google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 VIDA NATURAL: Produção sustentável de hortaliças

ANUCIOS

sábado, 8 de abril de 2017

Produção sustentável de hortaliças



INTRODUÇÃO 

Na agricultura convencional, a produção de hortaliças demanda grande quantidade de fertilizan­tes, pois geralmente as espécies olerícolas apresen­tam ciclo curto e são cultivadas o ano todo na mes­ma área, o que exaure rapidamente o solo. Cada vez que o solo é arado e gradeado, fica desestruturado. A matéria orgânica e os macro e microrganismos são expostos a condições adversas que os levam à des­truição. 
Nesses sistemas, tem ocorrido também o uso abusivo de pesticidas (agrotóxicos) para eliminar o mato (herbicidas) e controlar as pragas e as doenças das lavouras (inseticidas, acaricidas, fungicidas). Es­ses produtos, utilizados ano após ano, e muitas vezes em doses maiores que a recomendada, têm poluído o solo e os cursos d’água, e causado desequilíbrio na fauna e flora, com consequências negativas para o ambiente natural. Além disso, diversas pesquisas comprovam a intoxicação de seres humanos direta­mente (no momento da aplicação) ou indiretamente (por meio do consumo de alimentos contaminados). 
Na contramão dessa realidade, no mundo in­teiro, pessoas estão trabalhando para a consolida­ção de tecnologias de produção sustentáveis, como o plantio direto, a adubação verde, a rotação e a con­sorciação de culturas, bem como o manejo ecológico 
 de pragas e doenças. É vital que a atividade agrícola cause o menor impacto possível sobre os recursos naturais para que possa manter-se no espaço e no tempo. 

Figura 1 - Adubação verde consorciada com pimenta malagueta, milho e quiabo

ADUBAÇÃO VERDE 

A adubação verde consiste em utilizar a bio­massa fresca de vegetais para fertilizar o solo. A princípio qualquer material fresco pode ser utilizado como, por exemplo, capim cortado e plantas dani­nhas. Mas o ideal é que a biomassa contenha nu­trientes em quantidade suficiente para que a necessidade da cultura seja atendida; e, para isso, já existem plantas mais apropriadas. Além disso, algumas espé­cies vegetais acumulam mais determinados nutrien­tes que outras, como é o caso das leguminosas. Por causa da simbiose com bactérias do solo fixadoras do nitrogênio (N) atmosférico, as leguminosas acu­mulam grande quantidade desse elemento, sendo, portanto, mais indicadas quando o foco principal é a adubação nitrogenada. 
A adubação verde presta, também, outro gran­de benefício, que é o recobrimento do solo, prote­gendo-o das intempéries e auxiliando no controle das plantas espontâneas. Nesse caso específico, as espécies de adubo verde que apresentam cres­cimento indeterminado e hábito rasteiro ou prostrado são as mais indicadas, como, por exemplo, ku­dzu tropical (Pueraria phaseoloides), calopogônio (Callopogonium mucunoides), amendoim-forrageiro (Arachis pintoi), mucunas (Stizolobium spp.), feijão-de-porco (Canavalia ensiformes) e feijão-bravo-do-ceará (Canavalia ensiformes). 
Na sua forma mais tradicional, o cultivo do adubo verde é feito antes da cultura, sendo que a biomassa pode ser incorporada ao solo para que a decomposição ocorra mais rapidamente, ou pode ser deixada sobre o solo, decompondo-se mais len­tamente e cumprindo também a função de proteção. Mas ultimamente vários estudos comprovam a pos­sibilidade de consorciação de muitas culturas de in­teresse econômico com espécies de adubos verdes, como por exemplo: milho/feijão-de-porco, milho/ crotalária, pimenta/kudzu tropical, quiabo/crotalária, etc. 

