O
conceito de agricultura mais sustentável envolve o manejo adequado
dos recursos naturais, evitando a degradação do ambiente de forma a
permitir a satisfação das necessidades humanas das gerações
atuais e futuras. O conceito absoluto de agricultura sustentável
pode ser impossível de ser obtido na prática, entretanto é função
das empresas de pesquisa e extensão rural de todo o Brasil, oferecer
opções para que sistemas “mais sustentáveis” sejam adotados na
agricultura.
Revolvimento
e uso inadequado do solo
Em regiões de clima tropical e subtropical,
predominantes no Brasil, a utilização intensiva e exagerada de
máquinas e equipamentos pesados (trator equipado com arado, grade,
escarificador e, principalmente a enxada rotativa), contribuem para
desagregar e compactar cada vez mais o solo (Figuras 1 e 2),
causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades
maiores do que a reposição e, em consequência, diminuindo a
produtividade. Além disso, as chuvas intensas e frequentes, cada vez
mais comum, associada aos declives dos terrenos e, especialmente o
preparo do solo “morro abaixo”, causam grande perdas de solo
(erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes. O
manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes
em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto
custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são
importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina
com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica
em algumas situações específicas para algumas culturas mais
exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a
necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e,
especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em
longos períodos do ano.
Figura
1.A
compactação do solo impede o desenvolvimento normal das raízes das
plantas. O preparo do solo com máquinas e implementos pesados,
especialmente em áreas de declive acentuado, provocam a erosão e a
compactação do solo.
Figura
2.Pé-de-arado
ou pé-de-grade: Camada de solo compactada que se desenvolve abaixo
da camada superficial, devido às frequentes arações, gradeações
e uso de enxadas rotativas
Outro
problema é o uso incorreto do solo para o cultivo de determinadas
espécies. Em solos com declividade acentuada não recomenda-se o
plantio de espécies anuais. Havendo alguma declividade, deve-se
utilizar práticas que visem a conservação do solo, tais como o
plantio em curva de nível, plantio direto, construção de terraços
e outras. Para mais informações sobre as práticas de conservação
dos solos, sugiro acessar o seguinte
endereço: http://catuaba.cpafac.embrapa.br/pdf/doc90.pdf
No cultivo orgânico o solo é tratado como um “organismo vivo”, ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas (Figura 3). O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). A vida do solo depende da matéria orgânica (solo sadio). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, a compactação do solo (Figuras 1, 2 e 3), o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de consumidores, agricultores e da fauna (solo doente). A verdadeira fertilidade é resultado da interação entre os aspectos químicos, físicos e biológicos do solo, sendo que a intensa atividade biológica no solo, determinará melhorias duradouras em suas qualidades químicas e físicas.
Uso indiscriminado e exagerado de agrotóxicos e fertilizantes químicos
Boa parte dos agrotóxicos aplicados no campo é perdida. Estima-se que cerca de 90% dos agrotóxicos aplicados não atingem o alvo, sendo dissipados para o ambiente e tendo como ponto final reservatórios de água e, principalmente, o solo. As perdas se devem, de forma geral, à aplicação inadequada, tanto em relação à tecnologia quanto ao momento de aplicação; em alguns casos, porque a aplicação foi feita para dar proteção contra uma praga ou patógeno que não estão presentes na área. Isso ocorre porque ainda são realizadas pulverizações baseadas em calendários e não na ocorrência do problema.
A agricultura “moderna” está baseada no uso intensivo de insumos. A adoção do sistema de monoculturas, o uso desequilibrado e altas doses de fertilizantes químicos e os agrotóxicos favoreceram a ocorrência de epidemias causadas por doenças e pragas em plantas. Os adubos químicos solúveis, especialmente os nitrogenados como a ureia e, os agrotóxicos, através do estímulo a um processo chamado proteólise, promovem a formação de substância orgânicas simples na seiva das plantas, tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. Para reduzir as perdas provocadas pelas doenças e pragas, o controle químico através da aplicação de agrotóxicos foi a principal ferramenta utilizada durante muitos anos. No entanto, a partir da publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, os cientistas e a sociedade perceberam a necessidade de buscar alternativas para eliminar os agrotóxicos na agricultura. Os agrotóxicos são apontados como formulações potencialmente perigosas, pois deixam resíduos nos alimentos, além de contaminar a água, o solo e os agricultores. Os agrotóxicos podem apresentar uma eficiência reduzida por ser afetados por inúmeros fatores (condições climáticas, especialmente no momento da aplicação e o local a ser protegido), além de selecionar populações resistentes de plantas espontâneas, pragas e microrganismos.
Além dos agrotóxicos serem perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente, as medidas para o uso seguro destas substâncias, não são seguidas (Figura 4). Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista, ela defende o debate sobre uso de agrotóxicos como um tema estratégico e critica a ideia de que é possível utilizá-los de forma segura, devido aos seguintes fatores:
O receituário não funciona. Pode-se chegar numa agropecuária e comprar um veneno e usar conforme as instruções; Há pouquíssimos laboratórios para análises (contaminação da água e pessoas); 450 ingredientes ativos de agrotóxicos registrados no Brasil em mais de 5.000 municípios; Assistência técnica deficiente: 5 milhões de estabelecimentos agrícolas (16 milhões de trabalhadores rurais, inclusive crianças com escolaridade baixa), conforme censo; maior assistência é feita em propriedades maiores de 200 ha; Fiscalização deficiente: Como fiscalizar a forma correta de aplicar, o uso de EPI, a carência dos agrotóxicos e, o que é pior, aqueles não registrados e proibidos num país continental?
Figura 4.O desconhecimento sobre os riscos no uso dos agrotóxicos e a falta de proteção na aplicação agrava ainda mais a contaminação dos trabalhadores rurais, consumidores e meio ambiente.
A utilização dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas, além de tornar os agricultores dependentes destes insumos, aumentando ainda mais o custo de produção (grande parte são importados), forma um círculo vicioso e insustentável, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria que visam o lucro, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente. As sementes melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem; a utilização do adubo químico torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças e, por isso, se tem que utilizar cada vez mais adubos químicos, inseticidas e fungicidas para manter o nível desejável de produção. Os problemas causados pelos adubos químicos não param por aí: acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos, aumentando ainda mais o custo de produção dos alimentos.
As queimadas das matas, bosques, capoeiras e restos culturais e as capinas químicas
Estas práticas, comuns na agricultura “moderna” com o objetivo de limpar o terreno e facilitar o preparo do solo e o plantio (Figura 5), são totalmente contrárias ao desenvolvimento sustentável, pois além de contaminar o meio ambiente e retirar a cobertura do solo, favorecendo a erosão, ainda desperdiça a matéria orgânica, essencial para a nutrição das plantas e reduz a biodiversidade (nº de espécies), que pode servir de abrigo e alimento aos inimigos das pragas dos cultivos. Em consequência, o produtor terá que gastar mais para a aquisição de insumos visando manter a produtividade dos cultivos.
Figura 5.Devastação de florestas: além de causar a erosão do solo, reduz a biodiversidade, essencial, para o equilíbrio ecológico.
