Os alimentos orgânicos são os ideais para toda a família, por não utilizarem agrotóxicos e adubos químicos solúveis e, por serem produzidos com técnicas ambientalmente corretas. Em comparação com os alimentos obtidos na agricultura convencional, os produtos orgânicos possuem maior teor de vitaminas, sais minerais, proteínas, aminoácidos, carboidratos e matéria seca e, ainda melhor sabor e conservação. Além do maior custo, os agroquímicos, especialmente quando aplicados incorretamente, contaminam rios, lagos e córregos, colocando em risco a saúde do agricultor, do consumidor e do meio ambiente.
Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ – realizada com frutas e hortaliças nos maiores centros consumidores do Brasil desde 2001, comprova que várias espécies cultivadas estão seriamente contaminadas por resíduos de agrotóxicos e, o que é pior, por produtos não autorizados para as culturas. Relatório recente da Anvisa, em 26 estados, pesquisando 20 espécies (frutas e hortaliças) em 2009, revela que 907 (29%) amostras de um total de 3.130 amostras coletadas, incluindo todas as espécies pesquisadas, estavam contaminadas,alcançando no pimentão, uva, pepino, morango, couve, abacaxi, mamão, alface, tomate e beterraba até 80; 56,4; 54,8; 50,8; 44,2; 44,1; 38,8; 38,4; 32,6 e 32% de amostras contaminadas, respectivamente.
Numa floresta nativa com muitos tipos de plantas, as doenças e as pragas existem, mas não causam maiores problemas, porque estão em equilíbrio. Na agricultura orgânica o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente para não provocar o desequilíbrio do sistema. Mesmo no cultivo orgânico podem ocorrer desequilíbrios temporários que aumentam a população de insetos-pragas ou patógenos que causam doenças à níveis incontroláveis. Estes fatores podem ser chuvas ou secas excessivas, mudas e/ou sementes de baixa qualidade, uso de cultivares não adaptadas, solos degradados, adubações desequilibradas e outros. Neste caso, deve-se recorrer às caldas protetoras, aos preparados de plantas e outros produtos alternativos recomendados ou tolerados no cultivo orgânico, visando o manejo de doenças e pragas nas plantas cultivadas. É importante ressaltar, que práticas tais como plantio direto, cultivo mínimo, adubação orgânica e verde, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças, cobertura morta, rotação e consorciação de culturas, são essenciais para o sucesso do cultivo orgânico, pois conduzem à estabilidade do agroecossistema, ao uso equilibrado do solo, ao fornecimento ordenado de nutrientes e à manutenção de uma fertilidade real e duradoura. Convém salientar, no entanto, que os produtos alternativos mesmo que na grande maioria não cause riscos ao homem e ao meio ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários. A maioria das plantas utilizadas são plantas aromáticas, medicinais e algumas ornamentais. No entanto, alguns dos princípios ativos das plantas usados, podem provocar irritação e intoxicação, por isso devem ser manipulados com cuidado, utilizando-se equipamentos de proteção e não deixando-os ao alcance de criança ou animais.
. Preparado com alho - manejo de tripes, pulgões (Figura 1), lagarta do cartucho do milho e doenças - podridão negra, ferrugem e alternária. O alho é um antibiótico natural, inibidor ou repelente de parasitas de plantas ou animais. Modo de preparar: moer 100g de alho e deixar em repouso por 24 horas em 2 colheres de óleo mineral. Dissolver, à parte, 10g de sabão em 0,5 L de água. Misturar todos os ingredientes, filtrar e, diluí-lo em 10 litros de água (Fonte: Abreu Junior, 1998);
.Preparado com cravo-de-defunto - manejo de pulgões, ácaros, lagartas e nematóide. Modo de preparar: misturar 1 kg de folhas e talos de cravo-de-defunto (Tagetes sp) com ou sem flores em 10 litros de água. Levar ao fogo, deixando ferver durante meia hora ou então deixar os talos e folhas picados em molho, por dois dias. Coar e pulverizar sem diluir. O cravo-de-defunto plantado em área infestada de nematóides é um repelente natural;
● Preparado com sálvia - manejo de lagartas da couve, repolho, couve-flor e brócolis. Modo de preparar: derramar 1 litro de água fervente sobre 2 colheres de sopa de folhas secas de sálvia. Tampar o recipiente e deixar em infusão durante 10 minutos. Agitar bem, filtrar e pulverizar imediatamente sobre as plantas para repelir a borboleta branca que coloca os ovos nas folhas das plantas cultivadas, originando as lagartas que comem as folhas (Figura 1).
