Preparo do solo
A planta alimenta-se quase que exclusivamente pelas raízes, que também são responsáveis por sua fixação. Assim, quanto mais intensos forem o uso de máquinas e equipamentos e os excessos de preparo, mais prejudicada será a fertilidade do solo (erosão e perda de microrganismos, entre outros).
A correção da acidez é feita de acordo com a análise do solo. Geralmente, é utilizado o calcário, que pode ser necessário para não comprometer a absorção de nutrientes.
Tipos de adubos
Adubo orgânico é todo produto proveniente da decomposição de resíduos de origem animal e vegetal com elevados teores de componentes orgânicos. Os mais utilizados são:
- Restos de cultura - fornecem matéria orgânica ao solo, contribuindo para melhorar sua fertilidade. Podem serincorporados ou mantidos como cobertura morta.
- Esterco de animais - dejetos sólidos e líquidos de aves, bovinos e suínos que, depois de curtidos, são utilizados como adubo. Em geral, o esterco de ave é mais rico em nutrientes.
- Húmus de minhoca - devido à facilidade de produção nas propriedades, é uma alternativa de enriquecimento do esterco. É um adubo orgânico muito rico em nutrientes.
- Composto orgânico ou compostagem - é o processo de transformação dos resíduos através de microrganismos.
Obtido a partir de lixo (resto de alimentos, restos de culturas e dejetos de animais, entre outros) que é depositado numa pilha ou leira que deve ser molhada uma vez por semana para manter a umidade e acelerar a decomposição.
- Adubação verde - são vegetais que, plantados no local da cultura, têm sua massa verde incorporada ao solo, melhorando suas condições nutricionais.
A planta que servir de adubo verde não deve competir com a espécie plantada, por isso deve ser plantada nas entressafras.
A incorporação do adubo verde deve ser feita, de preferência, quando a planta estiver com floração.
Aplicação do adubo
O adubo pode ser aplicado de 15 a 20 dias antes do plantio para evitar perda de nutrientes do solo.
Adicionar na linha, na cova ou em cobertura, incorporado ao solo.
Métodos de propagação
As mudas para a instalação de uma lavoura podem ser obtidas através da reprodução natural da própria planta ou através de sementes.
Propagação por sementes
Poderá ser feita em sementeiras para posterior transplante ou no local definitivo.
Considerações iniciais sobre sementes
Antes do início da construção dos canteiros para a produção de mudas e da semeadura direta, é necessário calcular a quantidade de sementes a ser comprada ou produzida. Para isso, é necessário calcular a área que será produzida (hectare), o espaçamento entre as fileiras e o espaçamento entre as plantas no local definitivo da cultura e saber quanto pesa o grama da semente que será plantada.
Cálculo do número de mudas
Exemplo:
Planta: hortelã (Mentha piperita)
Área total: 1 ha (10.000 m2)
Espaçamento: 0,40m x 0,30m
Nº de mudas necessárias = 10.000m2 = 84.000
0,40 x 0,30
É preciso produzir ou adquirir mudas em número pouco maior do que o calculado para prevenir eventuais perdas. Assim, aconselha-se acrescentar mais 20% ao número obtido. Assim,
84.000 (mudas) x 20% = 16.800
84.000 + 16.800 = 100.800 mudas de hortelã.
Cálculo da quantidade de sementes
Exemplo:
Planta: hortelã (Mentha piperita)
Área total: 1 ha (10.000 m2)
Nº de sementes por grama = 15.000
Espaçamento = 0,40m x 0,30m
Área que cada planta ocupa = 0,40m x 0,30m = 0,12 m2
Nº de mudas = 10.000 m2 : 0,12 m2 = 84.000 mudas
Quantidade de sementes = nº de mudas : nº de sementes por grama = 84.000 : 15.000 = 6 gramas
Memória de cálculo do custo da produção
Relação de todo custo gasto com insumos, sementes, mão-de-obra e ferramentas, entre outros (Quadro 1).
Quadro 1. Estimativa para o cultivo de 84.000 mudas de planta medicinal (Mentha piperita L.).
Quadro 1. Estimativa para o cultivo de 84.000 mudas de planta medicinal (Mentha piperita L.).
