Um dos princípios básicos da agricultura orgânica é a prática da diversificação de culturas. Numa floresta todos os organismos vivos (plantas e animais) estão em equilíbrio, por isso convivem sem problemas. Na produção orgânica procura-se, dentro do possível, imitar o que ocorre numa floresta. Essa diversidade é o principal pilar da agricultura orgânica a contribuir para a manutenção do equilíbrio do sistema e, consequentemente, do solo e das culturas. Portanto, o equilíbrio biológico e ambiental, bem como a fertilidade do solo, não podem ser mantidos com apenas uma cultura. O uso continuado de uma mesma cultura, numa mesma estação de crescimento e numa mesma área (monocultura) vai contra a agricultura orgânica. Em função das grandes guerras, a demanda por cereais fez surgir a agricultura dirigida, prevalecendo a monocultura; o uso intensivo, inadequado e exagerado da mecanização, dos agrotóxicos, dos corretivos e dos adubos químicos, associados ao monocultivo e a erosão do solo, conduz a maioria dos solos cultivados na agricultura moderna ou cultivo convencional, a um processo de auto-degradação e ao aumento gradativo de doenças, pragas e plantas espontâneas, e o que é pior, à contaminação das pessoas e do meio ambiente. A consorciação de culturas é uma das práticas muito utilizada no cultivo orgânico que reduz e, até pode eliminar estes problemas.
O que é consorciação de culturas? é o aproveitamento do mesmo terreno, por duas ou mais culturas diferentes, na mesma época. Muitas espécies podem ser associadas entre si, pois se favorecem mutuamente. Com objetivo de aproveitar ao máximo o terreno, recomenda-se, especialmente, nos primeiros anos de implantação de um pomar a consorciação com outras culturas. Além de aproveitar bem o terreno, evita-se a erosão do solo e a disseminação de plantas espontâneas e, o mais importante, especialmente quando utiliza-se adubos verdes, obtém-se a melhoria da fertilidade do solo. O consórcio que pode ser feito na linha, nas entrelinhas e em faixas, garante renda extra ao agricultor e proporciona menor impacto ambiental em relação à monocultura. Mas as vantagens da diversificação de culturas não param por aí! Todas as pragas das culturas têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos (rotação, sucessão e consorciação de culturas) e preservar refúgios naturais como matas, cercas vivas e capoeiras para manter a diversidade natural da fauna (ácaros predadores, aranhas, insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos). Todos fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do equilíbrio na natureza. Para sucesso dessa prática, muito usada quando há limitação de área no cultivo das diferentes espécies, deve-se empregar culturas com ciclo e estatura diferentes, espécies com desenvolvimento lento e espaçamento maior com outras de desenvolvimento rápido e de pequeno porte, espécies de raízes profundas com raízes superficiais, espécies com folhagens ralas com aquelas mais volumosas, espécies que exalam odores e afugentam insetos e, em alguns casos, uma servindo de tutora para outra cultura. A seguir, estão relacionados alguns exemplos de hortaliças que podem ser consorciadas com outras hortaliças e até com plantas de cobertura (adubos verdes), sem prejuízos para as plantas.
• Consórcio entre hortaliças
- Para semeadura/plantio em canteiros: cenoura com alface (mudas) ou rabanete; alho com alface (mudas) ou rabanete; salsa com alface ou rabanete; alho com beterraba (mudas); cenoura, alho e cebola com beterraba (mudas); beterraba com rabanete ou alface (mudas) ; couve-flor ou brócolis com alface (Figura 1) ou beterraba.
- Para semeadura/plantio em covas ou em sulcos (terreno plano): aipim com feijão-de-vagem rasteiro, batata ou milho-verde; Milho-verde com feijão rasteiro ou batata; Obs.: utilizar fileiras duplas nas espécies de porte baixo.
- Para semeadura em covas ou em sulcos aproveitando o milho como tutor: milho-verde com pepino para conserva; milho-verde com feijão-de-vagem trepador. Obs.: após a colheita do milho-verde, amarram-se duas a duas as plantas na ponta formando um “V” invertido.
• Consórcio de hortaliças com plantas de cobertura (adubos verdes e plantas espontâneas)
- Milho-verde com adubos verdes de verão - mucuna (Figura 2). São semeados na mesma época, preferencialmente no mês de dezembro; semeia-se o milho no espaçamento de 1,0 m x 0,20m e a mucuna entre as plantas na linha do milho. Este consórcio é muito interessante, pois além do produtor ter uma renda com o milho-verde, ainda melhora a fertilidade do solo, protege o solo da erosão, especialmente no verão quando ocorre as chuvas torrenciais, reduz a infestação de plantas espontâneas e doenças e, ainda, recicla os nutrientes que estão na camadas mais profundas do solo, trazendo-os para a superfície, devido ao vigoroso e profundo sistema radicular da mucuna (leguminosa).
Figura 2. Milho-verde (gramínea) consorciado com mucuna (leguminosa), além de reduzir doenças, pragas e plantas espontâneas (tiririca ou junça, picão-preto e branco, capim carrapicho e capim paulista), recicla nutrientes, melhora a fertilidade do solo, evita a erosão do solo e ainda proporciona renda ao produtor.
- Hortaliças com adubos verdes de inverno (aveia preta + ervilhaca + nabo forrageiro). Os adubos verdes são semeados no outono. Por ocasião do plantio das hortaliças de espaçamentos mais largos (exemplos: o tomate (Figura 3), repolho, couve-flor, couve e brócolis), no final do inverno, é feito a roçada na linha de plantio e a abertura do sulco, mantendo-se os adubos verdes nas entre-linhas. A aveia preta é o adubo verde de inverno mais conhecido, rústica, boa cobertura, inibe as plantas espontâneas (inços) e ainda é ótima para alimentação animal. É ótima para efetuar rotação de culturas, pois é resistente às doenças. A ervilhaca possui boa produção de massa, boa no uso consorciado com aveia e, é fixadora de nitrogênio do ar. O nabo forrageiro é uma espécie que descompacta o solo, devido ao sistema radicular profundo, além de servir de abrigo para inimigos naturais de diversos insetos-pragas que atacam as hortaliças.
Figura 3. Sugestão de consórcio no inverno de adubos verdes com hortaliças: aveia preta (60kg/ha), ervilhaca (18kg/ha) e nabo forrageiro (4kg/ha), semeados de março a julho, com o plantio de tomate tutorado, em agosto/setembro.
• Consórcio de hortaliças com plantas medicinais, aromáticas e condimentares
O coentro, consorciado com o tomateiro, reduz os danos da traça do tomate e, ainda atrai os inimigos naturais de pragas de várias culturas. A sálvia e o alecrim consorciados com as brássicas (repolho, couve-flor, couve e brócolis) repele a borboleta que põe os ovos nas folhas dando origem as lagartas que danificam as folhas. A arruda e hortelã consorciada com hortaliças repelem a mosca-branca que ataca diversas hortaliças. A manjerona e capim cidreira repelem os insetos em geral. O poejo e a hortelã repelem as formigas. A hortelã repele ratos, enquanto que o poejo, arruda, alecrim e sálvia também repelem traça e outros roedores.
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