Abajerú
Chrysobalanus icaco
O Abajeru é um arbusto originário da América Tropica, da família das Chrysobalanaceae, que possui um fruto comestível, é comum em beiras de praias.
Descrição : Planta da família das Chrysobalanaceae, també conhecido como ajuru, apioba, engmo (Angola), icaco, jingimo (Angola), mafua (Angola).
É um arbusto que mede de 1 à 3 metros, de caule espesso, raramente chega à 10 metros. Encontra-se perto das praias e rios.
Tem enfolhescência oval, quase circular de 3 à 10 centímetros de comprimento e 2,5 à 7 centímetros de largura.
A cor das folhas varia de verde à vermelha.
A casca é acinzentada ou marrom avermelhada, com manchas brancas.
As flores são pequenas, em cachos, aparecendo no final da primavera, crescem em racemos, geralmente esbranquiçadas.
No final do verão nascem fruto em gomos, que da forma costeira a ser rodada, até 5 centímetros de diâmetro, amarelo pálido com tons rosa ou roxo escuro na cor, enquanto que o interior é a forma oval, de até 2,5 centímetros escuro roxo.
A árvore é capaz de sobreviver ao inverno, no entanto, a forma costeira é altamente tolerante ao sal, por isso é muitas vezes plantada para estabilizar bordas praia e evitar a erosão, é também plantado como arbusto ornamental. O fruto é comestível e é usado para doces.
Parte utilizada: Folhas.
Origem : América Tropical, incluindo Bahamas e Caribe. Cresce em regiões costeiras desde a Florida até sul do Brasil, nas costas da África, com muitas variedades e subespécies, naturalizadas em Ilhas do Índico e Pacífico e no Sudeste da Ásia
Princípios Ativos: Ácido pomólico, este ácido induz a apoptose, morte celular programada nas células cancerosas, porém ele não é extraído da planta através de chá e sim por outros métodos.
Propriedades : Hipoglicemiante, adstringente, antiblenorrágico, antidiabético, antirreumático.
Indicações: Blenorragia, diarreia crônicas, leucorreia, reumatismo, câncer, diabetes.
Contraindicações/cuidados: Tome cuidado pois esse chá pode vir a ser prejudicial a portadores do câncer.
Modo de usar: Infusão das folhas.
Abajerú - Cerca Viva
O Abajeru no combate ao câncer
Cientistas brasileiros isolaram nas folhas do arbusto abajeru (Chrysobalanus icaco) uma substância anticancerígena, o ácido pomólico, capaz de destruir diversos tipos de tumores. O composto surpreendeu os pesquisadores ao apresentar atividade também contra células cancerosas resistentes a múltiplas drogas, uma característica considerada rara pelos cientistas.
A atividade anticancerígena foi constatada em laboratório, em testes realizados com linhagens de células de tumores de mama, cérebro, pulmão, intestino, laringe e medula. 'O que mais chamou nossa atenção foi observar que a substância matava também linhagem de células de leucemia resistentes a múltiplas drogas', afirmou a pesquisadora Cerli Rocha Gattass, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas, que está coordenando os testes.
Uma característica particularmente valiosa do ácido, só encontrada em um número muito reduzido de compostos, é sua capacidade de afetar células com resistência a múltiplas drogas (MDR), principal causa da falha de quimioterápicos. A resistência a quimioterápicos normalmente usados no combate à doença é um problema sério porque praticamente inviabiliza o tratamento. Segundo os cientistas, substâncias capazes de matar a célula doente e, ao mesmo tempo, driblar a resistência são muito raras. No Brasil, não há nenhuma patenteada.
Usado popularmente no tratamento da diabetes, o abajeru, encontrado em regiões tropicais da África e América do Sul, foi alvo do estudo da pesquisadora Maria Auxiliadora Kaplan e sua aluna de doutorado, Raquel Oliveira Castilho, do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais da UFRJ. A doutoranda isolou várias substâncias da planta, das quais três foram testadas para detectar atividade anticancerígena.
O ácido pomólico foi o mais efetivo. "Ele atua induzindo a apoptose, a morte celular programada, nas células cancerosas", explica a biofísica Cerli Rocha Gattass, chefe do Laboratório de Imunoparasitologia da UFRJ, que coordenou os testes. A substância apresenta ainda uma baixa letalidade de células normais, apenas 12% a 14%, e requer uma menor dose para surtir o mesmo efeito de outros quimioterápicos, como a cisplatina.