É importante ressaltar que ao mesmo tempo que uma planta espontânea (“mato”) indica um problema, também ajuda a solucioná-lo, pois estas plantas indesejáveis ajudam a cobrir o solo, reduzindo a erosão e o aquecimento superficial. A competição por água e nutrientes exercida pelas plantas espontâneas é uma preocupação para o hemisfério norte, onde a estação de crescimento é fria, única e curta. Nas condições tropicais e subtropicais, clima predominante no Brasil, esta competição é menos problemática do que a falta de cobertura do solo; ao reduzir a erosão e o aquecimento superficial, contribuem para melhorar a disponibilidade de água e a absorção de nutrientes pelas raízes, as quais paralisam esta atividade quando o solo atinge temperaturas acima de 32ºC. As plantas espontâneas aumentam a densidade e a diversidade radicular, contribuem para a reciclagem de nutrientes e para melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo. São fontes de biomassa, produzem flores que atraem insetos predadores e podem servir de alimento preferencial para pragas das culturas. Por isso, as plantas espontâneas não merecem ser chamadas de “daninhas” e sim, ser consideradas, como uma reação da natureza à falta de cobertura do solo.
Na agricultura orgânica as plantas espontâneas (“mato”) são consideradas “amigas” das plantas cultivadas e, por isso, não devem ser totalmente eliminadas. Ocorre um mecanismo de sucessão natural de espécies numa determinada área e, por isso, a intervenção deverá ser no sentido de auxiliar a natureza para que este processo ocorra ao longo do tempo, para que a população de plantas espontâneas mais “agressivas” seja reduzida a níveis toleráveis, cedendo espaço para as mais “comportadas” e de mais fácil manejo. O crescimento das plantas espontâneas ao redor dos cultivos ou o estabelecimento de áreas ou faixas de vegetação espontânea fora da área cultivada tem a vantagem de assegurar maior estabilidade do sistema produtivo, reduzindo os problemas com pragas e doenças e aumentando a atividade dos inimigos naturais das pragas.
Redução da biodiversidade através do monocultivo e da extinção de matas, bosques, capoeiras e faixas de contorno
A diversificação da paisagem geral da propriedade é muito importante, pois restabelece o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A introdução de espécies vegetais com múltiplas funções no sistema produtivo é a base do (re)estabelecimento do equilíbrio da propriedade, incluindo-se espécies de interesse econômico, adubos verdes, arbóreas, atrativas, plantas medicinais, ornamentais e até plantas espontâneas. A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Recomenda-se incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, pois favorecem os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas.
O cultivo de apenas uma espécie de planta (monocultivo) na mesma área, além de reduzir a biodiversidade, favorece o desequilíbrio nutricional do solo(esgotamento e excesso de alguns nutrientes) e aumenta o número e intensidade das pragas e doenças.
O nabo (Brassica rapa L.) da família das brássicas, assim como o repolho, couve, couve-flor, brócolis e rabanete, é uma planta herbácea, bienal cultivada como anual, onde a raiz é a parte comestível. O sistema radicular do nabo é carnudo e pode assumir diversas formas e ter coloração uniforme ou ser bicolor, sendo o branco e o roxo as mais comuns (Figura 3). Alguns têm raízes compridas, outros redondas e há ainda outros de forma achatada. As folhas dos Nabos são de cor verde médio a escuro, rugosas, ásperas, pubescentes e dispostas em roseta durante a fase vegetativa do ciclo. As flores são amarelas, agrupadas numa haste floral. O fruto dos nabos é uma síliqua, característica da brássicas. Nativo da Europa e Ásia Central, o nabo foi cultivado pela primeira vez no Oriente Médio há 4.000 anos. O nabo, assim como os outros membros do gênero Brassica, foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses. Desde então, tem sido parte da alimentação dos brasileiros por ser um alimento saboroso e nutritivo. Uma das vantagens de se cultivar esta espécie é a possibilidade de aumentar a renda durante o tempo transcorrido entre duas outras culturas de ciclo mais longo (consórcio), pois além de ser relativamente rústica, apresenta ciclo muito curto (cerca de 30 dias), com retorno rápido.
Figura 3. Raízes e folhas de nabo redondo
Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas
É cultivado devido às raízes, que são comestíveis, mas suas folhas também podem ser utilizadas para saladas e sopas. As raízes de nabo são conhecidos pelo sabor característico levemente amargo, porém refrescante, apreciado na culinária de vários países, principalmente em saladas. A maioria das pessoas serve os nabos frescos ou cozidos, mas eles também podem ser assados e cozidos no vapor ou fritos. Por sua versatilidade e pelo sabor doce e ao mesmo tempo picante, o nabo pode ser usado em saladas, cozidos, sopas e pratos de legumes. As raízes de nabo são ricas em vitamina C, fibras e sais minerais como o potássio, sódio, cálcio e fósforo. Por conter baixas calorias (100 gramas possui apenas 35 calorias), o nabo é muito indicado em dietas de restrições calóricas, por ser leve e ainda ajudar no processo de digestão. As folhas de nabo também são comestíveis e seu sabor é semelhante ao de mostarda. Mais nutritivas do que as raízes, as folhas de nabos são uma excelente fonte de beta-caroteno (Vitamina A), contêm boas doses de vitaminas K e C, folatos e cálcio. Uma xícara de folhas cozidas fornece 40 mg de vitamina C, aproximadamente 200 mg de cálcio e quase 300 mg de potássio.
O nabo (raiz) também serve como uma excelente fonte de cálcio e, um maior consumo deste importante mineral tem sido associado com uma diminuição significativa no risco de cancro do cólon e reto. O teor de fibra dietética das raízes aumenta ainda mais a sua capacidade de oferecer proteção contra o cancro colorrectal. É também uma boa fonte de fibras solúveis que ajudam a controlar os níveis de colesterol no sangue. Além disto, as folhas possuem uma substância chamada luteína, um poderoso antioxidante carotenóide. O beta-caroteno das folhas de nabo é importante porque os baixos níveis de vitamina A, que pode ser formada no organismo, a partir de beta-caroteno, são associados com artrite reumatóide O nabo possui ainda outras propriedades medicinais: é diurético, expectorante, purificador do sangue, emoliente, antipirético, alcalinizante e possui um leve efeito laxativo. No entanto, nas raízes também são encontradas quantidades mensuráveis de oxalatos, substâncias que se excessivamente concentrada nos fluidos corporais podem se cristalizar e causar sérios danos a saúde. O nabo é uma brássica (família de vegetais que inclui o repolho, c. flor, brócolis e o rabanete) que contém compostos sulfurosos que protegem contra certos tipos de câncer. No entanto, como outros vegetais desta família botânica, pode provocar gases e distensão abdominal.
Cultivo
A cultura prefere climas frescos e úmidos e suporta geadas ligeiras. Em regiões ou épocas do ano quentes e secas, a produtividade é reduzida e a qualidade das raízes é afetada. As temperaturas ótimas situam-se entre os 15 a 20 Cº.
Época de plantio: O plantio na Região Sul e Sudeste é entre fevereiro e novembro e para as demais regiões entre maio e julho.
Solos: Os nabos preferem solos de textura média (textura franco-arenosa), ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,5, bem drenados e com boa capacidade de retenção de água durante a fase de crescimento.
Cultivares: Existem os híbridos, com raízes compridas, chamados de Natsu Minouwas e as variedades Tokinashi Kokabu, Purple Topwhite Globe, Chato Francês, Shogoin, Snowball e outras. As melhores variedades são: Chato Francês, “Snowball”, Purple Top e Comprido Japonês (Figura 4).
Figura 4. Nabo japonês e nabo redondo
Irrigação: O nabo é muito exigente em água, principalmente na fase de engrossamento das raízes.
Plantio e espaçamento: A semeadura é feita no local definitivo, depois de preparar o terreno e adubá-lo, conforme análise do solo. O espaçamento mais recomendado é de 30 x 10cm ou 40 x 15 cm, dependendo da variedade cultivada. Deve-se utilizar na semeadura, sementes na proporção de 3 kg/ha, sendo que um grama contém cerca de 70 sementes. Semear numa profundidade de 1 cm e regar.
