google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL

ANUCIOS

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Agricultura Orgânica vs Agricultura Convencional (Adubação Orgânica)



A adubação orgânica, ao contrário da adubação química, torna as plantas mais resistentes às pragas e doenças, protege e melhora a vida do solo, ajuda a restaurar a biodiversidade, mantém e melhora a fertilidade do solo ao longo do tempo e, ainda produz frutas e hortaliças mais saborosas e nutritivas.

    O que é adubação orgânica? a prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um "organismo vivo". A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e nutrientes. Os organismos vivos do solo fazem a transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo. A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus que é o resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais.

Vantagens da adubação orgânica comparada à adubação química
Além de reduzir o custo de produção dos alimentos, a adubação orgânica não coloca em risco o meio ambiente, a saúde das pessoas e, ainda melhora a vida no solo e aumenta a resistência das plantas às doenças, pragas e aos climas adversos (secas, chuvas intensas). Dentre as inúmeras vantagens da adubação orgânica, destacam-se:

Aumento da capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 grama de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo, contribuindo para diminuir as oscilações de temperatura do solo durante o dia;

aumento da população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo e associados às raízes das plantas, fixando nitrogênio e melhorando a capacidade das raízes absorverem nutrientes do solo;
possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel em água);

promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, aumentando a retenção de água, enquanto que nos solos argilosos torna-os mais soltos e arejados, melhorando a penetração das raízes e a oxigenação do solo. A adubação orgânica auxilia também no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e, ainda diminui a compactação do solo;

a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);

possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.

 Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita).


    As vantagens da adubação orgânica quando comparada à adubação química, não param por aí! A adubação orgânica ajuda a restaurar a biodiversidade. Essa diversidade é o princípio básico da agricultura orgânica, contribuindo para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e das plantas cultivadas. O uso crescente e exagerado dos adubos químicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado e, em conseqüência, este modelo favoreceu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras e uma série de outros problemas. No cultivo orgânico é muito importante a diversificação da paisagem geral da propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A adubação verde, seja o plantio isoladamente ou em consórcio e até o cultivo consorciado com as culturas econômicas, é muito importante para manter o equilíbrio biológico e ambiental da propriedade.
    A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita. Estudos sobre os efeitos do sistema de cultivo nos teores de matéria seca, vitaminas, sais minerais e outros elementos, mostraram a superioridade dos alimentos produzidos no sistema orgânico - sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos, utilizando-se práticas sem riscos ao meio ambiente (Tabela 1 e 2). 

      
              Tabela 1 - Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional.

Tabela 2. Conteúdo de sais minerais nos alimentos orgânicos (maçã, batata, pera, trigo e milho).

    Outras práticas tais como plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.

Principais fontes de matéria orgânica
    De maneira bem simples e direta, a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É constituída de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos, restos de cultivos que ficam no campo, palhadas, folhas, cascas e galhos de árvores, raízes das plantas e animais que vivem no solo; podem estar vivos, como os pequenos animais ou já em decomposição, como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura. As hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. As principais fontes são:
Composto orgânico : é o adubo ideal para ser utilizado na agricultura orgânica e, o que é melhor, não polui o meio ambiente e, ainda pode ser produzido na própria propriedade (Figura 2). Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas e, ainda reduz a acidez do solo, ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar e acidificar o solo e contaminar os rios. Mas as vantagens do composto não param por aí! devido a temperatura alta que alcança no processo da compostagem (até 65ºC), durante a fermentação, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas ("mato") não sobrevivem. Os passos e os cuidados para fazer o composto orgânico na propriedade, estão em matéria mais antiga postada neste blog em 29 de dezembro de 2010.

Figura 2. Compostagem feita na Estação Experimental de Urussanga, utilizando-se cama de aviário e capim elefante anão.

Adubação verde: é uma das maneiras de cultivar e tratar bem o solo, princípio básico da agricultura orgânica. O que é? consiste no cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa vegetal, semeadas em rotação, sucessão e até em consórcio com culturas de interesse econômico (Figura 3, 4 e 5 ). 
Principais vantagens da adubação verde: produz alimento para os microorganismos úteis do solo, melhorando a vida e a estrutura do solo; protege o solo das adversidades climáticas e erosão; Fixa o nitrogênio do ar no solo (leguminosas –mucuna e outras); traz nutrientes do fundo do solo para a superfície (reciclagem); auxilia no manejo de plantas espontâneas (abafamento/alelopatia); manejo de pragas e doenças(rotação/quebra do ciclo/inimigos naturais); ajuda na descompactação do solo através das raízes; melhora a estrutura do solo tornando-o mais solto e arejado; melhoria da infiltração e retenção de água no solo; onde há pouco esterco é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica.
Estercos de animais: os estercos curtidos de aves e de gado são os mais utilizados na adubação orgânica, devido a disponibilidade. São importantes fontes de nutrientes, mas não melhoram as condições físicas do solo; especialmente o de aves, quando em excesso (mais de 2 kg/m2 por ano), pode salinizar e aumentar a acidez do solo. A aplicação de esterco, em fase de fermentação (frescos), por ocasião do plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das fontes de águas, contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas e ainda serem fontes de sementes de plantas espontâneas. A integração agricultura e pecuária é muito recomendado na agricultura orgânica, pois além de disponibilizar o esterco, possibilita o repouso de parte da área e, o mais importante, favorece a rotação de culturas com outras espécies (pastagens) mais resistentes às doenças e pragas. No entanto, recomenda-se cuidado, ao adquirir esterco de outras propriedades, especialmente, se houver o uso de herbicidas, pois poderá afetar a lavoura ou horta. Para melhor aproveitamento dos estercos de aves e de gado, recomenda-se: a) abrigá-lo da chuva; b) curtir por cerca de 90 dias; c) fazer compostagem, pois são juntados outros materiais tais como as palhadas, restos de culturas e etc. ao esterco.
Quando é preciso fazer adubação orgânica ? é mais fácil e rápido "perder" matéria orgânica do que "ganhar": o preparo intensivo do solo acelera a decomposição da matéria orgânica. Para manter o solo produtivo ao longo do tempo é necessário que se adicione matéria orgânica com freqüência, com base na análise do solo. Ideal: a cada cultivo, adicionar matéria orgânica ao solo.