A maneira pela qual o ácido consegue evitar a MDR ainda não está esclarecida. A resistência funciona a partir de proteínas que atuam como bombas, expulsando os medicamentos para fora da célula e reduzindo sua efetividade. "O ácido pomólico surpreendeu porque conseguiu afetar células de um tipo de leucemia que expressa MDR -- uma das linhagens mais resistentes", revela a biomédica Vivian Rumjanek, chefe do Laboratório de Imunologia Tumoral e que também coordenou os testes.
O próximo passo é testar o composto em camundongos. O grupo da UFRJ espera que a substância desperte o interesse de alguma indústria farmacêutica para que, um dia, possa ser transformada em remédio. Os testes preliminares não demonstraram toxicidade. 'Acreditamos que a substância tem um altíssimo potencial, tanto que investimos na patente', afirmou Cerli. 'Se tudo isso for confirmado, será de grande interesse para a indústria farmacêutica.' A substância foi isolada por Raquel Oliveira Castilho, no Laboratório de Produtos Naturais da UFRJ. Sua atividade foi analisada por Cerli, Vivian Rumjanek e Janaína Fernandes.
Pelo potencial de uso que apresenta, Chrysobalanus icaco L. tem sido recorrentemente citado na literatura. Pescadores da América e África cozinham sua casca e utilizam para tingir, endurecer e tornar mais duradouras as suas redes (Pio Corrêa, 1926; Fonseca-Kruel et al., 2006). Seus frutos com uma polpa branca e adocicada são comestíveis e em muitos países utilizados como doces e em conservas, sendo em alguns locais comercializados em feiras e mercados (Pio Corrêa, 1926; Braga, 1960; Ferrão 1999; Ugent & Ochoa, 2006). O óleo da semente era outrora aproveitado para preparação de uma emulsão antidiarréica e para ungüentos (Pio Corrêa, 1926). Suas raízes, cascas e folhas são adstringentes e utilizadas contra disenterias, catarro de bexiga, leucorréias (Pio Corrêa, 1926; Freise 1934; Roig y Mesa, 1945; Wong, 1976; Hoehne, 1978; Agra et al., 2008) e pedra nos rins (Fonseca-Kruel et al., 2006). O potencial como agente anti-tumoral (Fernandes et al., 2003) e também no combate ao diabetes mellitus foram amplamente divulgados na literatura (Costa, 1977; Pereira, 1997; Lorenzi & Matos, 2002; Fonseca-Kruel et al., 2006; Albuquerque et al., 2007). É utilizada também como planta ornamental na América do norte.
O diabetes atinge aproximadamente 35 milhões de pessoas nas Américas (Sartorelli & Franco, 2003) e, particularmente no Brasil, cerca de 11 milhões de pessoas, segundo a estimativa da Sociedade Brasileira de Diabetes (Netto, 2007). Desta forma compreende-se porque inúmeras espécies vegetais são utilizadas no mundo para minimizar suas conseqüências (Bnouham et al., 2006; Funke & Melzig, 2006; Cavalli et al., 2007; Torrico et al., 2007; Figueiredo & Modesto-Filho, 2008; Janebro et al., 2008). No Brasil cerca de 200 espécies são usadas para este fim, sendo que 52 foram estudadas experimentalmente e apresentaram atividade analgésica, antiinflamatória e hipoglicemiante comprovada (Barbosa-Filho et al., 2005). Dentre estas, C. icaco vem apresentando excelentes resultados (Presta & Pereira, 1987; Castilho et al., 2000; Mors et al., 2000; Barbosa-Filho et al., 2005; Barbosa et al., 2006). Esta espécie conhecida no Brasil como abajurú, abajerú, bajerú, guajurú, entre outros nomes populares, ocorre no litoral brasileiro e também no litoral dos paises do norte da América do Sul, América Central e México, bem como na costa ocidental da África (Prance, 1972).
Em conseqüência de seu reputado efeito no controle ao diabetes, o comércio das folhas frescas e/ ou secas de C. icaco pode ser facilmente verificado tanto em feiras e mercados como na forma de ensacados vendidos, em diferentes estabelecimentos comerciais, na cidade do Rio de Janeiro. Neste sentido, o Mercado de Madureira, localizado na zona norte da cidade, destaca-se pelo número de erveiros e quantidade de espécies comercializadas. Dentre estas, o abajurú mereceu destaque por ter sido verificada a comercialização simultânea, sob esta denominação popular, tanto de C. icaco, como também de Eugenia rotundifolia (Myrtaceae).