Prática Insumos Quantidades Unidade
Valor
Individual
Estimado
(R$)
Valor
Total
Estimado
(R$)
Cultivo
de Hortelã
(Mentha piperita)
Adubo
orgânico
(esterco bovino)
2 tonelada 50,00 100,00
Área: 1 ha
(10.000m2)
Preparo do solo 4 h/máq. 40,00 160,00
Sementes 6 g 5,00 30,00
Mão-de-obra 4 d/h 20,00 80,00
Ancinho (10 dentes) 2 unidade 4,00 8,00
Barbante/nailon 20 metro 6,00 120,00
Bandeja de isopor
(162 células)
519 unidade 12,00 6.228,00
Balde (20 litros) 2 unidade 4,00 8,00
Carrinho-de-mão 1 unidade 65,00 65,00
Kit de jardinagem 2 unidade 15,00 30,00
Enxada com cabo 4 unidade 20,00 80,00
Enxadão 2 unidade 11,00 22,00
Sacho 2 unidade 11,00 22,00
Pá 2 unidade 20,00 40,00
Regador 2 unidade 12,00 24,00
Mangueira (3/4) 200 metro 0,40 80,00
Total 7.097,00
Preparo da sementeira
O solo da sementeira deve ser fértil, sem ser muito argiloso ou arenoso. Geralmente, utiliza-se sementeira quando as sementes são muito pequenas, têm baixo poder de germinação, demoram muito tempo para germinar e necessitam de cuidados especiais, como local sombreado e irrigação, entre outros.
Sementeira
Pode ser feita em caixas, caixotes, bandejas de isopor (72, 128, 200, 162 células), vasos, sacos plásticos, embalagens de UHT ou garrafas PET, entre outros.
Pode ser semeada a lanço ou em linhas, com cobertura de terra ou não, dependendo do tamanho das sementes e das características de cada planta. Na construção das sementeiras, devem ser adotados os mesmos procedimentos utilizados para os canteiros. É recomendável fazer uma cobertura (jirau) para proteger as sementes de predadores, como pássaros e roedores. A cobertura pode ser feita com folhas de capim, de coqueiro, de bananeira ou sombrite, entre outros. Outra forma de proteção é fincar estacas nas bordas e fazer um trançado de barbante. Manter a sementeira em estufa também oferece proteção.
Bandeja de isopor
Composta por diversas células, ou seja, por orifícios preenchidos com o substrato (solo, palha de arroz queimada, areia e composto orgânico ou esterco curtido, plantimax®, húmus de minhoca e compostagem, dentre outros, todos peneirados e livres de ervas invasoras).
Utilizada tanto para o semeio quanto para o enraizamento de estacas. As bandejas podem ser parcialmente sombreadas para aumentar a sua durabilidade.
Vantagens:
- Facilidade no manuseio.
- Possibilidade de reutilização após desinfecção e lavagem (hipoclorito de sódio diluído em água), evitando contaminações na cultura.
- Maior número de mudas por espaço.
- Reduz a necessidade de mão-de-obra e materiais, pois as mudas podem ser plantadas diretamente no local definitivo.
- Dispensa capina e retém a umidade.
- Exige pouca quantidade de substrato.
- Permite o desenvolvimento das mudas que, ao serem transplantadas, mantêm o torrão com raízes, mantendo a planta intacta.
Transplante
É a transferência da muda dos recipientes ou da sementeira para o local definitivo.
- Deve ser realizado pela manhã, quando a temperatura está amena, ou em dias nublados ou à tarde, para que a planta não morra.
- Um dia antes do transplante não se deve irrigar a planta para facilitar a adaptação da muda ao local definitivo.
- A planta deve ser transplantada quando atingir de 10 a 15cm de altura e apresentar de 4 a 6 folhas definitivas.
- Após o transplante, irrigar a planta.
- Eliminar os recipientes (sacos plásticos, vasos, bandeja de isopor, entre outros) antes de colocar a planta no local definitivo.
- A cova deve manter a mesma altura que a planta tinha na sementeira ou no recipiente.
- Algumas espécies não toleram o transplante, por isso devem ser semeadas em local definitivo.
Locais para o transplantio
Canteiro
É o local onde se plantam as mudas transplantadas das sementeiras. Os canteiros podem ser de alvenaria, pedras ou de materiais retirados da própria região, como madeiras e varas, entre outros. O tamanho dependerá
do número de plantas a serem transplantadas e do tamanho do terreno. Geralmente, possuem 1m de largura por 0,20m de altura e 5m de comprimento; a distância entre os canteiros deve ser de pelo menos 1m para facilitar os tratos culturais.
