais difícil a pesquisa por artigos científicos. Por estes motivos, algumas informações sobre esta planta não foram encontradas. 




sábado, 22 de maio de 2021

PLANTAS CURAM: INCENSO (Tetradenia riparia)

 

INCENSO 

Nome Científico: Tetradenia riparia 

Família: Lamiaceae 

Outros Nomes Populares: pau-de-incenso, falsa-mirra, lavândula, limonete e pluma-de-névoa. 

Usos: antifúngico, antimicrobiano. Possui moderada atividade antimalárica. 

Parte Utilizada: folhas. 

Plantio: Cresce a sol pleno, com solo bem drenado e com compostagem. A quantidade de água regada no inverno deve ser menor que a no verão. 

Princípios Ativos: Terpenos (monoterpenos, diterpenos e sesquiterpenos) e flavonoides. 

Modo de Preparo: A infusão das folhas pode tratar gastroenterite. A decocção e infusão também podem ser utilizadas para tosse, dores de garganta e como antimalárico. 


Observações: 

•Tetradenia riparia é uma planta empregada na medicina popular do país africano Ruanda. É conhecida popularmente como umuaravumba, e é cultivada ao redor das casas. As folhas são utilizadas, popularmente, como remédio para doenças como malária, angina, doença tropical de pele, gastroenterites, gonorréia, diarréia, abscessos dentários, dores de cabeça, bronquites, tosses, úlceras, esterilidade feminina, doenças renais, febres e outras. No Brasil, a espécie Tetradenia riparia foi introduzida como planta ornamental exótica e é cultivada em parques, jardins residenciais e hortos, distribuídas pelo Estado de São Paulo. 

•Esta planta não está na lista de plantas medicinais e/ou fitoterápicos regulamentados pela Anvisa. Suas informações foram retiradas apenas de artigos científicos. 






terça-feira, 18 de maio de 2021

PLANTAS CURAM: HORTELÃ

 

HORTELà

Nome Científico: Mentha sp. 

Família: Lamiaceae 

Usos Populares: ação digestiva, carminativa, antiespasmódica, colagoga. Também possui grande uso na culinária e aromaterapia. 

Parte Utilizada: folhas e sumidades floridas. 

Plantio: o solo deve ser rico em matéria orgânica e com pelo menos 20 cm de profundidade. Não precisa de muita luz solar. 

Princípios Ativos: óleo essencial (que consiste em mentol, mentona, cineol e limoneno), flavonoides, taninos e resinas. 

Modo de Preparo: chá por infusão das folhas e sumidades floridas. 

Observações: 

•O óleo essencial é fotossensibilizante e não recomendado para uso oral, pois doses elevadas têm ação abortiva e hepatotóxica. A essência irrita a mucosa ocular (conjuntiva) e é contra-indicada para gestantes, lactentes, crianças de pouca idade e pessoas com cálculos biliares. 






quinta-feira, 6 de maio de 2021

Plantas Curam: GUACO

 

GUACO 

Nome Científico: Mikania glomerata Sprengel 

Família: Compositae (Asteraceae) 

Outros Nomes Populares: guaco-de-cheiro, guaco-liso, guaco-trepador, uaco, cipó-almecega-cabeludo, cipó-catinga, cipó-sucuriju, coração-de-jesus, erva-cobre, erva-das-serpentes, erva-de-cobra, erva-de-sapo, erva-dutra. 

Usos: expectorante (gripes e resfriados, bronquites alérgica e infecciosa). 

Parte Utilizada: folhas 


Plantio: Prefere terrenos arenosos e úmidos, áreas sujeitas a inundações e beiras de rio. 

Coleta e Conservação: Pode ser coletada em qualquer época do ano. Deve ser usada a folha fresca ou seca ao sol, longe de umidade, fungos e insetos. Deve ser conservada em frascos bem fechados. 

Princípios Ativos: Cumarina, lupeol, ácido α-isobutiriloxi-caur-16-em-19-oico, óleo essencial (sesquiterpenos e diterpenos do tipo caurano), β-sitosterol, friedelina, estigmasterol, taninos hidrolisáveis, flavonoides e saponinas. 

Modo de Preparo: Chá por infusão: 3g ou uma colher de sopa da folha picada em 1 xícara de chá de água (150mL). Tomar 1 xícara de chá 3 vezes ao dia. 

Observações: 

•Pode ser administrado em adultos e crianças. 

•Cuidados: seu uso pode interferir na coagulação sanguínea; doses acima do recomendado pode causar vômitos e diarreia; pode haver interação entre o chá e medicamentos antiinflamatórios não-esteroidais.




quarta-feira, 21 de abril de 2021

Plantas Curam: FALSO-BOLDO

 

FALSO-BOLDO 

Nome Científico: Plectranthus barbatus Andrews 

Família: Labiatae (Lamiaceae) 

Outros Nomes Populares: boldo, boldo-brasileiro, boldo-do-reino, alum, boldo-nacional, malva-santa, malva-amarga, sete-dores, boldo-do-jardim, boldo-do-brasil, faso-boldo, folha-de-oxala1, boldo-africano. 

Usos: antidispéptico. 

Parte Utilizada: folhas, de preferência frescas. 

Plantio: é de fácil cultivo; se desenvolve bem em lugares quentes, com temperaturas mais altas e sol pleno; é preferível que o solo seja arenoso e seco, e ter pelo menos 30cm de profundidade, por essa planta ser de maior porte e ter raízes profundas; deve ser protegido de ventos fortes e frios. 

Coleta: suas folhas podem ser colhidas o ano todo. 

