HISTÓRIA DAS PLANTAS MEDICINAIS
Daremos hoje um passo importante sobre o cultivo e uso das plantas medicinais, para melhor entendimento deste tópico em nosso blog, sugiro ir ao marcador de "PLANTAS MEDICINAIS" onde poderão verificar as diferentes postagens.
Desde o ano 3000 a.C. têm-se informações que a China dedicava-se ao cultivo de plantas medicinais. O Imperador Sheng-Nung utilizou uma série de plantas em seu próprio corpo, para saber o efeito que provocavam. Entre tantas destacou o uso da raiz de ginseng, anunciando ser a mais fabulosa das ervas e que favorecia a longevidade. Escreveu um tratado denominado PEN TSAO, verdadeira farmacopéia que englobava todo o saber relacionado com o uso de plantas como medicamentos. Um antigo texto chinês extraído da Farmacopéia de Shen-Nung diz o seguinte sobre o ginseng:
“Tem sabor adocicado e sua propriedade é ligeira-mente refrescante, cresce nos desfiladeiros das montanhas. É usado para reparar as cinco vísceras, harmonizar as energias, fortalecer a alma, afastar o medo, remover substâncias tóxicas, a brilhar os olhos, abrir o coração e melhorar o pensamento. Uso contínuo dará vigor ao corpo e prolongará a vida”.
A história conta que o Imperador viveu 123 anos, sempre experimentando as ervas e tomando ginseng, erva que nos dias atuais é muito utilizada para regeneração dos tecidos, melhoria do funcionamento de algumas glândulas, para o rendi-mento físico e mental, dores de cabeça, amnésia, como apoio no tratamento de grande número de doenças do coração, dos rins e dos sistemas nervoso e circulatório.
Em seu "Cânone das Ervas" foram mencionados 252 plantas. Em 2798 a.C., o Imperador Huang Ti, formalizou a Teoria Médica no Nei Ching. No século VII, no governo da dinastia Tang, foi impressa e distribuída uma revisão do "Cânone de Ervas.
Li-Chi-Chen (1578), completou seu “Compêndio de Matéria Médica” on-de reuniu todos os conhecimentos existentes no campo da farmacologia, com 1954 prescrições médicas, relacionando mais de 1000 drogas de origem vegetal, animal e mineral, distribuídos em 16 capítulos.
Placas de barro de 3.000 a.C. registraram importações de ervas para a Babilônia. Por volta de 2.000 a.C. aconteceram às trocas com a China, de ginseng, a erva da longevidade. A farmacopéia babilônica abrangia 1400 plantas.
O primeiro médico egípcio conhecido foi Imhotep ( 2980 a 2900 a.C.), grande curandeiro, que utilizava ervas medicinais em seus preparados mágicos. Os Papiros de Ebers, do Egito, foram um dos herbários mais antigos que se tem conhecimento, datando de 1550 a.C., e ainda está em exibição no Museu de Leipzig ( são 125 plantas e 811 receitas).
Nessa mesma época os médicos indianos desenvolviam avançadas técnicas cirúrgicas e de diagnóstico e usavam centenas de ervas nos seus tratamentos. Os hindus consideram as ervas como as "filhas prediletas dos deuses".
Sabe-se que desde 2300 a.C., egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas ervas e traziam tantas outras de suas expedições.
Nesses tempos, as plantas eram muitas vezes escolhidas por seu cheiro, acreditavam que certos aromas afugentavam os espíritos das enfermidades. Essa crença continuou até a Idade Média, onde os médicos usavam no nariz um aparelho para perfumar o ar que respiravam.
Os egípcios utilizavam além das plantas aromáticas, muitos outras com efeitos diversos. Também na arte de embalsamar os cadáveres para guardá-los da deterioração, experimentaram muitas plantas.
Diocles (400 a.C.) escreveu o primeiro livro sobre ervas conhecido no Ocidente. Foram os gregos os primeiros a sistematizar os conhecimentos adquiridos até então.