Mito: a prática da adubação verde em propriedades pequenas é inviável porque diminui ainda mais a área disponível para o cultivo de espécies que trazem retorno econômico.
A prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga no mundo inteiro. Aqui no Brasil, foi muito utilizada até a década de 1970. Nesta época, com o aumento do uso da adubação química, houve uma redução no uso de adubação verde e, em pequenas propriedades, foi até esquecida, pois a área disponível para o plantio das espécies cultivadas tornava-se ainda menor. O conceito mais antigo de adubação verde era o cultivo de uma espécie (normalmente uma leguminosa) para ser incorporada ao solo na véspera do cultivo principal. Com o advento das práticas de plantio direto e cultivo mínimo, este conceito evoluiu, pois nestas práticas as plantas não são incorporadas ao solo, mas permanecem sobre o mesmo, protegendo-o no cultivo seguinte (Figura 3) ou até mesmo como cobertura viva, consorciado (Figuras 4 e 5) com os cultivos econômicos.

Figura 3. Milho-verde e mucuna (adubo verde verão) consorciados: ótima opção para adubação verde no verão, cobertura do solo para evitar erosão, rotação de culturas, manejo de plantas espontâneas e ainda possibilitar o cultivo mínimo de hortaliças, no final de inverno e início de primavera.

   Figura 4. Adubos verdes de inverno (aveia+ ervilhaca+ nabo forrageiro) consorciados com o tomateiro.

Figura 5. Adubos verdes de inverno (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro) consorciados com brássicas.









quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Agricultura Orgânica x Agricultura Convencional parte 4 (Solos)



A agricultura convencional ou "moderna", onde predomina a utilização intensiva e exagerada da mecanização, dos agrotóxicos e adubos químicos solúveis, associados ao monocultivo e à erosão do solo, tem conduzido a maioria dos solos a um processo de degradação, aumentando a compactação e reduzindo a vida do solo, e o que é pior, contaminando o meio ambiente e, colocando em risco a saúde do homem e das futuras gerações. Por outro lado, na agricultura orgânica o solo deve ser tratado como um "organismo vivo", pois na natureza tudo está ligado entre si como os órgãos de um corpo. O solo faz parte do meio ambiente e está ligado a todos os seus outros componentes (água, plantas, animais e o homem). Tudo que acontece com o solo tem algum reflexo positivo ou negativo, no ambiente do qual faz parte. Em apenas uma grama de solo vivem, pelo menos, alguns milhões de seres vivos que dependem de como é tratado o solo e, que sofrem com as agressões do homem.
   O revolvimento do solo não combina com agricultura orgânica: em regiões de clima tropical e subtropical, predominantes no Brasil, o trator equipado com arado, grade, escarificador e, principalmente a enxada rotativa, contribuem para desagregar e compactar cada vez mais o solo, causando rápida decomposição da matéria orgânica em quantidades maiores do que a reposição e, em conseqüência, diminuindo a produtividade. Além disso, as chuvas intensas e freqüentes, cada vez mais comum, associada aos declives dos terrenos, causam grande perdas de solo (erosão) assoreando os rios e, contribuindo para as enchentes (Figura 1).

Figura 1. A erosão e a compactação do solo é uma das principais causas da degradação do solo devido ao revolvimento exagerado do solo associado às chuvas cada vez mais freqüentes e intensas, especialmente em terrenos inclinados.

   O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são importados. Em outras palavras, o revolvimento do solo não combina com o uso sustentável da terra em nosso país; somente se justifica em algumas situações específicas para algumas culturas mais exigentes no preparo do solo e, principalmente, quando houver a necessidade de corrigir a acidez e a fertilidade do solo e, especialmente, em países onde o solo permanece coberto por neve em longos períodos do ano.
  O que é manejo agroecológico do solo? é a forma de cultivar e tratar corretamente o solo como um "organismo vivo", ou seja, priorizando a manutenção de cobertura vegetal, a adubação orgânica e o revolvimento mínimo do solo, entre outras práticas. O manejo adequado do solo proporciona o aumento da resistência das culturas às pragas, doenças e adversidades climáticas (estiagens e chuvas intensas). Por outro lado, o revolvimento exagerado do solo, associado à utilização indiscriminada de agroquímicos, tem provocado, cada vez mais, o surgimento de doenças e pragas e, o que é pior, a contaminação de alimentos, solo e água, bem como a intoxicação de animais e agricultores.
   Como é feito o plantio das hortaliças sem revolver o solo? recomenda-se o plantio direto ou cultivo mínimo, utilizando cobertura vegetal no solo tais como adubos verdes, palhadas e, até as plantas espontâneas ("mato"); a principal vantagem é o fato do solo estar sempre pronto para o plantio, mesmo em períodos chuvosos. Neste sistema, basta fazer uma roçada com foice ou roçadeira manual (áreas menores) ou trator com roçadeira (áreas maiores); após deve-se abrir as covas ou sulcos, mantendo a linha de plantio no limpo e roçando, sempre que necessário, nas entrelinhas. Muitos acreditam que o plantio direto está vinculado ao uso de herbicidas, o que não é verdade. Recomenda-se o cultivo mínimo das hortaliças no final do inverno e primavera sobre coberturas de adubos verdes de inverno (ex.: aveia, ervilhaca,nabo forrageiro), semeados isoladamente ou em consórcio ou ainda sobre adubos verdes de verão (ex.: mucuna) e até sobre plantas espontâneas. O plantio direto sobre áreas com cobertura morta (palhada de milho, arroz, aveia, feijão ou capins), disponível na propriedade, é outra opção.
   Que hortaliças podem ser cultivadas sem revolver o solo? as hortaliças que utilizam espaçamentos maiores, o suficiente para permitir capinas nas linhas de plantio, bem como roçadas nas entrelinhas. Resultados de pesquisa comprovam que o tomate, milho-verde, aipim, batata-doce, cebola, alho, repolho, couve, couve-flor, brócolis, feijão-vagem, abóbora, abobrinha, moranga, melancia e pepino, podem serem cultivados, sem revolvimento do solo (Figuras 2,3,4,5,6,7, 8 e 9).