O uso de diferentes táxons, sob uma mesma designação popular não é nova na literatura: a questão da espinheira-santa, no Rio de Janeiro, é um exemplo recente da introdução e absorção, no repertório popular, de espécies morfologicamente semelhantes, mas que não necessariamente apresentam o mesmo efeito farmacológico desejado (Gonzales et al., 2001; Coelho et al., 2002; Coulaud-Cunha et al., 2004). O uso tradicional de espécies de espinheira-santa, na região sul do Brasil para o tratamento de úlceras, foi incorporado na região sudeste. Contudo, naquela região utilizam-se espécies de Maytenus (Celastraceae), enquanto que nas feiras livres do Rio de Janeiro e no próprio Mercado de Madureira verifica-se a utilização de Sorocea cf. bonplandii (Moraceae) como tal.
O presente trabalho objetivou registrar a venda de C. icaco e E. rotundifolia, sob a mesma designação popular, bem como discutir as prováveis causas e implicações envolvidas nesse processo.
MATERIAL E MÉTODOS
Ao longo dos anos de 2005 e 2006 foram aplicadas 51 entrevistas semi-estruturadas (Bernard, 1995) para levantamento de dados etnobotânicos a 15 erveiros (num total de 28) que comercializam ervas medicinais e/ou rituais no Mercado de Madureira. Utilizou-se a técnica conhecida como "bola de neve" indicada para uma população altamente especializada e de pequeno número de integrantes (Appolinário, 2006). Para tal, um informante-chave, previamente conhecido, indicou outra pessoa a ser entrevistada e assim sucessivamente. Esse mercado foi criado em 1914, tornando-se, a partir de 1929, o maior centro de distribuição de alimentos da zona suburbana do Rio de Janeiro. Apresenta hoje aproximadamente 700 boxes para venda de muitos produtos variando de alimentação, utensílios domésticos, papelarias, drogarias e principalmente de comércio de artigos religiosos, incluindo-se aí, a venda de animais para sacrifícios. No local reservado aos hortifrutigranjeiros encontram-se 28 boxes de plantas comercializadas para fins medicinais e ritualísticos, que muitas vezes vendem também temperos, legumes e verduras. Esse mercado é um dos grandes fornecedores para feirantes e vendedores ambulantes da cidade (Azevedo & Silva, 2006).
Os erveiros foram entrevistados durante o período de trabalho e conseqüentemente sem disponibilidade de tempo para longas entrevistas. Assim, optou-se por aplicar a técnica conhecida como listagem livre (freelist) (Martin, 1995; Sutrop, 2001) -mais especificamente a lista restrita de tarefas (restricted list task) - na qual cada informante foi estimulado a citar, pelo menos, dez espécies consideradas como mais comercializadas. Cada informante foi entrevistado pelo menos uma vez sendo que mais entrevistas se sucederam para aqueles que continuaram colaborando com a pesquisa que teve objetivos mais amplos do que a questão do abajurú. Para cada espécie foram anotadas informações relacionadas à(s) propriedade(s) etnofarmacológica(s) atribuída(s), formas de uso, parte(s) da planta utilizada(s) e outras informações.
Considera-se que as espécies mencionadas com freqüência indicam consenso ou conhecimento comum entre os indivíduos, dentro de uma determinada cultura. Neste sentido, para verificar o grau de importância das espécies listadas, especialmente do abajurú, no mercado de Madureira, calculou-se o "Índice de Saliência" (Smith, 1993; Martin, 1995; Cotton, 1996) que leva em consideração dois parâmetros: a freqüência e ordem de citação seguindo-se a metodologia recomendada por Quinlan (2005), utilizando-se para tal o software Visual Anthropac-Freelists 4.0 (Borgatti, 1996). Adquiriu-se material botânico das espécies listadas pelos erveiros através de compra e para a identificação do mesmo utilizaram-se chaves analíticas, bibliografia especializada, comparação com exsicatas de herbários e, quando necessário, valeu-se do auxílio de especialistas. Foram confeccionadas exsicatas, que se encontram depositadas no herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). As fotos da Figura 1 correspondem às exsicatas de C. icaco (C. Farney & L.S. Sarayba 2148; RB 279529) e de E. rotundifolia (D.Araújo 7903; RB 389252) depositadas no referido herbário.