Tratos culturais: resumem-se em desbaste (raleio), deixando um intervalo de 10 a 15 cm entre plantas, capinas e escarificações.
Manejo de doenças e pragas: É uma planta muito resistente e não costuma apresentar problemas com pragas e doenças, no cultivo orgânico, mas pode sofrer algum ataque de fungo e pragas como pulgões e as lagartas. Para os pulgões diversos preparados de plantas são eficientes tais como o extrato de pimenta e preparado de cebola (ver matérias postadas em 01, 16 e 27/09/2011 e 21 e 26/10/2011: “Manejo ecológico de insetos-pragas”) No manejo das lagartas, o uso de Baccilus thurigiensis (controle biológico) como o Dipel (produto comercial) e outros é eficiente. A adubação orgânica equilibrada, com base na análise do solo, e a rotação e consorciação de culturas que não pertencem a mesma família botânica (brássicas) são práticas preventivas muito eficientes no manejo de pragas e doenças, além de melhorar a fertilidade e as características físicas e biológicas do solo.
Colheita
O ciclo cultural tem a duração de cerca de 40 a 60 dias na primavera e verão e 90 a 100 dias no inverno. O ciclo do nabo comprido, também conhecido como nabo japonês é de 60 dias no verão e 80 dias no inverno.
A batata-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) é uma planta tipicamente sul-americana, sendo o centro de origem, a região andina da Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia.. A chegada de mudas trazidas da Colômbia para a Sociedade de Agricultura localizada no Rio de Janeiro em 1907, é uma das explicações mais aceitas sobre a introdução no Brasil. O seu cultivo espalhou-se pelos estados do Centro-Sul do Brasil, sendo que em cada região recebeu uma denominação distinta, como batata-salsa (Paraná e Santa Catarina), mandioquinha-salsa (São Paulo e Sul de Minas Gerais), batata-baroa (Rio de Janeiro e Zona da Mata de Minas Gerais), batata-fiuza, batata-aipo, cenoura-amarela, entre outras. As áreas de altitude elevada e clima mais ameno de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo concentram a maior parte da produção.
A batata-salsa pertence à família botânica das Apiaceae (antiga Umbelliferae), a mesma da cenoura, a salsa, o coentro, o aipo, o funcho, entre outras. É planta perene que raramente atinge a fase reprodutiva, pois a colheita é realizada antes do florescimento, no final do estádio vegetativo. O caule, cilíndrico e rugoso, compõe-se de uma cepa, comumente chamada de pescoço, de cuja parte superior saem ramificações curtas denominadas rebentos, filhotes ou propágulos, em número de 10 a 50, conforme a variedade e as condições ambientais, de onde nascem as folhas. Esse conjunto é chamado comumente de coroa, touça ou touceira. Da parte inferior da cepa saem as raízes tuberosas, que constituem a parte comercializável. Podem ser alongadas, cilíndricas ou cônicas, com coloração variando de branco a amarelo-intenso ou púrpura-escuro, conforme o clone. Têm película brilhante e tamanho variando até 25 cm. São produzidas em número de seis ou mais por planta. O mercado brasileiro, porém, apresenta preferência por raízes de formato cônico alongado e de coloração amarela intensa (Figura 1).
Figura 1. Hortaliça-raiz: batata-salsa ou mandioquinha-salsa
A batata-salsa possui mercado crescente, sendo a produção abaixo da demanda, o que explica, em parte, o alto preço do produto. É considerada um produto saudável, quase orgânico, devido a rusticidade, o que vai ao encontro da crescente demanda por produtos ecológicos, com qualidade superior em termos de segurança alimentar, comparando-se àqueles produzidos convencionalmente, pela ausência de resíduos de agrotóxicos. De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), é entre os meses de maio e agosto que os consumidores encontram as melhores raízes de batata-salsa no mercado, por preços mais acessíveis.
Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: Tradicionalmente, o consumo é na forma cozida pura ou de sopas e cremes e, por isso é mais utilizada no inverno. Entretanto, outras formas de preparo são particularmente saborosas, como fritas fatiadas (“chips”), com costela bovina, com frango caipira, com rabada e agrião, nhoque ao molho gorgonzola ou bolonhesa, suflês, pães doces ou salgados, rocambole com calabresa ou camarão, creme com catupiri ou requeijão e bacon, bolinhos empanados e doces, entre outras receitas. Basicamente, nas receitas que utilizam batata, cenoura e mandioca, pode-se empregar batata-salsa em substituição a essas. A batata-salsa é predominantemente usada para consumo direto. Entretanto, é crescente sua demanda como matéria-prima para indústrias alimentícias na forma de sopas, cremes, pré-cozidos, alimentos infantis (“papinhas”), fritas fatiadas ("chips"), extração de amido e processamento mínimo. Com a industrialização do produto, abre-se a oportunidade de exportação, devido à reduzida conservação pós-colheita. Sua fácil digestibilidade, seu valor energético em vista do alto teor de carboidratos, dos quais 80% é amido, aliado ao alto teor de vitamina A, cálcio, fósforo e ferro, além de outros elementos como vitaminas B1, B2, C, D, e E, potássio, silício, enxofre, cloro e magnésio, a torna ideal para dieta infantil, idosos, convalescentes e atletas. Do ponto de vista terapêutico é tida como um bom diurético. Segundo nutricionista o alto nível de fósforo (29 mg/100g) e manganês (0,22mg/100g) presentes na batata-salsa são importantes; O fósforo é importante para a manutenção do metabolismo ósseo e o manganês atua, dentre várias funções, como antioxidante. Estudos apontam uma possível correlação entre baixo consumo de manganês e agravo de sintomas da TPM, como dor e mau humor. Além disso, a batata-salsa é um dos poucos alimentos, entre as hortaliças, que contém a niacina - também conhecida como vitamina B3, vitamina PP ou ácido nicotínico; Quando em falta no organismo, a niacina pode provocar lesões graves no aparelho digestivo, ocasionando problemas no processo de digestão e absorção dos alimentos, podendo levar ao comprometimento do estado nutricional, e no sistema nervoso central - desde uma simples cefaleia até a demência. Os restos culturais (parte aérea da planta e raízes não comercializáveis) prestam-se ao arraçoamento animal, havendo relatos de pequenos produtores da região de Lavras de que houve aumento na produção de leite pelo fornecimento de restos de mudas.