 Figura 2. Fase inicial de desenvolvimento do tomate e milho-verde em cultivo mínimo sobre cobertura ( consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 3. Fase intermediária de desenvolvimento do tomate e milho-verde em cultivo mínimo sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

Figura 4. Cultivo mínimo de brássicas sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 5. Fase inicial de desenvolvimento do aipim em cultivo mínimo sobre cobertura (consórcio) de adubos verdes de inverno (aveia + ervilhaca+ nabo forrageiro)

 Figura 6. Fase inicial de desenvolvimento da batata-doce em cultivo mínimo sobre cobertura de aveia

 Figura 7. Fase inicial do desenvolvimento de brássicas (repolho, couve-flor e brócolis) em cultivo mínimo sobre cobertura de plantas espontâneas ("mato")

 Figura 8. Plantio direto de repolho sobre cobertura morta de palha de milho

 Figura 9. Plantio direto de couve-flor sobre cobertura morta de palha de arroz






 

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Agricultura Orgânica x Convencional parte 3 (Adubação)



  A utilização intensiva de corretivos e adubos químicos solúveis, associado ao uso exagerado da mecanização, de agrotóxicos, ao monocultivo e à erosão, conduziram a grande maioria dos solos a um processo de degradação (formação de uma camada superficial compactada, redução da matéria orgânica e da atividade biológica do solo), aumentando os problemas nutricionais das plantas. O manejo inadequado do solo torna as lavouras cada vez mais exigentes em insumos e, em geral menos produtivas e, o que é pior, com alto custo de produção, pois a maioria dos agroquímicos são caros e importados. Além disso, para piorar, a agricultura convencional ou dita "moderna" ao retirar do solo vários nutrientes, devolve na forma de adubos químicos, apenas NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Outros macronutrientes, bem como os micronutrientes, exigidos em quantidades reduzidas, mas também essenciais para o equilíbrio do solo e das plantas, não são repostos pela agricultura convencional. Além disso, os adubos químicos, altamente solúveis, bem como os agrotóxicos, associados ao revolvimento exagerado do solo em áreas inclinadas, acabam contaminando os rios devido a erosão. Mas os problemas do cultivo convencional não param por aí! Os adubos químicos acidificam o solo, tornando a prática da calagem necessária, no mínimo a cada 5 anos, aumentando ainda mais o custo de produção dos alimentos.

Um dos motivos pelos quais os adubos químicos podem poluir o meio ambiente, é porque alguns deles são hidrossolúveis, isto é, dissolvem-se na água, fato que acarreta três conseqüências:

uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas causando expansão celular (as membranas celulares ficam mais finas), fazendo com que aumente muito seu teor de água. Conseqüentemente as plantas ficam mais suscetíveis a pragas e doenças, além de menos saborosas e com seu teor nutritivo empobrecido; outra parte (muitas vezes a maior parte) é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das chuvas e regas, indo poluir rios, lagos e lençóis freáticos, causando juntamente com os despejos de esgotos, a eutrofização dos corpos aquáticos - que é a morte de um rio ou lago por asfixia, pois os excessivos nutrientes além de estimularem um crescimento excessivo das algas, roubam para se degradarem, o oxigênio da água.

Há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados (como a uréia e o sulfato de amônio) que sob a forma de óxido nitroso pode destruir a camada de ozônio da atmosfera.

    Vários tipos de fertilizantes químicos, geralmente os mais usados, são violentos acidificadores do solo, além de serem biocidas (destruidores da microvida do solo). A utilização dos adubos químicos, dos defensivos agrícolas e das sementes híbridas forma um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria. As sementes ditas melhoradas necessitam mais adubação para se desenvolverem. A utilização do adubo torna as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. E se tem que utilizar cada vez mais adubos e

defensivos para manter o nível desejável de produção.  O uso de adubos químicos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em forma livre, ao contrário da adubação orgânica onde os aminoácidos formam cadeias complexas, não estando disponível às pragas.

Os adubos químicos tornam as plantas cultivadas mais sensíveis às pragas e doenças!
    As hortaliças estão sujeitas a uma série de micróbios e insetos que causam danos às plantas. Os micróbios (bactérias, fungos, nematóides e vírus), quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas.
Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou (Chaboussou, 1987). A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelas pragas, ocorre maior ataque. Por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pragas causarão menos danos. Os adubos químicos solúveis, especialmente os nitrogenados como a uréia, e os agrotóxicos através do estímulo a um processo chamado proteólise, promovem a formação de substância orgânicas simples na seiva das plantas, tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. É importante destacar que além das adubações com nutrientes altamente solúveis, outros fatores relacionados estão relacionados com o tipo de substância predominante na seiva das plantas: clima, estádio de desenvolvimento da planta, aplicações de agrotóxicos e estimuladores de crescimento. A deficiência ou excesso de um nutriente influencia significativamente a atividade dos outros elementos e o metabolismo da planta. Adubações desequilibradas deixam as plantas mais susceptíveis às pragas e doenças. Excesso de N ou carência de K e Ca diminuem a resistência da parede celular, facilitando a penetração dos microrganismos e o ataque de pragas. Por isso, antes de nos preocuparmos em curar as plantas através de pulverizações com produtos químicos ou alternativos, devemos nos preocupar com a saúde do solo. A resistência das plantas às pragas e doenças é favorecida por uma nutrição equilibrada que promova a formação de substâncias complexas na seiva das plantas (proteossíntese). Os insetos, principalmente os sugadores, os fungos, as bactérias, os vírus e outros, causadores de danos aos cultivos, possuem baixa capacidade para utilizarem substâncias complexas no seu metabolismo, necessitando absorver substâncias mais simples para seu crescimento e reprodução.
     O manejo agroecológico do solo visa buscar o equilíbrio do solo. Quanto maior o número de práticas adotadas tais como adubação orgânica e verde, cultivo de plantas de cobertura do solo, manejo de restos culturais e plantas espontâneas, rotação e consorciação de culturas, entre outras, menor será o tempo para que o solo entre em equilíbrio. Com estas práticas aumenta-se a matéria orgânica do solo, melhorando a vida no solo e, em conseqüência, as plantas cultivadas apresentam maior resistência à secas, pragas e doenças, além de maior competição com as plantas espontâneas e, além disso, melhora o valor nutricional, o sabor e a conservação dos alimentos.

