google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: AGRICULTURA ORGÂNICA

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quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Cultivo Orgânico da Batata Baroa (Mandioquinha Salsa)

 

   A batata-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) é uma planta tipicamente sul-americana, sendo o centro de origem, a região andina da Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.. A chegada de mudas trazidas da Colômbia para a Sociedade de Agricultura localizada no Rio de Janeiro em 1907, é uma das explicações mais aceitas sobre a introdução no Brasil. O seu cultivo espalhou-se pelos estados do Centro-Sul do Brasil, sendo que em cada região recebeu uma denominação distinta, como batata-salsa (Paraná e Santa Catarina), mandioquinha-salsa (São Paulo e Sul de Minas Gerais), batata-baroa (Rio de Janeiro e Zona da Mata de Minas Gerais), batata-fiuza, batata-aipo, cenoura-amarela, entre outras. As áreas de altitude elevada e clima mais ameno de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo concentram a maior parte da produção. 


     A batata-salsa pertence à família botânica das Apiaceae (antiga Umbelliferae), a mesma da cenoura, a salsa, o coentro, o aipo, o funcho, entre outras. É planta perene que raramente atinge a fase reprodutiva, pois a colheita é realizada antes do florescimento, no final do estádio vegetativo. O caule, cilíndrico e rugoso, compõe-se de uma cepa, comumente chamada de pescoço, de cuja parte superior saem ramificações curtas denominadas rebentos, filhotes ou propágulos, em número de 10 a 50, conforme a variedade e as condições ambientais, de onde nascem as folhas. Esse conjunto é chamado comumente de coroa, touça ou touceira. Da parte inferior da cepa saem as raízes tuberosas, que constituem a parte comercializável. Podem ser alongadas, cilíndricas ou cônicas, com coloração variando de branco a amarelo-intenso ou púrpura-escuro, conforme o clone. Têm película brilhante e tamanho variando até 25 cm. São produzidas em número de seis ou mais por planta. O mercado brasileiro, porém, apresenta preferência por raízes de formato cônico alongado e de coloração amarela intensa (Figura 1). 

Figura 1. Hortaliça-raiz: batata-salsa ou mandioquinha-salsa

A batata-salsa possui mercado crescente, sendo a produção abaixo da demanda, o que explica, em parte, o alto preço do produto. É considerada um produto saudável, quase orgânico, devido a rusticidade, o que vai ao encontro da crescente demanda por produtos ecológicos, com qualidade superior em termos de segurança alimentar, comparando-se àqueles produzidos convencionalmente, pela ausência de resíduos de agrotóxicos. De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), é entre os meses de maio e agosto que os consumidores encontram as melhores raízes de batata-salsa no mercado, por preços mais acessíveis. 


Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: Tradicionalmente, o consumo é na forma cozida pura ou de sopas e cremes e, por isso é mais utilizada no inverno. Entretanto, outras formas de preparo são particularmente saborosas, como fritas fatiadas (“chips”), com costela bovina, com frango caipira, com rabada e agrião, nhoque ao molho gorgonzola ou bolonhesa, suflês, pães doces ou salgados, rocambole com calabresa ou camarão, creme com catupiri ou requeijão e bacon, bolinhos empanados e doces, entre outras receitas. Basicamente, nas receitas que utilizam batata, cenoura e mandioca, pode-se empregar batata-salsa em substituição a essas. A batata-salsa é predominantemente usada para consumo direto. Entretanto, é crescente sua demanda como matéria-prima para indústrias alimentícias na forma de sopas, cremes, pré-cozidos, alimentos infantis (“papinhas”), fritas fatiadas ("chips"), extração de amido e processamento mínimo. Com a industrialização do produto, abre-se a oportunidade de exportação, devido à reduzida conservação pós-colheita. Sua fácil digestibilidade, seu valor energético em vista do alto teor de carboidratos, dos quais 80% é amido, aliado ao alto teor de vitamina A, cálcio, fósforo e ferro, além de outros elementos como vitaminas B1, B2, C, D, e E, potássio, silício, enxofre, cloro e magnésio, a torna ideal para dieta infantil, idosos, convalescentes e atletas. Do ponto de vista terapêutico é tida como um bom diurético. Segundo nutricionista o alto nível de fósforo (29 mg/100g) e manganês (0,22mg/100g) presentes na batata-salsa são importantes; O fósforo é importante para a manutenção do metabolismo ósseo e o manganês atua, dentre várias funções, como antioxidante. Estudos apontam uma possível correlação entre baixo consumo de manganês e agravo de sintomas da TPM, como dor e mau humor. Além disso, a batata-salsa é um dos poucos alimentos, entre as hortaliças, que contém a niacina - também conhecida como vitamina B3, vitamina PP ou ácido nicotínico; Quando em falta no organismo, a niacina pode provocar lesões graves no aparelho digestivo, ocasionando problemas no processo de digestão e absorção dos alimentos, podendo levar ao comprometimento do estado nutricional, e no sistema nervoso central - desde uma simples cefaleia até a demência. Os restos culturais (parte aérea da planta e raízes não comercializáveis) prestam-se ao arraçoamento animal, havendo relatos de pequenos produtores da região de Lavras de que houve aumento na produção de leite pelo fornecimento de restos de mudas. 