● Preparado com urtiga – nutrição, estimulante de vigor e resistência, manejo de pulgões.Modo de preparar: deixar de molho por duas semanas 1kg de folhas verdes ou 200g de folhas secas/2 litros de água. Diluir em 20 litros de água e pulverizar nas plantas e solo no final da tarde, alternando com o preparado de cavalinha. (Deffune, 2000).
● Preparado com camomila - manejo de doenças fúngicas. Modo de preparar: misturar 50g de flores de camomila em 1L de água. Deixar de molho durante 3 dias, agitando quatro vezes ao dia. Depois de coar, pulverizar a mistura sem diluir, três vezes a cada 5 dias.
● Preparado com coentro - manejo de ácaros e pulgões. Modo de preparar: cozinhar folhas de coentro em 2L de água. Para pulverizar sobre as plantas, acrescentar água. (Fonte: Zamberlan & Froncheti, 1994).
● Preparado com chuchu - manejo de lesmas e caracóis. Modo de preparar: colocar dentro de latas rasas, como as de azeite, pedaços de chuchu cortados ao meio e adicionar sal. Essa mistura é bastante atrativa para essas pragas e possibilita posteriormente, a eliminação e destruição destas pragas.
● Preparado com buganville (primavera/maravilha)- manejo do vírus do vira-cabeça do tomateiro e pimentão. Modo de preparar: juntar 1 kg de folhas maduras e lavadas de buganville (flores rosa ou roxa) com água e bater no liquidificador. Coar e diluir o macerado em 20 L de água. Pulverizar imediatamente o tomateiro nas horas mais frescas do dia., iniciando na fase de mudas e terminando no início da frutificação. (Souza, 2003).
A utilização intensiva da mecanização, dos adubos químicos, dos agrotóxicos e das sementes híbridas, predominantes na agricultura convencional ou “moderna”, formam um círculo vicioso, interessante apenas para as multinacionais da agroindústria. O revolvimento intenso do solo com máquinas e equipamentos, favorecendo a erosão, faz com que se utilize cada vez mais adubos químicos, exigidos em quantidades cada vez maiores pelas cultivares modernas criadas e, em conseqüência do desequilíbrio nutricional do solo, as plantas tornam-se mais susceptíveis às pragas e doenças, exigindo cada vez mais a utilização de agrotóxicos. O Brasil é um dos países campeões do mundo no consumo de agroquímicos. O faturamento de 2002 para 2004, aumentou de R$1,2 bilhões para R$4,1 bilhões reais. Recente Relatório da FAO classifica o Brasil como o 3º maior consumidor de agrotóxicos, coincidentemente ou não, o 3º em mortalidade por câncer. Em Fortaleza, de acordo com levantamento em hospitais, 51% das pessoas atacadas de cirrose hepática são abstêmias e, em sua maioria, consumidoras de dieta a base de frutas e hortaliças, justamente as culturas mais contaminadas por agrotóxicos. Como conseqüência de intoxicações por agrotóxicos são citadas moléstias tais como câncer, cirrose hepática, abortos, deformações fetais, impotência sexual, fibrose pulmonar,braquicardia, distúrbios do sistema nervoso, hepatite, acnes, pancreatite, diabete,úlcera, alergia e distúrbios audiovisuais, que se somam a outras intoxicações consideradas leves (Ponte, 1999).