Cultivo: Apresenta boa adaptabilidade à locais com clima semelhante ao de sua origem. No Brasil, é tradicionalmente cultivada no Sudeste e no Sul, em regiões com altitude superior a 800m e temperatura média anual entre 15°C e 18°C. Entretanto, verifica-se seu cultivo em áreas mais baixas, na Zona da Mata mineira e em baixadas litorâneas de Santa Catarina, assim como sua expansão para o Planalto Central, no Distrito Federal e Goiás, onde a temperatura média anual supera os 20°C. Solos: Prefere solos de textura média, profundo e bem drenado. Solos muito pesados ou mal preparados determinam a produção de raízes curtas, arredondadas, assemelhando-se à batatas. Não tolera encharcamento, devendo-se utilizar solos bem drenados. Para plantios em épocas chuvosas ou solos mal drenados, normalmente, deve-se utilizar leiras mais altas, de modo a minimizar o acúmulo de água junto às plantas. Quando produzida em solos soltos de coloração clara, as raízes apresentam melhor aparência e maior vida útil na comercialização. Solos com elevados teores de matéria orgânica apresentam restrições, pois proporcionam grande desenvolvimento vegetativo, em detrimento do acúmulo de reservas e produção de raízes; Além disso, por apresentarem em geral coloração escura, esses solos podem levar à produção de raízes com manchas superficiais escurecidas que não saem com a escovação (ideal) e nem com lavação, depreciando seu aspecto visual. No caso de uso de solos com alto teor de matéria orgânica, não se deve utilizar fertilizantes nitrogenados. Época de plantio: Em regiões de clima ameno, o plantio pode ser efetuado o ano todo. Os plantios de março a junho predominam, especialmente no Sudeste, em função do maior risco de perdas devido às épocas quentes e chuvosas. Em regiões altas, as melhores épocas de plantio compreendem os meses de outubro/novembro e de fevereiro/março, em áreas que possam ser irrigadas. Os plantios realizados no verão apresentam elevado índice de apodrecimento de mudas, devido às elevadas temperaturas e precipitação e à exposição do córtex das mudas pela ação do corte realizado no ato do plantio, favorecendo as bactérias e fungos de solo. Em consequência disso, verifica-se a redução do pegamento e, consequentemente, da produtividade. Embora seja uma cultura muito resistente ao frio, o plantio em épocas muito frias pode apresentar falhas e redução de produtividade se ocorrer fortes e numerosas geadas. No estágio inicial, quando ainda não possui grande quantidade de reservas, as plantas podem esgotar-se no caso da ocorrência de muitas geadas consecutivas. Cultivares: Existem diversos clones que apresentam boa produtividade e adaptabilidade ao sistema orgânico, como a Amarela de Carandaí e a Amarela de Senador Amaral. Amarela de Senador Amaral é uma cultivar de batata-salsa desenvolvida através de seleção de clones originários de sementes botânicas coletadas no sul de Minas Gerais, oriundas do material tradicionalmente cultivado. Esta cultivar vem sendo avaliada desde 1993 pela Embrapa Hortaliças, por produtores rurais e Instituições de Pesquisa e Extensão rural de diversos Estados brasileiros. Dentre as vantagens observadas em relação ao material tradicionalmente cultivado no país, destacam-se a alta produtividade de raízes comerciais (superior a 25 t/ha), com qualidade superior, a coloração de polpa amarela intensa, a precocidade de colheita e arquitetura de planta ereta, mantendo-se as características peculiares do material tradicionalmente cultivado, como o aroma típico e o sabor adocicado. Propagação e preparo das mudas: a propagação é feita através de filhotes ou rebentos, o que origina os clones. O preparo das mudas começa logo após a colheita, destacando os rebentos da coroa e fazendo uma seleção daqueles mais vigorosos e saudáveis. O ideal é que o produtor selecione as melhores plantas quanto à produtividade e resistência às pragas e doenças, em cada cultivo, para retirar as mudas. Deve-se utilizar apenas mudas provenientes de plantas sadias, principalmente, sem nematoides e fungos do solo, para evitar a contaminação da área de cultivo. Preferencialmente, devem-se usar mudas juvenis, ou seja, mudas ainda vigorosas e, em pleno desenvolvimento. Como a distribuição dos filhotes na touceira não é uniforme, deve-se utilizar filhotes com idades fisiológicas semelhantes, ou seja, de acordo com o tamanho da reserva dos propágulos. As melhores mudas são aquelas obtidas e plantadas logo após a sua separação da planta (Figura 2). Para conservação das mudas, entre a colheita e o plantio subsequente, deve-se manter as touceiras, sem que se destaque os perfilhos. As touceiras devem ser mantidas à sombra, após retiradas as raízes e as folhas, quando presentes, mantendo a base da planta em contato com o solo e irrigando-se duas vezes por semana. O preparo inicial das mudas consiste do destaque dos perfilhos e lavagem por imersão ou em água corrente para retirada do excesso de impurezas. O tratamento fitossanitário dos filhotes, após o destaque da planta mãe, é uma prática indispensável; recomenda-se sua imersão por 5 a 10 minutos em solução de água sanitária comercial, pela ação do cloro ativo, na proporção de 1L de água sanitária para 9l de água (considerando-se o teor médio de 2,2% de hipoclorito de sódio), seguida de secagem à sombra. Após a secagem dos filhotes tratados, efetua-se o preparo das mudas que consiste em efetuar corte em bisel (em ângulo inclinado), de modo a aumentar a área de enraizamento. Deve-se usar ferramenta afiada e lâmina chata, que corte o filhote sem rachá-lo. Recomendam-se estiletes ou lâminas de serra bem afiadas no esmeril. O corte bem efetuado sem que o filhote lasque, proporciona uma melhor inserção de raízes na cepa da planta, ou seja, as cicatrizes após o destaque das raízes ficam reduzidas, facilitando o destaque na colheita e aumentando sua conservação pós-colheita. Em mudas mal cortadas ou “lascadas”, é comum observar-se o crescimento desigual de raízes nas plantas e raízes com grandes cicatrizes causadas pelo destaque. Pré-enraizamento em canteiros (viveiros): A técnica consiste basicamente em promover o enraizamento delas em canteiros devidamente preparados, sob elevada densidade de plantio, distantes 5 a 10 cm entre si, por cerca de 45 a 60 dias, para, então, realizar o transplantio para o local definitivo. Os canteiros para pré-enraizamento, por vezes chamados de viveiros, devem possuir solo leve, com cerca de 20 cm de altura e largura em torno de 1m. O preparo da muda é semelhante ao realizado para o plantio convencional, devendo o corte ser feito em bisel, isto é, em ângulo inclinado, de modo a aumentar a área de enraizamento, usando-se ferramenta afiada e lâmina chata, cortando-se a muda sem rachá-la. A diferença no corte é que a quantidade de reserva pode ser menor, com até 1cm. Com o pré-enraizamento consegue-se lavouras mais uniformes e mais vigorosas. É interessante o uso de cobertura morta com palhada sem semente, especialmente necessária para a base dos perfilhos, pois esses apresentam grande propensão ao ressecamento devido ao corte na parte superior. Quanto à época, o plantio pode ser efetuado o ano todo em regiões de clima ameno. Para o sucesso desta técnica, recomenda-se que os filhotes sejam destacados de touceiras de plantas sadias, que ainda não perderam a folhagem, com no máximo 10 meses de idade e, cortados em bisel, por lâmina fina e bem afiada. O ideal é utilizar uma área de plantio destinada unicamente para a produção de mudas, independente da área de produção comercial. O pré-enraizamento de mudas apresenta as seguintes vantagens em relação ao plantio convencional: Maximização do índice de pegamento; redução de custos com tratos culturais, com maior controle da fase inicial da produção - 150 a 400 m2 de viveiro (canteiros de pré-enraizamento) para 1 ha de plantio; eliminação da ocorrência de florescimento precoce no campo definitivo; possibilidade de seleção apurada de mudas; uniformização da colheita devido ao estresse causado à muda por ocasião do transplantio e possibilidade de escalonamento da produção. Preparo do solo: O solo deve ser preparado através de aração e gradagem seguidas pelo plantio em leiras, em nível, para maior facilidade de colheita, o que constitui também uma excelente prática conservacionista. No sistema orgânico de produção de batata-salsa deve-se evitar a mobilização excessiva e compactação do solo. O preparo do solo no primeiro ano de cultivo deve basear-se em aração, gradagem e levantamento das leiras. Nos anos subsequentes evitar, na medida do possível, o uso de enxada rotativa e outros implementos que causem degradação excessiva de solo. Recomenda-se um sistema de preparo de solo com mecanização reduzida, deixando-o sempre protegido por cobertura morta ou