Melão
Embora conhecido e comercializado como fruta, o melão (Cucumis melo L.) é uma hortaliça-fruto, assim como a melancia e o morango. Assim como a melancia, pertence à família Cucurbitaceae, a mesma do chuchu, abóbora, moranga, melancia e pepino. De folhas grandes e flores amarelas, suas plantas são rasteiras e se desenvolvem bem em locais com insolação, dias longos, ar seco e sem ventos fortes. É uma hortaliça-fruto originária da África e Ásia, cuja introdução no Brasil foi feita por imigrantes europeus, tendo introduzido seu cultivo em meados da década de 60, no Rio Grande do Sul. Foi na Índia que ocorreu sua dispersão, espalhando-se para todas as direções. Hoje encontramos cultivares de melão em diversas regiões do mundo, desde os países mediterrâneos, centro e leste da Ásia, sul e centro da América e também o centro e sul da África. Esta amplitude de regiões de cultivo é conseqüência de uma grande variabilidade genética que tem permitido a adaptação de diferentes tipos de melão em condições agronômicas diversas, de tal maneira que hoje podemos encontrar em todos os mercados do mundo, melão com diferentes cores, formato e aroma. Nas Américas, o melão foi introduzido por intermédio de Cristóvão Colombo e a partir dessa época, passou a ser utilizado pelos índios, sendo rapidamente espalhado por todo o continente.
Figura 4. Hortaliça-fruto: melão, pertencente ao grupo inodoros (tipo amarelo), o mais cultivado no Brasil
Propriedades nutricionais e terapêuticas: O melão, assim como a melancia, é altamente nutritivo e refrescante. O melão é rico em vitaminas A, B, B2, B5 e C, sais minerais como potássio, sódio e fósforo, apresenta valor energético relativamente baixo (20 a 62 kcal/100g de polpa); é consumido in natura ou na forma de suco e como ingrediente de saladas com frutas ou outras hortaliças. O fruto maduro tem propriedades medicinais, sendo considerado calmante, refrescante, diurético e laxante. Ele é também recomendado para o controle de gota, reumatismo e problemas renais. O melão, assim como a melancia, têm alto teor de biovlafonóides, carotenoides e outros pigmentos vegetais que ajudam a proteger contra o câncer e outras doenças. Embora a polpa de melão não contenha fibras insolúveis, contém pectina, uma fibra solúvel que ajuda manter o nível de colesterol no sangue sob controle.
Cultivo: Desenvolve-se bem em lugares de clima quente e seco, com alta luminosidade. Temperaturas elevadas associadas à alta luminosidade, baixa umidade relativa e umidade do solo adequada, proporcionam as condições climáticas necessárias para a boa produtividade da cultura e para a obtenção de frutos de ótima qualidade (aumenta o conteúdo de açúcares, melhora o aroma, o sabor e a consistência dos frutos). A temperatura é o principal fator climático que afeta diretamente o meloeiro. Ela influencia no teor de açúcar (ºBrix), sabor, aroma e na consistência do fruto, fatores importantes para a comercialização e principalmente a exportação. O °brix é usado também como índice de classificação de melão de acordo com seu teor de açúcar, sendo menor que 9 ºbrix considerado como não comercializável, de 9 a 12 como comercializável, e acima de 12º brix como melão extra. Em geral, nas regiões de clima frio, o plantio de melão deve ser feito de outubro à fevereiro, enquanto que em clima ameno, de agosto à março e no clima quente, durante o ano todo, evitando-se as épocas de chuvas intensas. A temperatura ideal para o bom desenvolvimento do melão varia de 20 a 30º C. Sob baixas temperaturas (15 à 20ºC), a ramificação do meloeiro é afetada resultando em plantas pouco desenvolvidas e baixas produtividade. Em temperatura elevada acima de 35ºC, estimula a formação de flores masculinas, e especialmente quando acompanhada por ventos fortes, pode ocorrer ruptura da casca dos frutos nos pontos mais fracos. Em temperaturas abaixo de 12ºC, o crescimento vegetativo é paralisado. O meloeiro não tolera ventos frios e geadas. A combinação de alta temperatura com alta luminosidade e baixa umidade relativa favorece ao estabelecimento do meloeiro e ao aumento de produtividade com maior número de frutos de qualidade comercial. A faixa ótima de umidade relativa do ar para o desenvolvimento do meloeiro situa-se de 65% a 75%. Em condições de umidade do ar elevada promovem a formação de frutos de má qualidade e propiciam a disseminação de doenças na cultura. Os melões produzidos nessas condições são pequenos e de sabor inferior, geralmente com baixo teor de açúcares, devido à ocorrência de doenças. O melão prefere solos férteis de textura média (franco-arenoso ou areno-argilosos), soltos, profundos (80 cm ou mais) e bem drenados.