Além de contaminar o meio ambiente, os adubos químicos prejudicam a saúde das pessoas!
   O uso de adubos nitrogenados (ex.:uréia), provoca o acúmulo de nitratos e nitritos nos tecidos das plantas. O nitrato ingerido passa a corrente sanguínea e reduz-se a nitritos que, combinado com aminas, forma as nitrosaminas, substâncias cancerígenas. O uso exagerado de adubos nitrogenados (uréia e outros) pode causar a metaemoglobinemia em crianças; doença resultante da ingestão de nitritos que reagem com a hemoglobina, reduzindo a sua capacidade de carregar oxigênio.

   O aumento rápido do teor de nitrato nas plantas é a conseqüência mais conhecida do crescente aporte de adubos químicos nitrogenados, utilizados na agricultura convencional, para aumentar rapidamente a produtividade de hortaliças de folhas como a alface, couve, agrião, chicória etc. Porém, o uso excessivo deste fertilizante associado à irrigação freqüente, faz com que ocorra acúmulo de nitrato (NO3-) e nitrito (NO2-) nos tecidos de plantas. Resultados de pesquisa do teor de nitrato em alface revelaram que no cultivo orgânico, cultivo convencional e cultivo hidropônico são acumulados 565,4; 2782,1 e 3.093,4 mg/kg, respectivamente. Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o índice máximo de ingestão diária admissível de nitratos é de 5 mg/kg de peso vivo e 0,2 mg/kg para nitritos. Ou seja: uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica, por 1 dia, já estará atingindo a dose máxima de nitratos permitida. Já no sistema orgânico esta mesma pessoa poderia comer mais de 50 folhas.

As desvantagens no uso dos adubos químicos não param por aí! encarecem os cultivos (de junho/2007 a maio/2008 o reajuste foi de 120%) e tornam o solo ácido; os produtores ficam dependentes dos insumos que são, na maioria, importados e caros; ao serem rapidamente absorvidos pelas raízes das plantas, aumentam muito o teor de água e, as plantas ficam mais susceptíveis às pragas e doenças e, os alimentos produzidos, menos nutritivos (aguados).
Trabalho de pesquisa conduzido na Estação Experimental de Urussanga, SC, revelou a importância da adubação orgânica no aumento do teor de matéria seca nos tubérculos de batata. Alto teor de matéria seca é um dos pré-requisitos para produção de batata-palha, "chips" e batata palito de boa qualidade. Conforme mostra a Figura 1, quando aplicou-se somente adubo orgânico à base de turfa, obteve-se o maior teor de matéria seca nos tubérculos (23,5%); por outro lado, quando utilizou-se somente adubo químico, alcançou-se o menor teor de matéria seca (21,5%). 


  Figura 1. Efeitos da adubação química e orgânica sobre o teor de matéria seca nos tubérculos da cultivar de batata Catucha.
Resultados de pesquisa que comparou o valor nutritivo de hortaliças cultivadas com esterco de animais compostado e com adubação química, revelou a superioridade do cultivo orgânico em percentagens que variaram de 10 até 77% (Tabela 1).

Tabela 1. Hortaliças cultivadas com esterco animal compostado (adubo orgânico) são mais nutritivas quando comparadas às cultivadas com adubos químicos.

    Trabalho de pesquisa realizado na Polônia que avaliou a qualidade nutritiva e sensorial de cenouras e repolhos de plantações orgânicas e convencionais, revelou que nos dois vegetais estudados, a colheita orgânica tinha melhor sabor e melhor qualidade no toque. As principais diferenças de qualidade eram que os orgânicos tem um nível de nitrato muito menor e um sabor e um perfume muito maior. Alem disso repolho orgânico contem mais vitamina C, mais Potássio e menos Cálcio do que o repolho convencional , enquanto que a cenoura orgânica contem menos nitritos do que na colheita convencional. Paladar e perfume foram muito melhores em cenouras orgânicas e em repolho do que nos vegetais convencionais, sendo as diferenças significantes. Os autores ainda concluíram que os vegetais orgânicos foram melhores do que convencionais de acordo com as exigências alimentares para crianças e deveriam ser recomendados para a alimentação de bebês.




sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Agricultura Convencional x Agricultura Orgânica - parte 2



O interesse das empresas em tornar o produtor dependente de insumos, a maioria importados e caros, depois de divulgar o mito de que a agricultura orgânica é de alto risco cara e mais trabalhosa, matéria recentemente postada neste blog, foi ainda mais longe; criaram mais um mito: "A agricultura orgânica, além de reduzir a produtividade, proporciona produtos orgânicos de padrão comercial inferior e inadequado às exigências dos consumidores".A literatura existente, embora ainda escassa, tem mostrado que não é verdade. A Epagri, através de pesquisas realizadas na Estação Experimental de Urussanga, SC, comparando o desempenho de diversas hortaliças nos sistemas de produção orgânico e convencional, revelou que os alimentos produzidos no cultivo orgânico não deixam nada a desejar quanto a produtividade e aparência e, ainda com melhor qualidade. A seguir, serão apresentados os resultados de destaque obtidos nas principais hortaliças (Tabela 1).


Tabela 1. Produtividade das hortaliças: cultivo orgânico x convencional 


Obs.: Média de 3 safras (2004/05, 2005/06 e 2006/07

Cultivo de batata 

   Embora neste cultivo não tenha sido comparado a produtividade nos dois sistemas de produção, os resultados obtidos em propriedades de produtores no litoral sul catarinense, a partir de 2000, mostraram a viabilidade do cultivo orgânico de batata, validando resultados de pesquisa obtidos na Estação Experimental de Urussanga. Na média das safras, alcançou-se produções totais de até 24,1 t/ha. Considerando-se que a média obtida no sistema de produção convencional é de cerca de 15 t/ha, verifica-se pelos resultados a viabilidade técnica e econômica do cultivo orgânico e, o que é melhor, com alto valor agregado e, o mais importante, sem comprometer a saúde das pessoas e o meio ambiente. É importante ressaltar, no entanto, que o sucesso no cultivo orgânico deve-se ao uso de cultivares de batata altamente resistentes às doenças da folhagem. Destacaram-se as cultivares Epagri 361 - Catucha, lançada em 1995 e, mais recentemente, a SCS 365 – Cota (Figura 1), primeira cultivar registrada para o cultivo orgânico, lançada pela Epagri em 2008.

