Melancia
Originária da África Tropical, a melancia (Citrullus lanatus L.) tem a forma selvagem encontrada em muitas regiões de clima tropical e subtropical, sendo o fruto redondo e pequeno. A espécie pertence a família das curcubitáceas, assim como a abóbora, moranga, pepino, chuchu e melão. É uma planta rasteira, com folhas grandes e flores pequenas, de cor amarela. O fruto é arredondado ou alongado, com tamanho variável entre 25 e 75cm. A casca é lisa, lustrosa, verde clara ou verde escura, com estrias de um verde mais forte no sentido do comprimento (Figura 1). A planta tem caule rasteiro e ramificado. As folhas são ovais, subdivididas em três lobos, apresentando estruturas em espiral, presas ao caule, denominadas "gavinhas". A polpa é abundante com cor que varia de branco-rósea, amarelada, avermelhada ou purpúrea, com as sementes avermelhadas ou pretas. Há uma variedade de melancia, conhecida como melancia japonesa ou kodama, que tem polpa amarela.
Figura 1. Hortaliça-fruto: melancia
Propriedades nutricionais e terapêuticas: Embora constituída em sua maior parte de água, com pouquíssimas calorias (25 a 30 kcal em 100g), a melancia é nutritiva, pois fornece vitaminas A e C, e sais minerais como o cálcio, fósforo, ferro e potássio. A melancia, assim como o melão, têm alto teor de biovlafonóides, carotenoides e outros pigmentos vegetais que ajudam a proteger contra o câncer e outras doenças. A melancia contém licopeno, um carotenoide que parece reduzir o risco de câncer de próstata. Em geral, a melancia é consumida ao natural, como sobremesa, principalmente no verão. Com sua polpa é possível fazer um excelente suco. Tem propriedades hidratantes (contém cerca de 90% de água). Essa polpa é, também, bastante aquosa, sendo a proporção de água ainda superior à dos melões. Em situações de extremo calor, nada melhor do que uma melancia fresca para repor os líquidos perdidos pela transpiração. Sem dúvida nenhuma, esta é a melhor ocasião e maneira de saboreá-la. Por esse motivo, a melancia é uma das frutas mais refrescantes existentes, superando o melão, por ser menos indigesta. As sementes da melancia são um alimento de grande valor, pois contêm muitos sais minerais, vitaminas, óleos essenciais e proteínas, que são muito importantes para o organismo das pessoas. Sementes cruas e secas, depois de moídas e peneiradas, formam um pó que pode ser misturado a alimentos como massas, sopas, bolos, biscoitos e cuscuzes. O chá das sementes da melancia, secas e trituradas, ajuda no tratamento da pressão alta. O suco, feito com a polpa da melancia, é muito bom, pois elimina o ácido úrico, causador da gota e impede a formação de pedras nos rins; limpa o estômago e os intestinos; ajuda a controlar a pressão alta; diminui a acidez do estômago, conhecida como queima ou azia; ajuda no tratamento da inflamação das vias urinárias; elimina gases e dores intestinais; ajuda no tratamento da bronquite crônica; ajuda no tratamento do reumatismo e da artrite (inflamação nas articulações ou juntas). Para tratar a erisipela (inflamação aguda da pele), deve-se aplicar suco da polpa e da casca da melancia sobre a parte afetada, como cataplasma. A hortaliça ainda permite exercitar a criatividade, conforme pode ser visto nas Figuras 2 e 3.