Cultivo: Apresenta boa adaptabilidade à locais com clima semelhante ao de sua origem. No Brasil, é tradicionalmente cultivada no Sudeste e no Sul, em regiões com altitude superior a 800m e temperatura média anual entre 15°C e 18°C. Entretanto, verifica-se seu cultivo em áreas mais baixas, na Zona da Mata mineira e em baixadas litorâneas de Santa Catarina, assim como sua expansão para o Planalto Central, no Distrito Federal e Goiás, onde a temperatura média anual supera os 20°C. Solos: Prefere solos de textura média, profundo e bem drenado. Solos muito pesados ou mal preparados determinam a produção de raízes curtas, arredondadas, assemelhando-se à batatas. Não tolera encharcamento, devendo-se utilizar solos bem drenados. Para plantios em épocas chuvosas ou solos mal drenados, normalmente, deve-se utilizar leiras mais altas, de modo a minimizar o acúmulo de água junto às plantas. Quando produzida em solos soltos de coloração clara, as raízes apresentam melhor aparência e maior vida útil na comercialização. Solos com elevados teores de matéria orgânica apresentam restrições, pois proporcionam grande desenvolvimento vegetativo, em detrimento do acúmulo de reservas e produção de raízes; Além disso, por apresentarem em geral coloração escura, esses solos podem levar à produção de raízes com manchas superficiais escurecidas que não saem com a escovação (ideal) e nem com lavação, depreciando seu aspecto visual. No caso de uso de solos com alto teor de matéria orgânica, não se deve utilizar fertilizantes nitrogenados. Época de plantio: Em regiões de clima ameno, o plantio pode ser efetuado o ano todo. Os plantios de março a junho predominam, especialmente no Sudeste, em função do maior risco de perdas devido às épocas quentes e chuvosas. Em regiões altas, as melhores épocas de plantio compreendem os meses de outubro/novembro e de fevereiro/março, em áreas que possam ser irrigadas. Os plantios realizados no verão apresentam elevado índice de apodrecimento de mudas, devido às elevadas temperaturas e precipitação e à exposição do córtex das mudas pela ação do corte realizado no ato do plantio, favorecendo as bactérias e fungos de solo. Em consequência disso, verifica-se a redução do pegamento e, consequentemente, da produtividade. Embora seja uma cultura muito resistente ao frio, o plantio em épocas muito frias pode apresentar falhas e redução de produtividade se ocorrer fortes e numerosas geadas. No estágio inicial, quando ainda não possui grande quantidade de reservas, as plantas podem esgotar-se no caso da ocorrência de muitas geadas consecutivas. Cultivares: Existem diversos clones que apresentam boa produtividade e adaptabilidade ao sistema orgânico, como a Amarela de Carandaí e a Amarela de Senador Amaral. Amarela de Senador Amaral é uma cultivar de batata-salsa desenvolvida através de seleção de clones originários de sementes botânicas coletadas no sul de Minas Gerais, oriundas do material tradicionalmente cultivado. Esta cultivar vem sendo avaliada desde 1993 pela Embrapa Hortaliças, por produtores rurais e Instituições de Pesquisa e Extensão rural de diversos Estados brasileiros. Dentre as vantagens observadas em relação ao material tradicionalmente cultivado no país, destacam-se a alta produtividade de raízes comerciais (superior a 25 t/ha), com qualidade superior, a coloração de polpa amarela intensa, a precocidade de colheita e arquitetura de planta ereta, mantendo-se as características peculiares do material tradicionalmente cultivado, como o aroma típico e o sabor adocicado. Propagação e preparo das mudas: a propagação é feita através de filhotes ou rebentos, o que origina os clones. O preparo das mudas começa logo após a colheita, destacando os rebentos da coroa e fazendo uma seleção daqueles mais vigorosos e saudáveis. O ideal é que o produtor selecione as melhores plantas quanto à produtividade e resistência às pragas e doenças, em cada cultivo, para retirar as mudas. Deve-se utilizar apenas mudas provenientes de plantas sadias, principalmente, sem nematoides e fungos do solo, para evitar a contaminação da área de cultivo. Preferencialmente, devem-se usar mudas juvenis, ou seja, mudas ainda vigorosas e, em pleno desenvolvimento. Como a distribuição dos filhotes na touceira não é uniforme, deve-se utilizar filhotes com idades fisiológicas semelhantes, ou seja, de acordo com o tamanho da reserva dos propágulos. As melhores mudas são aquelas obtidas e plantadas logo após a sua separação da planta (Figura 2). Para conservação das mudas, entre a colheita e o plantio subsequente, deve-se manter as touceiras, sem que se destaque os perfilhos. As touceiras devem ser mantidas à sombra, após retiradas as raízes e as folhas, quando presentes, mantendo a base da planta em contato com o solo e irrigando-se duas vezes por semana. O preparo inicial das mudas consiste do destaque dos perfilhos e lavagem por imersão ou em água corrente para retirada do excesso de impurezas. O tratamento fitossanitário dos filhotes, após o destaque da planta mãe, é uma prática indispensável; recomenda-se sua imersão por 5 a 10 minutos em solução de água sanitária comercial, pela ação do cloro ativo, na proporção de 1L de água sanitária para 9l de água (considerando-se o teor médio de 2,2% de hipoclorito de sódio), seguida de secagem à sombra. Após a secagem dos filhotes tratados, efetua-se o preparo das mudas que consiste em efetuar corte em bisel (em ângulo inclinado), de modo a aumentar a área de enraizamento. Deve-se usar ferramenta afiada e lâmina chata, que corte o filhote sem rachá-lo. Recomendam-se estiletes ou lâminas de serra bem afiadas no esmeril. O corte bem efetuado sem que o filhote lasque, proporciona uma melhor inserção de raízes na cepa da planta, ou seja, as cicatrizes após o destaque das raízes ficam reduzidas, facilitando o destaque na colheita e aumentando sua conservação pós-colheita. Em mudas mal cortadas ou “lascadas”, é comum observar-se o crescimento desigual de raízes nas plantas e raízes com grandes cicatrizes causadas pelo destaque. Pré-enraizamento em canteiros (viveiros): A técnica consiste basicamente em promover o enraizamento delas em canteiros devidamente preparados, sob elevada densidade de plantio, distantes 5 a 10 cm entre si, por cerca de 45 a 60 dias, para, então, realizar o transplantio para o local definitivo. Os canteiros para pré-enraizamento, por vezes chamados de viveiros, devem possuir solo leve, com cerca de 20 cm de altura e largura em torno de 1m. O preparo da muda é semelhante ao realizado para o plantio convencional, devendo o corte ser feito em bisel, isto é, em ângulo inclinado, de modo a aumentar a área de enraizamento, usando-se ferramenta afiada e lâmina chata, cortando-se a muda sem rachá-la. A diferença no corte é que a quantidade de reserva pode ser menor, com até 1cm. Com o pré-enraizamento consegue-se lavouras mais uniformes e mais vigorosas. É interessante o uso de cobertura morta com palhada sem semente, especialmente necessária para a base dos perfilhos, pois esses apresentam grande propensão ao ressecamento devido ao corte na parte superior. Quanto à época, o plantio pode ser efetuado o ano todo em regiões de clima ameno. Para o sucesso desta técnica, recomenda-se que os filhotes sejam destacados de touceiras de plantas sadias, que ainda não perderam a folhagem, com no máximo 10 meses de idade e, cortados em bisel, por lâmina fina e bem afiada. O ideal é utilizar uma área de plantio destinada unicamente para a produção de mudas, independente da área de produção comercial. O pré-enraizamento de mudas apresenta as seguintes vantagens em relação ao plantio convencional: Maximização do índice de pegamento; redução de custos com tratos culturais, com maior controle da fase inicial da produção - 150 a 400 m2 de viveiro (canteiros de pré-enraizamento) para 1 ha de plantio; eliminação da ocorrência de florescimento precoce no campo definitivo; possibilidade de seleção apurada de mudas; uniformização da colheita devido ao estresse causado à muda por ocasião do transplantio e possibilidade de escalonamento da produção. Preparo do solo: O solo deve ser preparado através de aração e gradagem seguidas pelo plantio em leiras, em nível, para maior facilidade de colheita, o que constitui também uma excelente prática conservacionista. No sistema orgânico de produção de batata-salsa deve-se evitar a mobilização excessiva e compactação do solo. O preparo do solo no primeiro ano de cultivo deve basear-se em aração, gradagem e levantamento das leiras. Nos anos subsequentes evitar, na medida do possível, o uso de enxada rotativa e outros implementos que causem degradação excessiva de solo. Recomenda-se um sistema de preparo de solo com mecanização reduzida, deixando-o sempre protegido por cobertura morta ou verde. Plantio e espaçamento: Há diferentes métodos de plantio: diretamente no local definitivo (plantio convencional) ou com o pré-enraizamento em canteiros (viveiros) ou com o pré-enraizamento em água. O plantio convencional é feito diretamente no local definitivo no centro das leiras (camalhões), devendo as mudas serem enterradas no topo das leiras, à uma profundidade de 5 a 10 cm para não ficarem expostas à medida que a água de irrigação vai “acamando” a leira. O plantio convencional é realizado diretamente no local definitivo, usando-se mudas com a brotação cortada e grande tamanho de reserva (2 a 3 cm). As leiras, com cerca de 15 a 30 cm de altura, devem ser levantadas com espaçamento de um metro entre si e de 30 a 40 centímetros entre plantas, de acordo com a variedade, o local e a época de plantio. Deve-se evitar condição de fechamento excessivo da lavoura em épocas chuvosas, aumentando-se o espaçamento. Os clones de raízes brancas, extremamente viçosos, exigem espaçamento maior, no mínimo de 1m entre leiras e 50cm entre plantas. Esse espaçamento mais largo que o convencional, auxilia na redução da umidade interna da lavoura, minimizando problemas com mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum. Adubação orgânica: preferencialmente, deve-se adubar com composto orgânico no sulco (metade da quantidade), por ocasião do plantio, e o restante em cobertura, cerca de 120 dias após o plantio, conforme recomendação baseada na análise do solo e do adubo orgânico. Irrigação: Tendo em vista que a cultura é relativamente tolerante à seca, comparativamente a outras hortaliças, muitos produtores não utilizam a prática da irrigação. Contudo, em casos de adversidades climáticas, a produtividade é comprometida e o risco de insucesso, elevado. Apesar da tolerância moderada, a cultura responde favoravelmente às condições de boa disponibilidade de água no solo, o que torna a irrigação uma prática fundamental para produtores que têm como objetivo a obtenção de altas produtividades. A cultura necessita de fornecimento regular de água, em todo o seu ciclo. A produtividade pode ser severamente afetada pelo excesso de água, que reduz a aeração do solo e favorece maior incidência de doenças e lixiviação de nutrientes. Irrigações em excesso, notadamente em solos com problemas de drenagem, ocasionam maior incidência de doenças de solo, como podridão-de-esclerotínia e podridão-de-esclerócium e, principalmente, podridão-mole, causada por bactérias do gênero Erwinia. A cultura pode ser irrigada por diferentes sistemas de irrigação (aspersão e infiltração), sendo a aspersão o mais empregado, em função do baixo custo e de maior facilidade para ser utilizado em áreas com diferentes topografias, tipos de solo, tamanhos e geometrias. Capinas: manter limpo a linha de cultivo sobre as leiras, deixando crescer a vegetação espontâneas nas entrelinhas. Amontoa: Periodicamente, se necessário, deve-se refazer as leiras, chegando terra junto às plantas, de forma que as raízes permaneçam cobertas. Manejo de pragas e doenças: A cultura, em geral, não apresenta problemas com pragas e doenças, no sistema orgânico. No entanto, pode ocorrer o ataque de fungos do solo como a Murcha causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum que provoca o apodrecimento das raízes e o amarelecimento e murcha da parte áerea, podendo ocorrer por ocasião do transporte e armazenamento das raízes. A disseminação da doença ocorre, principalmente, pela dispersão dos escleródios junto a material propagativo retirado de campos infectados, assim como pelo trânsito de máquinas, ferramentas e animais de campos contaminados para áreas sadias. O manejo da doença deve começar pela utilização de mudas sadias. Quando a doença se manifesta, recomenda-se arrancar a planta doente juntamente com a terra da cova, eliminando da área de plantio e, aproveitando na composteira. A rotação de culturas, com o plantio de culturas que não são atacadas pelo fungo e, o plantio de leguminosas são práticas que ajudam a desinfestar um solo atacado pelo fungo, porque quebra o ciclo de vida do mesmo. A escolha de áreas com boa drenagem e irrigação adequada, são medidas que desfavorecem o fungo. A Podridão das Raízes ou Podridão-mole é outra doença que pode ocorrer na batata-salsa, sendo o principal agente causal as bactérias do gênero Erwinia, principalmente na pós-colheita. Os sintomas iniciais da doença são depressões de aspecto encharcado nas raízes, causando posterior decomposição dos tecidos e odor característico e desagradável. A bactéria é extremamente dependente de umidade, portanto, a escolha de local com boa drenagem é de suma importância, devendo-se evitar áreas de baixada. Plantios em locais ou épocas mais úmidas devem utilizar leiras mais altas, com 35 a 40 cm. Espaçamentos mais largos podem ser úteis na manutenção de um microclima mais arejado, visando a desfavorecer a doença. A irrigação deve ser cuidadosa, sem molhamento excessivo. O próprio corte em bisel efetuado no plantio pode ser porta de entrada para o ataque da bactéria. Outras pragas e doenças, como a broca e os nematóides, podem causar ferimentos que abrem caminho para a infecção pela Erwinia. Também ferramentas ou implementos nas operações de capina podem causar ferimentos por onde a bactéria se instala. No campo, as plantas atacadas devem ser arrancadas, postas em sacos, retiradas da área e aproveitadas na compostagem. Na colheita e na pós-colheita, deve-se ser cuidadoso, de modo a minimizar a ocorrência de microferimentos. Provavelmente, os nematóides são os maiores causadores de danos à batata-salsa e também de outras espécies que pertencem a mesma família botânica. A rotação de culturas com o plantio de culturas que não são atacadas pelo fungo e nematóides (espécies não pertencentes à família botânica das Apiaceas tais como a cenoura, salsa, coentro e aipo), especialmente as leguminosas ajudam a desinfestar um solo atacado por fungo e contribuem para o manejo de nematoides, principalmente a Crotalária spectabilis (efeito alelopático). Para o manejo de pragas, deve-se utilizar as medidas preventivas tais como: seleção do material de cultivo, adubação adequada (fornecimento excessivo de nitrogênio favorece os pulgões e ácaros), retirada de plantas muito atacadas, manejo da irrigação, rotação de culturas e a destruição dos restos culturais. Os restos culturais devem ser retirados da área, pois neles a praga se multiplica, constituindo-se em inóculo para novos plantios. 

Figura 2. Mudas e raízes de batata-salsa

Colheita: A batata-salsa pode ser colhida com 240 a 330 dias após o plantio, ou seja, seu ciclo dura de 8 a 11 meses, dependendo da cultivar usada. Quando a planta amarelecer e as folhas mais velhas secarem, a planta está pronta para ser colhida. Atualmente, já existem cultivares mais precoces, como a Amarela de Senador Amaral, que pode ser colhida com 6 a 8 meses. Em solos soltos a batata-salsa pode ser arrancada do solo com as mãos; em solos mais compactados há necessidade de um afrouxamento do solo que pode ser feito com enxada ou enxadão. Em cultivos maiores o afrouxamento do solo para colheita pode ser feito com arrancadeiras. Deve-se tomar o cuidado para evitar ferimentos nas raízes que podem se transformar em porta de entrada para patógenos, causando podridões na fase pós-colheita. Todos os cuidados para diminuírem estes ferimentos resultam em melhoria da qualidade do produto e diminuição de perdas por deterioração. Também é importante a seleção de cultivares menos propensas ao desenvolvimento de infeções pós-colheita. A colheita da batata-salsa costuma ser feita quando a raiz atinge um diâmetro de 3 a 4 cm; raízes com diâmetro maior que 4 cm tem menor valor comercial. Se o preço estiver desfavorável, a colheita pode ser atrasada algumas semanas. O ideal para a comercialização das raízes de batata-salsa é não lavá-las, pois dessa maneira aumenta-se o período de conservação. O processo de lavagem das raízes, embora melhore a aparência, contribui para o aumento da perda de água durante o período de comercialização, pois a utilização do cilindro rotativo que provoca atrito entre as raízes danifica a película externa de proteção. Além disso, pode contaminar as raízes sadias pela água e facilitar o desenvolvimento de microrganismos, se a secagem for deficiente. Na hora de escolher as melhores raízes na feira, a Embrapa Hortaliças aconselha: as raízes mais frescas apresentam um amarelo mais intenso; evite comprar aquelas cortadas com ferimentos, áreas amolecidas ou manchas escuras; e, principalmente, dê preferência às menores, pois são mais macias. Para conservá-las por mais tempo, guarde em um recipiente bem fechado ou em saco plástico na geladeira. Dessa maneira, as raízes mais frescas duram até cinco dias. 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Manejo da tiririca no sistema orgânico

 

Dentre as plantas daninhas que invadem culturas em todo o mundo, a tiririca é a mais famosa. Composta por folhas, raízes e tubérculos, essa invasora se desenvolve com rapidez e compete com outras plantas ao retirar água e nutrientes do solo. Quando os tubérculos brotam, surgem novas plantas com mais tubérculos, o que faz com que a disseminação da tiririca ocorra em curto intervalo de tempo.

Em geral, os tubérculos se localizam nos primeiros 20 centímetros de profundidade, onde permanecem por muito tempo se não forem arrancados. E quanto mais fundo no solo, maior será o seu tempo de sobrevivência. Por isso, nas capinas manuais, é primordial retirar toda a tiririca (folhas, raízes e tubérculos).

O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).

Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.

Fig. 2  As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.

Disseminação da tiririca

A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:

• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);

• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;

• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;

• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;

• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.

Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.

Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.

Manejo da tiririca

Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.

Controle mecânico da tiririca

O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).

Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.

Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.


Controle biológico da tiririca

Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação insetotiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente  incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.



Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Manejo da tiririca no sistema orgânico

 

O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).

Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.

Fig. 2  As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.


Disseminação da tiririca

A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:

• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);

• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;

• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;

• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;

• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.

Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.

Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.


Manejo da tiririca

Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.


Controle mecânico da tiririca

O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).

Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.

Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.


Controle biológico da tiririca

Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação inseto tiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente  incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.

Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Cultivo Orgânico da Mandioca (Aipim)

 

O aipim (Manihot esculenta Crantz), também chamado popularmente de mandioca, mandioca de mesa, mandioca-doce, mandioca mansa, macaxeira e outros, é um dos alimentos de maior expressão no Brasil e que tem crescido muito nos últimos anos. O cultivo orgânico da batata-doce, cenoura e beterraba, consideradas também importantes hortaliças-raízes, já foram abordados em matérias postadas em 25/01, 04/02 e 27/02/2011, respectivamente. 