Cultivares: Dentre as variedades de melão existem seis tipos que são cultivados no Brasil em escala comercial. No Brasil, planta-se principalmente cultivares de melão do grupo Inodorus, tipo "amarelo"; entretanto, há uma tendência de mercado no aumento da demanda por melões do grupo Cantalupensis, aromáticos, com bom sabor e maior teor de açúcar (°Brix). Os melões do tipo "Pele de Sapo", "Gália" e "Charentais", são os preferidos do mercado europeu. Tipo Amarelo: Pertence ao grupo dos inodorus e é também conhecido como melão espanhol; tem casca amarela e polpa variando de branca a creme e os frutos apresentam formato redondo ovalado e são os mais resistentes ao manuseio. Pele de sapo: Pertence ao grupo dos inodorus. recebeu este nome pela coloração de sua casca; verde-clara com manchas verde-escuras, levemente enrugada e dura, com polpa creme esverdeada. Dentre os melões comercializados, é o tipo de maior tamanho. As principais cultivares estão descritas a seguir. AF-682 – cultivar híbrido tipo "amarelo", com boa tolerância ao vírus do mosaico do mamoeiro, estirpe melancia (PRSV – W) e raça 1 de oídio; os frutos tem formato elíptico, casca amarelada levemente enrugada, cavidade interna pequena, uniforme, peso médio de 1,5 kg, sabor extremamente doce e precocidade de colheita em torno de 75 dias após a semeadura. AF-646 - cultivar híbrido tipo "amarelo", com boa tolerância ao vírus do mosaico do mamoeiro, estirpe melancia (PRSV – W) e raça 1 de oídio; os frutos tem formato elíptico, casca amarelada levemente enrugada, cavidade interna pequena, uniforme, peso médio de 1,4 kg, sabor extremamente doce e precocidade de colheita. Gold Mine – Cultivar híbrido tipo "amarelo", muito produtivo, tendo apresentado boa tolerância em campo às raças 1 e 2 de oídio, 0, 1 e 2 de fusarium e míldio; os frutos tem formato redondo-ovalado, de cor amarelo-dourada, casca levemente enrugada, muito firme, polpa creme-esverdeada, grossa, crocante e doce, teor de açúcar médio de 10 °Brix, pequena cavidade de sementes e peso variando de 1,5 a 2,0 kg. A colheita precoce ocorre, em geral, aos 60-65 dias do plantio. Tendency – Cultivar híbrido tipo pele de sapo recém lançada, plantas vigorosas e abundante cobertura foliar que protege os frutos de queimaduras causadas pelo sol, além de alta produtividade; apresenta alta qualidade de frutos, sendo o formato redondo/ovalado, peso médio de 1,3 kg, casca enrugada, coloração verde com manchas verde-escuras e amarelas, polpa espessa e crocante de coloração creme-verde-clara, pequena cavidade de sementes, excelente sabor e alto ºbrix com precocidade de colheita aos 55-60 dias. Honeydew – Cultivar de polinização aberta (andromonóica), boa conservação pós-colheita, recomendada para o mercado de exportação dos Estados Unidos, principalmente; colheita tardia entre 70 e 80 dias, produzindo frutos sem odor, casca bem lisa de coloração branco-creme brilhante, formato globular, peso médio de 1,5 kg, polpa esverdeada, suculenta, de textura fina e doce. Uma característica do tipo honeydew é que o fruto não se destaca da rama como em outros tipos necessitando o corte com tesoura. Hy-Mark – Cultivar híbrido, tipo Cantalupensis, muito produtivo, com alto pegamento de frutos; os frutos de formato levemente ovalado/arredondado, peso entre 1,4-1,5 kg, com casca reticulada, sem suturas e polpa de cor salmão muito forte, pequena cavidade de sementes, sabor muito doce e muito aromático. Altamente resistente a oídio raça 1 e tolerante a aplicação de enxofre. A maturação ocorre aos 62-67 dias, aproximadamente, acompanhada do início de desprendimento do pedúnculo.