Hipócrates (460- 361 a.C.), denominado “Pai da Medicina”, reuniu em sua obra "Corpus Hipocratium" a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indi-cando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento.
Teofrasto (372-285 a.C.), em sua “História das Plantas”, catalogou 500 espécimes vegetais.
No século XIII a.C., Asclépio, curandeiro grego, grande conhecedor das ervas, concebe um sistema de cura, (também chamado de Esculápio de Cos) fundando o primeiro spa que se tem conhecimento, em Epidauro. Era baseado em banhos, chás, jejum, uso da música como terapia, jogos e teatros. Tales de Mileto e Pitágoras compilaram essas receitas (Oka, 1998).
O conhecimento grego sobre as ervas foi adquirido na Índia, Babilônia, Egito e até na China.
Crateus, século I a.C., publicou a primeira obra - 0 Rhizotomikon sobre as plantas medicinais, com ilustrações.
Dioscórides, médico grego, no século I da Era Cristã, enumerou em seu trata-do, "De Materia Medica”, mais de 500 plantas medicinais e seus usos.
Outra preciosa contribuição foi de Pelácius, médico de Nero, que escreveu seus estudos sobre plantas medicinais, incluindo mais de 600 espécies diferentes que constituíram referência por 15 séculos.
Plínio, o Velho, que também viveu no século I da nossa era, catalogou sua o-bra, “História Natural”, em 37 volumes, e em oito deles descreve o uso pelos roma-nos das espécies vegetais úteis à medicina.
No início da era cristã, na Índia, destacou-se o texto Vrikshayurveda, de Para-sara, autor de muitos livros, inclusive sobre plantas medicinais.
Galeno, médico grego, segundo século depois de Cristo, foi o primeiro a tratar as cãibras com ruibarbo, erva importada da China. Colecionou e descreveu muitos medicamentos e fórmulas cujos métodos de preparação deram origem à “farmácia galênica”.
Devido a eventos históricos como ascensão e queda do Império Romano e fortalecimento da Igreja Católica (que não via com bons olhos a aprendizagem científica e encarava a doença como um castigo), o estudo das plantas medicinais na Ida-de Média ficou estagnado por um longo período. Muitos escritos gregos foram esquecidos ou perdidos e recuperados em parte no início do século XVI, por meio de versão em árabe. Ocorreu ainda o triunfo da "Medicina dos Signos", que postulava a cura de determinadas partes doentes do corpo por meio de plantas que lhe fossem semelhantes.
Durante o século X apareceu "The Leech Book of Bald and Cild", escrito por um curandeiro anglo-saxão, no qual misturava os conhecimentos escritos por Dioscórides, com os rituais que usavam na época e com receitas de magia e medicina provenientes do Oriente.
Apenas alguns mosteiros, no século XI, na Europa, mantiveram a literatura medicinal e algumas mulheres de aldeias remotas. Fora desses locais eram utilizadas em rituais mágicos.
Surgem as Escolas de Salerno e Montpellier (séc.XIII) e, a partir delas, as uni-versidades, abrindo para o leigo as portas do conhecimento até então reservado aos monges e religiosos. A universidade de Salerno tem sua obra mais importante o “Regimen sanitatis salernitatum”, que trata das ervas medicinais.
A bd-Allah Ibn Al-Baitar, que viveu no século XIII e foi o maior especialista árabe no campo da botânica aplicada à Medicina, produziu obra valiosa, descrevendo mais de 800 plantas.
Em 1484 foi impresso o primeiro livro sobre cultivo de ervas medicinais, que praticamente era uma cópia dos escritos do século IV, contendo material descrito por Dioscórides. A cópia mais antiga dos escritos de Dioscórides é um manuscrito bizantino do século VI chamado “Codice vindobonensis”, considerado o documento médico mais importante até o aparecimento da obra de Leonardo Fuchs chamada “Historia stirpium”, que data de 1542.