     O aipim é uma planta perene e arbustiva, pertencente à família botânica das Euforbiáceas. Originária da América do Sul, já era cultivado por povos indígenas desde muito antes da chegada dos europeus. A raiz (Figura 1) tem uma casca rugosa, em grande parte, facilmente destacável e, que, dependendo da variedade, pode atingir até 1 m de comprimento, com polpa branca e amarela. Existem diversas variedades que se dividem em mandioca-doce ou mandioca-mansa e mandioca-brava, segundo a presença e concentração de ácido cianídrico que pode ser venenoso; esta substância pode causar náuseas, vômitos, sonolência e até mesmo a morte, fazendo-se necessário o cozimento adequado das raízes para desativar o veneno. 

      Figura 1. Raízes de aipim

Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: A mandioca é dividida em dois grandes grupos: 1º) destinado à produção de produtos secos que exigem sistemas de processamento mais complexo (farinha de mandioca e outras farinhas, fécula, beijus, etc) e, 2º) destinado ao consumo via úmida, cujo processamento se dá no ambiente doméstico (pré-cozida, congelada, cozida, frita na forma de chips, bolinho e até inteira, sopa, mingau, bolo, broa e etc). O primeiro grupo é chamado de mandioca para indústria e em linguagem popular, simplesmente mandioca; são produzidas em sistemas tipicamente agrícolas em áreas relativamente grandes, em qualquer tipo de solo. O segundo grupo é chamado de mandioca para mesa (aipim), normalmente utilizada para consumo fresco humano e animal, com várias denominações regionais: aipim (região sul), macaxeira (nordeste) ou simplesmente mandioca. Os aipins in natura são cada vez menos frequentes em grandes cidades e supermercados. Além da deterioração pós-colheita, precisam ser descascados em casa e têm menores garantias de qualidade, pois, em geral, não têm rótulo de produtor. A mandioca para mesa ou aipim diferencia-se da mandioca para a indústria por várias características. O aipim tem sabor característico, textura e cor da massa cozida diferenciadas para atender às preferências regionais e locais. O aipim é consumido, especialmente in natura, e também já descascado e congelado. O aipim também já está sendo comercializado através de produtos minimamente processados (pré-cozido congelado, chips e etc), constituindo-se em boa alternativa para agregação de valor e até para exportação. A raiz do aipim destaca-se como uma excelente fonte de carboidratos, apresentando elevado valor energético. Não tem proteínas e nem gorduras, mas contém grande quantidade de vitaminas do complexo B, principalmente a vitamina B3 (niacina), além de sais minerais, como cálcio, ferro, fósforo e especialmente potássio. 

     As raízes e folhas do aipim possuem propriedades anti-séptica, cicatrizante e diurética e são indicadas para abrir o apetite, tratamento de feridas, chagas, tumor, abscesso, conjuntivite, diarréia, disenteria, hérnia, inflamações em geral, cansaço e picada de cobra. No entanto, deve-se ter o cuidado para não confundir o aipim com a mandioca brava, pois algumas substâncias da mandioca brava causam intoxicação e dependendo da concentração presente na planta pode causar até a morte. 

Cultivo: O aipim tem inúmeras vantagens em relação às outras culturas, tais como: facilidade de propagação (ramas), tolerância à seca, rendimentos satisfatórios em solos de baixa fertilidade nos quais é geralmente cultivado, baixa exigência de insumos modernos, que normalmente encarecem os sistemas de produção de outras culturas, resistência ou tolerância às pragas e doenças e, ainda possibilidades de mecanização do plantio à colheita e de consorciação com outras culturas. A planta desenvolve-se muito bem em solos de franco-arenoso à argilo-arenoso e bem drenados, com temperaturas em torno de 25ºC. 

Cultivares: O aipim apresenta uma ampla variabilidade genética, representada pelo grande número de variedades disponíveis em todo o país. A Epagri, através da Estação Experimental de Urussanga,SC tem concentrado o foco de suas pesquisas na cultura da mandioca visando a indústria e também no desenvolvimento de variedades de aipim. Estratégias de melhoramento de plantas para o desenvolvimento de cultivares mais produtivos, com elevados teores de matéria seca nas raízes, resistência às doenças antracnose e bacteriose, melhor qualidade culinária, entre outras, estão sendo adotadas atualmente pela equipe de pesquisa da Estação Experimental. Duas características são fundamentais nas cultivares de aipim: cozinhar rapidamente e ter baixo potencial cianogênico (plantas que contém como princípio ativo o ácido cianídrico – HCN, substância que pode ser venenosa). Raízes com concentração superior a 100 mg de HCN por kg de polpa úmida tem sabor desagradável e amargo. Como o teor de HCN nas raízes é liberado durante o processamento, podem ser utilizadas na indústria, tanto cultivares de mandioca mansa (aipim) como brava. O teor de HCN varia com a cultivar, com o ambiente e com o estado fisiológico da planta e, é um fator decisivo na escolha da cultivar de aipim. Em geral, a grande maioria das cultivares de aipins apresentam teores de HCN relativamente baixos (30 a 75 mg/kg de polpa), situando-se dentro do limite máximo de segurança para cultivares de mandioca de mesa, que segundo pesquisadores é de até 100 mg/kg de polpa crua de raízes. Outros caracteres de natureza qualitativa também são importantes, como o tempo de cozimento das raízes, que também varia de acordo com a cultivar, condições ambientais e estado fisiológico da planta. É comum variedades de aipim ou macaxeira passarem um determinado tempo de seu ciclo "sem cozinhar", o que é um fator crítico para o mercado in natura. Alguns fatores parecem estar relacionados a este fato, tais como o estresse da planta causado por condições climáticas e outros. Outras características referentes à qualidade, tais como ausência de fibras na massa cozida, resistência à deterioração pós-colheita, facilidade de descascamento das raízes, raízes bem conformadas são também importantes para o mercado consumidor de aipim e devem ser consideradas na escolha da cultivar. Além disso, é importante que as cultivares apresentem raízes com polpa de coloração branca ou amarela, córtex branco, ausência de cintas nas raízes, película fina e raízes grossas e bem conformadas, o que facilita o descascamento e garante a qualidade do produto final. Cultivares de aipim, em geral, devem apresentar um ciclo mais curto (8 a 14 meses) para manter a qualidade do produto final. 

Conservação e adubação do solo: É uma cultura altamente erosiva, pois seu crescimento inicial é muito lento e o espaçamento é amplo, fazendo com que ocorra uma demora em cobrir o solo para protegê-lo das chuvas e enxurradas. Em função deste crescimento inicial lento, recomenda-se as seguintes práticas: plantio em nível, uso de matéria orgânica, rotação de culturas com leguminosas visando a adubação verde e o plantio direto, consorciação de culturas com milho, feijão e outras, cobertura morta (palha de aveia, feijão e milho) e cobertura viva (Figura 2) nas entrelinhas. É uma cultura esgotante do solo, pois quase tudo que produz (raízes, folhas e manivas) é exportada da área, para alimentação humana e animal e, como manivas-sementes para novos plantios. Para a adubação, deve-se fazer a análise do solo e do adubo orgânico a ser utilizado, com bastante antecedência, para a correção da acidez e, adubação, de acordo com a recomendação, feita pelo técnico do município. A aplicação e incorporação do calcário, se necessário, deve ser feita 30 a 60 dias antes do plantio, devendo a quantidade ser recomendada de acordo com a análise do solo e, nunca ultrapassando 2 toneladas de calcário/ha por aplicação. Dependendo do aspecto e desenvolvimento da planta, é dispensável a aplicação de nitrogênio, especialmente se estiver consorciada com leguminosas. Os adubos orgânicos nitrogenados devem ser aplicados na cobertura, ao lado do sulco, de 45 a 60 dias após a brotação. O adubo potássico também pode ser parcelado em cobertura com a aplicação da metade da dose recomendada, juntamente com a adubação nitrogenada. Em algumas situações, como o plantio em rotação, caso a outra cultura for adubada, pode-se dispensar o uso de adubação. 

Seleção e preparo do material para plantio: A inexistência de manivas-sementes de qualidade e a dificuldade na conservação das ramas para plantio são os principais entraves para o desenvolvimento da cultura. As manivas ou toletes (pedaços de ramas maduras) devem ser provenientes de plantas com 10 a 14 meses de idade, ter de 5 a 7 gemas, 2,5 cm de diâmetro e 15 a 20 cm de comprimento e estar livre de pragas e doenças. Deve-se evitar retirar manivas de ramas tanto da parte superior (mais herbácea), como da inferior (mais lenhosa); 1 hectare de aipim, com 12 meses de idade, fornece, em média, material para plantio de 4 a 5 ha. Caso haja necessidade de armazenamento, as ramas devem ser colocadas à sombra, em feixes, na posição vertical e cobertas com capim seco. Podem ser conservadas dessa forma por um período de 30 dias. Para reduzir perdas na brotação, recomenda-se que as manivas sejam plantas no mesmo dia do seu preparo. Sistema de Plantio: O sistema de plantio varia de acordo com as condições do solo. Para solos bem drenados recomenda-se o plantio em sulcos ou covas de 10 cm de profundidade, colocando-se as manivas horizontalmente no sulco e depois cobrindo totalmente com terra. Para solos mal drenados, sujeitos às chuvas frequentes e intensas, o sistema deve ser em camalhões. O plantio em cova é efetuado manualmente, quando não se dispõe de equipamentos mecânicos. 

Época de plantio: Umidade e calor são elementos essenciais para a brotação e enraizamento das manivas, por isso, para a região Sul do Brasil, recomenda-se o plantio no final de setembro até o final de outubro. Plantios precoces podem atrasar o desenvolvimento da cultura, em função da falta de brotação das manivas, causado pelas baixas temperaturas e também aumentar o custo de produção devido ao maior número de capinas. Por outro lado, os plantios tardios podem aumentar as falhas no campo devido ao esgotamento das manivas, em função da brotação excessiva. 

Espaçamento e Plantio: No cultivo do aipim, o espaçamento depende da fertilidade do solo, do porte da variedade, do objetivo da produção (raízes ou ramas), dos tratos culturais e do tipo de colheita (manual ou mecanizada); em geral, no caso de fileiras simples, recomenda-se o espaçamento de 1,0 x 1,0 m (densidade de 10.000 plantas/ha) e para fileiras duplas, o espaçamento é de 2,0 x 0,6 x 0,6 m (densidade de 12.820 plantas/ha). As vantagens do sistema de plantio em fileiras duplas são: racionalização do uso da terra, aumento da produção de raízes, possibilidade de consorciar com outras culturas e, dessa maneira diversificar a produção, barateando a produção, permite visitas de inspeção, facilita o cultivo mecanizado e os tratos culturais, especialmente os tratamentos fitossanitários, possibilita a cobertura vegetal nos espaços livres e, dessa maneira aumentando a matéria orgânica e a conservação do solo. O plantio deve ser no início das chuvas. As covas são preparadas com enxadas, enquanto que os sulcos são construídos com sulcador à tração animal, motomecanizados e enxada. Nos solos argilosos e, em regiões com precipitação superior a 1200 mm por ano, recomenda-se o plantio em camalhões. As manivas-sementes podem ser plantadas em três posições: vertical, inclinada ou horizontal; a mais utilizada é na posição horizontal porque facilita a colheita das raízes. Por outro lado , os plantios com a maniva inclinada ou na posição vertical possibilitam maiores rendimentos de raízes, apesar de dificultar a colheita, pois as raízes se aprofundam no solo. 

Consorciação de culturas: são bastante utilizados nas regiões tropicais pelos pequenos produtores, visando um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, com maior rendimento médio das culturas envolvidas. As principais vantagens em relação ao monocultivo, são: aumento da biodiversidade, contribuindo para o equilíbrio ecológico e estabilidade da produção, melhor utilização da terra, melhor exploração de água, nutrientes e mão-de-obra, maior eficiência no manejo de plantas espontâneas, melhor conservação e fertilidade do solo (consórcio com adubos verdes) tendo em vista o desenvolvimento lento do aipim e, ainda, fornecendo mais uma fonte de alimento e renda. Sugestão de consórcios, preferencialmente no sistema de fileiras duplas: aipim + feijão comum; aipim + batata; aipim + milho; aipim + ervilhaca (Figura 2); aipim + aveia + ervilhaca; aipim + milho + feijão comum. Para reduzir despesas na formação de culturas permanentes (citros, banana e outras) pode-se utilizar o consórcio com aipim, em fileiras duplas. 