O termo etnoespécie é aqui aplicado a duas espécies bem definidas (diferenciadas) do ponto de vista da taxonomia vegetal para as quais os erveiros entrevistados atribuem o mesmo nome popular.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento etnobotânico realizado com os erveiros no Mercado de Madureira foram reconhecidas um total de 258 espécies. A listagem livre obteve um rol de 97 espécies que são consideradas como muito comercializadas. Esta técnica de listagem livre é considerada um método etnográfico bem estabelecido, relacionado a fronteiras de domínios culturais, que parte do pressuposto que quando as pessoas listam livremente elas tendem a listar os termos em ordem de familiaridade - os indivíduos que sabem mais sobre o conteúdo solicitado listam mais do que aquelas que sabem menos - e os termos que são mais lembrados indicam que são localmente mais proeminentes (Quinlan, 2005). Na tabela 1 são apresentadas as espécies que mais se destacaram pelo índice de saliência.
O fato do abajurú (E. rotundifolia) aparecer, na tabela, em terceiro lugar, em um rol de 97 espécies, confirma a importância da mesma na farmacopéia popular do Rio de Janeiro. Dentre os 15 erveiros entrevistados, nove citaram e vendiam essa espécie de abajurú para o combate ao diabetes (houve apenas uma citação para "abaixar o colesterol"). Apenas um informante vendia a outra espécie de abajurú (Chrysobalanus icaco) e, por ter sido citada apenas por ele, esta obteve um índice de saliência de apenas 0,07. Entretanto, este erveiro comercializava também E. rotundifolia, designando-a por "abajurú genérico".
As pesquisas comprovaram, até o momento, a eficácia científica de C. icaco como hipoglicemiante (Di Stasi & Hiruma-Lima, 2003), atrelando-a sempre ao nome popular de abajurú (ou nomes correlacionados). Entretanto, não foram encontradas referências etnobotânicas, químicas e/ou farmacológicas indicando o uso de E. rotundifolia, especificamente como tal, apesar de inúmeras pesquisas confirmarem a presença de substâncias com potencial medicinal para esse gênero e para a família Myrtaceae em geral (Almeida et al., 1995; Olajide et al., 1999; Holetz et al., 2002; Coelho de Souza et al., 2004; Ravi, 2004; Barbosa-Filho et al., 2005; Oliveira et al., 2005; Bnouhmam et al., 2006; Oliveira et al., 2006; Donato & Morretes, 2007; Bertucci et al., 2008; Quintans-Júnior et al., 2008). Também não foram encontrados registros, na literatura, da comercialização desta última com o nome popular de abajurú ou qualquer outro nome.
O número de espécies vegetais utilizadas no Brasil no combate ao diabetes mellitus era muito menor no passado, mas atualmente, o país desponta na América do Sul como responsável por 23% das espécies testadas (Barbosa-Filho et al., 2005). Este fato reflete possivelmente uma tendência local (e também mundial) de acentuado incremento na freqüência dessa doença nos últimos anos, ocasionado provavelmente pelo envelhecimento da população e alterações no estilo de vida (Sartorelli et al., 2006). Para C. icaco, por exemplo, a primeira referência encontrada na literatura ao uso como hipoglicemiante foi em 1977 (Costa, 1977) embora outras atividades etnofarmacológicas já eram atribuídas anteriormente para essa espécie (Presta et al., 2007). É provável que a ação hipoglicemiante de C. icaco tenha sido amplamente noticiada a partir do incremento de trabalhos mais recentes, que reiteraram tal atividade, estimulando, desta forma, o seu uso. Neste caso, o crescimento da doença aliado ao empobrecimento da população bem como à falta de acesso aos serviços oficiais de saúde nutriram, certamente, o comércio de plantas medicinais ávido por apresentar novas espécies ou atribuir novas atividades farmacológicas a espécies já conhecidas e consumidas anteriormente para outros fins.
Por que Chrysobalanus icaco está sendo substituída por Eugenia rotundifolia?