Figura 2. Arte culinária, utilizando a melancia
Figura 3. Arte culinária, utilizando a melancia
Cultivo: A melancia, como todas as espécies que pertencem a família das cucurbitáceas, não gosta do clima frio, por isso produz melhor no calor e com bastante luz. Agosto e setembro são os meses aconselhados para o plantio no litoral; o ideal é observar a temperatura da região, pois a semente não germina em temperatura inferior a 18ºC. Ao invés do semeio direto no campo, recomenda-se a produção de mudas em copinhos de papel (ver na matéria "Cultivo orgânico de hortaliças-frutos: parte I" como fazer) ou bandejas de isopor, utilizando-se substrato de boa qualidade e protegidas em abrigo. Este sistema diminui as perdas ou falhas no campo, melhora a uniformidade do estande e permite um melhor controle fitossanitário e manejo das plantas espontâneas. Além disso, os riscos de perdas de plantas devido ao frio excessivo (as plantas não toleram geadas), praticamente não existe, pois as mudas estão protegidas.. Semeia-se 3 sementes por copo e realiza-se o desbaste quando as plantas apresentarem uma folha definitiva, deixando-se 2 mudas por copinho. As mudas devem ser transplantadas quando não houver risco de geadas e tiverem duas folhas e, no máximo no início de surgimento da terceira folha verdadeira. A melancia, embora possa ser produzida em vários tipos de solos, desenvolve-se melhor em solos de textura média, arenosos, profundos, bem drenados e férteis. Deve-se evitar os solos argilosos por serem muito compactados, principalmente nas épocas de seca.
Preparo do solo: No Rio Grande do Sul, a melancia é cultivada em solos arenosos, onde o sistema de preparo convencional com aração e gradagens, é o mais usado. O preparo convencional do solo favorece a perda de umidade, tendo em vista que a cultura da melancia não forma um dossel vegetativo capaz de cobrir inteiramente o solo. O solo deve ser preparado com cerca de 2 meses de antecedência com uma aração (apenas superficial) e gradeação, deixando-se alguns torrões de terra para dar sustentação à planta. Em área com boa topografia, deve-se fazer sulcos em duas direções, formando um xadrez; já em terrenos acidentados recomenda-se fazer os sulcos em apenas uma direção, evitando-se, assim, a erosão. O sistema de Plantio Direto ou Semeadura Direta que consiste na manutenção da palha e restos vegetais sobre a superfície do solo, também é recomendado no cultivo de melancia; neste caso, a mobilização do solo ocorre apenas no sulco onde são distribuídas as sementes ou mudas e o adubo orgânico. No Rio Grande do Sul, a principal espécie usada como planta de cobertura no período de inverno é a aveia-preta, devido as seguintes características: rusticidade, a capacidade de perfilhamento, a resistência às pragas e doenças, rapidez na formação da cobertura do solo e a elevada produção de fitomassa, mesmo nos solos pobres em fertilidade, bem como a tolerância à seca, em vista do sistema radicular bastante desenvolvido, eficiência na ciclagem de nutrientes, baixa taxa de decomposição dos resíduos e o elevado efeito alelopático sobre muitas invasoras.
Cultivares e híbridos: Os cultivos comerciais de melancia no Brasil são com cultivares de origem americana ou japonesa, que se adaptaram bem às nossas condições edafoclimáticas. No entanto, deve-se considerar que entre estas, a mais plantada é a cultivar Crimson Sweet e tipos semelhantes, que é de origem americana, respondendo praticamente por mais de 90% do fornecimento ao mercado consumidor. A indústria de sementes tem, nos últimos anos, se dedicado ao desenvolvimento de híbridos de melancia, por causa do seu maior retorno comercial aos programas de melhoramento, o que pode ser verificado pelo grande número de cultivares lançadas em todo o mundo tais como: Jetstream, Madera, Starbrite, TopGun entre outros. Os híbridos, cujas sementes são mais caras, geralmente possuem maior precocidade, produtividade e maior uniformidade. Mais recentemente, estão surgindo as melancias sem sementes como os híbridos Tiffany e Shadow; o alto custo das sementes é um fator limitante. Embora os híbridos sejam produtivos, recomenda-se a cultivar Crimson Sweet pelo custo mais barato das sementes e com produtividade semelhante, conforme resultados de pesquisa obtido pela Epagri/Estação Experimental de Urussanga, na propriedade de agricultor em Içara. Os frutos da cultivar Crimson Sweet tem formato arredondado, casca clara com estrias verde-escuro, polpa vermelho intenso muito doce, sendo os frutos de tamanhos médio e grande.