Grande quantidade de livros começou a aparecer em toda Europa, com a in-venção da imprensa. Em quase todos eram descritas partes das obras de Dioscórides, Galeno, Hipócrates, Aristóteles, com ilustrações copiadas diretamente dos manuscritos da antiguidade.
Só em 1542, na Alemanha, foi elaborada a primeira farmacopéia, uma lista de 300 espécies de plantas medicinais provenientes de todas as partes do mundo. No final do século XVI, já haviam sido organizados jardins botânicos em várias universidades.
Até o século XVI, os tratados de Botânica, então denominados “herbários”, consideram as plantas por suas virtudes medicinais.
A ascensão do prestígio da fitoterapia pode ser traduzida pela difusão da pu-blicação de herbários como pela criação da primeira cátedra de botânica na Escola de Medicina de Pádua, em 1533.
Em 1551 foi escrito o primeiro texto em inglês "Nieuwe Herball", de William Turner, incansável viajante e grande coletor de plantas (Hoffmann et al. 1992).
Em 1563, Garcia da Orta, português que viveu na Índia, edita em Goa a obra Colóquios dos Simples, das Drogas e Cousas Medicinais da Índia.
John Gerard, em 1597, incluiu em seu "Herbário" de 1600 páginas, plantas provenientes do Novo Mundo e preservou os conhecimentos botânicos dos monges medievais.
No século XVII, o tratado “Herbário Completo”, do inglês Nicolas Culpeper, relaciona as virtudes das plantas com os planetas.
John Parkinson escreve dois importantes livros sobre a botânica e seus usos medicinais: "Thetrum Botanicum" e "Paradisi in Sole Paradisus Terrestris".
Durante o século XVIII, Sir John Hill escreve "Virtudes de las Hierbas Britânicas", um trabalho inédito e bem ilustrado.
Quase no final deste século, Samuel Hahnemann deu a conhecer sua teoria sobre a homeopatia, que aconselhava o tratamento das enfermidades com pequenas quantidades de substâncias derivadas das plantas, as quais eram ministradas aos pacientes como uma vacina.
Os alquimistas, dentre eles Paracelso, impulsionaram a arte de curar com plantas, lançando as bases da medicina natural. Ressaltavam a importância de seguir-se um ritual na preparação de ervas a serem utilizadas na terapêutica e que o médico deveria estimular a resistência do organismo, usando remédios naturais e procurando atingir o máximo de capacidade de cura do próprio doente.
Durante o século XIX, o uso das ervas ficou mais restrito e cresceu o uso dos medicamentos obtidos através de processos químicos industriais. Entretanto, os livros sobre ervas continuaram aparecendo. C. F. Millspaugh, publicou em 1887, nos Estados Unidos, um livro com as plantas europeias cultivadas na América, além de muitas ervas nativas do Novo Mundo.
Nos anos que ocorreram as guerras mundiais, o interesse pelas plantas medicinais voltou devido à necessidade de obter remédios eficazes para múltiplas enfermidades, visto que toda a economia dos países envolvidos na guerra estava destinada à produção de material bélico. Apareceu, no período entre guerras, um tratado da inglesa M.Gneve, "Um Herbario Moderno", que trata das propriedades medicinais, culinárias, cosméticas e econômicas, bem como o cultivo e o modo de uso das ervas.
O Primeiro herbário das Américas é o Manuscrito Badanius, o herbário asteca, do século XVI, em Nahuatl.
No Brasil, o uso das plantas como medicamento teve influência das culturas indígena, africana e européia.
Entre os índios, o pajé ou feiticeiro utilizava plantas entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe revelaria a erva ou o modo de curar o enfermo e também pela observação de animais que procuram certas plantas quando doentes. Um exemplo é o uso da raiz de ipecacuanha, pelos animais, para alívio de cólicas e diarreias.
As primeiras notificações fitológicas brasileiras são atribuídas ao padre José de Anchieta e a outros jesuítas. Alguns manuscritos narravam “pescarias miraculosas”, onde os aborígenes narcotizavam os peixes com o uso de cipós.