Adubação e correção do solo: de acordo com a análise do solo e do adubo orgânico; o melão é muito exigente na correção da acidez do solo, comportando-se melhor quando o pH estiver entre 6,0 e 7,5. O preparo do solo deve constar de uma aração média, em torno de 30 cm de profundidade, e uma gradagem feita no sentido perpendicular. Deve-se evitar o destorroamento excessivo do solo, deixando-se os torrões que servem para fixação das gavinhas e, ainda, reduzem a área de contato do fruto com a superfície do solo, diminuindo, portanto, a formação da "mancha de encosto". Esta mancha, quando acentuada, deprecia a qualidade comercial do melão. Outra opção que tem a vantagem de diminuir a infestação das plantas espontâneas, cobrir o solo , melhorar a fertilidade do solo e ainda manter a umidade do solo é o consórcio com adubos verdes (ver as recomendações no cultivo da melancia e também a matéria "Cultivo orgânico de hortaliças-frutos: Parte I). Os frutos não devem ficar em contato com o solo, meio que facilita o ataque de pragas e doenças, além de manchas brancas, que também podem surgir na casca do melão, por isso, o consórcio com adubos verdes é recomendável.
Espaçamento e plantio: em pequenas áreas, as medidas para a cultura do melão são de 2 metros entre fileiras e de 0,3 a 0,5 m entre plantas (10.000 a 16.666 plantas/ha). Os produtores que cultivam áreas extensas, com alto nível de tecnologia, têm adotado espaçamento de 2,0 a 3,0 metros entre fileiras e de 0,12 a 0,50 metro dentro das fileiras (duas a oito plantas/m linear), deixando, normalmente, uma planta por cova. Assim como a melancia, o melão normalmente é semeado diretamente nas covas. No entanto, devido ao preço das sementes híbridas e também aos maiores cuidados e mão-de-obra necessárias neste sistema de plantio, cada vez mais tem sido preferido a produção de mudas em recipientes (bandejas de isopor, tubetes, copinhos de papel) protegidas por abrigos, para posterior transplante (ver na matéria "Cultivo orgânico de hortaliças-frutos: parte I" como fazer as mudas). É necessário ter cuidado para não passar do momento exato do transplantio, que não deve exceder o período da emissão da primeira folha definitiva (15 dias após semeadura). Para a semeadura direta é necessário 1 a 1,5 kg/ha de sementes.
Irrigação: gotejamento é o sistema mais utilizado no cultivo do meloeiro nas principais regiões produtoras; consiste na aplicação de água através de gotas próximas às raízes das plantas. As vantagens do sistema de gotejamento são a economia de água, mão-de-obra e alta eficiência. A desvantagem é o alto custo de instalação em relação aos outros sistemas, como também, possíveis problemas de entupimento dos gotejadores. O cultivo de melão necessita ser irrigado com frequência, mas deve ser feito até três dias antes da colheita para aumentar os açúcares nos frutos.