Para Albuquerque & Hanazaki (2006) as dificuldades relacionadas ao entendimento de questões envolvendo os padrões que levam à escolha de espécies, para uso medicinal, devem estar associados a testes de hipóteses. Esses autores salientam que é preciso tentar explicar como as pessoas selecionam plantas e animais para uso medicinal e que critérios envolvem tal escolha. Da mesma forma a substituição de espécies, na medicina popular, deve ser analisada. Assim, as considerações abaixo apontam algumas possibilidades para o caso específico do abajurú.
Chrysobalanus icaco ocorre em diversos estados brasileiros (AM, MA, CE, PA, PI, PE, SE, BA, ES, RJ e SP) (Prance, 1972) e para o Rio de Janeiro foram registradas coletas nos Municípios de Arraial do Cabo, Cabo Frio, Rio de Janeiro e Saquarema (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2007). Ocorre também no Município de Angra dos Reis, na Reserva da Praia do Sul (Ilha Grande) e ao norte do Município de Rio das Ostras (Doroty Sue Dun Araújo, comunicação pessoal).
Apresenta ampla plasticidade para estabelecer-se em diferentes associações vegetais, na vegetação costeira, desenvolvendo-se em brejos, mangues e restingas, em locais sujeitos a déficit hídrico ou a inundação em determinadas épocas do ano e em solos com afloramento de rochas (Santana & Silva, 2000; Oliveira & Souza, 2005). Na restinga da Marambaia, entretanto, esta espécie está presente somente na formação vegetacional denominada "arbustiva aberta não inundável", composta predominantemente por Myrtaceae (Menezes & Araújo, 2005). Trata-se de um arbusto ou pequena árvore de até 5 metros de altura, freqüentemente com ramos decumbentes, com folhas geralmente orbiculares a ovado-elípticas de 2-8 cm de comprimento e 1,2-6,0 cm de largura, retusas, arredondadas ou com pequeno acúmem no ápice, base sub-cuneada, glabras em ambas as faces e com pecíolo medindo 2 a 4 mm de comprimento (Prance, 1972).
As Chrysobalanaceae são morfologicamente distintas das espécies brasileiras de Myrtaceae no que diz respeito a muitos aspectos, dentre eles, a filotaxia, que é alterna (e oposta nas Myrtaceae) e folhas sem pontos translúcidos e nervura marginal, comuns em Myrtaceae. Apesar disso, a forma semelhante das folhas de C. icaco e E. rotundifolia pode confundir um leigo (Figura 1).
E. rotundifolia é também um arbusto, de cerca de 2 m de altura, com folhas opostas, elípticas obovadas ou suborbiculares, ápice arredondado, obtuso ou obtuso-acuminado e base arredondada, obtusa ou aguda, bordo revoluto, coriáceas, discolores, densamente pontudas (Souza, 2005). Ocorre nas restingas, principalmente nos estados da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Especificamente para o Rio de Janeiro, foram registradas coletas em Armação dos Búzios, Cabo Frio, Carapebus, Macaé, Maricá, Rio de Janeiro, São João da Barra e também em Saquarema (Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2007; Souza, 2005).
O trabalho realizado por Pereira et al. (2001) na comunidade arbustiva fechada localizada no cordão arenoso interno da restinga de Barra de Maricá aponta E. rotundifolia como rara na área estudada (com apenas um indivíduo em área estimada de 1 ha). Entretanto para os autores trata-se de uma espécie mais abundante em outras formações vegetais dos cordões arenosos. Nesse sentido, Doroty Sue Dun Araújo (comunicação pessoal) informa que apesar de não muito freqüente na região das dunas de Arraial do Cabo, é bem comum, perto da praia, em outras restingas como a de Maricá e de Macaé. Nessa última, nos trabalhos extensos, ainda não publicados, de levantamento fitossociológico no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba E. rotundifolia está entre as 10 espécies mais importantes na restinga arbustiva aberta de Clusia. Segundo Menezes & Araújo (2005), E. rotundifolia ocorre na restinga de Marambaia em uma formação herbácea (herbácea fechada de cordão arenoso) e em três arbustivas (arbustiva aberta não inundável; arbustiva fechada de pós-praia e arbustiva fechada de cordão arenoso) sendo muito comum nas duas primeiras. Esses mesmos autores encontraram C. icaco apenas na formação arbustiva aberta não inundável.