Os indígenas brasileiros acreditavam em fatores sobrenaturais, quando se tratava de doenças sem causa externa identificável como ferimentos, fraturas e envenenamento.
Os pajés associavam o uso de plantas a rituais de magia e seus tratamentos eram, assim, transmitidos oralmente de uma geração a outra.
Para os africanos, quando alguém adoecia é porque estava possuído pelo espírito mau e um curandeiro se encarregava de expulsá-lo por meio de exorcismo e uso de drogas.
A influência européia teve início no Brasil com a vinda dos primeiros padres da Companhia de Jesus chefiados por Nóbrega, em 1579, os quais chegaram com Tomé de Souza para catequizar os índios. Formularam receitas chamadas “Boticas dos Colégios”, à base de plantas para o tratamento de doenças.
Informes sobre a medicina jesuítica nos primeiros séculos da nossa colonização mostram a importância das plantas como medicamento.
Segundo Camargo (1998), a princípio os medicamentos vinham do reino já preparados. Mas as piratarias do século XVI e as dificuldades da navegação impediram, com freqüência, a vinda dos navios de Portugal e era preciso reservar grandes provisões, como sucedia em São Vicente e São Paulo ao tempo da Conquista do Rio de Janeiro (1565). A necessidade local obrigou os jesuítas a terem provisão de me-dicamentos; e também logo a procurarem os que a terra podia dar, com suas plantas medicinais, que começaram estudar e utilizar em receitas próprias, como as do ir-mão Manuel Tristão, em 1625. Foi o primeiro boticário ou farmacêutico da Companhia no Brasil. Deixou uma breve “Coleção de Receitas Medicinais” conhecida por Purchas, em 1625.
Ficou famosa a Triaga Brasílica, que aplicava em várias doenças, e cuja fórmula era mantida em segredo pelos jesuítas.
Também Pedro Luiz Napoleão Chernoviz elaborou, baseado em conhecimentos os adquiridos e em publicações europeias, um Formulário e um Dicionário, que passaram a ser os guias médicos dos lares brasileiros.
A Revista do Arquivo Municipal de São Paulo cita que os índios utilizavam a batata-de-purga para limpar o aparelho digestivo e a ipecacuanha curava tudo, era uma verdadeira panacéia.
Os europeus viram uma flora exuberante e perceberam que os índios sabiam fazer uso da mesma. Levaram tudo que podiam e trouxeram ervas, como a camomila, calêndula e alfazema, que se aclimataram muito bem. Essas influências constituem a base da medicina popular que há algum tempo vem sendo retomada pela medicina natural, visando não só a cura de algumas doenças, mas restituir o homem à vida natural.
A primeira história natural brasileira, elaborada por Wilhem Pies e Georg Marcgraf, integrantes da comitiva de Maurício de Nassau, incluía um herbário de plantas medicinais (Historia Naturalis Brasiliae). Os paulistas com suas “Entradas e Bandeiras” foram os primeiros a utilizarem a medicina herbalista, e mais tarde os negros escravos.
Entre 1779 e 1790, Frei Veloso faz um levantamento da capitania do Rio de Janeiro e arredores, resultando os livros “Plantas Fluminensis” e “O Fazendeiro do Brasil”.
Karl Friedrick Von Martius, chegou ao Brasil em 1817, viajou por vários esta-dos brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Amazonas. Coletou cerca de 6500 espécies, surgindo daí sua obra “Flora Brasiliensis”.
No mundo moderno, um de seus maiores botânicos, Richard Schultes afirma que o conhecimento indígena do poder curativo das plantas é uma ciência muito antiga em que as doenças do corpo e da alma estão intimamente ligadas.
Os curandeiros (xamãs) entendem que a saúde depende do perfeito equilíbrio do corpo, dos sentidos, da mente e do espírito, para que a energia possa fluir e obter resultados satisfatórios.
As plantas sempre estiveram ligadas ao homem e sempre estarão sendo utilizadas por ele, tanto na cura dos males como em outros múltiplos usos.
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