ROTAÇÃO DE CULTURAS 

A rotação de culturas consiste em implantar diferentes culturas numa sequência preestabelecida
Na escolha das culturas, devem ser considera­dos os seguintes aspectos: 
a) suscetibilidade a pragas e doenças: o ideal é não utilizar espécies da mesma família botânica em sucessão, a fim de interromper o ciclo reprodutivo de pragas e patógenos; 
b) profundidade do sistema radicular: é impor­tante inserir no plano de rotação uma es­pécie com sistema radicular profundo, para que os nutrientes que estejam nas cama­das profundas sejam aproveitados, promo­vendo a reciclagem de nutrientes; 
c) porcentagem de recobrimento do solo: se a maioria das hortaliças deixa o solo exposto na maior parte do ciclo, é importante inserir na rotação espécies que protejam mais o solo, auxiliando, com isso, no manejo das plantas espontâneas; 
d) produção de matéria seca após a colheita: as hortaliças exportam muita biomassa do sistema na forma de folhas, frutos e raízes. Assim, não há reposição adequada da ma­téria orgânica do solo. 
A inserção, por exemplo, do milho-verde no plano de rotação pode contribuir para reposição da matéria orgânica do solo. O ideal é incluir um adubo verde no plano de rotação para que se tenha boa produção de biomassa. 

Figura 2 - Rotação de culturas, adubação verde consorciada
e plantio direto de hortaliças - Fazenda
Experimental Risoleta Neves (FERN), São João
del-Rei, MG

PLANTIO DIRETO 

Quando métodos convencionais de preparo e cultivo são empregados, a cada ciclo de revolvimen­to, o solo é exposto a chuvas, ventos e altas tem­peraturas, alternando períodos de umedecimento e secagem, que levam à degradação rápida da matéria orgânica. Em culturas que produzem pouco resíduo, a queda no teor de matéria orgânica do solo é muito rápida. E quanto menor o teor de matéria orgânica, menor a atividade biológica no solo. 
No Sistema Plantio Direto (SPD), o solo não é revolvido e o ideal é que fique permanentemente protegido por palha e/ou pela cultura em desenvolvi­mento. Algumas culturas podem produzir palha sufi­ciente para cobrir o solo até o próximo cultivo, como o milho, por exemplo (Fig. 2C); caso contrário, terá que ser cultivada uma espécie própria para a produ­ção de palha para o plantio direto. 
O não revolvimento preserva os agregados, diminuindo as perdas de solo por erosão hídrica e aumentando a infiltração de água; a cobertura morta aumenta a quantidade de matéria orgânica, favore­cendo a estocagem de carbono; favorece a biota e os processos biológicos, otimizando o aproveitamen­to dos fertilizantes e a reciclagem de nutrientes; di­minui a temperatura do solo. Como consequências práticas, têm-se: aumento da reserva de água no solo e redução da necessidade de irrigação; dimi­nuição das despesas com máquinas e combustível para aração/gradagem e controle do mato; aumento da produtividade. 
Algumas das espécies utilizadas para forma­ção de palha para o plantio direto são: aveia preta, nabo forrageiro, ervilhaca, mucunas, crotalárias. 

Figura 3 - Consorciação de hortaliças - Fazenda Experimental
Risoleta Neves (FERN), São João del-Rei, MG
NOTA: A - Cebolinha com rúcula,

CONSORCIAÇÃO DE CULTURAS 

A consorciação de culturas é uma boa alternativa para aumentar a produção por área, oti­mizando o uso da terra e da irrigação. Além disso, a consorciação de culturas reduz o risco de prejuízo total; ou seja, a perda, a baixa produção ou o baixo preço de venda de uma das culturas que pode ser compensado parcialmente pela venda da outra.
Resultados de pesquisas comprovam ser viá­vel agronômica e economicamente a consorciação entre várias hortaliças: alface e bardana; alface e rabanete; alface e rúcula; alface e coentro; alface e beterraba; beterraba e rúcula; cebolinha e salsa; ce­bolinha e rúcula; tomate e alface; pimentão, repolho e alface; pimentão, repolho e rabanete; pimentão, rú­cula e alface, etc. 