 Figura 1. Cultivo orgânico de batata na Estação Experimental de Urussanga: " SCS 365 Cota (cultivar catarinense) x Ágata (cultivar holandesa mais plantada no Brasil), completamente dizimada pela requeima.

    Quanto ao aspecto comercial, observou-se que as cultivares apresentaram tubérculos com aparência razoável a boa quanto à uniformidade e película, e poucos danos de pragas do solo.

Qualidade da batata processada: cultivo orgânico x convencional
Com relação ao teor de matéria seca dos tubérculos obtidos, um dos principais requisitos para industrialização, especialmente na forma de batata-palha (Figura 2), "chips" (Figura 2) e fritas, destacaram-se as cultivares Epagri 361- Catucha e SCS 365 - Cota, com 20,6% e 20,7%, em média, respectivamente.

Figura 2. Tubérculos, batata-palha e "chips" da batata Cota, 1ª cultivar de batata catarinense registrada para o cultivo orgânico

   Outro trabalho de pesquisa realizado na Estação Experimental de Urussanga com a cultivar Catucha, evidenciou que o uso de matéria orgânica à base de turfa aumentou significativamente a percentagem de matéria seca dos tubérculos, quando comparado ao uso de apenas adubos químicos. Ao se comparar a batata Catucha industrializada na forma de palitos pré-fritos congelados, produzida em dois sistemas de produção, verificou-se que a cultivada no sistema orgânico apresentou qualidade superior em relação à obtida no cultivo convencional. 
  Avaliando-se os parâmetros físico-sensoriais da batata Catucha, produzida em dois sistems de produção, após processamento na forma de palitos, verificou-se a superioridade do cultivo orgânico na qualidade do produto final (Tabela 2).
Tabela 2. Parâmetros físico-sensoriais da batata Catucha, após processamento na forma de palitos.


Avaliação feita por oito degustadores.
Fontes: CCA/UFSC Depto. De Ciência e Tecnologia de Alimentos

Cultivo de tomate
   O cultivo de tomate a céu aberto, devido à maior susceptibilidade a doenças e pragas, tem sido apontado como o maior desafio no sistema de produção orgânico. Quando se compararam os sistemas de produção constatou-se que eles foram semelhantes quanto ao rendimento de frutos, alcançando 49,0 e 52,2t/ha nos cultivos orgânico e convencional, respectivamente. Em relação a aparência dos frutos, verificou-se que os produzidos no sistema de produção orgânico, não deixam nada a desejar, quando comparados aos obtidos no sistema convencional (Figura 3).

Figura 3. Qualidade dos frutos de tomate, cultivar Santa Clara, produzidos no cultivo orgânico, na Estação Experimental de Urussanga, no plantio de agosto/2004

Efeito de produtos alternativos no manejo da requeima do tomateiro sob cultivo orgânico
   Ao estudar novos produtos alternativos visando ao manejo da requeima no tomateiro, pesquisadores da Estação Experimental de Urussanga, no plantio de inverno/primavera, época mais favorável para a cultura no Litoral, em condições normais de clima, alcançaram produtividades de até 75t/ha de frutos comerciais (o rendimento médio no sistema convencional em SC é cerca de 51t/ha). Em relação à incidência da requeima, verificou-se que a calda bordalesa (0,5%) apresentou boa eficiência no manejo (Figura 4). Os demais tratamentos foram ineficientes no manejo da doença.

 Figura 4. Manejo da requeima do tomateiro com calda bordalesa (sem aplicação [esq.] e com aplicação [à dir.])

Qualidade de frutos de tomate: cultivo orgânico x convencional
    Ao se comparar a produção de frutos não comerciais, constatou-se que o cultivo orgânico proporcionou a metade de frutos brocados e cinco vezes menos frutos com podridão apical (Figura 5) em relação ao sistema convencional respectivamente (Tabela 3). O efeito repelente da calda bordalesa à broca pequena devido ao sulfato de cobre e a adubação orgânica com composto orgânico, rico em cálcio, explicam, em parte, os resultados obtidos. Convém salientar que no sistema convencional foi utilizado fertilizantes químicos como o nitrato de cálcio em adubações de coberturas, mas não foi aplicado nenhum produto à base de cobre.

Tabela 3. Número de frutos com podridão apical e brocados produzidos nos dois sistemas de produção.


Cultivo de cebola 
  Ao se comparar os sistemas de produção, verificou-se produtividade e qualidade semelhantes (Figura 6) nos cultivos orgânicos (20,9 t/ha) e convencional (21,0 t/ha), adotando-se a prática de rotação de culturas.

Figura 6. Bulbos de cebola, cultivar Empasc 352 – Bola Precoce, produzidos nos sistemas de produção orgânico e convencional

Cultivo de cenoura
   Dentre as hortaliças, a cenoura é uma das que possuem menor limitação para produção tanto no sistema convencional como no orgânico. A existência de cultivares resistentes ao sapeco, normalmente, reduz os danos causado pela doença. Em relação às pragas, praticamente nenhuma causou danos econômicos. Quando foram comparados os sistemas de produção, constatou-se que os rendimentos obtidos de raízes comerciais de cenoura foram semelhantes nos sistemas de cultivo convencional (44,8t/ha) e orgânico (45,4t/ha).
Em relação a qualidade e aparência das raízes, o cultivo orgânico (Figura 7) não deixou nada a desejar, quando comparado com o cultivo convencional.

Figura 7. Raízes de cenoura, cultivar Brasília, produzidas no sistema de cultivo orgânico

Cultivo de alface
   Quando se compararam os sistemas de produção, quanto ao rendimento de cabeças de alface, constatou-se que o cultivo orgânico com 17,6 t/ha (Figura 8) foi superior ao convencional (15,9t/ha) em 10 %. Quanto a qualidade, não houve diferenças nos dois sistemas.