Covas
Largura e profundidade devem ser de acordo com o tamanho da planta.
- Devem ser preparadas com antecedência.
- Se houver a necessidade de corrigir o pH do solo, recomenda-se aplicar calagem com aproximadamente um mês de antecedência do plantio.
- O espaçamento linha x plantas varia de acordo com cada espécie (Quadro 2).
- Ao cavar, separe a terra de cima da terra de baixo.
- Encha as covas misturando a terra de cima com o adubo orgânico, cuja quantidade varia de acordo com a análise do solo, e complete com a terra de baixo.
- Aguar diariamente até o dia do plantio. Cobrir a planta com cobertura morta para manter a umidade e evitar o crescimento de ervas invasoras e erosão. Também serve como adubo orgânico e repelente de insetos.
Semeadura direta
É feita no local definitivo quando a planta não requer cuidados especiais. Exige bom preparo do solo. A semeadura pode ser feita a lanço ou em linhas. O tamanho da semente é que irá determinar a melhor forma de semeadura, manual ou com equipamentos.
Propagação vegetativa
É a multiplicação da planta utilizando galhos, raízes ou folhas. A planta deve ser sadia e a ferramenta utilizada para cortar deve estar limpa para evitar contaminações.
Estaquia
É a retirada do caule da planta-mãe para o enraizamento, que pode ser em recipientes ou diretamente no local definitivo. Esse método é utilizado para aumentar o número de mudas da espécie desejada, para plantas que não produzem sementes numa determinada região ou, ainda, para se obter material com as mesmas características da planta-mãe ou matriz.
Todas as estacas devem ser deixadas sobre a areia úmida para o enraizamento.
A coleta pode ser em qualquer época, dependendo da capacidade da planta-mãe e da necessidade de material. As estaquias podem ser:
- folhas: plantas com folhas carnosas (folha-da-fortuna).
- raiz: todas as plantas que possuem filhotes ou rebentos (babosa, confrei e outras).
- caule: forma mais utilizada para a maioria das plantas medicinais, classi-ficadas de acordo com a lenhosidade da planta.
Lenhosa: erva-cidreira (Lippia alba L.)
Semilenhosa: alecrim (Rosmarinus officinalis L.)
Herbácea: manjericão (Ocimum basilicum L.)
Estaquia de galho
Pode ser feita com galhos duros ou verdes da ponta (apical), da parte intermediária (mediana) ou basal (parte inferior) da planta. O plantio pode ser feito diretamente no campo ou em viveiros, dependendo da facilidade do enraizamento da espécie. O tamanho das estacas, em geral, é de 10 a 25cm, contendo dois nós (gema).
Estaquia de raiz
As partes utilizadas são as partes que estão enterradas. Podem ser plantadas diretamente no local definitivo, em viveiros ou em sacos plásticos.
Divisão por touceira
Deve-se desenterrar a planta com as raízes, separar as mudas com as mãos ou com uma faca, podar as folhas, plantar em covas e regar bem.
Mergulhia
Deve ser utilizada com culturas de difícil propagação por estaquia. Deve-se preparar o solo ao redor da planta da qual se pretenda enraizar os ramos. Selecione os ramos que serão enraizados, faça um corte na parte da casca que ficará em contato com o solo (enraizamento), encoste o corte no chão, fixe-o com uma forquilha e cubra com terra, regando para manter o solo úmido. Após o enraizamento, separe a muda da planta-mãe e plante-a no local definitivo.
Cuidados importantes
- A planta-mãe deve ter bom aspecto, livre de doenças e pragas.
- A coleta deve ser em horário mais fresco do dia para evitar que a planta perca água até o momento do plantio.
- As estacas semilenhosa e herbáceas devem ter folhas na parte superior. O corte é feito abaixo de um nó (gema). Caso a planta apresente folhas muito grandes, devem ser cortadas ao meio, no sentido transversal, para evitar a transpiração.
- Estacas herbáceas devem ser destacadas com a mão ou tesouras de poda.
- Espécies de difícil enraizamento devem ser retiradas de plantas mais novas ou podá-las para forçar novas brotações.
- O enraizamento das estacas deve ser feito à sombra, com substratos (conserva a umidade, permite a aeração e dá sustentabilidade à estaca).
- O enraizamento leva de 1 a 5 semanas, quando começam a aparecer ramificações e brotações, indicando a formação de raízes. Após esse período, faz-se o transplante das mudas para o local definitivo ou para os recipientes.
