As “plantas daninhas” ou inços, são consideradas “amigos” das plantas cultivadas
Plantas invasoras ou ervas daninhas são termos que têm sido muito
empregados na literatura agrícola e botânica brasileira, gerando confusões
e controvérsias a respeito de seus conceitos. Em um conceito amplo,
planta daninha refere-se a “toda e qualquer planta que ocorre onde não é
desejada”. Esta definição ampla inclui as soqueiras ou plantas voluntárias
de certas culturas, como por exemplo, batata e batata-doce que crescem
em outras culturas implantadas em sucessão. Em termos agrícolas, planta
daninha pode ser conceituada como “toda e qualquer planta que germine
espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma,
interfere prejudicialmente nas suas atividades agropecuárias”.
Em termos agroecológicos, plantas ou ervas espontâneas e plantas
invasoras são as espécies de plantas que se originam na área de cultivo,
podendo ser espécies nativas ou exóticas já estabelecidas. As espécies
nativas referem-se àquelas que se apresentam naturalmente na região,
originárias da própria área, ao passo que espécies exóticas são as
espécies introduzidas na região, que não são nativas ou originárias da
própria área. A Instrução Normativa nº 007 do MAPA, de 17 de maio de
1999, adota, entre outras normas disciplinares para a produção vegetal
orgânica, o termo plantas invasoras, sendo, entretanto, muito comum o
uso do termo plantas espontâneas nos sistemas de produção orgânica.
Porque o termo “plantas daninhas” não é utilizado na agricultura orgânica?
não é apropriado, pois leva em conta apenas seus efeitos negativos sobre a produção, ignorando os efeitos positivos do mato sobre as plantas cultivadas. Na agricultura orgânica, estas são chamadas de plantas espontâneas (espécies que germinam na área de cultivo) ou indicadoras de algum problema no solo. Quando uma planta se torna agressiva, chamada de “invasora”, “mato” ou “inço” e domina uma área, o problema não está na planta, mas no solo e/ou no ambiente que o envolve. Portanto, para que esta planta não domine a área cultivada, primeiro é preciso resolver os problemas existentes no solo. Na agricultura orgânica esta planta é denominada “indicadora” de algum problema existente no solo. Por exemplo, a guanxuma (Sida spp.), a samambaia (Pteridium aquilinum), o capim marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea), a carqueja (Baccharis spp.), o picão preto (Bidens pilosa) e o picão branco (Galinsoga parviflora) indicam problemas de solos compactado, ácido, constantemente arado e gradeado, pobre, desequilibrado e com excesso de nitrogênio e deficiente em micronutrientes, respectivamente.
As “plantas espontâneas, no sistema de produção orgânico, são chamadas de “amigas” das plantas cultivadas pois podem perfeitamente conviver com os cultivos após o período crítico de competição, especialmente por luz, nos primeiros 30 dias após o plantio. A grande maioria das plantas espontâneas também podem funcionar como plantas de cobertura do solo, protegendo-o contra a erosão e adversidades climáticas, ajudam na descompactação do solo, contribuem para adubação verde e até como abrigo e alimento de inimigos naturais dos insetos-pragas que atacam as culturas. A presença de beldroega (Portulaca oleracea), por exemplo, indica que o solo é fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e ainda é planta alimentícia com elevado teor de proteína.
Como são controladas as “plantas daninhas” ou mato no sistema convencional e suas implicações no meio ambiente? neste sistema é utilizada a chamada capina química, ou seja, são utilizados os herbicidas com inúmeras conseqüências ao meio ambiente e à saúde das pessoas, especialmente quando não são usados os equipamentos de proteção individual. Os herbicidas mais utilizados são a base de glyphosate e paraquat, mais conhecidos comercialmente como roundup e gramoxone, respectivamente. O roundup para a saúde humana é um dos produtos que mais causam doenças de pele, problemas respiratórios, além de causar danos genéticos e efeitos negativos na reprodução de vários organismos. O glyphosate fica no solo por mais de um ano, mata insetos benéficos como vespas parasitárias e joaninhas, afeta minhoca e fungos benéficos e ainda aumenta a susceptibilidade das plantas às doenças. Por outro lado, o paraquat é o herbicida de longa persistência no ambiente. É importante lembrar que estes produtos estão proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de serem usados em áreas urbanas, pois não tem como impedir o trânsito de pedestres nas ruas das cidades pelo menos nas 24 horas após a aplicação.
Manejo de plantas de cobertura e de plantas espontâneas na agricultura orgânica
As plantas de cobertura do solo, tradicionalmente, têm sido utilizadas para conservação do solo e suprimento de nitrogênio, através das leguminosas. Atualmente, as plantas de cobertura são importantíssimas na conservação do solo, no suprimento de nutrientes como o nitrogênio, no equilíbrio das propriedades do solo e até no manejo de plantas espontâneas. As plantas de cobertura afetam a germinação das sementes e o crescimento das plantas espontâneas, podendo, quando a cobertura do solo estiver acima de 90%, reduzir em até 75%, estas plantas. Áreas infestadas por tiririca ou junça (Cyperus rotundus), indicadora de solo ácido, compactado e com carência em magnésio (Mg) podem ser melhoradas com plantas de cobertura tais como feijão miúdo, feijão de porco e mucuna preta. Diversas plantas espontâneas também podem serem utilizadas como cobertura do solo nas entre linhas dos cultivos, manejando-se com roçadas, sempre que necessário. As práticas adotadas nas regiões produtoras influenciam no desenvolvimento das espécies de plantas espontâneas ou indicadoras. A escolha das áreas para cultivo é muito importante, evitando-se áreas infestadas com plantas perenes. Em caso de áreas muito infestadas com plantas espontâneas anuais, o atraso no plantio, após o preparo do solo, permitirá a germinação antecipada das sementes destas plantas, sendo a semeadura ou plantio da cultura após a eliminação das plantas espontâneas. Os métodos culturais englobam práticas que tornam a cultura mais competitiva do que as plantas espontâneas, e o mais importante, prevenindo a infestação de forma a evitar a multiplicação de sementes. Na adubação orgânica, preferencialmente deve ser utilizado o composto orgânico, pois os estercos de animais, especialmente o de gado deve ser evitado, pois além de conter sementes de plantas espontâneas, ainda pode prejudicar as plantas cultivadas se forem originário de áreas onde foi aplicado herbicidas. A cobertura morta ou viva com vegetais é outra prática recomendável para diminuir a incidência de plantas espontâneas.
Principais espécies de adubos verdes utilizados no manejo de plantas espontâneas - estas espécies podem serem semeadas isoladamente ou consorciadas. Também podem serem semeadas, isoladamente ou em consórcios com os cultivos de interesse econômico que utilizam maior espaçamento entre plantas.
Espécies de inverno (março-julho): aveia preta – é a mais conhecida, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças;ervilhaca - boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar; nabo forrageiro – descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo.
Espécies de verão (setembro-dezembro): mucuna - boa para consórcio, fixa nitrogênio do ar e com grande capacidade de abafamento das plantas espontâneas; feijão de porco - rústica, boa produção de massa, adapta-se bem ao consórcio, inibe a tiririca, cebolinha ou junça. Como sugestão de consórcio com culturas econômicas, sugere-se o milho-verde semeado na mesma época da mucuna (Figura 1) ou feijão de porco.
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