Um dos princípios básicos da agricultura orgânica é a não dependência de insumos externos que, na sua grande maioria, são importados, custam caro e, o que é pior, contaminam o meio ambiente e prejudicam a saúde do produtor e do consumidor. Daí a importância dos preparados caseiros à base de plantas, facilmente elaborados na propriedade, para o manejo de pragas e doenças que atacam os cultivos orgânicos. É importante ressaltar, no entanto, que plantas saudáveis produzidas em ambientes equilibrados, normalmente são menos atacadas por pragas e doenças. Por isso, recomenda-se utilizar esses produtos alternativos, somente quando realmente for necessário. Alguns dos princípios ativos das plantas usados, podem provocar irritação e intoxicação, por isso devem ser manipulados com cuidado, utilizando-se equipamentos de proteção e não deixando-os ao alcance de criança ou animais.
A maior parte das pragas ataca geralmente na primavera, estação do ano de fertilidade e de grande atividade na natureza. Elas podem causar vários danos nas plantas, além de favorecerem o surgimento de doenças, principalmente as fúngicas.
●Preparado com pimenta vermelha - manejo de vaquinhas (Figura 2), pulgões, grilos e paquinhas. Modo de preparar: bater 500 g de pimenta vermelha em um liquidificador com 2 litros de água. Coar o preparado e misturar com 5 colheres de sopa de sabão de coco em pó, acrescentando mais 2 litros de água. Pulverizar sobre as plantas atacadas. Para evitar a obtenção de frutos com forte odor deve-se aplicar, no mínimo, até 12 dias antes da colheita (Fonte: Andrade, 1992).
● Preparado com cavalinha-do-campo – manejo de pulgões e ácaros e fungos de solo, míldio e outras e para nutrição das plantas. Modo de preparar: ferver 1kg de folhas verdes ou 200g de folhas secas por 20 minutos em 2L de água (10%). Diluir em 10 a 20 litros de água e pulverizar no final da tarde (Deffune, 2000).
● Preparado com confrei - manejo de pulgões, lagartas e lesmas. Modo de preparar: utilizar o liquidificador para triturar 1kg de folhas de confrei com água. Acrescentar 10 litros de água e pulverizar nas plantas.
● Preparado com cebola - manejo de pulgões, lagartas e vaquinhas. Modo de preparar: Cortar 1kg de cebola e misturar em 10L de água, deixando o preparado curtindo durante 10 dias. Utilizar 1L da mistura em 3L de água para pulverizar as plantas, atuando como repelente.
● Preparado com losna - manejo de lagartas, lesmas, percevejos e pulgões. Modo de preparar:Diluir 30g de folhas secas de losna em 1L de água, fervendo essa mistura durante 10 minutos. Adicionar 10L de água ao preparado para pulverização.
● Preparado com samambaia- manejo de ácaros, cochonilhas e pulgões. Modo de preparar:Colocar 500g de folhas frescas ou 100g de folhas secas em 1L de água. Ferver por meia hora. Para a aplicação, diluir 1L desse macerado em 10L de água.
● Preparado com cinamomo- manejo de pulgões e cochonilhas. Modo de preparar: Colocar 500g de sementes maduras, secas e moídas numa mistura de 1L de álcool e 1L de água. Deixar descansar por 4 dias. Depois de pronto o extrato, armazenar em vidros ou em garrafas de cor escura. Diluir a solução do extrato a 10%, ou seja, para cada litro de extrato usar 10L de água e aplicar nas partes atacadas das plantas. O restante das sementes secas pode ser guardado em potes para uso posterior. O cinamomo, ou árvore-santa (Melia azedarach), é uma planta da mesma família do nim, cujas folhas e sementes têm propriedades inseticidas.
Figura 2. O preparado de pimenta vermelha (à esquerda) é eficiente no manejo de insetos-pragas como vaquinhas (patriota), pulgões, grilos e paquinhas. Ao controlar a vaquinha (adulto) que alimenta-se das folhas, com o preparado de pimenta, controla-se também a larva-alfinete (vaquinha na fase larval) que perfura os tubérculos de batata (à direita), bem como plantas recém-emergidas.