                     

Figura 2. Consórcio de aipim com ervilhaca

Capinas: A cultura deve estar livre de plantas espontâneas, especialmente na linha de plantio, nos primeiros 120 dias após o plantio, devido ao desenvolvimento inicial lento do aipim. Após este período, ocorre um controle parcial das plantas espontâneas através do sombreamento da cultura. 

Manejo de pragas: 

Mandarová – é a de maior importância para o aipim devido à sua alta capacidade de consumo foliar, causando redução do rendimento e até a morte de plantas jovens. Inspeções periódicas das lavouras, identificando os focos iniciais, auxiliam no manejo desta praga. Em plantios pequenos, recomenda-se a catação manual das lagartas e sua destruição. O mandarová possui uma série de inimigos naturais que são capazes de exercer um bom manejo, por isso, recomenda-se o aumento da biodiversidade (consórcios, manutenção de áreas próximas a lavoura com o maior número de espécies de plantas para servir de abrigo e alimento aos inimigos naturais) e, principalmente, não utilizar produtos químicos. O controle biológico com Baculovirus tem sido empregado com eficiência. O Baculovirus é um vírus de ocorrência natural que pode ser produzido e manipulado na própria lavoura. Apresenta grande vantagem, pois não afeta os insetos úteis, não interferem na fisiologia das plantas, são totalmente inócuos ao homem e outros animais, de fácil manuseio e seguro. A ação do Baculovirus ocorre através da sua ingestão juntamente com as folhas pulverizadas, provocando lesões internas até a destruição total dos órgãos. Os sintomas iniciais da doença surgem aproximadamente após quatro dias da pulverização, quando as lagartas doentes perdem o apetite, reduzem a locomoção e apresentam amolecimento gradativo do corpo, que se torna pálido, culminando com a morte após sete dias. A característica marcante que identifica a morte provocada pelo Baculovirus é que as lagartas ficam dependuradas de cabeça para baixo, nos talos de regiões mais altas da planta de aipim. A armadilha luminosa também é eficiente para capturar os adultos. 

Formigas – podem desfolhar rapidamente as plantas quando ocorrem em altas populações. O ataque ocorre geralmente durante a fase inicial da cultura. Para o manejo das formigas, a Embrapa tem recomendado o plantio de gergelim entre as fileiras de aipim; o gergelim é a melhor opção, pois suas folhas contêm uma substância chamada sesamina que é fungicida. Geralmente as formigas só carregam folhas inofensivas ao formigueiro, mas o gergelim é uma exceção, pois é uma das folhas preferidas pelas saúvas, mas mata o fungo que serviria de alimento à rainha e às larvas. Outra forma de combater as formigas é distribuir as folhas de gergelim em locais de passagem das cortadeiras, próximos aos olheiros do formigueiro. Recomenda-se fazer uso contínuo dessa prática até o fim da infestação das cortadeiras. Além do gergelim, a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical tem utilizado a manipueira (líquido originado da prensagem da mandioca nos engenhos de farinha), na proporção de 3 L/formigueiro e aplicada até 24 horas após sua coleta. 

Mosca branca – Os adultos, geralmente, são encontrados na face inferior das folhas da parte apical da planta. Já as ninfas (fase jovem do inseto) podem ser encontradas na face inferior das folhas mais velhas. Tanto os adultos como as ninfas sugam a seiva das folhas. O dano direto do adulto consiste em um amarelecimento e encrestamento das folhas apicais, enquanto o dano das ninfas manifesta-se por meio de pequenos pontos cloróticos. O uso de cultivares resistentes e/ou tolerantes é o método mais racional de controle. 

Ácaros – São encontrados em grande número na face inferior das folhas do aipim, geralmente durante a estação seca do ano. Os sintomas típicos do dano são: manchas cloróticas, pontuações e bronzeamento no limbo, morte das gemas, deformações e queda das folhas. Os ácaros são afetados pela temperatura, umidade relativa e chuva. Temperaturas baixas e mudanças bruscas de temperatura reduzem suas populações. Umidade alta e contínua provoca redução na população da praga. As chuvas intensas, além de aumentar a umidade relativa, também lavam as folhas e causam afogamento dos ácaros. As práticas culturais que auxiliam no manejo dos ácaros são: destruição de plantas hospedeiras, inspeções periódicas na cultura para localizar focos, destruição de restos de culturas, seleção de material de plantio e distribuição adequada das plantas no campo para reduzir a disseminação dos ácaros. 

Galhas ou verrugas – São larvas de moscas que formam-se na superfície foliar. As larvas induzem o crescimento celular anormal, formando sobre a face ventral da folha, galhas de cor variável de amarelo a vermelho. O manejo pode ser feito através de coleta e destruição de folhas afetadas, periodicamente. 

Manejo de doenças: 

Bacteriose - é a principal doença da mandioca, causada por Xanthomonas campestres pv. Manihotis. Os sintomas caracterizam-se por manchas angulares, de aparência aquosa, nos folíolos, murcha das folhas e pecíolos, morte descendente e exudação de goma nas hastes, além de necrose dos feixes vasculares e morte da planta. 

Superbrotamento - é uma doença causada que pode provocar uma redução no rendimento de raízes de até 70%. Pode causar também perdas na produção de manivas-sementes, tendo em vista que na planta afetada, as hastes apresentam-se com um tamanho muito reduzido e excesso brotação das gemas. Os sintomas da doença caracterizam-se pela emissão exagerada de hastes a partir da haste principal, além de provocar raquitismo e amarelecimento generalizado das plantas afetadas. A disseminação da doença ocorre por meio de vetores transmissores, normalmente insetos que têm o hábito sugador, além de manivas-semente contaminadas utilizadas no plantio. O controle do superbrotamento pode ser efetuado adotando medidas preventivas como evitar a introdução de material de propagação de áreas afetadas e seleção rigorosa do material de plantio. A utilização de variedades resistentes é o método mais eficiente de controle da doença. 

Mosaico comum – é uma virose que, com manifestação severa da doença em variedade suscetível, pode causar perdas de até 20%. Os sintomas constituem-se principalmente em clorose da lâmina foliar e retorcimento dos bordos das folhas, 

Colheita: A colheita é a operação das mais trabalhosas e caras no cultivo do aipim. Deve ser efetuada na estação seca (outono e inverno), a partir de abril, época em que as raízes apresentam maiores teores de amido. A poda das ramas deve ser efetuada a uma altura de 20 a 30 cm acima do nível do solo. O arranquio das raízes deve ser feito com a ajuda de ferramentas, dependendo das condições de umidade e características do solo. A amontoa das raízes deve ser em pontos na área de modo a facilitar o recolhimento e proteção do solo. A cobertura das raízes de ser feita com folhas, evitando-se que estas permaneçam no campo por mais de 24 horas, para evitar a deterioração. Deve-se guardar 20% da área para a retirada de ramas para plantar uma área igual. O descascamento do aipim, dependendo da variedade, pode ser difícil. Na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, recentemente, foi apresentado uma máquina para descascar aipim ou mandioca em grandes quantidades .

A conservação do aipim em condições naturais é muito curta, pois é altamente perecível; após a colheita inicia-se um processo de atividade enzimática que resulta em escurecimento das raízes em aproximadamente 24 a 36 horas, deixando-as impróprias para a comercialização. Uma ótima alternativa é descascar as raízes e congelar. Trabalho de pesquisa realizado pela Epagri/Estação Experimental de Urussanga, mostrou que as raízes de aipim congeladas, quando cozinhadas levam a metade do tempo para o cozimento, o que constitui uma economia de gás. 



terça-feira, 17 de novembro de 2020

Comparação: Alimento Orgânico x Convencional

 

Os alimentos orgânicos têm mais qualidade e são melhores para a nossa saúde? Embora se saiba que o principal motivo dos consumidores na compra de alimentos orgânicos seja a questão da saúde pessoal e da família, ainda existem muitas dúvidas sobre o tema. Quando uma pessoa se motiva a adquirir um produto orgânico, ela espera intuitivamente estar comprando um produto de melhor qualidade, mais saudável e nutritivo. Em primeiro lugar, o consumidor espera que o produto orgânico seja livre de aditivos químicos, como resíduos de agrotóxicos, adubos químicos ou produtos transgênicos. Em segundo lugar, espera que o produto seja produzido de acordo com as normas de produção orgânica. O selo de qualidade orgânico é um bom indicativo de um produto de qualidade superior. Contudo, as respostas não são tão simples e lineares, pois a qualidade de um alimento precisa ser analisada sob diferentes dimensões que possam dar indicativos da melhor escolha para os consumidores. 


QUALIDADE: um conceito multidimensional

Numa escala de valores, a qualidade permite avaliar e, consequentemente, aprovar, aceitar ou recusar determinado tipo de produto. Neste sentido, o processo de analisar e comparar a qualidade permite uma maior probabilidade de acerto na escolha de um alimento adequado à saúde humana. Assim, vamos analisar a qualidade dos limentos sob diferentes dimensões considerando desde as percepções dos consumidores e aspectos referentes à saúde humana até questões referentes ao sistema de produção que podem interferir na qualidade nutricional, organoléptica, sanitária e ambiental. 


QUEM É O CONSUMIDOR que escolhe qualidade 

Inicialmente é interessante conhecer qual o perfil das pessoas que buscam um alimento de maior qualidade. Pesquisas realizadas no Brasil, por Darolt (2007a), Karan & Zoldan (2003) e Kirchner (2006), têm mostrado que o consumidor orgânico é predominantemente do sexo feminino, profissional liberal ou funcionário público, com idade variando entre 31 e 50 anos, formando famílias pequenas de 3 a 4 membros. Os dados mostram ainda que a maioria é usuário de internet com renda entre 9 e 12 salários mínimos, apresentando nível de instrução correspondente ao ensino superior completo. São pessoas que têm o hábito de praticar atividades físicas com freqüência e, mesmo morando nos centros urbanos, procuram um estilo de vida que privilegie o contato com a natureza, o que faz com que frequentem parques e bosques regularmente. Estes dados indicam que locais de comercialização direta como as feiras agroecológicas teriam maior possibilidade de êxito em áreas naturais (parques, bosques e praças). Além disso, são pessoas muito preocupadas com a saúde e a qualidade de vida, que privilegiam terapias e medicinas alternativas. Além do perfil socioeconômico observado, percebe-se que o consumidor orgânico é fiel e constante. A grande maioria se diz adepto da alimentação orgânica e frequenta semanalmente as feiras ou locais de venda de orgânicos. Esses resultados mostram que os espaços de feiras de produtos orgânicos tem tido êxito em cativar o público e, portanto, configura-se como um local privilegiado de educação e articulação dos consumidores. Tornar o consumidor protagonista e elemento articulador de mudanças é basicamente um desafio de conscientização. É preciso acreditar que a capacidade de o consumidor mudar hábitos de consumo tem reflexos em todos os outros segmentos da economia, construindo mercados locais mais fortes e com informação qualificada aos consumidores. 


A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR: valores associados à qualidade 

Fazer com que o consumidor perceba atributos como qualidade biológica, sabor, segurança alimentar, forma de produção, muitas vezes citados como diferencial em favor de produtos orgânicos é um desafio no processo de comunicação de massa. De acordo com Vilas Boas et al. (2005), estes aspectos são complexos para serem utilizados no desenvolvimento de processos de comunicação de marketing pelo fato de serem atributos de difícil “externalização”. Assim, o desenvolvimento de campanhas de comunicação relacionadas a produtos orgânicos, deve levar em consideração não só as características físicas do produto, de sua produção, mas também as características e fatores sociais, culturais e emocionais, relacionados a valores e crenças dos consumidores, que sejam capazes de motivá-los à determinação de atitudes positivas com relação à compra e ao consumo destes produtos. Já se sabe que a maioria das pessoas associam valores emocionais à qualidade dos produtos. Segundo Cramwinckel (2009) ao comer um produto com a crença de estar contribuindo para um mundo melhor, esses sentimentos positivos e valores são adicionados ao produto. Assim, o sabor pode ser visto como uma combinação de características do produto e de valores emocionais. Dessa forma, uma produção orgânica bem conduzida, incluindo um pouco de história, cultura e tradição associados à um sabor diferenciado pode ajudar a convencer os consumidores a mudar os seus hábitos de compra. 