verde. Plantio e espaçamento: Há diferentes métodos de plantio: diretamente no local definitivo (plantio convencional) ou com o pré-enraizamento em canteiros (viveiros) ou com o pré-enraizamento em água. O plantio convencional é feito diretamente no local definitivo no centro das leiras (camalhões), devendo as mudas serem enterradas no topo das leiras, à uma profundidade de 5 a 10 cm para não ficarem expostas à medida que a água de irrigação vai “acamando” a leira. O plantio convencional é realizado diretamente no local definitivo, usando-se mudas com a brotação cortada e grande tamanho de reserva (2 a 3 cm). As leiras, com cerca de 15 a 30 cm de altura, devem ser levantadas com espaçamento de um metro entre si e de 30 a 40 centímetros entre plantas, de acordo com a variedade, o local e a época de plantio. Deve-se evitar condição de fechamento excessivo da lavoura em épocas chuvosas, aumentando-se o espaçamento. Os clones de raízes brancas, extremamente viçosos, exigem espaçamento maior, no mínimo de 1m entre leiras e 50cm entre plantas. Esse espaçamento mais largo que o convencional, auxilia na redução da umidade interna da lavoura, minimizando problemas com mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum. Adubação orgânica: preferencialmente, deve-se adubar com composto orgânico no sulco (metade da quantidade), por ocasião do plantio, e o restante em cobertura, cerca de 120 dias após o plantio, conforme recomendação baseada na análise do solo e do adubo orgânico. Irrigação: Tendo em vista que a cultura é relativamente tolerante à seca, comparativamente a outras hortaliças, muitos produtores não utilizam a prática da irrigação. Contudo, em casos de adversidades climáticas, a produtividade é comprometida e o risco de insucesso, elevado. Apesar da tolerância moderada, a cultura responde favoravelmente às condições de boa disponibilidade de água no solo, o que torna a irrigação uma prática fundamental para produtores que têm como objetivo a obtenção de altas produtividades. A cultura necessita de fornecimento regular de água, em todo o seu ciclo. A produtividade pode ser severamente afetada pelo excesso de água, que reduz a aeração do solo e favorece maior incidência de doenças e lixiviação de nutrientes. Irrigações em excesso, notadamente em solos com problemas de drenagem, ocasionam maior incidência de doenças de solo, como podridão-de-esclerotínia e podridão-de-esclerócium e, principalmente, podridão-mole, causada por bactérias do gênero Erwinia. A cultura pode ser irrigada por diferentes sistemas de irrigação (aspersão e infiltração), sendo a aspersão o mais empregado, em função do baixo custo e de maior facilidade para ser utilizado em áreas com diferentes topografias, tipos de solo, tamanhos e geometrias. Capinas: manter limpo a linha de cultivo sobre as leiras, deixando crescer a vegetação espontâneas nas entrelinhas. Amontoa: Periodicamente, se necessário, deve-se refazer as leiras, chegando terra junto às plantas, de forma que as raízes permaneçam cobertas. Manejo de pragas e doenças: A cultura, em geral, não apresenta problemas com pragas e doenças, no sistema orgânico. No entanto, pode ocorrer o ataque de fungos do solo como a Murcha causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum que provoca o apodrecimento das raízes e o amarelecimento e murcha da parte áerea, podendo ocorrer por ocasião do transporte e armazenamento das raízes. A disseminação da doença ocorre, principalmente, pela dispersão dos escleródios junto a material propagativo retirado de campos infectados, assim como pelo trânsito de máquinas, ferramentas e animais de campos contaminados para áreas sadias. O manejo da doença deve começar pela utilização de mudas sadias. Quando a doença se manifesta, recomenda-se arrancar a planta doente juntamente com a terra da cova, eliminando da área de plantio e, aproveitando na composteira. A rotação de culturas, com o plantio de culturas que não são atacadas pelo fungo e, o plantio de leguminosas são práticas que ajudam a desinfestar um solo atacado pelo fungo, porque quebra o ciclo de vida do mesmo. A escolha de áreas com boa drenagem e irrigação adequada, são medidas que desfavorecem o fungo. A Podridão das Raízes ou Podridão-mole é outra doença que pode ocorrer na batata-salsa, sendo o principal agente causal as bactérias do gênero Erwinia, principalmente na pós-colheita. Os sintomas iniciais da doença são depressões de aspecto encharcado nas raízes, causando posterior decomposição dos tecidos e odor característico e desagradável. A bactéria é extremamente dependente de umidade, portanto, a escolha de local com boa drenagem é de suma importância, devendo-se evitar áreas de baixada. Plantios em locais ou épocas mais úmidas devem utilizar leiras mais altas, com 35 a 40 cm. Espaçamentos mais largos podem ser úteis na manutenção de um microclima mais arejado, visando a desfavorecer a doença. A irrigação deve ser cuidadosa, sem molhamento excessivo. O próprio corte em bisel efetuado no plantio pode ser porta de entrada para o ataque da bactéria. Outras pragas e doenças, como a broca e os nematóides, podem causar ferimentos que abrem caminho para a infecção pela Erwinia. Também ferramentas ou implementos nas operações de capina podem causar ferimentos por onde a bactéria se instala. No campo, as plantas atacadas devem ser arrancadas, postas em sacos, retiradas da área e aproveitadas na compostagem. Na colheita e na pós-colheita, deve-se ser cuidadoso, de modo a minimizar a ocorrência de microferimentos. Provavelmente, os nematóides são os maiores causadores de danos à batata-salsa e também de outras espécies que pertencem a mesma família botânica. A rotação de culturas com o plantio de culturas que não são atacadas pelo fungo e nematóides (espécies não pertencentes à família botânica das Apiaceas tais como a cenoura, salsa, coentro e aipo), especialmente as leguminosas ajudam a desinfestar um solo atacado por fungo e contribuem para o manejo de nematoides, principalmente a Crotalária spectabilis (efeito alelopático). Para o manejo de pragas, deve-se utilizar as medidas preventivas tais como: seleção do material de cultivo, adubação adequada (fornecimento excessivo de nitrogênio favorece os pulgões e ácaros), retirada de plantas muito atacadas, manejo da irrigação, rotação de culturas e a destruição dos restos culturais. Os restos culturais devem ser retirados da área, pois neles a praga se multiplica, constituindo-se em inóculo para novos plantios.
Figura 2. Mudas e raízes de batata-salsa
Colheita: A batata-salsa pode ser colhida com 240 a 330 dias após o plantio, ou seja, seu ciclo dura de 8 a 11 meses, dependendo da cultivar usada. Quando a planta amarelecer e as folhas mais velhas secarem, a planta está pronta para ser colhida. Atualmente, já existem cultivares mais precoces, como a Amarela de Senador Amaral, que pode ser colhida com 6 a 8 meses. Em solos soltos a batata-salsa pode ser arrancada do solo com as mãos; em solos mais compactados há necessidade de um afrouxamento do solo que pode ser feito com enxada ou enxadão. Em cultivos maiores o afrouxamento do solo para colheita pode ser feito com arrancadeiras. Deve-se tomar o cuidado para evitar ferimentos nas raízes que podem se transformar em porta de entrada para patógenos, causando podridões na fase pós-colheita. Todos os cuidados para diminuírem estes ferimentos resultam em melhoria da qualidade do produto e diminuição de perdas por deterioração. Também é importante a seleção de cultivares menos propensas ao desenvolvimento de infeções pós-colheita. A colheita da batata-salsa costuma ser feita quando a raiz atinge um diâmetro de 3 a 4 cm; raízes com diâmetro maior que 4 cm tem menor valor comercial. Se o preço estiver desfavorável, a colheita pode ser atrasada algumas semanas. O ideal para a comercialização das raízes de batata-salsa é não lavá-las, pois dessa maneira aumenta-se o período de conservação. O processo de lavagem das raízes, embora melhore a aparência, contribui para o aumento da perda de água durante o período de comercialização, pois a utilização do cilindro rotativo que provoca atrito entre as raízes danifica a película externa de proteção. Além disso, pode contaminar as raízes sadias pela água e facilitar o desenvolvimento de microrganismos, se a secagem for deficiente. Na hora de escolher as melhores raízes na feira, a Embrapa Hortaliças aconselha: as raízes mais frescas apresentam um amarelo mais intenso; evite comprar aquelas cortadas com ferimentos, áreas amolecidas ou manchas escuras; e, principalmente, dê preferência às menores, pois são mais macias. Para conservá-las por mais tempo, guarde em um recipiente bem fechado ou em saco plástico na geladeira. Dessa maneira, as raízes mais frescas duram até cinco dias.