 Figura 8. Alface, cultivar Regina, no ponto de colheita, produzida no sistema de produção orgânico (canteiros acima) e convencional (canteiros abaixo)

Cultivo de couve-flor
    Quando se compararam os sistemas de produção no cultivo de couve-flor, observou-se que o sistema convencional (15,8t/ha) foi ligeiramente superior ao orgânico (16,4t/ha) na média de três anos, no plantio de verão/outono. No entanto, em outra pesquisa conduzida somente no sistema de cultivo orgânico, alcançou-se até 27,0/ha e com ótima qualidade (Figura 9).

Figura 9. Híbrido Barcelona Ag-324, produzido no cultivo orgânico.

Cultivos de repolho e brócolis
   Embora não tenha sido comparado o desempenho das hortaliças repolho e brócolis nos diferentes sistemas de produção, verifica-se pelos resultados obtidos no cultivo orgânico, a viabilidade técnica e econômica neste sistema de cultivo, alcançando ótima qualidade e produtividades de até 63,1 e 21,6 t/ha (Figuras 10 e 11), respectivamente.

 Figura 10. Repolho produzido no cultivo orgânico

Figura 11. Brócolis produzido no cultivo orgânico

Conclusões gerais 
   É importante ressaltar que embora algumas culturas pesquisadas como couve-flor e cebola ainda tenham produzido um pouco menos no sistema orgânico, quando comparado ao convencional, a evolução do rendimento nos últimos anos indicou que a tendência é não haver diferenças significativas, em função da melhoria da fertilidade do solo. É importante ressaltar que mesmo ocorrendo alguma perda na produtividade no sistema orgânico, ela é compensada pela redução das despesas com o uso de agroquímicos utilizados no cultivo convencional e pelo maior valor do produto orgânico em função da grande demanda por alimentos sadios e, o mais importante, não compromete a saúde das pessoas e o meio ambiente.
   Convém destacar que, embora a rotação de culturas não tenha sido eficiente no aumento da produtividade de algumas espécies como alface, couve-flor e cenoura, recomenda-se essa prática como se fosse um investimento no terreno. Mesmo que não traga retorno econômico imediato, a rotação de culturas garante uma fertilidade do solo mais duradoura, proporcionando sustentabilidade e menor dependência de insumos. A inclusão de outras espécies com diferentes sistemas radiculares e necessidades nutricionais em esquemas de rotação de culturas para hortaliças favorece a reciclagem de nutrientes e uma adubação equilibrada das plantas.






segunda-feira, 16 de julho de 2018

Agricultura Orgânica ou Convencional



Mito : O sistema de produção orgânico é caro e mais trabalhoso que o cultivo convencional  

  Apesar da agricultura orgânica só ter vantagens em relação ao sistema de produção convencional (uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos e outras práticas), foram criados alguns mitos. A seguir comentaremos sobre os mitos e verdades sobre a agricultura orgânica e agricultura convencional ou "moderna".
Este mito foi criado e divulgado pelo mundo por interesses de inúmeras empresas, visando a venda de fertilizantes químicos e agrotóxicos aos produtores. É muito comum os vendedores empurrarem aos produtores insumos, muitas vezes, sem necessidade, tornando-os dependentes destes que são caros, pois a grande maioria são importados e, o que é pior, aumentando o custo de produção e contaminando o meio ambiente. Trabalho de pesquisa realizado pela Epagri em todo o Estado de Santa Catarina e em outros estados tem comprovado que este mito criado não é verdadeiro. Pelo contrário, os resultados de pesquisa obtidos evidenciaram que o cultivo orgânico de hortaliças é mais barato e menos trabalhoso e, o que é melhor, torna o produtor menos dependente de insumos, pois pode prepará-los na própria propriedade e, o mais importante, sem riscos ao produtor, consumidor e meio ambiente e, ainda proporcionando maior lucro devido ao valor agregado dos alimentos orgânicos.

Resultados de pesquisa 
Ainda nos dias atuais, grande número de pessoas ligadas à agricultura sustentam a idéia de que não é possível produzir alimentos sem o uso de adubos químicos solúveis e agrotóxicos. A literatura existente, embora ainda escassa, tem mostrado que a crença de que a agricultura orgânica é cara e mais exigente em mão-de-obra não é verdadeira. A Epagri, por meio das Estações Experimentais em todo o Estado de Santa Catarina, tem contribuído com trabalhos de pesquisa visando a produção de hortaliças no sistema orgânico com resultados promissores. A Estação Experimental de Urussanga, SC, a partir de 2000, concentrou esforços em pesquisas com base agroecológica em hortaliças, especialmente no cultivo de batata e,posteriormente, nas culturas de cebola, tomate, repolho, couve-flor, brócolis, cenoura, alface, beterraba, batata-doce e feijão-de-vagem, com o objetivo de verificar a viabilidade técnica e econômica do cultivo orgânico. A seguir, serão apresentados os resultados de destaque obtidos na batata, cebola e tomate, as hortaliças mais exigentes em adubação e mais sensíveis às pragas e doenças e, por isso, as espécies que apresentam maior custo de produção com insumos.
Obs.: o custo de produção com adubação e tratamentos fitossanitários nos cultivos da batata, tomate e cebola foram calculados com base nos preços destes insumos no final de 2008.

Cultivo de Batata 
Custo dos insumos: no cultivo convencional, em um sistema de produção relativamente tecnificado, são realizadas, normalmente, 12 a 15 pulverizações, incluindo fungicidas de contato e sistêmicos, além de inseticidas, quando necessário, com um custo aproximado de R$1.050,00/ha, enquanto no sistema orgânico 10 pulverizações com calda bordalesa (0,5%) para o manejo de doenças foliares e três aplicações com óleo vegetal de nim (0,5%) para o manejo de insetos, totalizando em torno de R$ 600,00/ha, normalmente, são suficientes durante o ciclo da cultura. Em relação à adubação, o custo no sistema orgânico é de cerca de 250,00/ha no caso de o produtor adquirir o esterco de aves, ao passo que no cultivo convencional alcança R$ 1.180,00/ha. Portanto, o custo de produção dos insumos (adubos e tratamentos fitossanitários), que pode representar até 25% do custo total da batata, é cerca de apenas uma terça parte no sistema orgânico, quando comparado ao convencional.

Figura 1. Cultivo orgânico de batata em propriedade de agricultor, em Treze de Maio, SC.