FREIOS PARA O CONSUMO DE ORGÂNICOS: preço, oferta e origem x qualidade 

Estudando quatro países da Europa onde a produção orgânica está bem desenvolvida (Itália, Inglaterra, França e Alemanha), Sylvander et. al. (2005) mostraram que entre as principais razões para o baixo consumo de produtos orgânicos está em primeiro lugar os preços; em seguida, a oferta insuficiente e em terceiro a dúvida em relação à procedência do produto. A pesquisa indicou ainda a necessidade de maior sensibilização dos consumidores sobre os benefícios dos alimentos orgânicos, visto que na maioria dos casos, as informações sobre o processo de produção e comercialização eram insuficientes ou inadequadas. Pesquisa do IPARDES e IAPAR (2007), chegaram a conclusões semelhantes investigando o consumo no Estado do Paraná. Em estudo realizado em Curitiba-PR, Kirchner (2006) demonstrou que o paradigma de preços altos de produtos orgânicos é verdadeiro quando se comparam redes de supermercados e feiras orgânicas. Neste caso, para uma cesta de treze produtos, a diferença de preços chegou a apontar valores médios superiores de 118% nos supermercados. A média de preços por produto na feira orgânica foi de R$ 1,75, enquanto no supermercado este valor foi de R$ 3,82. Como a maioria das pessoas compra em supermercados a ideia de que o produto orgânico é caro fica ainda mais evidente. Nos supermercados, misturado com produtos hidropônicos, convencionais higienizados e minimamente processados, os orgânicos acabam por receber tratamento semelhante ao convencional, causando confusão e desconfiança por parte do consumidor, o que dificulta uma mudança de atitude. Apesar de receber o selo de certificação, que indica um produto de melhor qualidade, muitos consumidores ainda não o reconhecem e, muitas vezes, desconfiam da autenticidade do produto orgânico. 


ATITUDES E PREOCUPAÇÕES DOS CONSUMIDORES: segurança e qualidade alimentar

Nos últimos anos vêm crescendo o interesse nos estudos das atitudes e preocupações dos consumidores relacionados aos alimentos orgânicos. Naspetti & Zanoli (2005) mostraram que existem percepções diferenciadas para a compra, dependendo do país. De forma geral, as pesquisas realizadas em diferentes países apresentam tendências semelhantes, apontando em primeiro lugar preocupação com aspectos relacionados à saúde pessoal e da família e sua ligação com a segurança dos alimentos, destacadamente em relação à contaminação por agrotóxicos e outros agentes químicos. Em seguida aspectos como cuidados com o meio ambiente e qualidades organolépticas do alimento (sabor, cheiro, frescor) são citados como fatores que impulsionam as vendas. O estilo e filosofia de vida são fatores complementares que confirmam que “valores” são importantes e motivam a compra de orgânicos. Interessante destacar que as atitudes dos consumidores de produtos orgânicos, comparadas com as da população de modo geral, aproximam-se muito das de um consumidor consciente. Segundo pesquisa do Instituto Akatu (2007), um consumidor consciente apresenta diferença no ato de ir às compras em relação à maioria da população, mostrando disposição em transformar em prática os valores com os quais se identifica, tende a se preocupar com a comunidade em que vive e usa o seu poder de consumidor cidadão. No Brasil o principal motivo para compra de alimentos orgânicos também está ligado à preocupação com a saúde. A qualidade é percebida na segurança do alimento orgânico. Trabalhos realizados por Fonseca (2005) confirmam o interesse dos consumidores nas questões de saúde. Em pesquisa realizada com consumidores na região Sudeste, a autora mostra que entre as informações mais desejadas pelos consumidores incluem-se também as referentes à composição e ao valor nutricional dos alimentos orgânicos, bem como informações sobre o auxílio na prevenção de doenças. 


SAÚDE HUMANA, ALIMENTAÇÃO INDUSTRIAL E QUALIDADE

O advento da alimentação moderna tem conduzido não apenas a um desastre na saúde humana, mas também a uma série de problemas ambientais. Com o surgimento da agricultura industrial, vastas monoculturas de um número reduzido de plantas (basicamente cereais), substituíram propriedades familiares diversificadas que nos alimentavam, minando as culturas alimentares tradicionais em toda parte do mundo, com reflexos para a nossa saúde. A escolha por esse modelo de produção de alimentos vem modificando intensamente o ambiente em que vivemos. Os reflexos apontam para alteração de hábitos alimentares com uma dieta baseada na introdução de substâncias tóxicas, alimentos excessivamente processados, irradiados, geneticamente alterados, além de consumo exagerado de gorduras, açúcares e sódio Tudo com a finalidade de melhorar a aparência, o sabor e, sobretudo, a capacidade de conservação dos alimentos. Foram mudanças realizadas paulatinamente, porém sem a consciência de que tais atitudes poderiam ser nocivas à saúde. 

A padronização e a redução da diversidade alimentar – em termos de espécies vegetais - trouxe mais benefícios para a saúde da indústria do que para a saúde do consumidor. Entrando num supermercado a impressão é que a diversidade alimentar aumentou. Em verdade o que cresceu foi a indústria da transformação que, associado ao marketing, leva uma imagem de fartura alimentar ao consumidor. Entretanto, segundo Pollan (2008) 75% dos óleos vegetais na nossa dieta vêm da soja (representando 20% das calorias diárias) e mais da metade dos adoçantes que se consome vêm do milho (representando 10% das calorias diárias). Outra consequência do modelo industrial foi a queda no conteúdo de nutrientes da maioria dos produtos agrícolas nos últimos 50 anos. De acordo com Halweil (2007) houve diminuição de cerca de 10% ou mais em níveis de vitamina C, ferro, zinco, cálcio e selênio, em mais de 40 produtos agrícolas acompanhados desde a década de 1950 nos Estados Unidos e na Inglaterra. Em termos práticos, atualmente é preciso comer mais para se obter a mesma quantidade de nutrientes de antigamente. Assim, a maioria da população hoje come mais alimentos de baixa qualidade. O resultado é que quatro das dez principais causas de morte nos países industrializados são doenças crônicas ligadas à alimentação: distúrbios coronarianos, diabetes, AVC e câncer (POLLAN, 2008). O mesmo autor destaca que muitas doenças predominantes nos países industrializados são raras nas comunidades rurais do Terceiro Mundo, onde os alimentos foram pouco alterados antes do consumo. A realidade é que a comida simples, caseira, de lugares subdesenvolvidos é muito mais completa, nutritiva e sadia do que todos os alimentos processados produzidos pela indústria nos países do Primeiro Mundo. A ideia do resgate de uma alimentação a a base de produtos da agricultura familiar ecológica segue o mesmo raciocínio.


DIETA ORGÂNICA E SAÚDE

Saber se uma dieta orgânica pode trazer mais benefícios à saúde humana do que uma dieta convencional é um dos desafios da pesquisa do novo milênio. Estudos bem controlados dessa natureza em humanos por um longo período de tempo ainda não foram realizados. Por outro lado, um número significativo de trabalhos realizados no mundo tem abordado essa questão a partir de dados quantitativos medindo o teor de minerais, vitaminas e outros compostos antioxidantes provenientes de plantas cultivadas em sistema orgânico e convencional (LAURIDSEN, 2009). No entanto, ainda não é possível extrapolar, por exemplo, que um maior teor de vitamina em alimentos orgânicos tenha possíveis efeitos sobre a saúde humana. A comparação é difícil de ser realizada quando pensamos no ser humano, pois os hábitos de consumo e estilos de vida de consumidores orgânicos e convencionais também são diferenciados. Segundo Darolt (2007a) consumidores orgânicos apresentam, normalmente, hábitos de vida mais saudáveis tendo maior probabilidade de uma saúde mais equilibrada. Numa visão sistêmica ou mais ampliada desta questão, poderíamos dizer que os benefícios dos alimentos orgânicos podem não estar diretamente associados à questão nutricional em si, mas a mudança de hábitos alimentares e estilo de vida desse tipo de consumidor, que é sabidamente mais informado. Algumas respostas associando dieta orgânica e saúde surgiram na primeira década desse milênio a partir de ensaios bem controlados realizados com ratos em laboratório (LAURIDSEN et. al.,2008). 

Pesquisadores dinamarqueses ofereceram dietas provenientes de três sistemas de cultivo (1.orgânico – sem agrotóxicos e sem adubos químicos; 2.integrado - uso controlado de agrotóxicos e adubos químicos; e, 3.convencional - alto uso de agrotóxicos e adubos químicos). As pesquisas foram conduzidas por duas gerações de ratos. Três diferentes experimentos foram realizados para verificar: a disponibilidade de nutrientes oferecida pelas dietas; a preferência dos ratos pela dieta alimentar e a análise de indicadores relacionados à saúde dos animais após consumo dessas dietas. O primeiro experimento referente à disponibilidade de nutrientes, mostrou que o sistema de cultivo influenciou pouco a qualidade proteica e o valor energético de legumes e frutas presentes na dieta (JØRGENSEN et al., 2008). Fato que indica uma resposta para além da questão nutricional. O segundo experimento sobre preferência alimentar mostrou que os ratos apresentam preferências individuais para as dietas, independente do sistema de cultivo. O que ocorreu foi uma correlação positiva entre a dieta escolhida pelas mães e a preferida pelos filhos (KRISTENSEN et. al., 2008). Com base no terceiro experimento que relacionou a dieta com aspectos da saúde, os pesquisadores concluíram que as diferenças entre os métodos de cultivo e os ingredientes produzidos por cada tipo de dieta causaram diferenças significativas em alguns aspectos relacionados com a saúde. Por exemplo, para os ratos alimentados com a dieta orgânica houve uma maior atividade diurna, menor volume de tecido adiposo e melhor função metabólica do fígado. Uma dieta orgânica pode ainda proporcionar uma melhoria nos indicadores hematológicos, refletindo-se num sistema imunológico mais eficaz, resultado que precisa ser confirmado por mais pesquisas de longo prazo de exposição (BARANKA et. al., 2007). Esses resultados foram obtidos também em laboratório alimentando duas gerações de ratos com dieta orgânica comparada à convencional. Em outro estudo com aves (galinhas), Huber (2009) confirmou que animais tratados com dietas provenientes de formas de cultivo diferenciadas (orgânico e convencional) apresentaram diferenças em aspectos fisiológicos. De acordo com a pesquisa as aves que receberam a dieta convencional tiveram um crescimento mais rápido e apresentaram maior peso final. Em síntese, a interpretação global é que animais (aves) tratadas com alimentos orgânicos tiveram um maior potencial para reatividade imunológica, apresentando paâmetros imunológicos mais eficazes, confirmando o que aconteceu com os ratos. 

Para animais de grande porte, basicamente bovinos de leite, já foram registrados muitos estudos comparativos entre o sistema orgânico e o convencional (REMBIALKOWSKA, 2009). Os resultados apontam que animais manejados organicamente apresentaram padrões desejados em relação à saúde, como: menor incidência de doenças metabólicas como cetose, lipidose, artrite, abcessos,mastite e febres. O nível de células somáticas, por exemplo, foi semelhante nas vacas de leite proveniente da pecuária orgânica e convencional, mas o nível de casos de mastite foi significativamente menor no sistema orgânico. Um provável motivo, segundo a autora, é que as vacas criadas organicamente teriam um sistema imunológico mais eficaz, sendo melhor preparadas para lutar contra as infecções. Em síntese, os resultados de pesquisas com animais apontam para padrões desejados de saúde, com o fortalecimento do sistema imunológico e maior resistência contra enfermidades, o que pode ser conseguido com uma dieta a base de alimentos produzidos em sistemas de produção orgânicos.