Dentre as plantas daninhas que invadem culturas em todo o mundo, a tiririca é a mais famosa. Composta por folhas, raízes e tubérculos, essa invasora se desenvolve com rapidez e compete com outras plantas ao retirar água e nutrientes do solo. Quando os tubérculos brotam, surgem novas plantas com mais tubérculos, o que faz com que a disseminação da tiririca ocorra em curto intervalo de tempo.
Em geral, os tubérculos se localizam nos primeiros 20 centímetros de profundidade, onde permanecem por muito tempo se não forem arrancados. E quanto mais fundo no solo, maior será o seu tempo de sobrevivência. Por isso, nas capinas manuais, é primordial retirar toda a tiririca (folhas, raízes e tubérculos).
O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).
Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.
Fig. 2 As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.
Disseminação da tiririca
A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:
• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);
• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;
• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;
• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;
• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.
Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.
Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.
Manejo da tiririca
Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.
Controle mecânico da tiririca
O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).
Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.
Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.
Controle biológico da tiririca
Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação insetotiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.
Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.
O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).
Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.
Fig. 2 As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.
Disseminação da tiririca
A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:
• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);
• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;
• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;
• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;
• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.
Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.
Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.
Manejo da tiririca
Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.
Controle mecânico da tiririca
O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).
Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.
Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.
Controle biológico da tiririca
Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação inseto tiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.
Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.
O aipim (Manihot esculenta Crantz), também chamado popularmente de mandioca, mandioca de mesa, mandioca-doce, mandioca mansa, macaxeira e outros, é um dos alimentos de maior expressão no Brasil e que tem crescido muito nos últimos anos. O cultivo orgânico da batata-doce, cenoura e beterraba, consideradas também importantes hortaliças-raízes, já foram abordados em matérias postadas em 25/01, 04/02 e 27/02/2011, respectivamente.
O aipim é uma planta perene e arbustiva, pertencente à família botânica das Euforbiáceas. Originária da América do Sul, já era cultivado por povos indígenas desde muito antes da chegada dos europeus. A raiz (Figura 1) tem uma casca rugosa, em grande parte, facilmente destacável e, que, dependendo da variedade, pode atingir até 1 m de comprimento, com polpa branca e amarela. Existem diversas variedades que se dividem em mandioca-doce ou mandioca-mansa e mandioca-brava, segundo a presença e concentração de ácido cianídrico que pode ser venenoso; esta substância pode causar náuseas, vômitos, sonolência e até mesmo a morte, fazendo-se necessário o cozimento adequado das raízes para desativar o veneno.
Figura 1. Raízes de aipim
Uso culinário, propriedades nutricionais e terapêuticas: A mandioca é dividida em dois grandes grupos: 1º) destinado à produção de produtos secos que exigem sistemas de processamento mais complexo (farinha de mandioca e outras farinhas, fécula, beijus, etc) e, 2º) destinado ao consumo via úmida, cujo processamento se dá no ambiente doméstico (pré-cozida, congelada, cozida, frita na forma de chips, bolinho e até inteira, sopa, mingau, bolo, broa e etc). O primeiro grupo é chamado de mandioca para indústria e em linguagem popular, simplesmente mandioca; são produzidas em sistemas tipicamente agrícolas em áreas relativamente grandes, em qualquer tipo de solo. O segundo grupo é chamado de mandioca para mesa (aipim), normalmente utilizada para consumo fresco humano e animal, com várias denominações regionais: aipim (região sul), macaxeira (nordeste) ou simplesmente mandioca. Os aipins in natura são cada vez menos frequentes em grandes cidades e supermercados. Além da deterioração pós-colheita, precisam ser descascados em casa e têm menores garantias de qualidade, pois, em geral, não têm rótulo de produtor. A mandioca para mesa ou aipim diferencia-se da mandioca para a indústria por várias características. O aipim tem sabor característico, textura e cor da massa cozida diferenciadas para atender às preferências regionais e locais. O aipim é consumido, especialmente in natura, e também já descascado e congelado. O aipim também já está sendo comercializado através de produtos minimamente processados (pré-cozido congelado, chips e etc), constituindo-se em boa alternativa para agregação de valor e até para exportação. A raiz do aipim destaca-se como uma excelente fonte de carboidratos, apresentando elevado valor energético. Não tem proteínas e nem gorduras, mas contém grande quantidade de vitaminas do complexo B, principalmente a vitamina B3 (niacina), além de sais minerais, como cálcio, ferro, fósforo e especialmente potássio.
As raízes e folhas do aipim possuem propriedades anti-séptica, cicatrizante e diurética e são indicadas para abrir o apetite, tratamento de feridas, chagas, tumor, abscesso, conjuntivite, diarréia, disenteria, hérnia, inflamações em geral, cansaço e picada de cobra. No entanto, deve-se ter o cuidado para não confundir o aipim com a mandioca brava, pois algumas substâncias da mandioca brava causam intoxicação e dependendo da concentração presente na planta pode causar até a morte.
Cultivo: O aipim tem inúmeras vantagens em relação às outras culturas, tais como: facilidade de propagação (ramas), tolerância à seca, rendimentos satisfatórios em solos de baixa fertilidade nos quais é geralmente cultivado, baixa exigência de insumos modernos, que normalmente encarecem os sistemas de produção de outras culturas, resistência ou tolerância às pragas e doenças e, ainda possibilidades de mecanização do plantio à colheita e de consorciação com outras culturas. A planta desenvolve-se muito bem em solos de franco-arenoso à argilo-arenoso e bem drenados, com temperaturas em torno de 25ºC.