- Em estacas lenhosas, a brotação pode aparecer antes das raízes estarem completamente formadas.
- Após o transplante, as mudas devem ser irrigadas para uma rápida recuperação.
Micropropagação
Propagação realizada através de tecido vegetativo ou semente. Utiliza a biotecnologia na produção de mudas (clones) in vitro. Geralmente, é realizada com cultura de importância econômica e de difícil germinação.
Vantagens:
- Produção de espécies saudáveis, resistentes a pragas e livre de doenças.
- Diminuição do ciclo de produção da planta.
Hidroponia
Os estudos de produção hidropônica de plantas medicinais são escassos.
Consiste no cultivo da planta sob estufas, num sistema em que as raízes das espécies cultivadas ficam submersas (tubo) em solução nutritiva, em água corrente.
A hidroponia não é considerada manejo orgânico por utilizar substâncias químicas na propagação de novas mudas.
PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS
Para a classificação correta do inseto, é necessário o auxílio de um profissional.
Ácaros - podem apresentar cores amarelas, vermelhas ou brancas, atacam brotações novas, folhas, flores e frutos, que ficam com aparência crespa e amarelada.
Besouros - alguns são predadores de insetos, alimentando-se de ovos e larvas e, portanto, são aliados do agricultor, como por exemplo, a joaninha. Outros, porém, se alimentam de vegetais e causam prejuízo à plantação.
Cochonilhas - são insetos sugadores que excretam uma substância açucarada sobre as plantas, atraindo as formigas e criando condições favoráveis para o aparecimento da fumagina (escurecimento das folhas).
Formigas - as da espécie cortadeira cortam as partes tenras das plantas e levam para o formigueiro para o cultivo de um fungo do qual se alimentam. As da espécie doceira se alimentam das substâncias secretadas pelas cochonilhas e pulgões, protegendo-os de seus inimigos naturais, além de se alimentarem da seiva das plantas.
Existem ainda as formigas predadoras, que são benéficas (formiga-cabaça e formiga-de-ferro) à agricultura.
Lagartas - fase jovem da borboleta, possuem vários tamanhos e cores de acordo com a espécie. Em seu último estágio larval, são muito vorazes, causando prejuízos.
Pulgões - são insetos que sugam as partes mais tenras dos vegetais, contaminando-os com vírus e causando deformações na planta. De acordo com a espécie, podem atacar desde as raízes até as folhas, o que acontece quando o solo está pobre de nutrientes, quando o adubo não está bem curtido ou quando há excesso de adubação, provocando desequilíbrios bioquímicos no solo.
Doenças
Há vários agentes causadores de doenças. Os mais comuns são:
Fungos - conhecidos popularmente como mofos ou bolores, entre outros. Os mais importantes nas plantas
cultivadas são:
- os que provocam a “queima” das folhas, que ficam de pardo-avermelhadas a negras e o apodrecimento de frutos e hastes verdes (Antracnose).
- os que atacam a parte produtiva das plantas na fase inicial, causando deformações, como gigantismo e tumores.
Na fase inicial, as partes afetadas do vegetal soltam grande quantidade de esporos de cor negra, que lembram o pó de carvão (Carvões).
- os que atacam principalmente as folhas, que ficam com manchas (pústulas) que se espalham por todo o vegetal
(Ferrugem).
Bactérias - são organismos pequenos que penetram na planta através de suas aberturas naturais ou através
de ferimentos. Podem ser transmitidas também por insetos e ferramentas, entre outros. Provocam a formação de galhas e morte da planta.
Vírus - geralmente transmitidos por insetos sugadores ou por sementes contaminadas. Provocam o aparecimento de manchas nas plantas. As culturas atacadas por virose devem ser imediatamente eliminadas. Para evitar o ataque das viroses, é necessário o controle de pragas que transmitem o vírus.
Nematóides - são vermes que existem no solo. Alguns provocam a formação de galhas ou pipocas nas raízes.
O controle é realizado através da desinfecção de ferramentas, manejo adequado do solo e rotação de cultura.
COLHEITA
O cultivo de plantas medicinais deve ser planejado de acordo com a época da colheita da espécie, para não haver acúmulo e necessidade de contratação de mão-de-obra, aumentando o custo da produção final.
Na fitoterapia, a planta é utilizada integralmente ou partes dela, de acordo com a espécie, para que os princípios ativos da planta usada sejam adequados e tenham eficácia.
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