SISTEMAS DE PRODUÇÃO: da qualidade à quantidade

O modelo convencional de agricultura tem dedicado suas energias a aumentar a produtividade, diminuir a diversidade de culturas plantadas e a vender alimentos o mais barato possível. Segundo Pollan (2008) esses ganhos em quantidade foram obtidos à custa da qualidade. Era de se esperar que para alcançar objetivos quantitativos seria sacrificada pelo menos parte da qualidade dos alimentos. Realmente, o sistema convencional tem dado vários exemplos de insustentabilidade para o meio ambiente, para os agricultores e consumidores. Problemas de erosão e baixa produtividade das terras e culturas, doenças como vaca-louca, febre aftosa, contaminação por dioxina e, mais recentemente, a gripe suína batizada de H1N1, tem feito a opinião pública prestar mais atenção nos sistemas de produção alimentar. O foco obstinado em aumentar a produtividade criou uma diminuição da qualidade nutritiva de nossos alimentos. De acordo com Halweil (2007), o resultado é uma inflação nutricional, ou seja, mais quantidade e menos qualidade. Essa perda nutricional parece ter duas principais causas: o sistema de produção utilizado (agricultura intensiva) e o direcionamento do melhoramento genético. Algumas hipóteses são lançadas pelo autor para diminuição da qualidade das plantas. As lavouras cultivadas com adubos químicos crescem mais depressa, dando-lhes pouco tempo e oportunidade de acumular outros micronutrientes essenciais (fundamentais para a qualidade nutritiva da planta), além de macronutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio presentes na maioria dos fertilizantes. Altos níveis de nitrogênio prontamente disponível tendem a reduzir a intensidade do sabor e, por vezes, tornam as culturas mais vulneráveis a pragas. Além disso, com fartura de fertilizantes, as plantas desenvolvem sistemas radiculares menores e mais superficiais. É por esse motivo também que a genética selecionou plantas mais baixas, compensando com um maior número de plantas por área (menor espaçamento e maior adensamento), resultando em uma maior produtividade por área as custas da qualidade nutricional. A atividade biológica do solo, também é outro fator primordial para produzir plantas mais saudáveis. 

A respeito da qualidade de solo, um dos estudos mais completos e de longa duração (21 anos) comparando a biodiversidade e qualidade de solo entre sistemas não-convencionais (biodinâmico e orgânico) e convencional, foi realizado na Europa Central (MÄDER et. al., 2007). Os resultados apontaram para uma melhor estruturação de solo e infiltração de água nos sistemas orgânico e biodinâmico. Nestas parcelas houve 30 a 40% mais presença de micorrizas (fungos que se encontram em simbiose com as raízes das plantas) quando comparadas ao sistema convencional. Outra constatação foi a maior presença de biomassa microbiana e atividade enzimática entre 30 e 85% superior quando comparado às parcelas de cultivo convencional. No tocante à produtividade, durante os 21 anos de estudo as parcelas orgânicas e biodinâmicas apresentaram, em média, uma produtividade cerca de 20% menor quando comparadas aos padrões convencionais de produção. Entretanto, os gastos com fertilizante e energia foram reduzidos entre 34 e 53% e com agrotóxicos em cerca de 97% nos sistemas orgânico e biodinâmico. Os autores concluem que para aumentar a biodiversidade e a fertilidade de solo os sistemas orgânicos e biodinâmicos podem ser uma boa alternativa aos sistemas convencionais. 

Já se sabe que no sistema orgânico, há uma diminuição da produtividade total para a maioria das culturas, destacadamente no período de transição. Isso é esperado, pois o melhoramento genético seleciona plantas para o sistema convencional – destacadamente - pela produtividade e não pela qualidade nutricional. Outro aspecto é que há uma tendência de aumento da mão-de-obra ocupada no sistema orgânico, sobretudo em serviços de limpeza, tratos culturais e colheita o que é considerado inadequado e muitas vezes ultrapassado para um sistema industrial de alta tecnologia. Por outro lado, percebe-se uma melhoria na qualidade do produto final, diminuindo-se os custos com insumo e a energia que entra no sistema. O resultado econômico final, nesses termos, mostra-se competitivo entre o sistema orgânico e convencional. 

Vários estudos têm mostrado que os agricultores orgânicos que seguem um enfoque agroecológico conseguem resultados satisfatórios em diferentes dimensões ligados à sustentabilidade (DAROLT, 2002; HALWEIL, 2007; MÄDER et. al., 2007). O selo de qualidade orgânico é um indicativo de que os alimentos foram produzidos e processados de acordo com as normas orgânicas, o que significa um adicional em termos de qualidade agronômica quando comparado ao alimento convencional. 

Em síntese, na literatura há uma série de pesquisas e fatos que mostram que produzir dentro do sistema orgânico pode ser mais sustentável para o planeta no longo prazo. No entanto, numa visão de curto prazo ainda aparecem discordâncias quando se trata de avaliar a qualidade nutricional em termos de minerais (Ca, Fe, Zn, Mg, Se), aminoácidos, vitaminas e outros compostos como veremos a seguir.


QUALIDADE NUTRICIONAL: divergências entre orgânico e convencional 

Os parâmetros para determinação da qualidade nutricional são multifatoriais, por isso uma combinação de fatores ambientais (condições de solo, água,temperatura, umidade, insolação, altitude, latitude) e variabilidade genética, podem mostrar diferenças significativas entre o modo de produção convencional e o orgânico. A maioria dos estudos sobre a qualidade nutricional de alimentos orgânicos e convencionais faz comparativos de teores de nutrientes e outros elementos entre os dois sistemas, entretanto conforme já comentamos, são praticamente inexistentes os estudos de cunho epidemiológico que fazem uma associação com a saúde humana. Assim, os benefícios dos alimentos orgânicos para a saúde não podem ser diretamente associados apenas à questão nutricional em si, mas devem ser contextualizados. Pode-se notar que para a maioria dos nutrientes minerais existe similaridade entre produtos obtidos no sistema orgânico e convencional. Todavia, para alguns elementos é possível observar tendências. Podem-se notar tendências como um teor superior de matéria seca, um menor teor de nitratos e um maior teor de vitamina C para produtos orgânicos, notadamente em legumes e folhosas. É provável que isto esteja ligado à menor quantidade e fontes menos disponível de nitrogênio em sistemas orgânicos. Outra tendência, segundo Wisniewska et. al. (2008) é a de que plantas cultivadas organicamente contenham mais fitoquímicos – os vários compostos secundários (incluindo flavonóides, carotenóides e polifenóis) que os vegetais produzem para se defender de pragas e doenças, muitos dos quais têm importantes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, entre outros benefícios para os seres humanos. De acordo com Pollan (2008), por não serem pulverizadas por agrotóxicos, as plantas orgânicas tendem a produzir de 10 a 50% mais desses compostos comparadas ao modo convencional. 

Para diminuir as divergências de opiniões entre pesquisadores, Husted & Larsen (2009) sugerem o desenvolvimento e teste de novos métodos e teorias, que possam explicar as diferenças entre o sistema orgânico e o convencional no contexto científico, conhecendo melhor os mecanismos bioquímicos de nutrição da planta e o metabolismo vegetal. Além disso, os autores reforçam a necessidade de incluir pesquisas com humanos para comprovar que as diferenças encontradas entre os sistemas de cultivo orgânico e convencional são de relevância significativa para a saúde humana. 

Teor de Nitratos

Para os valores de nitratos e nitritos , estudos de Stertz (2004) no Paraná seguiram a mesma tendência da literatura internacional constatando menor concentração de nitratos para diversas culturas orgânicas, com destaque para alface, batata e espinafre, o que pode ser considerado satisfatório para a saúde humana. O aumento rápido do teor de nitrato nas plantas é a conseqüência mais conhecida do crescente aporte de adubos químicos nitrogenados, utilizados na agricultura convencional, para aumentar rapidamente a produtividade de hortaliças de folhas como a alface, couve, agrião, chicória etc. Porém, o uso excessivo deste fertilizante associado à irrigação freqüente, faz com que ocorra acúmulo de nitrato (NO3 -) e nitrito (NO2 - ) nos tecidos de plantas. Outros elementos que contribuem para o acúmulo de nitrato estão relacionados ao ambiente, fatores genéticos e ao manejo utilizado. Sabe-se, por exemplo, que o nitrato acumula mais em baixa luminosidade (dias nublados e curtos, no período de inverno, em locais de alta concentração de nitritos e nitratos em vegetais pode provocar riscos à saúde, como a metahemoglobinemia e a possibilidade de formação de N-nitrosaminas, substâncias consideradas carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas. Os nitratos ocorrem naturalmente nas plantas, acumulado-se pelo efeito de diversos fatores, como temperatura, pluviometria, irrigação, insolação e, principalmente regime de fertilização nitrogenada. sombreados e pela manhã). Os fatores genéticos são responsáveis pelas variações entre espécies e cultivares expostas à mesma condição de cultivo. Por último, o sistema de manejo (orgânico, convencional e hidropônico) pode causar alterações nos teores de nitrato na planta. O nitrato ingerido passa à corrente sanguínea podendo, então, reduzir-se a nitritos. Estes sim são venenosos, muito mais que os nitratos. Tornam-se mais perigosos quando combinados com aminas, formando as nitrosaminas, substâncias potencialmente carcinogênicas. Tal reação pode realizar-se especialmente em meio ácido do suco gástrico, ou seja, no estômago. Desta forma, o monitoramento destas substâncias é essencial para garantir a qualidade dos alimentos consumidos pela população. Apesar de alguns cientistas defenderem que os teores de nitrato em plantas cultivadas no sistema convencional e hidropônico, ainda permanecem dentro do limite permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é preciso orientação mais adequada aos produtores sobre o manejo do nitrogênio, sobretudo, em sistemas hidropônicos, além de informação aos consumidores de como os alimentos são produzidos em cada sistema, permitindo uma escolha de produtos mais saudáveis. 

Produtos orgânicos de origem animal 

Em relação à qualidade de produtos de origem animal, Rembialkowska (2007) e Wit (2009) revisaram vários estudos na Europa e verificaram que, o leite orgânico produzido com gado a pasto, por exemplo, tem melhor valor nutritivo do que o convencional nas mesmas condições, apresentando mais vitaminas, carotenóides, tocoferóis, vitamina E e Vitamina B. De qualquer forma, ainda não se pode afirmar que isso se reflita em melhores indicadores na saúde de quem consome. O leite produzido em sistemas orgânicos pode ter maiores concentrações de antioxidantes em comparação com o leite convencional (STEINSHAMN et. al. (2009). Os pesquisadores argumentam que a maior proporção de volumoso (capim fresco e trevo) em relação ao concentrado (ração) na dieta das vacas pode explicar os resultados positivos para o sistema orgânico. Sobre a produção de carne - avaliando aves, suínos e bovinos – Rembiałkowska (2009) destaca alguns atributos positivos da carne produzida de forma orgânica: baixo teor de gordura, maior teor de gordura intramuscular e melhor perfil de ácidos graxos. Existem também alguns atributos negativos da carne orgânica, como o menor peso total das carcaças (menor ganho de peso) e tempo inferior de armazenamento. De forma geral, a produtividade animal orgânica de leite e de carne é 20% inferior ao sistema convencional, seguindo a mesma tendência da produção vegetal. Outro aspecto é a possibilidade de enfermidades parasitárias ser maior em animais criados organicamente, devido ao sistema de criação ao ar livre e a proibição de profilaxia com medicamentos veterinários. Todavia, são aspectos que precisam ser melhor estudados e que dependem basicamente de boas práticas de manejo por parte dos criadores. 

Em relação ao desempenho reprodutivo de animais um estudo de 12 anos bem conduzido com vacas leiteiras, comparando manejo orgânico e convencional foi realizado na Suécia dentro de uma mesma fazenda (FALL et. al., 2008). Os dados para este estudo incluíram todos os partos de vacas entre 1990 e 2001, num total de 154 animais manejados organicamente e 156 manejados convencionalmente. Segundo os autores, os resultados indicaram poucas diferenças entre os rebanhos (orgânico e convencional) para o desempenho reprodutivo e longevidade. 

