google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: Manejo da tiririca no sistema orgânico

ANUCIOS

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Manejo da tiririca no sistema orgânico

 

Dentre as plantas daninhas que invadem culturas em todo o mundo, a tiririca é a mais famosa. Composta por folhas, raízes e tubérculos, essa invasora se desenvolve com rapidez e compete com outras plantas ao retirar água e nutrientes do solo. Quando os tubérculos brotam, surgem novas plantas com mais tubérculos, o que faz com que a disseminação da tiririca ocorra em curto intervalo de tempo.

Em geral, os tubérculos se localizam nos primeiros 20 centímetros de profundidade, onde permanecem por muito tempo se não forem arrancados. E quanto mais fundo no solo, maior será o seu tempo de sobrevivência. Por isso, nas capinas manuais, é primordial retirar toda a tiririca (folhas, raízes e tubérculos).

O crescimento da tiririca é intenso, e normalmente superior ao das culturas anuais, por se caracterizar como planta perene fisiologicamente eficiente, resistindo a muitas das práticas de controle comumente usadas na olericultura (Figura 1). De cada clone (conjunto de bulbos basais, rizomas e tubérculos geneticamente idênticos e interconectados) emerge um grande número de plantas, formando altas densidades populacionais. Os tubérculos e bulbos basais constituem-se no principal local do crescimento vegetativo prolífico porque contêm as gemas para folhas, rizomas, raízes e haste floral. Os tubérculos, por sua vez, são produzidos nos rizomas, constituindo a unidade primária de reprodução e dispersão. As sementes têm taxa de germinação em torno de 5%, no caso da tiririca-roxa, sendo consideradas de pouca importância no estabelecimento e dispersão, uma vez que o vigor e a sobrevivência das suas plântulas são muito baixos (Figura 2).

Fig. 1. O crescimento da tiririca é intenso, sendo muito resistente.

Fig. 2  As sementes da tiririca têm importância secundária porque apresentam baixa germinação.

Disseminação da tiririca

A disseminação da tiririca, tanto a curta quanto a longa distância, é feita, em geral, pelo homem através dos seguintes mecanismos:

• Utilização de equipamentos agrícolas, como máquinas, implementos e ferramentas, com tubérculos ou plantas inteiras aderidos juntamente com resíduos vegetais ou restos de solo, os quais são disseminados durante as rotinas de preparo do solo, plantio e trânsito em geral (Figura 3 e 4);

• Aplicação de matéria orgânica com tubérculos e plantas de tiririca no solo;

• Uso de substrato em bandejas e mudas de hortaliças com torrões contaminados com tubérculos, sementes e plantas de tiririca;

• Colheita, transporte e comercialização de descartes de produtos agrícolas contaminados com propágulos de tiririca. Os tubérculos de tiririca são capazes de se desenvolver dentro de tubérculos de batata e de raízes de tuberosas, e também podem se misturar a hortaliças folhosas, de tubérculos e de raízes durante a colheita e transporte;

• Transporte dos tubérculos, sementes, bulbos basais ou plantas de tiririca pela enxurrada e água dos canais de irrigação.

Fig. 3. As práticas culturais, como aração e gradagem, podem favorecer a disseminação da tiririca.

Fig. 4. Os rizomas são a principal forma de disseminação da tiririca.

Manejo da tiririca

Como normalmente os métodos de controle não previnem a reprodução de todas as partes das plantas, deve-se manter as medidas de controle continuadamente, ano após ano. Assim, o conceito de controle, independente do método, deve ser amplo de forma que possa ser utilizado durante o ano todo e em anos sucessivos. O conjunto e a integração de todas as práticas, métodos ou tecnologias utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e plurianuais constituem-se no que se denomina de “manejo integrado”. O controle da tiririca, ao limiar de níveis econômicos em sistemas orgânicos, só poderá ser alcançado através da combinação de métodos de controle (cultural, mecânico e biológico), sobretudo de forma agressiva enquanto o problema persistir, assim os métodos de controle devem-se concentrar nas fases de inibição da brotação dos tubérculos e/ou na inibição ou paralização da formação e desenvolvimento de novos tubérculos a fim de reduzir gradativamente o banco de tubérculos existente no solo. Uma vez que a tiririca é muito sensível ao sombreamento, deve-se cultivar as hortaliças com espaçamentos os mais estreitos possíveis e uso de cultivares que se desenvolvam rapidamente e que produzam grande massa foliar, a exemplo da batata-doce, para reduzir o crescimento e a agressividade da tiririca.

Controle mecânico da tiririca

O método de controle mecânico, por meio do preparo do solo, capinas ou cultivos, controla temporariamente a tiririca (Figura 5). O principal objetivo do cultivo é trazer os tubérculos para a superfície do solo, induzir a brotação e reduzir o seu número através da dessecação pelos raios solares, principalmente em regiões áridas ou épocas de seca, ou pelo bloqueio da formação de novos tubérculos através de cultivos sucessivos. O tempo necessário para matar os tubérculos varia de 7 a 14 dias em condições de seca e sol forte. Em geral, a primeira brotação dos tubérculos reduz as suas reservas energéticas em até 60%. Os cortes, capinas ou cultivos sucessivos induzem um crescimento menos vigoroso devido ao consumo de aproximadamente 10% das reservas de carboidratos a cada corte realizado. Pelo menos dois anos de controle mecânico quinzenal são requeridos para reduzir a população de tiririca aos níveis satisfatórios de manejo. A manutenção da área livre de culturas facilitará o trabalho. O uso da cobertura com material inerte (plasticultura) e da solarização destacam-se entre as medidas mais eficientes para o manejo da tiririca nos sistemas agroecológicos (Figura 6).

Fig. 5. A exposição de tubérculos da tiririca ao sol pode auxiliar no seu controle.

Fig. 6. O uso de coberturas plásticas e a solarização podem reduzir a incidência da tiririca.


Controle biológico da tiririca

Em relação ao controle biológico da tiririca, muitos trabalhos foram realizados com o objetivo de regular a sua população a níveis aceitáveis através do controle biológico clássico envolvendo o uso de insetos inimigos naturais. Entretanto, nenhum dos agentes testados produziu resultados satisfatórios, devido à baixa especificidade na relação insetotiririca, baixo estabelecimento do agente, e conseqüentemente  incapacidade para controlar o crescimento ou rebrote da tiririca. O melhor exemplo de controle biológico da espécie C. esculentus foi desenvolvida na década passada nos Estados Unidos com o fungo da ferrugem (Puccinia canaliculata (Schw) Lagerh.). Dr. Biosedge é o nome comercial do bioherbicida, entretanto, por se tratar de um parasita obrigatório, ele só pode ser produzido em plantas vivas, não tendo no presente grande interesse comercial para a produção deste fungo, por parte da indústria (Figura 7). O fungo da ferrugem é mantido em plantas de tiririca durante o inverno, sob condições de casa-de-vegetação, sendo as plantas infectadas liberadas, posteriormente, no campo quando a população de tiririca estiver aparecendo na cultura. Dessa forma, a doença alcança os níveis epidêmicos no início da estação de cultivo, causando a desidratação das raízes, reduzindo o florescimento, formação de tubérculos, morte de plantas, e conseqüentemente menor competitividade da tiririca com as hortaliças.



Fig. 7. O controle biológico da tiririca pode ser feito por meio do fungo causador da ferrugem, que ataca suas folhas.


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