O manejo de pragas no cultivo orgânico não procura exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio e, não colocando em risco a lavoura e o lucro do agricultor e, especialmente a saúde do produtor e consumidor. Em geral, os insetos causam prejuízos ao homem e animais, sejam através dos danos às plantações, ou através da transmissão de doenças. Outros são benéficos como o bicho-da-seda, abelhas e demais polinizadores e insetos que se alimentam de outros insetos. O grande desafio da agricultura é manter a produtividade dos cultivos e ao mesmo tempo melhorar a qualidade e sanidade dos alimentos, conservando os recursos naturais (solo, água, ar e organismos benéficos) para gerações futuras. O reconhecimento dos insetos-pragas e seus inimigos naturais não pode ser dispensado no cultivo orgânico. Inseto pode ser considerado praga quando causa danos econômicos ao produtor. A simples presença de insetos na lavoura não significa perdas; é necessário que a população destes seja elevada. Antes de iniciar um controle o produtor deve primeiro reconhecer qual a praga que costuma sempre causar danos a sua lavoura. Caso não consiga reconhecer, deve recorrer ao técnico do município para determinar a praga e, principalmente, verificar a necessidade de tratamentos fitossanitários com produtos alternativos. No cultivo orgânico o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente para não desequilibrar o sistema. Por isso, os produtos alternativos, mesmo que não causem riscos ao homem e meio ambiente, somente devem ser utilizados quando realmente necessários e, sempre aplicados com equipamentos de proteção e, tomando-se o cuidado de não deixá-los ao alcance de crianças e animais.
. Água de cinza e cal (“fertiprotetor” de plantas): É um produto ecológico obtido pela mistura de água, cinza e cal, recomendado para aumentar a resistência das culturas às pragas, reduzindo a ocorrência de vaquinhas e pulgões e também de doenças. Essa mistura contém expressivos teores de macro (Ca, Mg e K) e micronutrientes, estimulando a resistência às doenças fúngicas e bacterianas. (Fonte: Claro, 2001). Modo de preparar: Em um recipiente de alvenaria, plástico ou latão misturar 5kg de cal hidratado e 5kg de cinza peneirada com 100L de água. A mistura deve permanecer em repouso no mínimo por 1 hora antes de ser utilizada. Nesse período, agita-se a mistura no mínimo três a quatro vezes, com madeira ou taquara. Após a última agitação, esperam-se 10 a 15 minutos para que ocorra a sedimentação das partículas sólidas. A água de cinza e cal deve ser coada antes do uso, usando-se a peneira do pulverizador. A mistura deve ser filtrada e armazenada em bombonas. No momento de usá-la, basta agitar o conteúdo que irá retomar a cor branco-leitosa. Preferencialmente, no momento de usá-la, pode-se associá-la a um espalhante adesivo (farinha de trigo a 2%). Cuidados na aplicação: evitar aplicar em horários de intenso calor. No verão, aplicar à tardinha ou de manhã cedo, especialmente quando a cinza utilizada for de madeira, pois tem maior concentração de nutrientes e é mais salina e alcalina.
. Enxofre (acaricida): é um produto natural que pode ser usado puro ou na calda sulfocálcica visando o manejo de ácaros. Ao ser utilizado puro, devem-se misturar, a seco, 800g de enxofre e 200g de farinha de milho bem fina, diluindo 34g em 10 litros de água e aplicar sobre as plantas (Fonte: Paulus, 2000).