Por ser uma área nova e apesar de algumas divergências entre as pesquisas, não há dúvida que o conhecimento da composição nutricional dos alimentos associado à forma de produção (orgânico, convencional), podem ajudar no entendimento da complexidade da nutrição humana.


QUALIDADE ORGANOLÉPTICA: sabor como parâmetro de qualidade

Vários fatores podem influenciar no sabor e aroma de um produto agrícola como,por exemplo, a variedade utilizada, o tipo de solo e clima, o ano climático e o modo de produção (orgânico ou convencional). No tocante à qualidade alimentar vem aumentando o número de estudos com as variáveis supracitadas bem controladas. Os estudos da qualidade organoléptica que avaliam sabor, aroma, acidez e palatabilidade, mostram uma ligeira superioridade do produto orgânico quando comparado ao similar convencional. Em revisão internacional Bourn e Prescott (2002) mostraram que na maioria das pesquisas comparativas existiu uma pequena superioridade para o produto orgânico, entretanto os resultados são estatisticamente pouco significativos. Estudos realizados junto ao consumidor de feiras verdes no Brasil, citados por Darolt (2007a), mostram que existe uma percepção de que os orgânicos são mais saborosos e mais aromáticos, sobretudo quando são adquiridos na forma de alimentos frescos. Outro fator importante, que influencia na análise sensorial, é a forma de preparo do alimento. Em trabalho comparativo com cenouras orgânicas e convencionais na EMBRAPA em Brasília, Carvalho (2004) mostrou que quando o alimento foi preparado ao vapor o sabor, aroma e palatabilidade foram significativamente superiores nos orgânicos. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais os Chefs de cozinha optam por produtos orgânicos no preparo de pratos especiais. 

Em relação aos produtos vegetais, destacadamente hortaliças e frutas, pode-se perceber algumas tendências para os orgânicos, conforme descrito por Hospers-Brands & Burtgt (2009): produtos mais firmes (tempo de armazenamento superior); maior quantidade de fibra e matéria seca; maior quantidade decompostos fenólicos (maior proteção natural ao organismo) e su compostos fenólicos (maior proteção natural ao organismo) e superioridade em testes de análise sensorial que avaliam sabor e aroma. 

Em relação a produtos de origem animal, para a carne, Rembiałkowska (2009) revisou vários estudos comparativos e concluiu que uma melhor qualidade sensorial, com sabor mais marcante e acentuado foi observado para as carnes de aves, suínos e bovinos tratados à base de dieta orgânica. Para o leite estudos realizados na Holanda mostraram que o sistema de produção (orgânico ou convencional) não afetou o sabor do leite processado (WIT, 2009). 

De forma geral, os estudos comparativos que focam a qualidade organoléptica estão ainda em estágio inicial e mostram resultados parciais que tendem a qualificar o produto orgânico como mais saboroso.


QUALIDADE SANITÁRIA 

No que concerne a qualidade sanitária é importante destacar alguns pontos entre os dois sistemas: a contaminação microbiana e parasitária; as micotoxinas e os resíduos de agrotóxicos.


Contaminação Microbiana e Parasitária 

Talvez um dos pontos mais questionado pelos críticos da agricultura orgânica seja a possibilidade de contaminação causada pelo uso intensivo de dejetos de animais no sistema orgânico. Primeiramente, devemos lembrar que o uso de esterco também é comum em sistemas convencionais. É fato que os dejetos de animais mal tratados podem ser uma fonte de contaminação dos produtos e do solo, tanto no sistema orgânico como no convencional. Portanto, a utilização desses insumos naturais e as técnicas para reduzir o risco de contaminação devem ser efetivamente colocadas em prática nos dois sistemas. 

Na literatura internacional foram encontrados estudos em alimentos orgânicos avaliando contaminação microbiana por Salmonella, Yersinia, Campylobacter e Escherichia Coli. No caso da Escherichia Coli, bactéria causadora de doença entérica, genericamente conhecida como sendo causada por bactérias coliformes, a transmissão ocorre principalmente pela contaminação fecal de água e de alimentos. Por isso, o controle da qualidade da água e a compostagem do esterco animal são normas obrigatórias na produção orgânica. Os resultados apresentados por Leifert et. al. (2008) mostraram que não há evidências científicas que alimentos orgânicos possam ser mais suscetíveis a contaminação microbiológica que alimentos convencionais. 

Estudos no Brasil, realizados pela Universidade Federal do Paraná encontraram algumas amostras com contaminação microbiológica e parasitária em alface e cenoura orgânicos na região metropolitana de Curitiba-PR (ARBOS et. al., 2008).No entanto, os autores verificaram que o modo de produção, convencional ou orgânico, não interfere preponderantemente na qualidade das hortaliças e sim as práticas inadequadas de produção é que aumentam significativamente o nível de contaminação. Mesmo com a possibilidade de aparecer um maior número de parasitas em condições de sistema orgânico pelo fato de animais ficarem boa parte do tempo ao ar livre, esses vermes não são transmitidos ao homem pela carne. Segundo Kouba (2002), a possibilidade de aparecimento da bactéria E. Coli, é mais baixa em sistemas orgânicos, pois os animais se alimentam basicamente de forragem. A explicação se dá pelo fato de que na alimentação a base de grãos, característico de sistemas convencionais intensivos, o risco de infecção dos animais seria maior. 

No caso do leite, Steinshamn et. al. (2009) constataram que também não há evidências científicas de diferenças para contaminação microbiana entre sistema orgânico e convencional. 

Como recomendação geral, tanto no sistema orgânico quanto no convencional, é sugerido que sejam seguidos um conjunto de medidas para redução dos riscos de patógenos entéricos em alimentos frescos, como: 1. compostagem dos estercos de animais por um período de seis meses, para redução dos níveis de inóculo; 2. controle da qualidade da água de irrigação, que deve ser de fonte livre de coliformes fecais; 3. aquisição de adubos orgânicos de fontes conhecidas; 4. manejo correto do solo e da água; 5. adequação do calendário de aplicação de chorume para redução de patógenos (evitar aplicações próximo da colheita, por exemplo). Além disso, o uso de boas práticas de higiene alimentar nos processos de produção, transformação, transporte, armazenamento, comercialização e consumo é fundamental para manter a qualidade do produto. 


Orientações básicas e informações sobre boas práticas na produção agrícola, como tipos de microrganismos, fonte de contaminação, formas corretas de conservação, armazenamento e transporte, são fundamentais para redução de patógenos.

Micotoxinas

Micotoxinas são metabólitos tóxicos específicos formados por fungos que crescem em plantas vivas e em condições favoráveis podem se desenvolver em alimentos e rações. A contaminação por micotoxinas é um problema grave na segurança alimentar. Segundo Köpke et. al. (2006) mais de 300 espécies de fungos com capacidade para formar micotoxinas têm sido identificadas. Felizmente, apenas cerca de 20 micotoxinas produzidas por cinco gêneros de fungos (Fusarium, Penicillium, Claviceps, Alternaria e Aspergillus) encontram-se regularmente ou periodicamente na alimentação humana e animal em níveis que possam ter um impacto sobre a saúde humana e animal. 

A primeira vista, pelo fato de ser interditado o uso de fungicidas sintéticos no sistema orgânico, poderia haver uma maior possibilidade de contaminação. No entanto, alguns pesquisadores alegam que omitindo fungicidas poderia haver uma maior diversificação das populações microbianas e, assim, limitaria o crescimento de determinadas micotoxinas produzidas. Os relatos são controversos, sobretudo sobre níveis de contaminação por micotoxinas em grãos produzidos organicamente. Todavia, Wyss (2004) e Köpke et. al. (2006) mostram que até o momento não se pode afirmar que em agricultura orgânica esta contaminação seja maior. O importante é descobrir os fatores que levam a contaminação por micotoxinas nos diferentes sistemas de produção e a partir daí implementar estratégias para reduzir essas micotoxinas. Por isso, nos dois sistemas (orgânico e convencional) o uso de boas práticas culturais e de estocagem dos alimentos é que permitirá reduzir o risco de contaminação com micotoxinas.

Resíduos de Agrotóxicos 

Atualmente, é praticamente inquestionável que o sistema de produção convencional de alimentos tem deixado resíduos de agrotóxicos em níveis preocupantes para a saúde pública. De cada dez pés de alface à venda em supermercados no Brasil, quatro estão contaminados por agrotóxicos. O tomate e o morango são outros vilões. Cerca de 40% das amostras coletas em diversos pontos de venda no Brasil apresentaram resíduos de agrotóxicos não autorizados ou acima do limite máximo permitido. 

Os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos mostram que, além da utilização de agrotóxicos não autorizados e agrotóxicos com restrições quanto ao modo de aplicação, os mesmos continuam sendo utilizados no campo, pondo em risco a vida de trabalhadores e consumidores. Segundo a Anvisa (2009) a detecção de resíduos de metamidofós em culturas para as quais o seu uso não é autorizado (alface, arroz, cenoura, mamão, morango, pimentão, repolho e uva) ou está restringido (tomate de mesa) é um bom exemplo dessa situação. 

A Anvisa orienta que os consumidores devem optar por alimentos que tenham a origem identificada, o que aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos com a adoção das boas práticas agrícolas. Ressalta ainda, que os procedimentos de lavagem, retirada de cascas e folhas externas de verdura podem contribuir para a redução de resíduos de agrotóxicos na superfície dos alimentos, mas não eliminam os sistêmicos que circulam na planta. Os dados são do relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) que monitorou 17 culturas entre hortaliças e frutas em todo o Brasil, divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2009). Por isso, sugere-se o consumo de alimentos orgânicos para reduzir a exposição aos agroquímicos. Os dados descortinam um quadro preocupante para a saúde pública. As pesquisas são ainda incipientes mas, segundo a Anvisa (2009), a médio e longo prazo, quem consome alimentos com resíduos de agrotóxicos pode apresentar problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema nervoso central. O risco vai depender da quantidade de agrotóxico acumulada e das características do organismo de cada pessoa. Com o problema da contaminação ambiental generalizada que atinge solos, água e o ar, mesmo produtos orgânicos podem apresentar algum tipo de resíduo. No Brasil são raros os estudos que analisam resíduos de agrotóxicos em alimentos orgânicos. No Paraná, STERTZ (2008) analisou 141 amostras em 10 cultivos hortícolas da Região metropolitana de Curitiba e constatou contaminação com algum tipo de resíduo em 9,68% das amostras provenientes do sistema orgânico, 33,87% das amostras convencionais e 41,18% das amostras em sistema hidropônico. Quando presentes, os resíduos das amostras de alimentos orgânicos apresentaram níveis mais baixos que nos não-orgânicos. Além disso, os alimentos convencionais e hidropônicos apresentam maior número de amostras com resíduos múltiplos (13% e 35%, respectivamente). Para a autora, se por um lado, a maioria dos resíduos encontrados nos alimentos orgânicos reflete a capacidade do vento, chuva, neblina e da irrigação de transportarem pesticidas além dos campos nos quais foram aplicados; por outro lado, melhores procedimentos e políticas mais claras se fazem necessárias para ajudar a assegurar que as novas regulamentações sobre orgânicos possam alcançar seu propósito de tornar os alimentos organicamente cultivados essencialmente livres de resíduos.

Contato com agrotóxico e desintoxicação

Para pessoas que têm contato com agrotóxicos recomendada-se fazer exames de saúde de forma periódica, com ênfase na avaliação neurológica, a cada 6 meses. Testes de laboratórios para verificar o nível de colinesterase devem ser feitos no mínimo a cada mês para monitorar o estado de saúde e detectar a sobre exposição a agrotóxicos mais usados como os organofosforados, os organoclorados e os carbamatos. Casos de intoxicação aguda exigem cuidados imediatos hospitalares, pois se coloca em risco a vida. A intoxicação crônica (pela exposição periódica) pode se manifestar por quadros sutis como distúrbios do comportamento ou até quadros dramáticos de doença do sistema nervoso periférico. Os organofosforados e carbamatos são, normalmente, responsáveis por esses quadros, que podem aparecer semanas após uma intoxicação aguda ou em função de uma intoxicação crônica. 