Cultivares: O aipim apresenta uma ampla variabilidade genética, representada pelo grande número de variedades disponíveis em todo o país. A Epagri, através da Estação Experimental de Urussanga,SC tem concentrado o foco de suas pesquisas na cultura da mandioca visando a indústria e também no desenvolvimento de variedades de aipim. Estratégias de melhoramento de plantas para o desenvolvimento de cultivares mais produtivos, com elevados teores de matéria seca nas raízes, resistência às doenças antracnose e bacteriose, melhor qualidade culinária, entre outras, estão sendo adotadas atualmente pela equipe de pesquisa da Estação Experimental. Duas características são fundamentais nas cultivares de aipim: cozinhar rapidamente e ter baixo potencial cianogênico (plantas que contém como princípio ativo o ácido cianídrico – HCN, substância que pode ser venenosa). Raízes com concentração superior a 100 mg de HCN por kg de polpa úmida tem sabor desagradável e amargo. Como o teor de HCN nas raízes é liberado durante o processamento, podem ser utilizadas na indústria, tanto cultivares de mandioca mansa (aipim) como brava. O teor de HCN varia com a cultivar, com o ambiente e com o estado fisiológico da planta e, é um fator decisivo na escolha da cultivar de aipim. Em geral, a grande maioria das cultivares de aipins apresentam teores de HCN relativamente baixos (30 a 75 mg/kg de polpa), situando-se dentro do limite máximo de segurança para cultivares de mandioca de mesa, que segundo pesquisadores é de até 100 mg/kg de polpa crua de raízes. Outros caracteres de natureza qualitativa também são importantes, como o tempo de cozimento das raízes, que também varia de acordo com a cultivar, condições ambientais e estado fisiológico da planta. É comum variedades de aipim ou macaxeira passarem um determinado tempo de seu ciclo "sem cozinhar", o que é um fator crítico para o mercado in natura. Alguns fatores parecem estar relacionados a este fato, tais como o estresse da planta causado por condições climáticas e outros. Outras características referentes à qualidade, tais como ausência de fibras na massa cozida, resistência à deterioração pós-colheita, facilidade de descascamento das raízes, raízes bem conformadas são também importantes para o mercado consumidor de aipim e devem ser consideradas na escolha da cultivar. Além disso, é importante que as cultivares apresentem raízes com polpa de coloração branca ou amarela, córtex branco, ausência de cintas nas raízes, película fina e raízes grossas e bem conformadas, o que facilita o descascamento e garante a qualidade do produto final. Cultivares de aipim, em geral, devem apresentar um ciclo mais curto (8 a 14 meses) para manter a qualidade do produto final.
Conservação e adubação do solo: É uma cultura altamente erosiva, pois seu crescimento inicial é muito lento e o espaçamento é amplo, fazendo com que ocorra uma demora em cobrir o solo para protegê-lo das chuvas e enxurradas. Em função deste crescimento inicial lento, recomenda-se as seguintes práticas: plantio em nível, uso de matéria orgânica, rotação de culturas com leguminosas visando a adubação verde e o plantio direto, consorciação de culturas com milho, feijão e outras, cobertura morta (palha de aveia, feijão e milho) e cobertura viva (Figura 2) nas entrelinhas. É uma cultura esgotante do solo, pois quase tudo que produz (raízes, folhas e manivas) é exportada da área, para alimentação humana e animal e, como manivas-sementes para novos plantios. Para a adubação, deve-se fazer a análise do solo e do adubo orgânico a ser utilizado, com bastante antecedência, para a correção da acidez e, adubação, de acordo com a recomendação, feita pelo técnico do município. A aplicação e incorporação do calcário, se necessário, deve ser feita 30 a 60 dias antes do plantio, devendo a quantidade ser recomendada de acordo com a análise do solo e, nunca ultrapassando 2 toneladas de calcário/ha por aplicação. Dependendo do aspecto e desenvolvimento da planta, é dispensável a aplicação de nitrogênio, especialmente se estiver consorciada com leguminosas. Os adubos orgânicos nitrogenados devem ser aplicados na cobertura, ao lado do sulco, de 45 a 60 dias após a brotação. O adubo potássico também pode ser parcelado em cobertura com a aplicação da metade da dose recomendada, juntamente com a adubação nitrogenada. Em algumas situações, como o plantio em rotação, caso a outra cultura for adubada, pode-se dispensar o uso de adubação.
Seleção e preparo do material para plantio: A inexistência de manivas-sementes de qualidade e a dificuldade na conservação das ramas para plantio são os principais entraves para o desenvolvimento da cultura. As manivas ou toletes (pedaços de ramas maduras) devem ser provenientes de plantas com 10 a 14 meses de idade, ter de 5 a 7 gemas, 2,5 cm de diâmetro e 15 a 20 cm de comprimento e estar livre de pragas e doenças. Deve-se evitar retirar manivas de ramas tanto da parte superior (mais herbácea), como da inferior (mais lenhosa); 1 hectare de aipim, com 12 meses de idade, fornece, em média, material para plantio de 4 a 5 ha. Caso haja necessidade de armazenamento, as ramas devem ser colocadas à sombra, em feixes, na posição vertical e cobertas com capim seco. Podem ser conservadas dessa forma por um período de 30 dias. Para reduzir perdas na brotação, recomenda-se que as manivas sejam plantas no mesmo dia do seu preparo. Sistema de Plantio: O sistema de plantio varia de acordo com as condições do solo. Para solos bem drenados recomenda-se o plantio em sulcos ou covas de 10 cm de profundidade, colocando-se as manivas horizontalmente no sulco e depois cobrindo totalmente com terra. Para solos mal drenados, sujeitos às chuvas frequentes e intensas, o sistema deve ser em camalhões. O plantio em cova é efetuado manualmente, quando não se dispõe de equipamentos mecânicos.
Época de plantio: Umidade e calor são elementos essenciais para a brotação e enraizamento das manivas, por isso, para a região Sul do Brasil, recomenda-se o plantio no final de setembro até o final de outubro. Plantios precoces podem atrasar o desenvolvimento da cultura, em função da falta de brotação das manivas, causado pelas baixas temperaturas e também aumentar o custo de produção devido ao maior número de capinas. Por outro lado, os plantios tardios podem aumentar as falhas no campo devido ao esgotamento das manivas, em função da brotação excessiva.
Espaçamento e Plantio: No cultivo do aipim, o espaçamento depende da fertilidade do solo, do porte da variedade, do objetivo da produção (raízes ou ramas), dos tratos culturais e do tipo de colheita (manual ou mecanizada); em geral, no caso de fileiras simples, recomenda-se o espaçamento de 1,0 x 1,0 m (densidade de 10.000 plantas/ha) e para fileiras duplas, o espaçamento é de 2,0 x 0,6 x 0,6 m (densidade de 12.820 plantas/ha). As vantagens do sistema de plantio em fileiras duplas são: racionalização do uso da terra, aumento da produção de raízes, possibilidade de consorciar com outras culturas e, dessa maneira diversificar a produção, barateando a produção, permite visitas de inspeção, facilita o cultivo mecanizado e os tratos culturais, especialmente os tratamentos fitossanitários, possibilita a cobertura vegetal nos espaços livres e, dessa maneira aumentando a matéria orgânica e a conservação do solo. O plantio deve ser no início das chuvas. As covas são preparadas com enxadas, enquanto que os sulcos são construídos com sulcador à tração animal, motomecanizados e enxada. Nos solos argilosos e, em regiões com precipitação superior a 1200 mm por ano, recomenda-se o plantio em camalhões. As manivas-sementes podem ser plantadas em três posições: vertical, inclinada ou horizontal; a mais utilizada é na posição horizontal porque facilita a colheita das raízes. Por outro lado , os plantios com a maniva inclinada ou na posição vertical possibilitam maiores rendimentos de raízes, apesar de dificultar a colheita, pois as raízes se aprofundam no solo.
Consorciação de culturas: são bastante utilizados nas regiões tropicais pelos pequenos produtores, visando um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, com maior rendimento médio das culturas envolvidas. As principais vantagens em relação ao monocultivo, são: aumento da biodiversidade, contribuindo para o equilíbrio ecológico e estabilidade da produção, melhor utilização da terra, melhor exploração de água, nutrientes e mão-de-obra, maior eficiência no manejo de plantas espontâneas, melhor conservação e fertilidade do solo (consórcio com adubos verdes) tendo em vista o desenvolvimento lento do aipim e, ainda, fornecendo mais uma fonte de alimento e renda. Sugestão de consórcios, preferencialmente no sistema de fileiras duplas: aipim + feijão comum; aipim + batata; aipim + milho; aipim + ervilhaca (Figura 2); aipim + aveia + ervilhaca; aipim + milho + feijão comum. Para reduzir despesas na formação de culturas permanentes (citros, banana e outras) pode-se utilizar o consórcio com aipim, em fileiras duplas.