. Farinha de trigo - espalhante adesivo ecológico e manejo de ácaros, pulgões e lagartas. Quanto mais cerosa for a superfície da folha ou ramos das plantas tratadas, maior número de gotas se forma, menor a área de molhamento, maior a possibilidade de injúrias e menor a eficiência da pulverização sobre a nutrição ou manejo de pragas e doenças. Dentre as hortaliças, alho, cebola, repolho e couve-flor são exemplos de culturas com alta cerosidade nas folhas e que exigem, por isso, o uso de espalhante adesivo nas pulverizações das caldas, da água de cinza e cal e de outros produtos alternativos. Quando as gotas permanecem inteiras sobre a superfície foliar, por falta de espalhante adesivo, podem danificar os tecidos vegetais quando o sol incide sobre elas.Modo de preparar: Em um recipiente apropriado, misture com água os ingredientes a serem pulverizados, acrescentando a farinha por último. Adicionar a farinha aos poucos, lentamente, sob forte e constante agitação com auxílio de uma pá de madeira ou taquara para que a dissolução seja completa. Para evitar obstrução de bicos do pulverizador recomenda-se coar a calda, podendo-se utilizar a própria peneira do pulverizador. Dosagem: 200g de farinha de trigo em cada 10L de calda. Essa dose pode ser aumentada ou diminuída de acordo com o grau de cerosidade das folhas. No manejo de insetos-pragas que ocorrem em hortas, recomenda-se o seguinte preparo: diluir 1 colher de sopa de farinha de trigo em 1L de água e pulverizar nas folhas atacadas. Aplicar pela manhã em cobertura total nas folhas, em dias quentes, secos e com sol; mais tarde, as folhas secando com o sol formam uma película que envolve as pragas e caem com o vento.
. Leite cru - manejo de ácaros, ovos de lagartas, lesmas, doenças fúngicas e viróticas. O leite, na sua forma natural ou como soro de leite, é indicado para o manejo de ácaros e ovos de diversas lagartas como atrativo para lesmas e no controle de várias doenças fúngicas tais como o oídio (Figura 3) e viróticas. Pesquisa comprovou a eficiência do leite cru (+10%) sobre o oídio em cucurbitáceas, mesmo após o início da infecção no campo, superando o leite industrializado (tipo C e o longa vida). Essa maior eficiência do leite cru e fresco pode ser explicada, em parte, pela maior concentração de substâncias e de microrganismos fermentados em relação aos leites industrializados. (Fonte: Zatarim et al., 2005).
Figura 3. O fungo oídio que tem como principal sintoma a formação de um pó branco sobre as folhas, ataca o feijão-vagem (foto) e as demais espécies da família das cucurbitáceas (melão, melancia, pepino, abóbora e moranga). O leite cru e fresco à 10% (1 L para 100 L de água) é eficiente no controle desta doença, mesmo no início da infecção.
A modernização da agricultura, após a Segunda Guerra, acrescentou, ao processo de produção de alimentos, a utilização de máquinas e equipamentos agrícolas, além de fertilizantes e pesticidas químicos, tornando o sistema altamente dependente de recursos(insumos agrícolas) externos às propriedades rurais. A aplicação dessas tecnologias acarretam aumento dos custos de produção com conseqüente aumento dos preços dos alimentos para os consumidores, inviabilizando freqüentemente as produções agrícolas e, o que é pior, com esse sistema vieram também muitos casos de intoxicações de agricultores, aumento da mortalidade de animais domésticos e silvestres, contaminação dos solos, das águas e dos alimentos com resíduos de pesticidas que afeta, direta e indiretamente, a saúde das comunidades envolvidas na produção de alimentos.
No cultivo orgânico o homem deve intervir o menos possível no meio ambiente para não provocar o desequilíbrio do sistema. Por isso, os produtos alternativos, mesmo que não causem riscos ao homem e meio ambiente, somente devem ser utilizados quando necessários e, sempre aplicados com proteção e, tomando-se o cuidado de não deixá-los ao alcance de crianças e animais.
. Iscas tóxicas com ácido bórico - manejo de lesmas. A isca deve ser formulada com 7 partes de farinha de trigo, 3 partes de farinha de milho, 3% a 5% de ácido bórico (encontrado em farmácias) e ovos. A pasta resultante deve ser filamentosa, seca à sombra, fragmentada em pedaços de 0,5cm de comprimento e distribuída na área infestada (Fonte: Milanez & Chiaradia, 1999b).
. Iscas com plantas e sementes de gergelim e com raízes de mandioca brava ralada - manejo de formigas. O uso de sementes de gergelim como iscas, para ninhos pequenos, na base de 30 a 50 gramas ao redor do olheiro, é útil no combate a formigas, que irão carregá-las para dentro com o objetivo de alimentar os fungos, que, por sua vez, morrem intoxicados, deixando as formigas sem alimento (fungos). Um bom método natural para espantar as formigas é espalhar sementes de gergelim em torno dos canteiros ou da área a ser protegida. Raízes de mandioca-brava raladas colocadas ao redor do formigueiro intoxicam as formigas com o ácido cianídrico.