Polinização: As flores masculinas e femininas localizam-se separadamente na mesma planta. Cada flor permanece aberta apenas por um dia. A abertura ocorre de uma a duas horas após o aparecimento do sol e o fechamento, à tarde. A polinização é realizada por abelhas, normalmente pela manhã. A presença de abelhas durante a fase de florescimento é fundamental para o pegamento dos frutos e conseqüentemente aumento da produtividade e para diminuir o número de frutos defeituosos. Estresses hídricos e problemas de polinização são as principais causas de frutos mal formados.
Poda: Diante de resultados de pesquisa realizada pela Embrapa Semi-Árido, não recomenda-se fazer a prática da poda, tendo como desvantagens a elevação dos custos de produção, além de facilitar a disseminação do vírus (PRSV-w) durante a operação da poda, não sendo observado aumento da produtividade de frutos. A operação de raleio, desbaste ou raleamento de frutos é uma prática efetuada com a finalidade de melhorar o tamanho e a qualidade dos frutos produzidos. Recomenda-se a eliminação dos frutos mal formados o mais cedo possível (o tamanho máximo é quando o fruto está do tamanho de uma bola de tênis). Outras causas são em decorrência de pragas, doenças, formato ou cicatriz estilar grande. O manejo de plantas espontâneas pode ser feito através de cultivos mecânicos ou a tração animal entre linhas e manualmente (enxada) entre as plantas, tantas vezes quantas forem necessárias para manter a cultura sem a competição das plantas espontâneas. Com o desenvolvimento das plantas, as capinas devem ser manuais (enxada) e localizadas, para evitar o manuseio das ramas. O sistema de plantio de melão consorciado com adubos verdes, evita a infestação de plantas espontâneas, além de outras vantagens. Calçamento dos frutos é uma prática comum no interior de São Paulo. Consiste em calçar o fruto com dois pedaços de bambu, palha ou capim seco, para não haver o contato direto dos frutos com o solo, evitando o apodrecimento dos mesmos (principalmente na época chuvosa, na fase próxima à colheita), em decorrência de pragas, tais como broca das hastes e broca das cucurbitáceas. Essa prática reduz, também, a mancha de encosto. O calçamento dos frutos seria ideal, porém, torna-se impraticável quando se cultiva áreas extensas.
Manejo de doenças e pragas do melão: em geral, as recomendações para a melancia também vale para o melão; ver na matéria postada anteriormente "Cultivo orgânico de hortaliças-frutos: Parte I", o manejo de algumas pragas e doenças com produtos alternativos que não comprometem o meio ambiente.
Rotação de culturas: seguir as mesmas recomendações da cultura da melancia.
Colheita: O ideal, considerando-se o aspecto do teor de açúcares e sabor, é a colheita de frutos completamente maduros. Entretanto, neste estágio, os frutos são recomendáveis apenas para a comercialização em mercados locais. Como o melão não contém amido (que é convertido em açúcar), ele não continua a amadurecer após ser colhido; portanto, o melão colhido antes de estar totalmente maduro nunca atinge o seu melhor sabor. Para selecionar um melão maduro, procure na área do talo uma cicatriz lisa e ligeiramente funda. Se houver esta marca quer dizer que o melão está maduro, sendo arrancado facilmente do pé. No entanto, se parte da haste ainda estiver presa à cicatriz, o melão foi colhido enquanto ainda estava verde. Para exportação, os melões do tipo "amarelo" podem ser colhidos quando iniciarem a mudança de coloração, ocasião em que deverão apresentar brix de aproximadamente 10º. Após a colheita, deve-se evitar pancadas e danos nos frutos, que depreciam a qualidade comercial e reduzem o período de conservação. Os frutos são colhidos manualmente, com auxílio de uma faca. Normalmente, os melões do grupo Inodorus (amarelos) tem uma maior conservação que os do grupo Cantalupensis (tipo reticulado).
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