A adubação orgânica, ao contrário da adubação química, torna as plantas mais resistentes às pragas e doenças, protege e melhora a vida do solo, ajuda a restaurar a biodiversidade, mantém e melhora a fertilidade do solo ao longo do tempo e, ainda produz frutas e hortaliças mais saborosas e nutritivas.
O que é adubação orgânica? a prática da adubação orgânica é uma forma de tratar bem o solo, ou seja, como um "organismo vivo". A vida no solo só é possível onde há disponibilidade de ar, água e nutrientes. Os organismos vivos do solo fazem a transformação química dos nutrientes, tornando-os disponíveis para absorção pelas raízes das plantas. De maneira simples e direta, pode-se dizer que a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É a matéria orgânica que dá a cor escura aos solos; em solo muito claro, aparentemente sem vida, "fraco", é provável que o teor de matéria orgânica seja muito baixo. A vida do solo depende da matéria orgânica que mantém a sua estrutura porosa (fofa), sem compactação, proporcionando a vida vegetal graças à entrada de ar, água e nutrientes. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos de animais, restos de culturas, palhadas, capins, folhas, raízes das plantas, animais que vivem no solo e tudo mais que se decompõe, transformando-se em húmus que é o resultado da ação de diversos microrganismos sobre os restos animais e vegetais.
Vantagens da adubação orgânica comparada à adubação química
Além de reduzir o custo de produção dos alimentos, a adubação orgânica não coloca em risco o meio ambiente, a saúde das pessoas e, ainda melhora a vida no solo e aumenta a resistência das plantas às doenças, pragas e aos climas adversos (secas, chuvas intensas). Dentre as inúmeras vantagens da adubação orgânica, destacam-se:
Aumento da capacidade do solo em armazenar água, diminuindo os efeitos das secas. Um solo com bom teor de matéria orgânica funciona como se fosse uma esponja, sendo que 1 grama de matéria orgânica retém 4 a 6 gramas de água no solo, contribuindo para diminuir as oscilações de temperatura do solo durante o dia;
aumento da população de minhocas, besouros, fungos e bactérias benéficas, além de vários outros organismos úteis, que estão livres no solo e associados às raízes das plantas, fixando nitrogênio e melhorando a capacidade das raízes absorverem nutrientes do solo;
possui macro e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel em água);
promove cimentação e agregação das partículas em solos arenosos, aumentando a retenção de água, enquanto que nos solos argilosos torna-os mais soltos e arejados, melhorando a penetração das raízes e a oxigenação do solo. A adubação orgânica auxilia também no controle à erosão (perda do solo) através do maior grau de aglutinação das partículas e, ainda diminui a compactação do solo;
a adubação orgânica aumenta a penetração das raízes e a oxigenação do solo. Possui macro (NPK, Ca, Mg e S) e micronutrientes em quantidades bem equilibradas, que as plantas absorvem conforme sua necessidade, em quantidade e qualidade. Além disso, na adubação orgânica, as perdas dos nutrientes com as chuvas intensas e frequentes são bem menores, quando comparado a adubação química (altamente solúvel);
possui substâncias de crescimento (fitohormônios), que aumentam a respiração e a fotossíntese das plantas.
Figura 1. Representação de um solo manejado no sistema convencional (esquerda) e orgânico (direita).
As vantagens da adubação orgânica quando comparada à adubação química, não param por aí! A adubação orgânica ajuda a restaurar a biodiversidade. Essa diversidade é o princípio básico da agricultura orgânica, contribuindo para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e das plantas cultivadas. O uso crescente e exagerado dos adubos químicos possibilitou a simplificação dos sistemas agrícolas, de forma que apenas uma cultura pudesse ser cultivada em determinada região para atender as necessidades locais ou as exigências de mercado e, em conseqüência, este modelo favoreceu o aparecimento de pragas, doenças, plantas invasoras e uma série de outros problemas. No cultivo orgânico é muito importante a diversificação da paisagem geral da propriedade de forma a restabelecer o equilíbrio entre todos os seres vivos da cadeia alimentar, desde microrganismos até pequenos animais, pássaros e outros predadores. A adubação verde, seja o plantio isoladamente ou em consórcio e até o cultivo consorciado com as culturas econômicas, é muito importante para manter o equilíbrio biológico e ambiental da propriedade.
A adubação orgânica melhora também a qualidade dos alimentos, tornando-os mais ricos em vitaminas, aminoácidos, sais minerais, matéria seca e açúcares, além de serem mais aromáticos, saborosos e de melhor conservação pós-colheita. Estudos sobre os efeitos do sistema de cultivo nos teores de matéria seca, vitaminas, sais minerais e outros elementos, mostraram a superioridade dos alimentos produzidos no sistema orgânico - sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos, utilizando-se práticas sem riscos ao meio ambiente (Tabela 1 e 2).
Tabela 1 - Diferença nutricional entre produto orgânico e convencional.
Tabela 2. Conteúdo de sais minerais nos alimentos orgânicos (maçã, batata, pera, trigo e milho).
Outras práticas tais como plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura no tempo.