Exigência em mão-de-obra: não observou-se diferenças significativas quanto à exigência de mão-de-obra nos dois sistemas de produção. É importante, tanto no sistema de produção orgânico como no convencional, escolher áreas pouco inçadas para evitar o aumento no número de capinas. Normalmente, uma capina por ocasião da amontoa, é suficiente para o bom desenvolvimento da cultura. Em áreas muito inçadas recomenda-se a rotação de culturas com espécies de alta produção de massa verde tais como as leguminosas no verão e as gramíneas no inverno. A rotação e, especialmente, a consorciação de culturas com culturas como milho e mucuna é uma ótima opção para áreas muito inçadas (Figura 2).

Figura 2. Consórcio milho x mucuna: ótima opção para rotação e consorciação por possuírem resistência às pragas e doenças, grande capacidade de melhorar a fertilidade e cobrir rapidamente o solo, inibindo a presença de plantas espontâneas, fixando o nitrogênio do ar e reciclando nutrientes do solo devido ao sistema radicular profundo.
  
Cultivo de Tomate
Custo dos insumos: o cultivo de tomate a céu aberto, devido à maior susceptibilidade a doenças e pragas, tem sido apontado como o maior desafio no sistema de produção orgânico. A doença da parte aérea denominada requeima (Phytophthora infestans) pode arrasar uma lavoura em poucos dias, caso não seja tratada com produtos eficientes. Normalmente, no sistema convencional de produção de tomate, são recomendadas em torno de 15 pulverizações para o controle de doenças foliares e de insetos-pragas (broca-pequena, traça e vaquinha), totalizando o custo de cerca de R$ 1.360,00/ha. Por outro lado, o custo no cultivo orgânico com tratamentos fitossanitários para o manejo das doenças
foliares com calda bordalesa (0,5%) e de insetos com dipel e óleo de nim (0,5%) pode alcançar R$ 1.000,00/ha. Em relação à adubação, o custo no sistema convencional e orgânico alcançou R$ 3.000,00 e R$ 1.100,00/ ha, respectivamente. Portanto, os gastos com insumos (adubos e tratamentos fitossanitários) no cultivo orgânico representam a metade em relação ao sistema convencional.
Exigência em mão-de-obra: a exemplo da batata, também no cultivo de tomate, não há exigências diferentes de mão-de-obra entre os dois sistemas de produção. No entanto, em relação à implantação da lavoura, no sistema de produção orgânico a exigência pode ser menor, pois não há o preparo do solo e as capinas são feitas apenas na linha de plantio. Recomenda-se o cultivo mínimo das mudas de tomate sobre adubos verdes de inverno (Figura 3), mantendo-se apenas a linha de plantio no limpo e as entrelinhas, quando necessário, roçadas. Mantendo-se uma cobertura no solo, não há infestação de plantas espontâneas, evita-se a erosão do solo, os nutrientes são menos lixiviados (a fertilidade é mais duradoura) e, ainda há o melhoramento das condições físicas, químicas e biológicas do solo e um acréscimo no teor de matéria orgânica no solo.

Figura 3. Cultivo mínimo de tomate no final do inverno sobre adubos verdes (aveia + ervilhaca) semeados no outono.

Cultivo de Cebola 

Custo dos insumos: a cultura da cebola, a exemplo da batata e do tomate, também é uma das mais exigentes em insumos (adubos e tratamentos fitossanitários). As doenças da parte aérea (sapeco e mancha-púrpura) e o tripes (inseto-praga) são os que mais limitam a produção de cebola, em especial o cultivo orgânico. Ao se analisar o custo com insumos, verifica-se, a exemplo das culturas da batata e do tomate, menor gasto no cultivo orgânico. No sistema de produção convencional foram utilizadas em torno de 15 pulverizações para o controle de doenças foliares associadas com três aplicações de inseticidas para o controle de tripes, totalizando em torno de R$ 760,00/ha, enquanto no orgânico foram necessárias em torno de 10 pulverizações com calda bordalesa (0,5%) para o manejo de doenças e duas pulverizações com óleo de nim (0,5 %) para o manejo de tripes, totalizando R$ 540,00/ha. Em relação à adubação no sistema convencional o custo chegou a R$ 900,00/ha, enquanto no orgânico alcançou R$750,00/ ha. Portanto, o custo dos insumos (adubos e tratamentos fitossanitários) no cultivo orgânico é de 30% a menos em relação ao sistema convencional.

Figura 4. Cultivo orgânico de cebola

Exigência em mão-de-obra: tendo em vista que no cultivo orgânico de cebola é proibido o uso de herbicidas, é muito importante escolher áreas pouco inçadas para evitar o aumento no número de capinas. Em áreas muito inçadas recomenda-se a rotação de culturas com espécies de alta produção de massa verde tais como as leguminosas no verão e as gramíneas no inverno. A rotação e consorciação de culturas com culturas como milho e mucuna é uma ótima opção para áreas muito inçadas. O cultivo mínimo de cebola sobre áreas semeadas com adubos verdes de inverno tais como a aveia (Figura 5), ervilhaca e adubos de verão como a mucuna ou até mesmo o consórcio milho x mucuna (Figura 2), também são ótimas opções, pois além de inibirem as plantas espontâneas, reduzindo o número de capinas, melhoram a vida e fertilidade do solo e, ainda diminui a erosão e mantém a umidade do solo.