No estado do Rio de Janeiro muitas restingas apresentam essas formações - especialmente as mais abertas - que estão sob forte pressão antrópica. Entretanto, de acordo com as informações obtidas com alguns erveiros, a fiscalização dos órgãos ambientais do estado tem impedido, em parte, a extração de abajurú (C. icaco) em áreas litorâneas. Isto provavelmente estimulou a procura por outra espécie que pudesse substituí-la. Provavelmente, o fato de E. rotundifolia ter distribuição mais ampla no estado do Rio de Janeiro e apresentar certa semelhança com C. icaco colaborou para que extratores e erveiros passassem a vendê-la e denominá-la como abajurú. Os nomes populares encontrados na literatura para E. rotundifolia foram "jaboticaba do mangue" (Pio Corrêa, 1926) e "aperta-goela" (Zamith & Scarano, 2004). Coincidentemente, este mesmo nome vulgar é empregado pela população caiçara da Ilha Grande (Rio de Janeiro) para C. icaco. Possivelmente o emprego de um mesmo nome popular para duas espécies pode ter contribuído também para a comercialização de uma pela outra. No mercado de Madureira E. rotundifolia foi também denominada pelos erveiros como "abajurú-do-mangue".
As pesquisas realizadas para avaliação do uso seguro das plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil ainda são insipientes, sendo que a maioria das plantas nativas ainda não foi avaliada quanto à sua segurança e eficácia (Rates, 2001; Carvalho et al., 2008; Marliére et al., 2008; Silveira et al., 2008; Veiga-Junior, 2008), assim como é insipiente o controle da comercialização pelos órgãos oficiais em feiras livres, mercados públicos ou lojas de produtos naturais (Veiga Jr & Pinto, 2005). Sendo assim nenhuma espécie usada na medicina tradicional deveria ser usada antes que os estudos de segurança tivessem sido completados (Barbosa-Filho et al., 2005). A introdução de E. rotundifolia no mercado informal pode refletir, por um lado, o efeito de alguma fiscalização na coleta de exemplares em áreas de vegetação natural protegidas e, por outro lado, a ineficiência do controle da comercialização do abajurú oferecido à população.
Fontenelle et al. (1994) caracterizaram a anatomia e micromorfologia de 11 espécies de Eugenia encontradas na restinga de Maricá (RJ) inclusive de E. rotundifolia. A anatomia foliar de C. Icaco também foi trabalhada por Espinosa-Osornio et al. (2002). Esses trabalhos certamente servirão de base para a verificação de ocorrência de fraudes e identificação de espécies ensacadas e comercializadas no mercado informal, com a designação popular de abajurú.
Segundo as informações obtidas no mercado de Madureira com um erveiro que também fornece abajurú para outros erveiros e feirantes de outras localidades, a venda destas etnoespécies atinge cerca de 70 molhos por semana na venda interna diária dentro do mercado, e aproximadamente 1.000 molhos por semana, na venda durante a madrugada (do lado de fora do mercado) para feirantes que irão revendê-las em feiras livres e bancas isoladas da cidade. Neste contexto, não se pode descartar a possibilidade de redução das populações, na natureza, pela intensificação da extração em seus ambientes naturais. Zamith & Scarano (2004) estudando a viabilidade da produção de mudas destinadas a plantios para a restauração de restingas degradadas informam que E. rotundifolia se apresenta viável para a produção de mudas, visto o seu potencial elevado para germinação (em torno de 60%). Assinalam, entretanto, que a germinação é lenta (em média 61 dias para a emergência da parte aérea), o que pode acarretar na não uniformidade entre plântulas e maior risco de perda das sementes por deterioração, uma vez que estas permanecem no solo por um certo tempo, antes da germinação.
Numa primeira análise pode-se pensar então que a introdução de E. rotundifolia para a venda popular com o nome de abajurú seja, em parte, um artifício encontrado pelos extratores para driblar a fiscalização. Entretanto, não faz muito sentido tendo em vista que ambas são vendidas muitas vezes ensacadas, o que dificulta o reconhecimento (Figura 2). Quem fiscaliza saberia diferenciar as duas espécies?
Uma segunda hipótese estaria ligada simplesmente a um problema de dificuldade no reconhecimento das espécies pelos extratores e erveiros vendedores, bem como pelos consumidores, por conta da morfologia semelhante.