Princípios Ativos: óleo essencial (valenceno e trans-cariofileno), princípio amargo, barbatusina, ciclobarbatusina, cariocal, triterpenóides e esteroides. 

Modo de Preparo: chá por infusão de 1 a 3g das folhas secas em 150mL (1 xícara de chá) de água. Tomar 150mL do infuso, logo após o preparo, duas a três vezes ao dia. 

Observações: 

•Uso apenas em maiores de 12 anos; 

•Não deve ser utilizado por gestantes, lactantes, crianças, hipertensos e portadores de obstrução das vias biliares. Também não deve ser utilizado por pacientes em tratamento com metronidazol ou dissulfiram, medicamentos depressores do SNC e anti-hipertensivos; 

•Doses do chá deste vegetal acima das recomendadas e utilizadas por um período maior que o recomendado podem causar irritação gástrica. 




segunda-feira, 12 de abril de 2021

Plantas Curam: ESPINHEIRA-SANTA



 ESPINHEIRA-SANTA 


Nome Científico: Maytenus aquifolium Mart.

Família: Celastraceae 

Outros Nomes Populares: cancerosa, cancorosa, cancorosa-de-sete-espinho, cancrosa, congorça, coromilho-do-campo, espinheira-divina, espinho-de-deus, maiteno, salva-vidas, sombra-de-touro, erva-cancrosa, erva-santa. 

Usos: Antidispéptico, antiácido e protetor da mucosa gástrica. 

Parte Utilizada: Folhas. 

Coleta e Conservação: Suas folhas podem ser coletadas em qualquer época do ano e devem ser secas à sombra e em local ventilado. Guardar em sacos de papel ou em vidros bem fechados. 

Princípios Ativos: Taninos8 e flavonoides como triglicosídeo flavônico mauritianina, trifolina, hyperina, epi-catequina, tetraglicosídeo de canferol e galactitol. 

Modo de Preparo: Chá por infusão. 1 a 2g (ou 1-2 colheres de chá) das folhas secas em 150mL (uma xícara de chá) de água. Tomar uma xícara de chá 3 a 4 vezes por dia. 



Observações: 

Uso permitido apenas acima de 12 anos. 

Não deve ser utilizado por gestantes e lactantes. 




quarta-feira, 17 de março de 2021

Plantas Curam: CONFREI (Symphytum officinale L.)


 

CONFREI 

Nome Científico: Symphytum officinale L. 

Família: Boraginaceae 

Outros Nomes Populares: consolida, consólida-maior, consólida-do-cáucaso, erva-do-cardeal, língua-de-vaca, orelha de vaca, orelha-da-burro, orelha-de-asno, leite-vegetal-da-rússia, confrei-russo, leite-vegetal, capim-roxo-da-rússia, erva-encanadeira-de-osso. 

Usos: Cicatrizante, equimoses, hematomas e contusões. 

Parte Utilizada: Extrato das raízes8, através de pomadas. 

Plantio: Se adapta bem em solos pouco ácidos, ricos em matéria orgânica e bem drenados, com iluminação à meia-sombra ou plena. Prefere clima temperado e frio (no Brasil, esta planta já foi aclimatada na região centro-sul), e tolera secas e geadas. Não suporta a falta de água e tem crescimento exuberante o ano todo, se as condições do clima, solo e água forem favoráveis. Pode ser plantada em qualquer época do ano, mas o melhor período é entre agosto e novembro. 

Coleta e Conservação: A colheita é feita de dois a três meses após o plantio, retirando-se toda a parte aérea. As raízes são coletadas na primavera. As folhas são utilizadas frescas e os rizomas, depois de bem lavados e rapados, devem ser picados e postos ao sol para secar. Depois de secos, devem ser guardados em sacos de papel ou vidros bem tampados. 

Princípios Ativos: Carotenos, taninos, açúcares, saponinas esterólicas e triterpênicas, esteróis e triterpenos livres, os ácidos clorogênico e cafêico, mucilagem, alantoína, ácido galotâncio, proteínas, colina, glicosídio (consolidina), ácido oleanólico e mais de uma dúzia de alcaloides pirrolizidínicos (principalmente sinfitina, equimidina, elicopsamina, senquirquina e sinfitocinoglossina). 

Observações: 

•A Anvisa restringe o tempo de tratamento com o extrato das raízes de Confrei para no máximo 4 a 6 semanas por ano. Deve ser utilizado apenas em uso tópico, em lesões localizadas. 

•Alguns resultados de ensaios farmacológicos registram que o extrato aquoso das folhas possui atividade inibitória do desenvolvimento de tumores mamários. Entretanto, seu uso interno por doses altas e/ou por tempo prolongado pode ocasionar o aparecimento de tumores malignos no fígado, nos brônquios ou na bexiga1. O mecanismo de ação para este efeito carcinogênico ainda não é conhecido, porém, em um estudo comparando confrei com Riddelliine, uma substância alcaloide pirrolizidínica e cancerígena, mostrou que a mutagenicidade dos dois e a eficácia em causar tumores no fígado é muito similar, sendo, em certos aspectos, o confrei muito mais hepatotóxico do que Riddelliine. 




terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Manejo da tiririca no sistema orgânico

 

O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).

Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.

Fig. 2  As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.


Disseminação da tiririca

A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:

• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);

• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;

• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;

• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;

• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.

Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.

Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.


Manejo da tiririca

Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.


Controle mecânico da tiririca

O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).

Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.

Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.


Controle biológico da tiririca

Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação inseto tiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente  incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.

Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.