Figura 2. Consórcio de aipim com ervilhaca
Capinas: A cultura deve estar livre de plantas espontâneas, especialmente na linha de plantio, nos primeiros 120 dias após o plantio, devido ao desenvolvimento inicial lento do aipim. Após este período, ocorre um controle parcial das plantas espontâneas através do sombreamento da cultura.
Manejo de pragas:
Mandarová – é a de maior importância para o aipim devido à sua alta capacidade de consumo foliar, causando redução do rendimento e até a morte de plantas jovens. Inspeções periódicas das lavouras, identificando os focos iniciais, auxiliam no manejo desta praga. Em plantios pequenos, recomenda-se a catação manual das lagartas e sua destruição. O mandarová possui uma série de inimigos naturais que são capazes de exercer um bom manejo, por isso, recomenda-se o aumento da biodiversidade (consórcios, manutenção de áreas próximas a lavoura com o maior número de espécies de plantas para servir de abrigo e alimento aos inimigos naturais) e, principalmente, não utilizar produtos químicos. O controle biológico com Baculovirus tem sido empregado com eficiência. O Baculovirus é um vírus de ocorrência natural que pode ser produzido e manipulado na própria lavoura. Apresenta grande vantagem, pois não afeta os insetos úteis, não interferem na fisiologia das plantas, são totalmente inócuos ao homem e outros animais, de fácil manuseio e seguro. A ação do Baculovirus ocorre através da sua ingestão juntamente com as folhas pulverizadas, provocando lesões internas até a destruição total dos órgãos. Os sintomas iniciais da doença surgem aproximadamente após quatro dias da pulverização, quando as lagartas doentes perdem o apetite, reduzem a locomoção e apresentam amolecimento gradativo do corpo, que se torna pálido, culminando com a morte após sete dias. A característica marcante que identifica a morte provocada pelo Baculovirus é que as lagartas ficam dependuradas de cabeça para baixo, nos talos de regiões mais altas da planta de aipim. A armadilha luminosa também é eficiente para capturar os adultos.
Formigas – podem desfolhar rapidamente as plantas quando ocorrem em altas populações. O ataque ocorre geralmente durante a fase inicial da cultura. Para o manejo das formigas, a Embrapa tem recomendado o plantio de gergelim entre as fileiras de aipim; o gergelim é a melhor opção, pois suas folhas contêm uma substância chamada sesamina que é fungicida. Geralmente as formigas só carregam folhas inofensivas ao formigueiro, mas o gergelim é uma exceção, pois é uma das folhas preferidas pelas saúvas, mas mata o fungo que serviria de alimento à rainha e às larvas. Outra forma de combater as formigas é distribuir as folhas de gergelim em locais de passagem das cortadeiras, próximos aos olheiros do formigueiro. Recomenda-se fazer uso contínuo dessa prática até o fim da infestação das cortadeiras. Além do gergelim, a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical tem utilizado a manipueira (líquido originado da prensagem da mandioca nos engenhos de farinha), na proporção de 3 L/formigueiro e aplicada até 24 horas após sua coleta.
Mosca branca – Os adultos, geralmente, são encontrados na face inferior das folhas da parte apical da planta. Já as ninfas (fase jovem do inseto) podem ser encontradas na face inferior das folhas mais velhas. Tanto os adultos como as ninfas sugam a seiva das folhas. O dano direto do adulto consiste em um amarelecimento e encrestamento das folhas apicais, enquanto o dano das ninfas manifesta-se por meio de pequenos pontos cloróticos. O uso de cultivares resistentes e/ou tolerantes é o método mais racional de controle.
Ácaros – São encontrados em grande número na face inferior das folhas do aipim, geralmente durante a estação seca do ano. Os sintomas típicos do dano são: manchas cloróticas, pontuações e bronzeamento no limbo, morte das gemas, deformações e queda das folhas. Os ácaros são afetados pela temperatura, umidade relativa e chuva. Temperaturas baixas e mudanças bruscas de temperatura reduzem suas populações. Umidade alta e contínua provoca redução na população da praga. As chuvas intensas, além de aumentar a umidade relativa, também lavam as folhas e causam afogamento dos ácaros. As práticas culturais que auxiliam no manejo dos ácaros são: destruição de plantas hospedeiras, inspeções periódicas na cultura para localizar focos, destruição de restos de culturas, seleção de material de plantio e distribuição adequada das plantas no campo para reduzir a disseminação dos ácaros.
Galhas ou verrugas – São larvas de moscas que formam-se na superfície foliar. As larvas induzem o crescimento celular anormal, formando sobre a face ventral da folha, galhas de cor variável de amarelo a vermelho. O manejo pode ser feito através de coleta e destruição de folhas afetadas, periodicamente.
Manejo de doenças:
Bacteriose - é a principal doença da mandioca, causada por Xanthomonas campestres pv. Manihotis. Os sintomas caracterizam-se por manchas angulares, de aparência aquosa, nos folíolos, murcha das folhas e pecíolos, morte descendente e exudação de goma nas hastes, além de necrose dos feixes vasculares e morte da planta.
Superbrotamento - é uma doença causada que pode provocar uma redução no rendimento de raízes de até 70%. Pode causar também perdas na produção de manivas-sementes, tendo em vista que na planta afetada, as hastes apresentam-se com um tamanho muito reduzido e excesso brotação das gemas. Os sintomas da doença caracterizam-se pela emissão exagerada de hastes a partir da haste principal, além de provocar raquitismo e amarelecimento generalizado das plantas afetadas. A disseminação da doença ocorre por meio de vetores transmissores, normalmente insetos que têm o hábito sugador, além de manivas-semente contaminadas utilizadas no plantio. O controle do superbrotamento pode ser efetuado adotando medidas preventivas como evitar a introdução de material de propagação de áreas afetadas e seleção rigorosa do material de plantio. A utilização de variedades resistentes é o método mais eficiente de controle da doença.
Mosaico comum – é uma virose que, com manifestação severa da doença em variedade suscetível, pode causar perdas de até 20%. Os sintomas constituem-se principalmente em clorose da lâmina foliar e retorcimento dos bordos das folhas,
Colheita: A colheita é a operação das mais trabalhosas e caras no cultivo do aipim. Deve ser efetuada na estação seca (outono e inverno), a partir de abril, época em que as raízes apresentam maiores teores de amido. A poda das ramas deve ser efetuada a uma altura de 20 a 30 cm acima do nível do solo. O arranquio das raízes deve ser feito com a ajuda de ferramentas, dependendo das condições de umidade e características do solo. A amontoa das raízes deve ser em pontos na área de modo a facilitar o recolhimento e proteção do solo. A cobertura das raízes de ser feita com folhas, evitando-se que estas permaneçam no campo por mais de 24 horas, para evitar a deterioração. Deve-se guardar 20% da área para a retirada de ramas para plantar uma área igual. O descascamento do aipim, dependendo da variedade, pode ser difícil. Na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, recentemente, foi apresentado uma máquina para descascar aipim ou mandioca em grandes quantidades .
A conservação do aipim em condições naturais é muito curta, pois é altamente perecível; após a colheita inicia-se um processo de atividade enzimática que resulta em escurecimento das raízes em aproximadamente 24 a 36 horas, deixando-as impróprias para a comercialização. Uma ótima alternativa é descascar as raízes e congelar. Trabalho de pesquisa realizado pela Epagri/Estação Experimental de Urussanga, mostrou que as raízes de aipim congeladas, quando cozinhadas levam a metade do tempo para o cozimento, o que constitui uma economia de gás.