Figura 5. Cultivo mínimo de hortaliças sobre cobertura de aveia

Manejo de doenças e pragas
Mesmo no cultivo orgânico podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de insetos-pragas ou patógenos nocivos em níveis incontroláveis. Esses fatores podem ser chuvas ou secas excessivas, mudas ou sementes de baixa qualidade, tratamentos com agrotóxicos agressivos nas propriedades vizinhas, uso de cultivares não adaptadas, solos degradados e adubações desequilibradas. Recomenda-se no cultivo orgânico que o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente para não provocar o desequilíbrio do sistema. Por isso, os produtos alternativos recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, mesmo que a grande maioria não cause riscos ao homem ou ao ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários. Neste caso, deve-se recorrer às caldas protetoras (Figura 6), aos preparados de plantas e outros produtos alternativos recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, visando ao manejo de doenças e pragas em hortaliças.
Obs.: A utilização de alguns dos preparados, bem como outros produtos alternativos, é baseada em trabalhos de pesquisa em determinadas condições edafoclimáticas, outros são resultados de experiências de técnicos e agricultores. Por isso, recomenda-se sempre que o agricultor teste o produto alternativo em pequena área de cultivo e observe os resultados.
Calda bordalesa: A calda possui baixo impacto ambiental sobre o homem e os animais. O cobre presente na calda bordalesa é pouco tóxico para a maioria dos pássaros, abelhas e mamíferos, porém é tóxico para peixes. A aplicação de caldas não tem o objetivo de erradicar os insetos e os microrganismos nocivos, mas proteger as plantas e ativar o seu mecanismo de resistência. Essas caldas podem ser preparadas na propriedade, reduzindo significativamente o custo de produção. A calda bordalesa é o resultado da mistura simples de sulfato de cobre e cal virgem diluídos em água. É recomendada como fungicida para manejo preventivo de doenças fúngicas e bacterianas e também pode atuar como repelente de muitos insetos.
Obs.: As doenças de hortaliças geralmente ocorrem em condições de alta umidade do ar. Portanto, quando as condições do ambiente forem favoráveis às doenças, devem-se fazer aplicações semanais. Caso contrário, pulverizar a cada quinzena ou a cada mês. Embora a calda bordalesa seja tolerada no cultivo orgânico, é muito importante respeitar o prazo de carência, pois é um fungicida; após a última aplicação, fazer a colheita dos produtos somente depois de 7 dias.
Vantagens:• Forma camada protetora contra doenças e pragas;• Possui alta resistência à lavagem pelas águas de irrigação ou chuvas;• Aumenta a resistência da planta à insolação;• Promove a resistência da planta e dos frutos; • Melhora a conservação e a regularidade de maturação e aumenta o teor de açúcares;• Tem baixo impacto ambiental sobre o homem e os animais domésticos;• É um dos fungicidas mais baratos e eficientes (Figura 7).

Figura 6. Preparo da calda bordalesa na Estação Experimental de Urussanga
(para ver, passo a passo, como preparar e os principais cuidados para obter a calda bordalesa, consultar matéria antiga já postada neste blog em 06 de janeiro de 2011)

  Figura 7. Tratamento fitossanitário do tomateiro na Estação Experimental de Urussanga:
sem calda (à esquerda) e com calda (à direita)

Efeito do composto orgânico na fertilidade do solo 

O uso de composto no cultivo orgânico de hortaliças na Estação Experimental de Urussanga (Figura 8), durante o período de 2002 a 2007, melhorou consideravelmente a fertilidade do solo, quando comparado ao sistema convencional (uso de adubos químicos), conforme análise do solo realizada anualmente. Na média dos três últimos anos (2005,2006 e 2007), os valores do pH (índice SMP), pH (água), P, K, matéria orgânica, Ca e Mg encontrados no solo, sob cultivo orgânico, foram superiores aos obtidos no cultivo convencional. Pelos resultados obtidos, o pH no cultivo orgânico manteve-se estável na média dos últimos três anos, ao contrário do sistema convencional, que necessitou novamente em 2007 de correção da acidez do solo (a primeira calagem foi efetuada em 2001). O uso de compostagem no cultivo orgânico (matéria orgânica estabiliza) explica esses resultados.

Figura 8. Composto orgânico produzido na Estação Experimental de Urussanga

Um composto de qualidade satisfatória deve conter: 1,0% de Nitrogênio; 0,6% de Fósforo e 0,8%de Potássio. O composto orgânico obtido na Estação Experimental de Urussanga (Capim elefante anão + cama de aviário) alcançou até: 2,9% de Nitrogênio; 3,2% de Fósforo e 2,6% de Potássio. Obs.: a matéria mais antiga postada neste blog em 29 de dezembro de 2010 mostra, passo a passo, como fazer o composto orgânico e os principais cuidados para obter um adubo natural de ótima qualidade.

Conclusões gerais
O cultivo orgânico é uma boa opção de renda aos produtores, pois além de agregar maior valor aos produtos através do sistema de produção, reduz o custo de produção com insumos que podem ser preparados na propriedade, proporcionando maior autonomia do produtor, que não fica dependente de insumos importados cada vez mais caros. É importante destacar que no período de 12 meses (junho/2007 a maio/2008), os fertilizantes e os agrotóxicos que o Brasil importa, em sua grande maioria (cerca de 70%) tiveram um aumento de 120% e 70%, respectivamente.
Convém destacar, ainda, que, havendo na propriedade a integração da agricultura com pecuária, o custo do adubo no sistema orgânico é ainda mais barato e, o mais importante, ainda melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo, tornando a fertilidade mais duradoura.Essa vantagem, ao longo dos anos, poderá ser ainda maior, pois no cultivo orgânico a fertilidade do solo é mais duradoura em relação ao convencional.
Ao se comparar o uso da mão de obra nos sistemas de produção, observa-se que, para as culturas estudadas, praticamente não há diferenças significativas quando são aplicadas todas as técnicas recomendadas. Atualmente existe uma resistência por parte dos agricultores em utilizar composto orgânico devido ao maior uso de mão-de-obra no preparo e aplicação quando comparado à adubação química. No entanto, os resultados obtidos na Estação Experimental de Urussanga têm mostrado que a quantidade necessária de composto utilizado no cultivo orgânico é maior apenas no início. Posteriormente, seu uso é cada vez menor por causa da maior estabilidade do composto e menor lixiviação quando comparado ao sistema convencional, além de melhorar a vida do solo e manter por mais tempo a fertilidade em relação a macro e micronutrientes. Além disso, o uso do composto orgânico corrige naturalmente a acidez do solo, ao passo que no sistema convencional, periodicamente, poderá haver necessidade de aplicação de calcário demandando mão-de-obra e recursos financeiros. Caso o composto orgânico seja aplicado em quantidade excessiva, sem análise do solo e do composto, poderá haver também salinização do solo e contaminação do meio ambiente. No entanto, convém ressaltar que, mesmo utilizando o composto orgânico,este deve ser aplicado com base na análise do solo, pois tanto a falta como o excesso podem desequilibrar o solo e as plantas, favorecendo a ocorrência de doenças e pragas e afetando a qualidade das hortaliças.