Principais fontes de matéria orgânica
De maneira bem simples e direta, a matéria orgânica é a parte do solo que já foi ou ainda é viva. É constituída de resíduos de origem vegetal ou animal, tais como: estercos, restos de cultivos que ficam no campo, palhadas, folhas, cascas e galhos de árvores, raízes das plantas e animais que vivem no solo; podem estar vivos, como os pequenos animais ou já em decomposição, como os resíduos de plantas incorporados ao solo ou em cobertura. As hortaliças são as que mais respondem à aplicação de adubos orgânicos. As principais fontes são:
Composto orgânico : é o adubo ideal para ser utilizado na agricultura orgânica e, o que é melhor, não polui o meio ambiente e, ainda pode ser produzido na própria propriedade (Figura 2). Além de ser uma boa fonte de macronutrientes, possui micronutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas e, ainda reduz a acidez do solo, ao contrário dos adubos químicos e estercos de animais que podem salinizar e acidificar o solo e contaminar os rios. Mas as vantagens do composto não param por aí! devido a temperatura alta que alcança no processo da compostagem (até 65ºC), durante a fermentação, os microorganismos causadores de doenças das plantas e as sementes de plantas espontâneas ("mato") não sobrevivem. Os passos e os cuidados para fazer o composto orgânico na propriedade, estão em matéria mais antiga postada neste blog em 29 de dezembro de 2010.
Figura 2. Compostagem feita na Estação Experimental de Urussanga, utilizando-se cama de aviário e capim elefante anão.
Adubação verde: é uma das maneiras de cultivar e tratar bem o solo, princípio básico da agricultura orgânica. O que é? consiste no cultivo de espécies de plantas com elevado potencial de produção de massa vegetal, semeadas em rotação, sucessão e até em consórcio com culturas de interesse econômico (Figura 3, 4 e 5 ).
Principais vantagens da adubação verde: produz alimento para os microorganismos úteis do solo, melhorando a vida e a estrutura do solo; protege o solo das adversidades climáticas e erosão; Fixa o nitrogênio do ar no solo (leguminosas –mucuna e outras); traz nutrientes do fundo do solo para a superfície (reciclagem); auxilia no manejo de plantas espontâneas (abafamento/alelopatia); manejo de pragas e doenças(rotação/quebra do ciclo/inimigos naturais); ajuda na descompactação do solo através das raízes; melhora a estrutura do solo tornando-o mais solto e arejado; melhoria da infiltração e retenção de água no solo; onde há pouco esterco é a principal e mais barata fonte de matéria orgânica.
Estercos de animais: os estercos curtidos de aves e de gado são os mais utilizados na adubação orgânica, devido a disponibilidade. São importantes fontes de nutrientes, mas não melhoram as condições físicas do solo; especialmente o de aves, quando em excesso (mais de 2 kg/m2 por ano), pode salinizar e aumentar a acidez do solo. A aplicação de esterco, em fase de fermentação (frescos), por ocasião do plantio, pode causar danos às raízes e às sementes, destruição dos microrganismos do solo, formação de produtos tóxicos, morte da planta pelo calor e contaminação das fontes de águas, contaminar as partes comestíveis das plantas e causar doenças nas pessoas e ainda serem fontes de sementes de plantas espontâneas. A integração agricultura e pecuária é muito recomendado na agricultura orgânica, pois além de disponibilizar o esterco, possibilita o repouso de parte da área e, o mais importante, favorece a rotação de culturas com outras espécies (pastagens) mais resistentes às doenças e pragas. No entanto, recomenda-se cuidado, ao adquirir esterco de outras propriedades, especialmente, se houver o uso de herbicidas, pois poderá afetar a lavoura ou horta. Para melhor aproveitamento dos estercos de aves e de gado, recomenda-se: a) abrigá-lo da chuva; b) curtir por cerca de 90 dias; c) fazer compostagem, pois são juntados outros materiais tais como as palhadas, restos de culturas e etc. ao esterco.
Quando é preciso fazer adubação orgânica ? é mais fácil e rápido "perder" matéria orgânica do que "ganhar": o preparo intensivo do solo acelera a decomposição da matéria orgânica. Para manter o solo produtivo ao longo do tempo é necessário que se adicione matéria orgânica com freqüência, com base na análise do solo. Ideal: a cada cultivo, adicionar matéria orgânica ao solo.
Mito: a prática da adubação verde em propriedades pequenas é inviável porque diminui ainda mais a área disponível para o cultivo de espécies que trazem retorno econômico.
A prática da adubação verde para regenerar a fertilidade do solo é muito antiga no mundo inteiro. Aqui no Brasil, foi muito utilizada até a década de 1970. Nesta época, com o aumento do uso da adubação química, houve uma redução no uso de adubação verde e, em pequenas propriedades, foi até esquecida, pois a área disponível para o plantio das espécies cultivadas tornava-se ainda menor. O conceito mais antigo de adubação verde era o cultivo de uma espécie (normalmente uma leguminosa) para ser incorporada ao solo na véspera do cultivo principal. Com o advento das práticas de plantio direto e cultivo mínimo, este conceito evoluiu, pois nestas práticas as plantas não são incorporadas ao solo, mas permanecem sobre o mesmo, protegendo-o no cultivo seguinte (Figura 3) ou até mesmo como cobertura viva, consorciado (Figuras 4 e 5) com os cultivos econômicos.
Figura 3. Milho-verde e mucuna (adubo verde verão) consorciados: ótima opção para adubação verde no verão, cobertura do solo para evitar erosão, rotação de culturas, manejo de plantas espontâneas e ainda possibilitar o cultivo mínimo de hortaliças, no final de inverno e início de primavera.
Figura 4. Adubos verdes de inverno (aveia+ ervilhaca+ nabo forrageiro) consorciados com o tomateiro.
Figura 5. Adubos verdes de inverno (aveia+ervilhaca+nabo forrageiro) consorciados com brássicas.