. Cinzas de madeira - manejo de pulgões, lagarta-rosca e os fungos míldio e sapeco; nutrição. Além de um ótimo adubo rico em potássio, a cinza controla os pulgões dos cítrus (laranja, limão e outras) das hortaliças e de outras espécies. Polvilhada sobre o solo ou incorporada a ele, controla a lagarta-rosca por um período de 10 dias, dependendo do clima. No manejo da doença do sapeco da folha, que ocorre em cebolinha verde, e em sementeiras de cebola na fase de produção de mudas, aplica-se sobre as plantas, antes que o sereno (orvalho) evapore, 50g/m2 de cinza de madeira.
. Urina de vaca em lactação - manejo de pragas, doenças e nutrição. Indicada para hortaliças em geral e para o abacaxi, pois contém catecol, substância que aumenta a resistência das plantas ao ataque de pragas e doenças. No abacaxi, a urina é eficiente no controle de fusariose. No geral, durante os 3 primeiros dias após aplicação, age como repelente contra insetos, principalmente a mosca-branca. Serve também como fonte de macro e micronutrientes (Fonte: Gadela et al., 2002). Coleta e preparo: coletar a urina e colocá-la em recipiente plástico fechado durante 3 dias, que é o tempo necessário para que a ureia se transforme em amônia. Pode ser guardada por 1 ano em vasilha fechada. A coleta da urina é simples e deve ser feita na hora de tirar o leite, pois ao ter as pernas amarradas para a ordenha é normal o animal urinar. Dosagem e aplicação: para cada 100L de água usar 1L de urina de vaca em lactação. Pulverizar sobre a planta a cada 15 dias. Recomendações: toda pulverização com solução de urina deve ser aplicada nas horas frescas do dia. Evitar o uso em hortaliças folhosas e em hortaliças-frutos próximo à colheita devido ao forte odor. A urina de cabra também pode ser utilizada, mas como possui maior concentração de nitrogênio, deve ser colocado meio litro de urina para cada 100L de água. Dar preferência à urina de vacas em lactação porque tem mais substâncias (fenóis e hormônios) que as outras. O cheiro forte após a aplicação permanece durante 3 dias, agindo nesse período como repelente de insetos.
. Bactéria Baccillus thurigiensis – manejo da broca das cucurbitáceas (pepino, melão, moranga, melancia), brocas do tomateiro, lagarta das brássicas (couve, repolho, couve-flor e brócolis) e lagarta do cartucho do milho. O produto é vendido pelas agropecuárias com o nome comercial de Dipel e diversos outros nomes. É o controle biológico, recomendado no cultivo orgânico de alimentos.
. Caldas bordalesa e sulfocálcica – as caldas possuem baixo impacto ambiental sobre o homem e os animais. O cobre presente na calda bordalesa (Figura 4) é pouco tóxico para a maioria dos pássaros, abelhas e mamíferos, porém é tóxico para peixes. A aplicação de caldas não tem o objetivo de erradicar os insetos e as doenças, mas proteger as plantas e ativar o seu mecanismo de resistência. A vantagem é que além de serem facilmente preparadas na propriedade, reduzem significativamente o custo de produção dos cultivos. Estas caldas, especialmente a sulfocálcica, são vendidas em agropecuárias já prontas com um custo baixo. As caldas podem serem aplicadas em frutas e hortaliças, seguindo as dosagens específicas e alguns cuidados no preparo e aplicação.
Figura 4. A foto mostra a eficiência da calda bordalesa no manejo da requeima (sapeco) do tomateiro (à esquerda), que também ataca a batata e o pimentão, comparada a fila de tomateiros (à direita) sem aplicação da calda, totalmente atacada pelo fungo. Epagri/Estação Experimental de Urussanga.
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