De acordo com Higashi (2002) durante a existência de uma pessoa (com média de 70 anos) transitam cerca de 25 toneladas de alimento pelo sistema digestivo. Mesmo que contaminados com teores baixos de agentes químicos, pode ocorrer alguma intoxicação em determinado período do ciclo de vida de uma pessoa. Um dos problemas no diagnóstico, segundo o médico, é que não existem sintomas característicos da epidemia de intoxicação subclínica por agrotóxico. Cada pessoa responde de maneira diferente. Existe uma multiplicidade de sintomas e suas características são individuais, manifestando-se em alguns na forma de fadiga, em outros como dor de cabeça ou dores articulares, depressão, dores musculares, alergia, distúrbios digestivos etc. Neste estudo o autor afirma que nenhum medicamento pode agir adequadamente em pacientes com acúmulo de agrotóxicos em seu organismo. Por isso, existe a necessidade de desintoxicação, ativando o sistema de destoxificação hepática e intestinal. Segundo Higashi a medicina ortomolecular oferece algumas alternativas para desintoxicação, sendo algumas técnicas milenares como a Hidroterapia de Cólon e a Sauna Seca de Cedro. O uso de Argila Verde, Algas Vermelhas do Chile, Ozônio e Massoterapia Oriental também podem ser utilizadas. Os "Emissores de Freqüência" também são comprovados e aprovados para desintoxicação de resíduos de agrotóxicos, Metais Pesados e alguns tipos de Toxinas Endógenas. 

Já se sabe que é preciso mudar hábitos alimentares com o consumo de produtos com uma menor quantidade de resíduos, pois efetivamente parece não ser possível se livrar totalmente destes agentes tóxicos nos tempos modernos. Finalmente, os consumidores que desejam minimizar a exposição aos resíduos podem fazer com maior segurança adquirindo produtos orgânicos em mercados locais. Sempre que possível deve-se evitar produtos vindos de regiões distantes onde pode haver alta contaminação ambiental (produtos persistentes) e derivação de produtos químicos provenientes de propriedades convencionais. 


QUALIDADE AMBIENTAL: Biodiversidade, eficiência energética e mudanças climáticas

Biodiversidade

A importância da biodiversidade para a heterogeneidade da paisagem tem sido reconhecida em vários estudos (NORTON et. al., 2006). Sabe-se que a perda da biodiversidade nas terras agrícolas está associada à uma redução na diversidade e na complexidade de habitats em várias escalas. Segundo Norton et.al. (2006) o manejo indicado nas normas de produção orgânicas colabora com a biodiversidade numa tendência geral de aumento da riqueza e abundância de plantas, animais invertebrados e aves, o que pode variar de acordo com os grupos de organismos estudados ( http://www.ortomoleculardrhigashi.med.br ). 

Embora se saiba que a exclusão dos agrotóxicos e fertilizantes químicos seja um aspecto fundamental para a biodiversidade, o estudo supracitado revelou que as propriedades orgânicas também diferem das convencionais em vários aspectos como na composição da fauna e flora e organização dos habitats. Os dados indicam que a agricultura orgânica tem potencial para restabelecer a heterogeneidade dos habitats agrícolas, reforçando assim a biodiversidade agrícola. No entanto, a área total de orgânicos em relação à convencional continua pequena (cerca de 1% no Brasil) e precisa aumentar para que se tenha um efeito positivo sobre a biodiversidade geral. 

Eficiência Energética: maior em sistemas orgânicos 

A agricultura orgânica é geralmente mais eficiente no aproveitamento da energia no sistema de produção de alimentos. De acordo com Azeez & Hewlett (2008) na produção orgânica se utiliza, em média, 26% a menos de energia por tonelada de alimento. O estudo foi realizado no Reino Unido, comparando quinze produtos vegetais e animais da agricultura orgânica com a convencional. O principal fator é a não-utilização de fertilizante a base de nitrogênio que consome muito combustível fóssil para ser produzido no processo industrial. A agricultura orgânica é energeticamente mais eficiente para o trigo e para a maioria das hortaliças, leite, carne vermelha (bovinos e ovinos) e suínos, mas é menos eficiente para a produção avícola. O estudo mostrou ainda que a mudança de curso para a agricultura orgânica poderia reduzir a utilização da energia fóssil em cerca de 20%. Em síntese, o aproveitamento dos recursos biológicos e ecológicos nos processos empregados pela agricultura orgânica é energeticamente mais eficiente quando comparados aos insumos agrícolas fabricados industrialmente. Do ponto de vista da eficiência energética, o consumidores podem contribuir com as suas escolhas, preferindo alimentos orgânicos, da estação, produtos locais e reduzindo o consumo de carne.

Emissões de Gases e Efeito Estufa: menor em sistemas orgânicos 

Uma pesquisa bem conduzida acompanhando 81 explorações agrícolas comerciais na Alemanha foi realizada para medir as emissões dos gases CO2, CH4 e N2O a partir de produção em sistema orgânico e convencional (KÜSTERMANN & HÜLSBERGEN, 2008). De acordo com os pesquisadores uma correlação linear foi encontrada entre os insumos utilizados (energia de entrada) e a produção de gases com efeito estufa potencial. Devido à menor entrada de nitrogênio e insumos sintéticos, e também níveis mais elevados de C sequestrado, as propriedades orgânicas apresentaram emissões que foram 2,75 vezes menor do que o emissões provenientes de explorações convencionais. Outros estudos citados por Halweil (2007) acrescentam ainda que o aumento dos níveis atmosféricos de dióxido de carbono associados com as alterações climáticas (níveis são cerca de 30 % mais elevados do que no início da revolução industrial) tendem a acelerar o crescimento das culturas, formando culturas menos saudáveis para os animais e seres humanos. Mais de uma centena de estudos têm mostrado que o aumento atmosférico de níveis de carbono tendem a reduzir o nitrogênio atmosférico, enquanto dezenas de experimentos em casa de vegetação mostram que o aumento de CO2 também provoca diminuição significativa do zinco, ferro, fósforo, potássio, magnésio e outros micronutrientes nas plantas.

Qualidade e Regulamentação 

Ditado pela escolha dos consumidores, uma das tendências claras para os próximos anos é a associação da qualidade com regras claras de conhecimento de produção, processamento e comercialização (rastreabilidade). A garantia de conhecer a origem do produto e de estar consumindo um alimento seguro para saúde tornou-se prioridade quando se pensa em qualidade. O respeito ao meio ambiente em termos de proteção dos recursos naturais, um mercado justo e solidário com exigências de ordem social e ética também começam a ser diferenciais na escolha do consumidor. Neste sentido, os alimentos provenientes de sistemas orgânicos ou agroecológicos, identificados com o selo de qualidade, apresentam um valor suplementar no plano socioeconômico porque são produzidos segundo um método que respeita o meio ambiente, o produtor e o consumidor. A implementação da regulamentação da atividade orgânica no Brasil em 2007, deve ajudar a desenvolver o mercado de forma organizada e competitiva uma vez que definiu regras claras quanto aos processos e produtos aprovados. Ademais, a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica propiciará aos consumidores mais garantias e facilidade na identificação dos produtos.


À GUIZA DE CONCLUSÃO

A qualidade dos alimentos dependerá, em última instância, de consumidores responsáveis. A escolha por uma alimentação consciente tem relação direta com a forma de produção orgânica. Fazer essa escolha é mais do que optar por uma alimentação isenta de agrotóxicos e aditivos químicos, é preocupar-se com técnicas de manejo sustentáveis e com as famílias que produzem esse alimento. É observar com atenção os rótulos de produtos industrializados, preocupar-se com a forma de conservação dos alimentos, enfatizar a importância da história, cultura e tradição associados ao sabor e frescor dos alimentos. Em suma, o consumidor consciente busca comer com conhecimento pleno do processo que envolve o alimento desde sua produção até o momento de ser consumido. As respostas sobre os benefícios da dieta orgânica para a saúde humana continuam em aberto e são desafios para as futuras pesquisas. Algumas tendências positivas foram observadas em pesquisas com animais de pequeno e grande porte, apontando para padrões desejados de saúde, como o fortalecimento do sistema imunológico e uma maior resistência contra enfermidades. A análise comparativa de sistemas de produção não deixa dúvida dos problemas causados pelo sistema convencional e tem mostrado que os agricultores orgânicos que seguem um enfoque ecológico tem conseguido resultados satisfatórios em vários aspectos ligados à sustentabilidade. Apesar de estudos mostrarem que, normalmente, a produtividade em sistemas orgânicos é menor, o balanço energético aponta para um custo de produção também menor, com resultado socieconômico final positivo. 

Em relação à qualidade nutricional, de forma geral, para a maioria dos nutrientes minerais ainda não existe um consenso sobre a superioridade dos orgânicos. Todavia, para alguns elementos é possível observar tendências ou padrões. Ficou evidente que a maior parte dos estudos comparativos apontam para um teor superior de matéria seca, um menor teor de nitratos e um maior teor de vitamina C para produtos orgânicos, notadamente em legumes e folhosas. A hipótese é que isso esteja ligado à menor quantidade e fontes menos disponíveis de nitrogênio em sistemas orgânicos. 

As pesquisas indicam ainda que plantas cultivadas organicamente podem conter mais fitoquímicos – os vários compostos secundários (incluindo carotenóides e polifenóis) que os vegetais produzem para se defender de pragas e doenças, muitos dos quais têm importantes efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, entre outros benefícios para os seres humanos. 

Quanto á qualidade organoléptica do produto orgânico avaliando sabor, aroma, acidez, palatabilidade, os estudos mais recentes mostram ligeira superioridade para alimentos orgânicos. Todavia, na pesquisa comparativa há dificuldade de um controle de variáveis ambientais. Em pesquisas realizadas junto ao consumidor de feiras verdes, existe a percepção de que os orgânicos são mais saborosos, provavelmente por serem produtos mais frescos. 

No tocante a qualidade sanitária não há nenhuma evidência que alimentos orgânicos possam ser mais suscetíveis a contaminação microbiológica que alimentos convencionais. Entretanto, seria interessante desenvolver pesquisas para as nossas condições, sobretudo com Escherichia Coli que tem causado a maior parte da contaminação em alimentos, para saber se o uso de diferentes tipos de esterco animal – mesmo após um período de compostagem – poderia trazer algum risco à saúde dos consumidores. Como recomendação geral, tanto no sistema orgânico quanto no convencional, é sugerido que sejam seguidos um conjunto de medidas para redução dos riscos de patógenos entéricos em alimentos frescos. Além disso, o uso de boas práticas de higiene alimentar nos processos de produção, transformação, transporte, armazenamento, comercialização e consumo é fundamental para manter a qualidade do produto. Em relação a contaminação por resíduos de produtos químicos é inquestionável o fato de produtos da agricultura convencional apresentarem maior risco quando comparado aos orgânicos. De outro lado, uma lacuna na pesquisa é a falta de trabalhos que analisem resíduos de produtos químicos em produtos orgânicos ou agroecológicos. Além disso, são necessários mais estudos sobre a persistência de resíduos de produtos naturais como inseticidas e fungicidas ecológicos (rotenona, piretro, enxofre e cobre) permitidos em algumas situações no sistema orgânico. Sobre a qualidade ambiental os resultados apontam que os sistemas orgânicos têm potencial para restabelecer a heterogeneidade dos habitats agrícolas, reforçando a biodiversidade agrícola. Ademais, são mais eficiente em termos energéticos e produzem uma menor quantidade de gases de efeito estufa. 

Finalizando, o desafio na busca de uma alimentação de qualidade está no processo de tomada de consciência da sociedade, em particular dos consumidores, sobre como é produzida a nossa comida. Se o número de propriedades convencionais continuar sendo o padrão dominante, provavelmente continuaremos tratando a doença e não promovendo à saúde. 

Apesar de existirem discordâncias entre a comunidade científica de que plantas cultivadas organicamente são melhores para saúde da população, pela simples falta de dados epidemiológicos, não há dúvidas de que é preciso mais atenção da saúde pública para os problemas causados pelo sistema convencional. Por isso, informações qualificadas devem estar disponíveis ao consumidor na hora da escolha de um alimento de qualidade.