Uma terceira hipótese - e talvez a mais interessante - seria haver, por parte dos erveiros, a atribuição da atividade hipoglicemiante também à E. rotundifolia, uma vez que outras espécies de Myrtaceae (pitanga, jambo e eucalipto) já são usadas pela população como tal. É importante salientar que, no comércio popular de espécies consideradas medicinais, a confiabilidade das informações transmitidas pelos erveiros é fundamental: as relações interpessoais e a disseminação de informações dentro de um mercado, como o de Madureira, vão mais além do que a simples troca de receitas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos etnobotânicos em ambientes urbanos são fascinantes e abrem muitas portas para se conhecer o que não tem sido catalogado (Balick & Lee, 2001). Ademais, os padrões de usos locais para espécies consideradas medicinais, em áreas urbanas, não são ainda bem entendidos.
Questões relacionadas às teorias da aparência e de disponibilidade de espécies são discutidas em diversos estudos (Stepp & Moerman, 2001; Albuquerque & Lucena, 2005; Akerreta et al., 2007) na tentativa de entender que fatores determinam as preferências e critérios de locais de seleção para uso das plantas. Voeks (1996) sugere que erveiros da Floresta Atlântica da costa do Brasil preferem florestas secundárias e áreas perturbadas: plantas usadas como medicinais precisam ser abundantes e acessíveis. Como citado anteriormente E. rotundifolia é uma espécie abundante, possibilitando o extrativismo.
Além dos fatores ambientais, fatores culturais certamente influenciam a distribuição ou a área de uso das espécies já que atuam na seleção de plantas medicinais. Para Akerreta et al. (2007) o fator cultural pode, às vezes, ser decisivo na escolha de plantas, até mais do que a abundância e disponibilidade das espécies. Por exemplo, quando a população local percebe as propriedades químicas e medicinais de uma planta. Nesse sentido, para o caso do abajurú (E. rotundifolia), isso vem de encontro a nossa hipótese relacionada à idéia de que as pessoas poderiam, de fato, estender (e experimentar) o uso no tratamento contra os efeitos do diabetes para novas espécies da família Myrtaceae.
No processo das interações das populações com as espécies vegetais, encontros casuais podem levar a descobertas justificadas posteriormente pela ciência. Se levarmos em consideração que certamente existem várias espécies na restinga morfologicamente semelhantes, a substituição de C. icaco justamente por E. rotundifolia no comércio popular, poderá também ser explicada, ou não, por futuras pesquisas farmacológicas.
Benefícios e propriedades do chá de abajerú
O abajerú é indicado para tratar blenorragia, diarreia, reumatismo, câncer e diabetes tipo dois. Conheça mais sobre essa planta.
Originária da América Tropical, com forte presença na área litorânea, o abajerú é um arbusto da família das Chrysobalanaceae.
A planta possui frutos comestíveis, também usados na produção de doces e suas folhas, na forma de chá, são eficazes para tratar algumas doenças, pois possuem propriedades hipoglicemiante, antiblenorrágico, antidiabético e antirreumático.
O uso da abajerú é ornamental e também para estabilizar bordas praia e evitar a erosão. A planta é tolerante ao sal e sobrevive bem ao inverno. Ela pode chegar a medir entre um e três metros. A cor das folhas varia de verde à vermelha, enquanto que a casca assume coloração acinzentada ou marrom avermelhada, com manchas brancas.
Princípios ativos do abajeru
A planta é rica em ácido pomólico, que induz a apoptose celular, ou seja, a morte celular que ocorre de forma ordenada e demanda energia para a sua execução. O abajerú é indicado para tratar de problemas relacionados a blenorragia, diarreia crônica, leucorreia, reumatismo, câncer e diabetes tipo dois.
Acredita-se também que o uso do abajerú é eficaz para abaixar o colesterol e no processo de emagrecimento.
A forma mais usada nesses tratamentos é através do chá, feito a partir das folhas do abajerú. Porém, seu uso deve ser orientado pelo médico, pois assim como ela pode trazer benefícios para a saúde, também pode agravar alguns problemas, caso consumido em excesso.
Preparando o chá de abajerú
Para preparar o chá de abajerú, basta colocar para ferver um litro de água. Depois, acrescente 20 folhas da planta na água fervente e desligue o fogo. Deixe descansar por cerca de 15 minutos, com a panela tampada. Em seguida, basta coar e a bebida está pronta para ser consumida.
A recomendação é que a ingestão não ultrapasse as três xícaras diárias.
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