CONTROLE ALTERNATIVO DE PRAGAS E DOENÇAS 

As pragas e doenças podem influenciar no crescimento das plantas, causar danos nas folhas, botões florais, raízes e afetar a produtividade e a qualidade das hortaliças. 
Para o controle de pragas e doenças devem ser priorizadas técnicas que propiciem a mínima de­pendência externa de insumos, proporcionem o au­mento da biodiversidade, o baixo ou nenhum risco toxicológico e ambiental e a manutenção do sistema por longo período. 
Para um manejo eficiente das pragas e doen­ças é necessária a realização do manejo integrado de pragas e doenças, que é uma prática que envol­ve um conjunto de medidas e princípios que visam manter e/ou reduzir os níveis de pragas e doenças a limites toleráveis. Para isso, primeiramente deve-se fazer a correta identificação e o monitoramento das pragas ou doenças que estão presentes no cultivo, visando um controle adequado. As amostragens das pragas podem ser realizadas por meio da contagem dos insetos diretamente na planta, ou utilizando ar­madilhas adesivas coloridas. As armadilhas de cor amarela são eficientes na captura de pulgões, mos­cas-brancas e moscas-minadoras; as armadilhas azuis para a captura de tripes. 
A adoção de práticas de controle deverá ser utilizada somente quando as pragas e doenças atin­girem níveis elevados, capazes de causar perdas significativas no rendimento da cultura. Serão apre­sentadas a seguir algumas práticas de controle al­ternativo que visam minimizar os danos, promover a redução populacional, reduzir os prejuízos advindos do seu ataque e evitar a contaminação do ambiente pelo uso de produtos fitossanitários: 

a) controle biológico: é o uso de parasitoides, predadores e microrganismos para o con­trole de pragas e doenças. Esses inimigos naturais podem ser adquiridos e liberados no campo para controlar as pragas e do­enças no cultivo. Para controle de lagar­tas, produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis têm sido utilizados. O inseti­cida biológico à base do fungo Beauveria bassiana pode ser usado para o controle de mosca-branca, ácaro-rajado e lagartas. Trichogramma spp. é um parasitoide que tem sido utilizado para o controle da traça-do-tomateiro. Ácaros predadores, como Phytoseiulus macropilis, Neoseiulus barkeri 
e Neoseiulus californicus, têm sido utili­zados com sucesso no controle do ácaro-
rajado (Tetranychus urticae), em cultivo de alface, pepino, pimentão, pimenta, toma­te, dentre outros. No controle biológico de doenças de plantas, um produto à base de Trichoderma vem sendo comercializado e utilizado na produção de mudas para con­trolar o tombamento de plântulas em geral. 

b) Extratos vegetais: diversas espécies vege­tais apresentam ação inseticida; e o ex­trato de algumas dessas plantas tem sido usado de modo eficiente no controle de pragas e doenças, como é o caso do nim (Azadirachta indica). A azadiractina é um composto presente no nim que é tóxico a insetos, tem efeito de repelência, além de inibir a alimentação e o crescimento deles. O nim controla com eficiência lagartas, pulgões, ácaros, tripes, moscas-brancas e outros insetos. A dosagem de nim máxima, recomendada somente para casos mais severos, é de 1%. 

c) Leite cru: utilizado com sucesso no controle do oídio em várias hortaliças como pimen­tão, abobrinha, pepino, dentre outras. O lei­te cru pode ser utilizado de modo preventi­vo, diluído em água nas concentrações de 5% a 10%, uma vez por semana. 

d) Sais: bicarbonatos de sódio e potássio são efetivos no controle de oídio em tomate e pepino. Como esses sais são utilizados na alimentação humana, não apresentam problemas toxicológicos, além disso, têm custo baixo. 

e) Sabões: soluções à base de sabão têm sido utilizadas com frequência para o controle de insetos sugadores, como pulgões e co­chonilhas. 
Caso seja realmente necessário o uso de pro­dutos fitossanitários, é importante utilizar produtos eficientes contra as pragas e doenças e menos da­nosos ao ambiente. Além disso, devem ser utilizados produtos registrados para cada cultura, e os aplica­dores devem seguir corretamente as instruções do rótulo do produto e usar o equipamento de proteção individual (EPI). 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A utilização da adubação verde, do plantio direto, da consorciação e da rotação de culturas na produção de hortaliças é vital para a conservação do solo e da água, e para a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Além disso, o aumento da diversidade vegetal na área de cultivo contribui para o manejo ecológico de pragas e do­enças.
Essas práticas podem ser empregadas nos sistemas de produção convencional e agroecológico, com consequências positivas na produtividade e na qualidade das hortaliças, bem como na qualidade de vida do produtor rural. 
Como consequências a médio e longo prazos, tem-se a sustentabilidade espacial, temporal e am­biental da atividade olerícola.  







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