Espaçamento: As covas devem ter no máximo 3 cm de profundidade, no espaçamento de 2 x 2 metros para as variedades japonesas e, de 2 x 2,5 ou 2,5 x 3 metros para as variedades americanas. Após lançar as sementes, deve-se cobrir com terra e cerca de 30 dias depois do plantio, realizar o desbaste, onde as mudas mais fracas são retiradas, ficando somente as vigorosas. O desbaste é feito no sistema de plantio com sementes, quando as plantas apresentarem três a quatro folhas definitivas - entre 10 e 15 dias após o plantio, de acordo com desenvolvimento das mesmas; é realizado eliminando-se as plantas mais raquíticas e mantendo-se o número de plantas por cova pré-estabelecido, de acordo com o espaçamento e a finalidade da produção de frutos. A eliminação das plantas excedentes deve ser feita, preferencialmente, por meio de corte com facas, tesouras ou canivetes. Caso se deseje fazer arranque manual, é preferível fazê-lo logo após a irrigação, para não danificar as demais plantas, ou após uma chuva, se o cultivo for de sequeiro. O desbaste deve ser realizado também com os frutos, para uma boa colheita, ficando somente aqueles mais desenvolvidos (dois por rama). As ramas da melancia crescem arrastando-se pelo solo e procuram os torrões de terra para fixarem-se; é comum ficarem enroscadas umas nas outras. O produtor deve observar e ajudar a planta a se esparramar de maneira uniforme, desembaraçando, sem feri-la.
Condução das ramas ou penteamento: Essa prática consiste no afastamento das ramas para fora dos sulcos de irrigação e das faixas do terreno reservados ao trânsito. Esta operação deve ser feita até três vezes antes da frutificação. Além de facilitar as capinas, as pulverizações e a colheita, evita o apodrecimento dos frutos causado pelo contato com água ou por danos mecânicos. O penteamento, após a frutificação, deve ser evitado, pois pode causar o seu desprendimento. É importante planejar o plantio de maneira que a direção dos ventos facilite o posicionamento das ramas de melancia, evitando-se, assim, o desgaste das plantas por sucessivas operações de penteamento ou movimentação pelos ventos.
Polinização: As flores masculinas e femininas de melancia localizam-se separadamente na mesma planta. Cada flor permanece aberta por apenas 1 dia; a abertura ocorre 1 a 2 horas após o aparecimento do sol e, o fechamento, à tarde. As abelhas são os principais agentes polinizadores em melancia, que é uma espécie alógama. A polinização das flores no dia da antese, normalmente, ocorre pela manhã. A presença de abelhas durante a fase de florescimento é fundamental para aumentar a frutificação e a produtividade, melhorando a qualidade dos mesmos e reduzindo o número de frutos defeituosos. Desbaste de frutos: devem ser eliminados todos os frutos defeituosos e com podridão estilar (fundo preto) pois, além de as plantas direcionarem energia para frutos que não serão comercializados, a presença dos mesmos inibirá o pegamento de outros frutos de qualidade na planta.
Proteção da parte inferior e posicionamento na vertical dos frutos: Recomenda-se evitar o contato direto dos frutos com o solo, principalmente em épocas chuvosas. Os frutos devem ser calçados com palha de arroz, capim seco ou similar evitando-se o apodrecimento de frutos e a mancha de encosto, o que melhora a cotação do produto no mercado. Outra prática utilizada para melhorar o formato e a qualidade do fruto é colocá-lo na posição vertical — a região apical do fruto voltada para o solo, quando estiver com aproximadamente 20 dias após a polinização das flores. Com esta prática, a mancha de encosto ficará mais discreta, dando uma melhor aparência ao fruto.
Rotação de culturas: Depois da colheita, deve-se plantar outra cultura de espécie e família diferentes da melancia, não sendo indicados plantios de melão, abóbora, chuchu, moranga ou pepino na mesma área. O plantio sucessivo de plantas da mesma família na mesma área favorece o ataque de pragas e doenças e, consequentemente, diminui a produção e a qualidade dos frutos. O coquetel vegetal é a mistura de diferentes espécies, normalmente leguminosas e gramíneas, cultivadas antes da espécie a ser plantada ou entre as linhas da cultura principal. Sua utilização tem importância por melhorar a diversidade de espécies na área reduzindo as pressões dos patógenos oportunistas que se encontram no local. Além disso, o uso do coquetel vegetal, principalmente com leguminosas, permite a fixação de nitrogênio no solo e transporte de nutrientes de camadas inferiores para camadas superiores, pela ação dos diferentes sistemas radiculares presentes, melhorando química, física e biologicamente o solo da área. Se o produtor optar por incorporar o coquetel visando à fertilização adicional do solo - leguminosas, é importante fazê-lo com um mínimo de antecedência de 50 dias da data prevista para o plantio da melancia. Caso seja para formar uma densa camada de cobertura morta com gramíneas-, o corte das plantas poderá ser feito próximo ao plantio da melancia, tomando-se o cuidado de fornecer nitrogênio suficiente nas covas, na forma de compostos orgânicos, torta de mamona, biofertilizantes, etc., evitando-se uma competição com as bactérias decompositoras, que atuarão sobre a palhada.
Cobertura morta: Espécies de gramíneas possuem baixa velocidade de decomposição da parte aérea e, apesar de suas raízes ocuparem o espaço mais superficial do solo, a parte aérea se mantém por mais tempo sobre o mesmo, formando cobertura morta (mulch), muito recomendado em regiões quentes e secas como no Semiárido nordestino. Também contribuirá no manejo de plantas espontâneas e evitará a formação da mancha de encosto dos frutos. Manejo de doenças e pragas da melancia: Além das recomendações relacionadas na matéria postada no dia 31/10/2012 "Cultivo orgânico de hortaliças frutos - Parte I", outras práticas culturais são importantes, entre as medidas gerais no manejo de doenças e pragas da melancia:
a) escolher a área de plantio não contaminada por doenças do solo e fazer rotação de culturas por 3 anos;
b) evitar o plantio próximo à áreas cultivadas com melancia e outras espécies da família das cucurbitáceas;
c) plantio de sementes ou mudas produzidas por empresas idôneas;
d) adubar corretamente, de acordo com a análise do solo e do adubo orgânico, pois as plantas bem nutridas são mais resistentes às pragas e doenças;
e) irrigar de forma correta, evitando o excesso de água o solo, pois favorece às doenças;
f) controlar os insetos que provocam ferimentos nas plantas, servindo de porta de entrada para as doenças (bactérias, fungos e viroses);
g) eliminar os frutos e plantas doentes da área para evitar a transmissão para as plantas sadias
h) eliminar os restos culturais após a última colheita.
Colheita: A colheita é feita cerca de 100 dias após plantio Quando as flores abrirem, elas indicam que aproximadamente 40 a 45 dias, os frutos estarão no ponto para serem colhidos. Mas há outros meios que identificam os frutos maduros:
a) Ao bater com dedos no fruto e este emitir um som oco, está maduro (som metálico, ainda está verde);
b) O fruto fica pálido e a casca está mais resistente a pressões;
c) A gavinha próxima ao pendúnculo fica seca;
d) A parte da casca que fica em contato com o solo, que antes era branca, fica amarelada.
Colher os frutos maduros nas primeiras horas do dia, cortando o pendúnculo com uma faca afiada, à cerca de 5 cm da fruta, para evitar a penetração de fungos que apodrecem a melancia durante a armazenagem. Devem ser armazenadas deitadas, nunca em pé, e como não são colocadas em caixas, todo o cuidado é necessário ao transportá-las. No caminhão, a carroceria deve ficar forrada com 10 cm de capim seco, e as bordas protegidas. Também entre uma camada e outra, é recomendado proteger os frutos com palha ou saco de estopa. Não se aproveita os frutos rachados ou cortados durante o transporte. Fora da geladeira, a melancia se conserva bem durante uma semana, se guardada em lugar fresco e arejado. Depois de cortada, deve ser conservada na geladeira, envolvida em plástico ou papel alumínio, para evitar que absorva o odor de outros alimentos.
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